Tião
Ruy Medeiros
Em 1973, conheci Sebastião Rodrigues Castro,
Tião. Eu havia sido convidado para ser Procurador Jurídico do Município de por
Jadiel Matos, Prefeito eleito com ampla margem de votos, e ele, como era de
esperar-se, foi convocado para ser Secretário Municipal de Saúde.
Demonstrou, desde os primeiros dias, capacidade
de administrar, liderar e ser possuidor de grande capacidade de perceber o lado
político das situações enfrentadas.
Com poucos recursos, realizou excelente gestão à
frente da Secretaria Municipal de Saúde e ai contou com a valiosa colaboração
de Josué Figueira. Mostrou logo a que vinha: conseguiu que a administração
adquirisse duas unidades móveis de saúde, uma médica e outra, odontológica, com
as quais levava atendimento à zona rural e às escolas.
Tião foi o principal assessor de Jadiel Matos,
mas sabia respeitar a decisão coletiva e gostava de amadurecer as discussões.
Quando da luta pela sucessão da bem sucedida
administração de Jadiel, aceitava uma candidatura de consenso entre os grupos
do MDB, mas isso tendo ficado inviável não teve dúvidas em pleitear sua
candidatura. Em convenção partidária, obteve maioria de votos, porém Raul
Ferraz obteve-os em número suficiente para ser candidato e o MDB, como era
possível na época, concorreu com dois candidatos: Tião e Raul. Raul sagrou-se
vitorioso e foi Prefeito. Sebastião disputaria o cargo por mais duas vezes, sem
sucesso.
Em 1978, comigo e outros, criamos o Semanário o
Fifó, que pretendia ser um jornal alternativo que chegasse a adotar um discurso
e esquerda. Mais da metade das edições de o Fifó foram redigidas e planejadas
em sua residência, em tempo que ele roubava da medicina e de sua família.
Nevinha, sua esposa, recebia-nos, a mim, ao “datilógiafo” Hélio Gusmão, e a
outros que, ás vezes apareciam com solidariedade. O Fifó sobreviveu por 15
edições e Tião foi responsável por alguns artigos e geralmente discutia comigo
os editoriais.
Por duas vezes Deputado Estadual, numa das quais
foi líder de Governo, Tião inaugurou seu mandato com um pequeno estudo sobre a
Região Sudoeste (denominação administrativa), muito bem elaborado.
Embora tendo-se afastado de disputas como
candidato, nunca deixou a política, nem fez desta núcleo para criar inimigos.
Eu mesmo, que passei a militar em outro partido e José Pedral, que fora seu
adversário dentro de MDB e, depois, em outras siglas, sempre mantivemos com
Tião laços de amizade. Dele José Pedral recebeu toda atenção nos tempos últimos
de sua vida.
Continuou lúcido, inteligente, preocupado com
espessa e filhos, com os quais dividia sua amizade com a terra e povo que um
dia o receberam vindo de Ribeira do Pombal com os pais.
É uma vida que merece respeito e gratidão da
maioria de todos nós, mesmo os que divergimos de posições politicas que se
foram formando durante o recuo do governo dos generais e contra esse, um das
quais ele adotou, enquanto outros preferiram caminho mais a esquerda e outros
mais houvessem se distanciado da defesa dos preceitos democráticos.
Meu abraço forte a Nevinha, aos filhos de Tião e
aos muitíssimos amigos que ele deixou.