Ruy Medeiros
Recebo
aviso de Dilson Ribeiro, Ubirajara Brito, Heleusa Câmara, Carlos Jehovah e
Esmeradino Correia de que cinzas do poeta Clóvis Lima serão espalhadas na Praça
Tancredo Neves, às 17:00 horas de hoje, 4 de maio.
Clovis
Álvares de Lima nasceu em 1914, em Vitória da Conquista, em casa da praça que
receberá suas cinzas, do enlace de Themistocles Alvares de Lima e Auta Álvares
de Lima, que vieram, em 1911, de Ituaçu para nossa cidade.
Clóvis de Lima desde jovem escreveu crônicas e
poemas e colaborou com jornais locais. É o último associado à Ala de Letras de
Conquista e ao Grêmio Dramático Castro Alves (associações muito influentes em
Conquista, já extintas), a falecer. O poeta foi admitido na Academia de Letras
da Bahia, anos após fixar residência em Salvador para onde foi transferido por
motivo de exercício de cargo público.
Quando,
à frente da Casa da Cultura, Vicente Casimiro organizou a “Coletânea do
Escritor conquistense”, Clovis fez-lhe o prefácio no qual lembra companheiros
escritores de Vitória da Conquista (1975).
Antes
de entrevistá-lo na última vez que veio a V. Conquista, revelou-me (o que havia
feito a amigos seus) que contribuiu com Euclides Dantas, quando este escreveu o
Hino a Conquista, com a seguinte estrofe:
Deixar o doce encanto
destas ruas,
Deixar o teu céu que tanto
bem almeja
Eu morreria de saudades
tuas,
Minha querida terra
sertaneja.
Entretanto se a Pátria me
exigira
Deixar-te para Pátria
defender,
Este afeto bairrista é vã
mentira,
Pelo Brasil inteiro irei
morrer!
Dentre
seus trabalhos destaca-se Figurações do
Natal, coroa de sonetos editada em 1976. No entanto, destacou-se mesmo como
tradutor de poemas da língua francesa para nosso idioma, e verteu algumas
poesias de autores baianos para o francês.
A
seguir temos um soneto extraído de Figurações
do Natal e um belo poema de Heredia (poeta de expressão francesa, nascido
em Cuba).
I
Feliz
Natal! – repete-se a legenda
Dos
cartões augurando-nos ventura:
“Que,
Feliz o Ano Novo se distenda
Num
fastígio de sonhos e fatura”.
Esses
votos são todos a oferenda
Da
ilusão que se acolhe com ternura,
Mas
que não pode desatar a venda
De
uma enorme tristeza que perdura.
Tristeza
que mais cresce e se acentua
Quando
o povo se ajunta propagando
Os
rumores festivos pela rua,
Pois
nela vemos, de alma desolada,
Um
velhinho migalhas implorando...
Um
menino estirado na calçada.
(Figurações
do Natal)
FLORIDUM
MARE
(Heredia)
A
seara, matizando uma extensa chapada,
Brilha
e ondula ao sabor do vento que a arrepia,
E
à distancia, em perfil, o arado parecia,
Naquela
solidão uma escuna parada.
Em
frente, o mar se alonga até a curva esbraseada
Do
horizonte, onde a luz do sol cadente amplia
A
tela em que dilui tintas em demasia,
Numa
estranha cambiância às águas retratada.
Sobre
a planície multicor do Oceano infindo,
As
gaivotas, que vão os peixes perseguindo,
Roçam
afoitamente as asas nas maretas.
E
dos trigais a brisa, em perfumes imersa,
Sobre
a vasta extensão atlântica dispersa
Uma
revoada leve e azul de borboletas.
05/05/2016