quinta-feira, 18 de junho de 2020

Pode o mundo chorar sua agonia


Ruy Medeiros


O Governo Bolsonaro chega quase ao fim sem ter sido. Desprovido de apoio e de quadros, vem se revelando o que é: mero discurso dia a dia no sentido de manter o grupo unido e de captar se há assonância para o fechamento político. A cada dia por outro viés, desmente tudo o que disse, sofre pressões e resolve ameaçar – chutar o pau da barraca. Não consegue apoio no Congresso.
O isolamento do capitão reformado é maior a cada minuto. A virulência do discurso fascista com que tenta agradar a direita não tem impedido que arrependidos venham a público externar o sentimento de profunda decepção com o governo.
A moralidade – que o capitão e seu entorno diziam defender – é a continuidade da fala de que apenas apaixonados cegos não captavam o sentido imoral: a defesa da tortura, a homofobia, o desprezo ao feminino, a relação estranha com pessoas integrantes das milícias. Nisso se resumia a “moralidade” estranha que muitos interpretaram como “bons costumes”, “defesa da família”, “exaltação de Deus”. E, sobretudo, a campanha eleitoral sordidamente alimentada por fake news. Havia a impressão poderosa de que muitos não se davam conta de que aquela campanha era exatamente o contrário da mínima moralidade. Aparecia para grande número de eleitores como instrumento da vingança contra adversários, a projeção externa de que os fins justificam os meios, como se realmente, do ponto de vista ético o justificassem.
Agora, novas pontas do iceberg se somam às descobertas de CPI e do Inquérito que investigam fake news e ameaças a ministros do STF e à prisão de exaltados apoiadores.
Sobretudo agora, a prisão do Sr. Fabrício Queiroz expõe outra ponta: vem acompanhada de ingredientes que o vinculam ao capitão presidente: encontrado em imóvel pertencente a advogado seu amigo e de familiares, escondido, e a revelação de que uma das assessoras de seu filho foi buscada em imóvel que ele, Bolsonaro, informou como seu em declaração perante o TSE.
As últimas reações do Presidente, ameaçadoras, não revelam força, mas sim desespero. Não há centrão que possa conduzir seu projeto. Está acabando o que não foi. Chorem as viúvas.
P.S. O título é um verso de Álvares de Azevedo (1831-1852), poeta romântico, do poema Ideias Íntimas.


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Ruy Medeiros | ó quão dessemelhante 0  6 de novembro de 2024, 0:28  / Anderson BLOG  @blogdoanderson Lembro-me dos colegas que antes de mim ...