Ruy
Medeiros
Em
antologia organizada por Jaime Martins de Freitas, de julho de 1980
(Poetas
Contemporâneos de Vitória da Conquista), Heleusa
escreveu em introdução a doze de seus pequenos poemas ali
estampados:
Eu
me apresento: há 36 anos no dia 14 de maio de 1944, nesta cidade de
Vitória da Conquista, num domingo, por sorte de sol, chegava
Heleusa, quarta filha de Ubaldino Gusmão Figueira e Maria Stela
Morais Figueira.
Vim
para ficar, e lutei contra a morte em muitas doenças infantis. Tive
uma infância feliz numa conquista de poucas ruas calçadas e muitas
brincadeiras de roda, tonga e anelzinho.
Casei-me
aos 19 anos com Almir Querino Câmara e temos quatro filhos.
Há
oito anos comecei a lecionar História, matéria que me encanta.
Não
tenho pretensões literárias e o que faço retrata o que sinto.
Heleusa
Figueira Câmara (14/05/1944 – 06/01/2019) marcou fundo Vitória da
Conquista. Amada professora de literatura na UESB, destacava-se na
cátedra por admitir abordagens diferenciadas dos textos submetidos
aos estudantes e por sua capacidade de diálogo com esses. Aliás,
capacidade de ouvir e responder a todos, independentemente de
colorações ideológicas, religiosas ou de cultura, gênero e etnia.
Embora de formação evangélica (Batista), teve como orientador de
uma de suas pós-graduações um anarquista, que se tornou seu amigo.
Heleusa sempre buscou o saber. Cursou mestrado e doutorado e era
militante cultural.
Intelectual
incansável: Professora de História (de 1972 a 1980) no Centro
Integrado Navarro de Brito, Professora de Português Instrumental e
Comunicação, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
Vice-Reitora dessa, fundadora (com outros escritores) da Academia
Conquistense de Letras, a qual presidiu nos biênios 87/88 e 89/90,
Presidente do Conselho (Penal) da Comunidade da Comarca de Vitória
da Conquista, Secretária Municipal de Educação (gestão do
Professor Doutor Historiador José Raimundo Fontes), Coordenadora do
Proler (atividade da Biblioteca Nacional) em Vitória da Conquista
por vários anos, sócia do Educandário Juvêncio Terra. Heleusa
estimulou várias pessoas à atividade da escrita, resultando em
publicação (pela qual trabalhava) de livros de ficção e memória.
Fez
versos, contos e textos científicos. Sobre o valor de sua produção
literária é bom que se diga: livros referenciados por escritores de
destaque, inclusive críticos de literatura. Cito o caso de duas de
suas obras ficcionais: “Mulheres
Acorrentadas” (1982),
publicada pela acreditada Editora Cátedra, tem prefácio de Afrânio
Coutinho, destacado crítico cujo renome vai além do Brasil, autor
de Introdução à Literatura no Brasil, e diretor da obra, em seis
volumes, A Literatura no Brasil, dentre outros. “40
graus de outono” (1990),
editado pela casa não menos famosa Massao Ohno Editor, tem
apresentação de Antonio Carlos Vilaça, consagrado escritor
ficcional, memorialista e crítico, e prefácio do poeta (e
historiador da literatura) Carlos Nejar.
Heleusa
escreveu contos, novela, poemas, texto científico e teatro. Dentre
suas obras encontram-se as referidas Mulheres Acorrentadas, 40 Graus
de outono, e A Baleia, Contas na Mesa, Fantasia Serrana (duas peças
de teatro), Atrás das Paredes e das Grades (sobre a situação de
encarceramento).
Almir
Querino Câmara, seu marido, hoje viúvo, é engenheiro civil. Tem
grande folha de serviços prestados a Vitória da Conquista. Em 1973,
a convite do Secretário de Obras, Aliomar Coelho, passou a integrar
a equipe do Prefeito Jadiel Matos. Permaneceu no serviço público
municipal por trinta e alguns anos, destacando-se por sua competência
e probidade. Prestou serviços, na qualidade de engenheiro, à Caixa
Econômica Federal, e desenvolveu atividades de produtor rural.
Heleusa
deixou filhos: Diana, Mônica, Danilo e Verônica.
A
professora Heleusa, assim era mais conhecida, faleceu em 6 de janeiro
de 2019, e era profundamente querida e admirada por todos aqueles que
a conheceram.