quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Empréstimo no valor de até R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões)

 


 / Anderson BLOG @blogdoanderson


A maioria da Câmara Municipal aprovou, em primeira votação, por esmagadora maioria, projeto de lei que autoriza a Chefe do Executivo contrair empréstimo no valor de até R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões). Isso mesmo: quatrocentos milhões.  Em noticiário televisivo, um dos secretários municipais declarou que a finalidade (aplicação de recursos decorrentes de empréstimo) é realização de obras de infraestrutura. A mensagem fala em obras de infraestrutura, nas quais inclui edificações para serviço de saúde, educação, drenagem, etc. Não posso crer nisso. Digo porquê. Em mal arranjado momento, a Câmara Municipal autorizou à Chefe do Executivo transferir para a EMURC um conjunto de áreas verdes/praças, áreas institucionais, e essa empresa municipal está vendendo-as.

Ora, são essenciais para obras de infraestrutura espaços públicos. Como realizar construção se as áreas disponíveis estão sendo vendidas a particulares? Onde serão edificados os prédios necessários? Pelo visto, alguns “loteamentos” não serão beneficiados, a exemplo do Caminho da Universidade cuja única praça está posta à venda. Não se sabe onde tais obras serão realizadas. Serão compradas áreas para edificação?

Obras de drenagem? Que entendem os administradores por drenagem? A matéria é complexa, pois envolve não somente o escoamento de águas. Diz respeito, por exemplo, à existência de áreas não impermeabilizadas, ao tratamento de (pequenas que sejam) depressões na malha urbana, à existência de vários caminhos para as águas pluviais.

Não posso crer.

Mesmo o grande escoadouro urbano (Rio Verruga) está em processo de muramento por loteamento e conjuntos habitacionais condominiais, sem proteção de margens e mesmo avançando sobre essas. Quase nenhuma árvore no seu vale que corta a malha urbana. Quem fala em drenagem, em obra de infraestrutura, tem exatamente aprovado o processo de muramento do Rio Verruga e de impermeabilização de sua área adjacente. Como ficam as “lagoas” urbanas? Com a grande impermeabilização do solo, seu destino é extravasar. Não é exagero. Uma lagoa foi criada no Bairro Primavera em razão de direcionamento de águas de um desses conjuntos residenciais sobre o loteamento próximo. Aquilo que era mero final de manilha escoadora, virou lagoa. Há uns dois dias, duas pessoas aí morreram. O processo de acúmulo de águas vinha ocorrendo, a rua desapareceu, o pequeno empoçamento virou lagoa. Mas quem diz estar preocupado com obras de infraestrutura em drenagem não viu o surgimento de uma lagoa no bairro Primavera. “O tempo passou na janela, só Carolina não viu…” (Chico Buarque).

Reservo-me o direito de não acreditar, pois os exemplos de despreocupação com a infraestrutura urbana são gritantes. Quem se abalançar a conhecer a expansão atual da zona urbana, a lesnordeste irá ficar impressionado com o número de loteamentos aprovados (embora haja excesso de oferta de lotes em V. Conquista) sem qualquer articulação prevista entre eles, sem qualquer previsão de acesso à malha urbana contínua de Vitória da Conquista que não seja a já sobrecarregada rodovia BA 265 (estrada Conquista a Barra do Choça). Há mesmo preocupação com infraestrutura urbana?

Que será da antiga ETE (“Pinicão”) da Embasa? Com a facilidade com que se aprova projeto de construção/parcelamento do solo urbano sem analisar com vistas ao futuro, não é difícil prever, diante de fortes chuvas, o isolamento da Baixa do Facão. Sobretudo, é preciso seriedade: para empréstimo dessa magnitude (cujo pagamento estender-se-á por futuros gestores) é necessário que haja transparência. A transparência exige que seja apresentado planejamento estratégico de infraestrutura, não basta dizer que serão feitas essa e aquela obra, a sabor de interesses ou de mal analisado sonho de um ou outro administrador. Dinheiro para que plano? Plano concebido a partir de que estudos prévios? Quais obras? Qual a justificativa de sua necessidade?
É preciso que a administração municipal diga quais as áreas de intervenção urbana, qual a locação da rede de drenagem, quais os equipamentos, tudo com os respectivos valores. É importante saber se os valores das obras de infraestrutura e essas encontram-se previstas no Plano Plurianual do município, em consonância com o orçamento municipal e a lei de diretrizes orçamentárias.

Afinal, há obras ditas de infraestrutura que conduzem ao caos. Já ouviram falar de “elevados”‘, que foram o “supra-sumo” de infraestrutura urbana de circulação, no Rio de Janeiro e São Paulo, que estão sendo questionados e dos quais já há exemplo de demolição? Viram recentemente como falta de planejamento (e de concepção desse somado a desleixo) criou uma lagoa onde morreram duas pessoas recentemente? Ouviram falar como direcionamento local de águas pluviais engoliu automóvel e motorista, no Jurema? O que custa, diante da total falta de planejamento estratégico de infraestrutura, de previsão em PP e de estudos prévios, pensar seriamente sobre o pedido de autorização de vultoso empréstimo encaminhado pela Chefe do Executivo à Câmara? O amém de sempre?
Consciência!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Total desrespeito a Vitória da Conquista

 No próximo dia 10 (10.12.2025) Vitória da Conquista assistirá a um ato que retoricamente pode ser
denominado crime. Após beneplácito da Câmara municipal, o município transferiu à EMURC mais de trinta (isso mesmo!) áreas de uso comum do povo.  A EMURC-Empresa Municipal de Urbanização de Vitória da Conquista programou vender referidas áreas, que foram desafetadas de sua finalidade original. Nessa primeira tentativa de leiloar, mediante pregão eletrônico, a EMURC sofreu empecilho. O TCE -Tribunal de Contas do Estado suspendeu o leilão porque esse estava contaminado com irregularidades. Novo leilão está programado para vender áreas, em menor quantidade, que aquelas que estiveram à venda no frustrado leilão anterior.

Dentre as áreas que serão vendidas (ao todo 20) encontram-se nas áreas verdes do Loteamento Caminho da Universidade (11.214,07 m², mais de um hectare, vejam), Loteamento Chácaras Santa Tereza (22.188,31 m², mais de 2 hectares, confiram), Loteamento Parque das Espatódeas (13.377,11m², mais de um hectare, percebam), Loteamento Parque CONVEIMA (11.800m², mais de um hectare, considerem), Bairro Henriqueta Prates (30 267,0m², mais de três hectares, portanto, creia).

Somente essas áreas verdes somam quase nove hectares.

São áreas que a Câmara Municipal desafetou de seu fim e autorizou a Prefeita Municipal doar à EMURC. Feita a doação, a EMURC está vendendo as áreas, inclusive, as mencionadas áreas verdes. Áreas antes qualificadas como bens de uso comum do povo, passam a bens privados.
Isso significa que fomos expropriados de bens de nosso uso. Serão entregues à iniciativa privada.

Mas, além dessa privatização, do que é e deve ser público, essa venda de áreas verdes (áreas reservadas para arborização, parque arborizado, pequenos bosques, etc, quando da aprovação dos respectivos loteamentos), revela grande Irresponsabilidade.

Essas áreas são fundamentais para o desenvolvimento da cidade. Recentemente, assistimos automóvel e seu motorista tragados por enxurrada. Isso decorreu não apenas da natureza, mas do direcionamento de águas por única via, intensa impermeabilização do solo sem áreas (praças) com infiltração, barramento atécnico de águas, descaso com limpeza, aprovação indevida de empreendimento em quase bacia, etc. As áreas são fundamentais para garantir bem estar dos habitantes da cidade, harmônico desenvolvimento das funções urbanas, proteção patrimonial.

Áreas destinadas ao verde, devem realmente ser verdes. Vendê-las não é “exemplo para a Bahia”. É quase crime.


quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Vitória da Conquista, 185 anos. O Futuro Comprometido.

 Faltam 15 anos para que a data da elevação do Distrito da Vitória a município e sua instalação, como Imperial Vila da Vitória, complete dois séculos. O Distrito, de 1820, integrante da Vila de Santana do Principe de Caetité (Caetité) ganhou a fraca autonomia dos municípios de então, após vinte anos como distrito de vila.

Teve nome de Imperial Vila da Vitória, por lei de 1840, Conquista, em 1891, e Vitória da Conquista (nome da antiga freguesia), em 1943.
Hoje, perto de dois séculos, a malha urbana continua a ser espraiada com os erros do passado.
Repete-se a velha prática de, sem articulação outra com o centro, abrir loteamentos à beira de rodovias e ruas perpendiculares a essa, longe do centro, com grandes áreas desocupadas. Com isso, condenam as rodovias transformarem-se em avenidas, estabelecem-se vazios não urbanificados, mistura-se tráfego rodoviário e urbano, sobrecarrega-se a rodovia transformada em avenida, aumentam-se percursos e impõe-se ao poder público serviços e despesas maiores. Tem sido assim. Continua assim.
BR119 é Avenida Presidente Dutra/Integração; BA 262 é Avenida Brumado; Ba 265 é Avenida Presidente Vargas; Ba 415 é Avenida Juracy Magalhães; o Anel Viário foi logo transposto sem cuidados.
Conjuntos habitacionais seguiram a tendência: URBIS construiu seus conjuntos (exceto INOCOOP I e II) à beira de Rodovias à época separados
por espaços vazios em relação ao centro. Hoje, conjuntos do “Programa Minha Casa, Minha Vida” acompanham esse verdadeiro vício.
Afinal, a política habitacional aprofunda, sem esse objetivo, os desvios em colaboração com a despreocupação (eufemismo) do município: conjuntos são aprovados após áreas vazias, longe do centro, à beira de rodovias. Tão necessária a politica social de habitação, no plano do urbanismo e do urbano a administração municipal não cuida de adequá-la ao bom desenvolvimento da cidade.
A BA 265 agora é privilegiada. Em suas margens, ou quase nelas, estão novos loteamentos em que a articulação com o centro é feita por essa rodovia e assim continua o erro.
Condomínios de lotes e grandes conjuntos fechados criam ruas sem olho, corredores extensos com muros em cada lado, revelando aspectos de arquitetura hostil agravada com as “bolas”‘ de arame farpado, que lembram campo de concentração.
Ruas mal dimensionadas, loteamentos que não se “encaixam” em loteamentos vizinhos, montes de entulho em cada área não ocupada de grandes parcelamentos, ilegalidade de parcelamentos em área rural próxima ou rural de expansão (os chacreamentos) que ferem a lei e agravam a configuração do ambiente e a situação de disformidade.
Não se soluciona a poluição do Rio Verruga e agora vai se conformando tendência de, em suas margens, surgirem muros com a perspectiva de deixarem obstáculos ao livre escoamento das águas numa cidade construída na encosta da serra.
Não basta isso?
Parece que para diversas administrações, isso é insuficiente.
Planos Diretores Urbanos não são respeitados. Gastou-se muito dinheiro com um plano que seria uma das grandes maravilhas do urbanismo
no mundo, de acordo com a demagogia vigente.
Seu projeto de lei foi abandonado; foi substituído por outro que, no fundo apenas zoneia o município e tem caráter principiológico, mas mesmo nisso não é aplicado.
A mais nova atitude criminosa contra o necessário planejamento
urbano é a anunciada venda de áreas verdes e institucionais de loteamentos urbanos, atentatória ao meio ambiente e a futuras necessidades do município, ao bem estar dos habitantes atuais e futuros e ao desenvolvimento das funções sociais da cidade.
Parece que reina, para comprometer o futuro urbano de Vitória da Conquista, a primária incapacidade de aprender com os erros do passado.
Mas… parabéns cidade de Vitória da Conquista. Nem Suíça Baiana, nem Capital do Biscoito. Apenas Conquista, Vitória da Conquista. “Verde que te quero verde” (Lorca).


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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Câmara e Sobrado

 

https://www.blogdopaulonunes.com/v5/index.php/2025/11/20/camara-e-sobrado-artigo-de-ruy-medeiros/


A lei de criação da Imperial Vila da Vitória é de maio de 1840, porém a instalação da sua câmara ocorreu em 9 de novembro daquele ano.

A câmara funcionou em casa de Morada de Teotonio Gomes Roseira, que décadas depois foi adquirida pelo município, servindo para câmara e fórum.

Durante o tempo do Império as câmaras no Brasil eram regidas pela lei de 1° de outubro de 1828, que “Dá nova forma às câmaras municipais, marca suas atribuições e o processo para a sua eleição e dos Juízes de Paz.”

Nas vilas, as câmaras eram compostas de sete membros, porém se a sede municipal ostentasse o título de cidade ela era formada por nove membros

O mandato do vereador era de 4 anos, podendo ser reeleito, e sua eleição ocorria em 7 de setembro. Eram eleitos eleitores da Paróquia. Isto é, havia um corpo de eleitores formado por cidadãos brasileiros natos e naturalizados, atendidos os requisitos de maioridade aos 25 anos (porém poderiam ser eleitores oficiais militares maiores de 21 anos, bacharéis Formados e Clérigos de Ordens Sacras), sendo inelegíveis filhos de famílias que estivessem em dependência dos pais, exceto se fossem servidores públicos, criados de servir (exceto “primeiros caixeiros das casas comerciais, criados da Casa Imperial, religiosos de comunidades de claustro, todos os que não tivessem renda líquida anual de cem mil reis por bens de raiz, indústria, comércio e empregos.

Cada câmara possuía um secretário e um escrivão. Por lei, deviam realizar quatro sessões ordinárias de três em três meses e deviam essas durar os dias necessários, nunca inferiores a seis.

As câmaras de vereadores detinham competência legislativa e executiva, decidindo colegiadamente. Não é correto afirmar que o Presidente da Câmara era um tipo de Intendente, ou Prefeito, pois as decisões executivas eram determinadas pela câmara. Para a prática de uma série de atos, a câmara nomeava um Procurador com mandato de 4 anos.

Durante todo o período imperial e por grande parte do período republicano a câmara da Imperial Vila da Vitória (Império), Conquista, Vitória da Conquista (República) funcionou na casa que pertenceu ao Coronel Roseira (hoje na praça Tancredo Neves), que sofreu reforma que, dentre outras coisas, mudou completamente sua fachada.

Somente em 1963, o então Prefeito Municipal, José Fernandes Pedral Sampaio, adquiriu o sobrado de Manoel Fernandes de Oliveira para servir de sede à Câmara Municipal. Manoel Fernandes de Oliveira descende de Luís Fernandes de Oliveira, primeiro presidente da Câmara de Vereadores da Imperial Vila da Vitória.

Ai durante vários anos eram realizadas, em seu salão, as audiências do Poder Judiciário na comarca, e no seu quintal foi feita uma edícula para abrigar a Justiça do Trabalho

O belo prédio da 1º década do Século XX, construído com adobes secos à sombra, a tição (forma a deixar as paredes mais grossas), conserva em muito seu aspecto inicial, inclusive elementos da Art Nouveau e, hoje, em 19.11.2025, após nova intervenção, é entregue ao uso de memorial (que já ostentava) e, sobretudo, à memória, pois o prédio recebeu a qualificação de imóvel tombado.

É bom ver, em seu salão, expostas obras de Silvio Jessé. que, com sua imensa sensibilidade, nos remete, como em outras oportunidades, à memória desta terra fincada no Sertão da Ressaca. Olho, emoção e inteligência agradecem.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Raul Ferraz

 

                             https://www.blogdopaulonunes.com/v5/index.php/2025/10/30/raul-ferraz/



Raul Ferraz, falecido ontem, 29.10.2025, ex-prefeito de Vitória da Conquista, nasceu em Conquista (anterior nome do município e sua sede), em 13.10.1935. Seus pais descendem de famílias que se fixaram em terras da Imperial Vila da Vitória no século XIX: Ferraz e Andrade.
Filho de Raul Lopes Ferraz e Angélica Andrade Ferraz, Raul Carlos de Andrade Ferraz começou cedo frequentar a Escola Barão de Macaúbas, local onde hoje está o Fórum João Mangabeira, antiga Praça Alegre; depois, transpondo o Exame de Admissão, estudou as duas primeiras séries do curso ginasial no Ginásio de Conquista, fundado e dirigido pelo Padre Luís Soares Palmeira, mas completou o ginasial em Aracaju, Sergipe, no colégio Salesiano. Seu curso colegial (ensino médio) foi prestado no Colégio da Bahia (“central”, como era conhecido), cursou Ciências Jurídicas e Sociais na faculdade de Direito de UFBA e, formado, em 1962, retornou à cidade natal, para exercer a profissão de advogado.
Em 1965 Raul Ferraz casou com a professora Maria Celia Mascarenhas Ferraz, com qual teve os filhos Raul Daniel, Valéria, Marilia e Ana Carolina.
Além de advogado, Raul foi produtor rural e por pouco tempo explorou transporte urbano coletivo de passageiros
Desde a época estudantil atuou politicamente. Encontrou o Colégio Central em grande atividade. A UNE e a UEB eram ativas, assim como a frente estudantil do PCB e da JEC, e Raul optou pela Esquerda, disputando cargo a diretório. Continuou na atuação política na Faculdade de Direito e, ainda no 5° ano do curso, foi candidato a vereador, por V. Conquista, nas eleições de 1962, obtendo a 1ª suplência, vindo a ocupar por vezes a vereança.
Raul Ferraz foi um dos muitos conquistenses presos em 1964 (13.5.) pelo capitão Antonio Bendochi Alves, que para Conquista foi designado, com a finalidade repressora da ditadura militar, para realizar um Inquérito Policial Militar e destituir o Prefeito José Fernandes Pedral Sampaio do seu cargo. Liberado cerca de 30 dias após a prisão e de haver prestado depoimento, Raul continuou sua vida política. Em 1966 foi candidato a Deputado Estadual pelo MDB, não conseguindo eleger-se;

em 1970 participou da campanha eleitoral de Jadiel Matos a Prefeito Municipal (não eleito) e, em 1972, foi candidato a Prefeito, juntamente com Jadiel Matos e Gilberto Quadros (na época, cada partido – ARENA e MDB – podia ter até 3 candidatos por suas sublegendas), Jadiel foi eleito. Em 1976, candidato a Prefeito, juntamente com Sebastião Castro, ambos pelo MDB, a vitória de Raul foi obtida com expressiva diferença de votos em relação ao segundo colocado, Sebastião Castro. A campanha marcou divisão da oposição conquistense: José Pedral e Raul Ferraz, de um lado, e Jadiel Matos e Sebastião Castro, de outro, com respectivos correlegionários.
Em 1982, Raul Ferraz foi eleito Deputado Federal, depois reeleito, tendo sido um dos constituintes de 1988. Como Deputado constituinte, o DIAP- Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o caracterizou da seguinte maneira: “com forte conotação Nacionalista, atuou com o bloco nacionalista na constituinte. Votou a favor da empresa nacional, da nacionalização do subsolo, do tabelamento de juros e do direito de voto aos 16 anos. Em seu mandato anterior foi coordenador da bancada do PMDB baiano. Definiu suas posições políticas como de centro-esquerda, tendo um desempenho liberal reformista”.
Na condição de Prefeito, Raul Ferraz deixou realizações de importância, dentre as quais: Edificação da estrutura, aquisição, e colocação, da escultura do Cristo (Cristo da Serra, de Mário Cravo), projeto e início do viaduto ligando a praça Sá Barreto ao bairro Guarani, complementada pelo Estado da Bahia; criação da EMURC, construção do Ginásio de Esporte (que teve o seu nome, porém retirado com a proibição de nome de pessoas vivas em bens públicos), que pode voltar a ostentar o nome Raul Ferraz, merecidamente.
Tentou, após mandatos de Deputado Federal e um tempo sem mandato, ser vereador por Vitória da Conquista. Não se empenhou bastante na campanha e não foi eleito.
Raul era pessoa de conversa agradável e, além de trabalho escrito na área de história e de política, na década de 1980 escreveu alguns causos engraçados no jornal Tribuna do Café. Espirituoso, deixava as pessoas a rir com suas tiradas. Em certo dia chuvoso de outubro, ele, Prefeito Municipal, dirigia lentamente seu automóvel na Rua Ascendino Melo, totalmente tomada pela enxurrada, e do passeio, sob uma marquise, uma pessoa gritou-lhe, apontando a água: Dr. Raul, precisa tomar uma providência nisso. O Prefeito não teve dúvida em responder: estou indo à Prefeitura para fazer um decreto que proíba água de descer ladeira. Não fez o decreto e agora não o fará.


segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Manoel Fiel Filho …, presente

 

 / Anderson BLOG @blogdoanderson


Há poucos dias, em espaço dos blogs respectivamente de Anderson e Paulo Nunes e por gentileza desses, publiquei texto sob título – Choram Marias e Clarisses, em memória de Vladimir Herzog, Vlado, cujo assassinato em dependências militares completará cinquenta anos no próximo sábado (25.10.25). Agora lembro a pessoa de Manoel Fiel Filho assassinado pela ditadura militar em circunstâncias semelhantes àquele trucidamento de Vlado. Manoel Fiel Filho, nascido em 7 de janeiro de 1927, na cidade de Quebrângulo, Estado de Alagoas, filho de Manoel Fiel de Lima e Margarida Maria de Lima, como muitíssimos nordestinos, migrou para São Paulo, em busca de educação e emprego. Trabalhou em algumas empresas.  Em 1976, já trabalhava, na profissão de Metalúrgico, na empresa Metal Arte. Em 16 de janeiro de 1976 (poucos meses após o assassinato de Vlado), Manoel Fiel foi preso às 12:00h, na fábrica onde trabalhava, por agentes do DOI-CODI e conduzido à sua casa, que esses vasculharam sob olhar temeroso de sua esposa, Thereza de Lourdes Martins Fiel, e filhas. Depois foi levado para o DOI-CODI do 2º Exército (São Paulo), onde foi torturado no pau-de-arara, com socos, choques elétricos, e outros meios usuais no tempo da bestialidade que humilhava o Brasil. Com torturas, foi assassinado.

No dia seguinte, 17 de janeiro, veio a nota cínica do DOI-CODI: “O comando II Exército lamenta informar que foi encontrado morto, às 13h do dia 17 do corrente, sábado, em um dos xadrezes do DOl-CODI II Exército, o Sr. Manoel Fiel Filho. Para apurar o ocorrido, mandou instaurar Inquérito Policial – Militar; tendo sido nomeado o coronel de Infantaria do Quadro do Estado- Maior da Ativa (Quema) Murilo Fernando Alexander, Chefe do Estado- Maior da 2º Divisão de Exército”.

No mesmo dia (17.01), às 22:00h, agente que não se identificou parou em frente à residência do operário assassinado e, dirigindo-se à esposa desse, gritou: “O Manoel suicidou-se. Aqui estão suas roupas” e lançou sobre a calçada um saco plástico com as roupas do operário trucidado pelos agentes militares do Estado.

Como em outras farsas, o Inquérito para apurar a morte de Manoel Fiel Filho concluiu que “as provas apuradas são suficientes e robustas para nos convencer da hipótese de suicídio de Manoel Fiel Filho” e, com isso o procurador militar, Darcy de Araujo Rabello, pediu o arquivamento do Inquérito. A prisão de Manoel Fiel Filho decorreu do fato de haver recebido de uma pessoa exemplar do jornal clandestino Voz Operária. Esse “crime” valeu-lhe a morte.
Assim agia a ditadura militar, de que alguns, às portas de quarteis e tiros de guerra, queriam o restabelecimento.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Choram Marias e Clarices

 / Anderson BLOG @blogdoanderso3

 Leitores, espero que muitos lembrem-se do verso acima. A voz de Elis Regina, inesquecível, cantava-o no corpo daquela música de Aldir Blanc Mendes e João Bosco de Freitas Mucci: O bêbado e o equilibrista, canção que se tornou uma espécie de hino da luta pela anistia. Clarice, dentre tantas Clarices, era a viúva de Vladimir Herzog, Valdo, jornalista, professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Arte da USP, e diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo. Neste ano completam–se 50 anos do assassinato covarde, frio e brutal, com requintes de crueldade, de Vladimir Herzog. “Visitado” no ambiente de seu trabalho, na TV Cultura de São Paulo, por agentes da ditadura militar, que queriam levá-lo preso, Valdo, com aval de colegas, comprometeu-se a apresentar no dia seguinte (25 de outubro, sábado, 1975) no DOI-CODI, Rua Durval Carvalhal, n° 1030, São Paulo, Capital, a fim de prestar depoimento. 

Naquele ambiente sob controle do 2° Exército, comandado pelo General Ednardo D’Ávila Melo, Vladimir Herzog é submetido a todo tipo de tortura física e psicológica. É assassinado. Dentro de alguns dias, o ato de covardia completa 50 anos. Era 1975 e nosso país vivia sob ditadura de Geisel cujo ministro do exército era o general Silvio Frota, aval da “linha dura”. Vlado, apesar de saber o que ocorria nos porões da ditadura, apresentou-se confiante. Logo, conduzido a uma sala, foi despido, totalmente desarmado, mãos amarradas, sem condições de reagir, por militares covardes (a tortura é sempre ato de covardia), passou pelo ritual do sadismo cultuado nas casernas do regime e foi assassinado. Era um homem de 38 anos. A covardia não se perfez apenas com a tortura. É que, à noite daquele dia, o 2º Exército distribuiu nota oficial veiculando a notícia de que Vladimir Herzog havia praticado suicídio. Utilizara uma tira de pano presa a uma grade de janela, na altura de 1,63 metro, inferior à estatura de 1,70m da vítima. Fotos e laudo médico (esse apresentava como causa mortis “asfixia mecânica por enforcamento”) foram providenciados pelos agentes militares. A Covardia continuava, associada à mentira e ao cinismo.

A foto distribuída pelo porão do regime não convenceu a ninguém. Era farsa mal montada por aqueles que se julgavam impunes. Tentou-se disfarçar com laudo médico vergonhoso. Clarice foi proibida de providenciar uma segunda autopsia. Mas ali, estava o momento, a covardia dos torturadores (pleonasmo: todo torturador é covarde) trazia sua própria prova da brutalidade que campeava pelo país afora, com a imagem daquele homem nascido em Osijek, na Iugoslavia, em 27 de junho de 1937, chegado ao Brasil, em companhia de seus pais, quando tinha 9 anos de idade, casado em 15.02.1964, com Clarice, com a qual teve filhos: Ivo e André. Mas a covardia não parou por aí.

A Revista Veja foi proibida de publicar notícia sobre Vladimir Herzog e sua trajetória de vida. Tratava-se de impedir que o crime fosse conhecido. Nota curta noticiando primeiro a prisão, e outra a morte, saíram n’ O Estado de São Paulo e n’ O Globo, passado um dia, mencionando morte de um preso político por suicídio. Somente na semana seguinte, as notícias começaram a sair ainda com a versão da morte por suicídio.

Debalde tentaram esconder o crime. O Sindicato dos jornalistas telefonou a muitos noticiando-o. O corpo foi velado no velório do Hospital Albert Einstein, no domingo. Na segunda-feira, mais de trezentos automóveis acompanharam o cortejo fúnebre até o Cemitério Israelita, onde Vladimir Herzog foi sepultado. Não o foi na ala dos suicidas, numa demonstração de que ninguém acreditava na versão farsante de suicídio como causa da morte.

O sepultamento foi apressado. A própria mãe de Herzog não pode ver o caixão sendo depositado na cova, tal era a pressa. Apenas falaram um jornalista (Emanoel Martins), Ruth Escobar (atriz) e um padre católico que rezou o pai nosso, no cemitério após o sepultamento.  Os estudantes universitários da USP deflagraram greve, no mesmo dia do enterro, e nesse estado ficaram até o dia de sexta-feira para o qual foi programado um Culto Ecumênico. Na sexta-feira, as Polícias Militar e Civil interditaram a Praça de Sé, e bloquearam várias avenidas, inclusive as saídas da USP. Mas, mais 8.000 pessoas, furando obstáculos, conseguiram chegar à Praça da Sé em cuja catedral, muito cheia, seria realizado o culto. O rabino Henry Sobel, o reverendo Jaime Wright e Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano, realizaram o culto. Dom Helder Câmara, no recinto, não usou da palavra junto a esses religiosos. Ali, na catedral e na praça, aquelas mais de 8.000 pessoas expressaram com sua presença repúdio aos ditadores, e solidariedade, em grande silêncio. Sua presença dizia tudo.

Empréstimo no valor de até R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões)

  11 de dezembro de 2025, 7:42  / Anderson BLOG  @blogdoanderson A maioria da Câmara Municipal aprovou, em primeira votação, por esmagadora ...