quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pedral

Ruy Medeiros

José Fernandes Pedral Sampaio que, ontem, 16.09.2014, faleceu aos 89 anos de idade, é natural de Vitória da Conquista. Filho de Sifredo Pedral Sampaio e Maria Fernandes Pedral Sampaio, neto do Coronel Gugé (que marcou a República Velha em Conquista), José Pedral formou-se engenheiro civil pela Escola Politécnica (Bahia), na turma de 11 de novembro de 1949. Foi casado com Maria Lícia e, enviuvando-se, contraiu matrimônio com sua cunhada, Maria Zilda, que deixa viúva. José Pedral não teve filhos biológicos, mas o tem afetivo na pessoa de Paulo, médico, seu sobrinho de quem cuidou desde criança.
Pedral prestou serviços públicos na área do SESP e, depois, na condição de engenheiro civil, do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem. Mas o que mais marcou sua vida (apesar de orgulhar-se de seu desempenho na profissão, especialmente como engenheiro do DNER, hoje DNIT), foi sua vocação política. Desde cedo, foi atraído pelas lides político-partidárias, pois militou politicamente entre os jovens universitários de seu tempo.
Em Vitória da Conquista, participou de campanhas eleitorais memoráveis. Candidato a Prefeito Municipal em 1958, acenando idéias novas para a administração, perdeu eleições para Gerson Gusmão Sales, que já havia sido Prefeito. Nas eleições de 1962 para Prefeito, consegue vitória urna a urna. No entanto, a brutalidade do Golpe Militar de 01 de abril de 1964 cassou-lhe o mandato e suspendeu-lhe os direitos políticos por dez anos. Apesar disso, continuou referência para seus correligionários e outros, que foram organizando institucionalmente a luta contra o regime militar, em Vitória da Conquista.
Dotado de grande capacidade para analisar a conjuntura e dirigir campanha, marcou de maneira profunda, os rumos da 2ª campanha eleitoral vitoriosa de Jadiel Matos a Prefeito de Vitória da conquista (1972) e esse o consultava sobre problemas públicos especialmente aqueles relacionados à questão urbana. Jadiel realizou administração que lhe deixou famoso como gestor público, mas a sua sucessão encontraria o grupo (MDB) que tinha José Pedral como maior referencia cindido. Mas o candidato desse, Raul Ferraz, venceu as eleições. Depois , em 1982, já anistiado (1979), veio nova onda com sua candidatura a Prefeito Municipal; foi vitorioso e havia, em sua propaganda um apelo forte: “Devolva a José Pedral o mandato que a ditadura lhe tirou”. Foi secretário estadual no governo Waldir Pires. Depois, mais uma vez (1992) foi eleito Prefeito Municipal. A crise colheu os últimos meses de seu mandato e Pedral não conseguiu fazer sucessor.
Militando em campo oposto, como militei, não acredito que se possa desconhecer a importância marcante de Pedral na história política regional, especialmente a sua capacidade de aglutinar pessoas nos difíceis momentos da ditadura militar, quando se encontrava com direitos políticos suspensos e com os passos vigiados.
Também a sua preocupação com o ordenamento da cidade deixou marcas. Muito daquilo que se tem de infraestrutura urbana foi implementado, idealizado, ou teve participação de José Pedral. Embora em seu tempo de curso superior pouco se falasse em urbanismo, ele tinha vocação de urbanista.
Na última visita que lhe fiz, encontrei-o pensando na cidade. Ele me disse: “estou fazendo depoimento para Norberto Aurich digitar, Alexandre (sobrinho, engenheiro) fazer leitura técnica. Trata-se de projeto para Vitória da Conquista do futuro. Você vai receber cópias, entregue uma à Reitoria da UESB e outra à Prefeitura Municipal”. Depois passou a falar-me de planos para a cidade. Anteontem o Manelão (Manoel Euclides Rocha Soares) entregou-me exemplares de “Projetos de Pedral – A Conquista do Futuro”. É texto que deve ser lido e bem considerado. Pedral propõe, dentre outras coisas, a abertura do Parque da Cidade (no Vale do Rio Verruga até o encontro do Riacho Santa Rita). Regis havia imaginado o Parque Zoobotânico na área do antigo Aguão. José Raimundo e Guilherme Menezes pensaram no parque no mesmo local. Pedral propõe algo mais extenso: de imediações da Av. Bartolomeu de Gusmão até a barra de Santa Rita, com largura variável, integrado ao sistema urbano, e densamente arborizado. Para a antiga ETE da Embasa (“Pinicão”) propõe uma lagoa integrada ao Estádio Lomanto Junior. Preconiza a criação de mirantes (dentre os quais o Mirante da Caatinga, proximidade do Morro da Tromba), o Mirante da Santa Marta (na Serra do Landim, já que ele fala em parte mais alta), faz indicações sobre o crescimento da cidade, imagina a criação de grandes vias envolventes (coisa importantíssima para o sistema urbano e rodoviário de Vitória da Conquista), dentre outras coisas.
 Entendo que os “Projetos de Pedral” são o testamento de quem, mesmo na forte adversidade da doença, não desistiu de pensar o futuro da cidade exatamente porque com essa tinha uma forte relação de identidade. Merece leitura atenta.
Pedral parte homenageado: livros, documentários e entrevistas sobre ele foram feitos nos anos finais de sua vida e a Câmara Municipal devolveu-lhe simbolicamente o mandato que a ditadura lhe usurpou, fazendo-o em concorrida sessão pública especial. 

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