Ruy Medeiros
O
Governo Bolsonaro chega quase ao fim sem ter sido. Desprovido de
apoio e de quadros, vem se revelando o que é: mero discurso dia a
dia no sentido de manter o grupo unido e de captar se há assonância
para o fechamento político. A cada dia por outro viés, desmente
tudo o que disse, sofre pressões e resolve ameaçar – chutar o pau
da barraca. Não consegue apoio no Congresso.
O isolamento do capitão
reformado é maior a cada minuto. A virulência do discurso fascista
com que tenta agradar a direita não tem impedido que arrependidos
venham a público externar o sentimento de profunda decepção com o
governo.
A
moralidade – que o capitão e seu entorno diziam defender – é a
continuidade da fala de que apenas apaixonados cegos não captavam o
sentido imoral: a defesa da tortura, a homofobia, o desprezo ao
feminino, a relação estranha com pessoas integrantes das milícias.
Nisso se resumia a “moralidade” estranha que muitos interpretaram
como “bons costumes”, “defesa da família”, “exaltação de
Deus”. E, sobretudo, a campanha eleitoral sordidamente alimentada
por fake news. Havia a impressão poderosa de que muitos não se
davam conta de que aquela campanha era exatamente o contrário da
mínima moralidade. Aparecia para grande número de eleitores como
instrumento da vingança contra adversários, a projeção externa de
que os fins justificam os meios, como se realmente, do ponto de vista
ético o justificassem.
Agora,
novas pontas do iceberg se somam às descobertas de CPI e do
Inquérito que investigam fake news e ameaças a ministros do STF e
à prisão de exaltados apoiadores.
Sobretudo
agora, a prisão do Sr. Fabrício Queiroz expõe outra ponta: vem
acompanhada de ingredientes que o vinculam ao capitão presidente:
encontrado em imóvel pertencente a advogado seu amigo e de
familiares, escondido, e a revelação de que uma das assessoras de
seu filho foi buscada em imóvel que ele, Bolsonaro, informou como
seu em declaração perante o TSE.
As
últimas reações do Presidente, ameaçadoras, não revelam força,
mas sim desespero. Não há centrão que possa conduzir seu projeto.
Está acabando o que não foi. Chorem as viúvas.
P.S.
O título é um verso de Álvares de Azevedo (1831-1852), poeta
romântico, do poema Ideias Íntimas.