Ruy Medeiros | os lucros bilionários do Bradesco e a programada humilhação em Vitória da Conquista
Ruy Medeiros
Os meios de comunicação divulgaram os lucros dos bancos, dentre os quais o Bradesco, logo que foram conhecidos e divulgados pelas respectivas instituições financeiras. Para o Bradesco, segundo maior banco privado do país, seu lucro líquido recorrente alcançou 19,458 bilhões em 2020 e 6,801 bilhões no quarto trimestre. Nota de seu presidente executivo destaca que (eles!) “Estamos bastantes satisfeitos com o resultado do quarto trimestre do ano”. Poderia estar insatisfeito? No entanto não acredito que estejam satisfeitos muitos e muitos daqueles que mantêm contas no Bradesco.
Quem se dispuser, pela manhã, descer a rua Maximiliano Fernandes, em Vitória da Conquista, onde se encontram duas agências do Bradesco pode observar às portas, sobretudo da agência 0270, um exemplo de descaso e humilhação que possui forte aparência de programada.
De que se trata?
A fila é grande, fica exposta ao sol causticante, as pessoas ficam aglomeradas e não se percebe a adoção da prioridade ao idoso. Troca-se a aglomeração interna pela externa, em tempo no qual grassa o COVID-19. É um ajuntamento.
Não estou insinuando qualquer amizade entre Bradesco e COVID, porém não há suficiente hostilidade. Eu mesmo, diante de fila aglomerada, propus esperar, fora dela, até a então última pessoa e, com a entrada dessa, penetrar na agência. Sou idoso. Por três vezes tentei, mas não consegui penetrar no banco e resolver um direito, preservando a prioridade. A justiça certamente será o caminho, que trilharei.
Mas é preciso retomar o foco: os 19,458 bilhões de lucros do Bradesco. Eles não são suficientes para que esse banco trate bem seus correntistas? Por que o Bradesco faz tanta questão dos depósitos de benefícios da Previdência Social? Por que fica à espera de concessão de aposentadorias para obter a conta? Incentiva tanto os empréstimos consignados? Por que, com toda ânsia de obter contas não trata bem os correntistas?
Os lucros exorbitantes não dão para pagar toldos, para que as pessoas não penem ao sol? Os lucros exorbitantes não são suficientes para que o Bradesco adapte o estacionamento vizinho (seu) para abrigar, com distanciamento exigido pela situação, seus clientes? Não são os lucros suficientes para que o banco destaque funcionário para distribuir pré-senhas, inclusive aos prioritários, utilizando seu estacionamento devidamente provido de toldos para atender com o mínimo (deve ele o máximo) de decência seus correntistas? Não pode alertar sequer, com orientadores, para os riscos de aglomeração?
Não é ensaio de capitalismo selvagem. É ele.
*Ruy Hermann Araújo Medeiros é professor e Conselheiro Secional da OAB
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