31
de março
Aos que perderam a
memória
do tempo obscuro
Ruy Medeiros
Em
31 de março (tiveram vergonha de dizer que foi em 1° de abril) um general que
se autodenominava “Uma Vaca Fardada”, deu seguimento a demorada conspiração e
iniciou a fase concreta de assalto à máquina do Estado.
A
partir daí era a ditadura. É difícil definir esse regime de ódio.
Mas,
com certeza, sabe-se que a ditadura pode ter definição aproximada a partir de
sua forma de agir.
Ela,
de logo, proíbe os direitos de opinião e de reunião. Todas as ditaduras o
fazem, com ou sem édito prévio.
Ela
é contra a dignidade, porque não respeita os atributos da pessoa humana, os
trata como objeto dos quais pode dispor ou o quais pode descartar; ela é contra
a opinião, porque não aceita o diálogo e a todos trata como inimigos potenciais
ou declarados; é contra a reunião, que não a favoreça, porque teme que de
várias inteligências surja um consenso para a ação; é
contra a arte, por isso censura todas as expressões estéticas; é contra a
liberdade, por isso encarcera; é contra a vida, por isso tortura e mata.
A
ditadura não é moral. Ao contrário disso, censurar, impedir reunião, tratar
pessoas como objetos, impor o reinado do maniqueísmo, encarcerar, tortura e
matar, tudo isso representa suprema imoralidade. Mas quanto à chamada probidade
no trato da coisa pública, o seu assalto a bens e direitos públicos fica
acobertado pelo terror, medo, ameaças, e punição ou morte daqueles que
denunciam suas falcatruas. Como não podem ser divulgados, seus agentes posam de
honestos, pais da pátria, protetores.
A
ditadura promete preservar a democracia (que contradição, que farsa, que
ironia), mas estabelece o condomínio restrito do poder aterrorizante e dos
interesses de ínfima minoria. Afinal é ditadura.
Hoje,
quando retornam insistentemente discurso e voz a favor da ditadura, é preciso
dizer que para aprova-lo é necessário que se prepare para renunciar à ciência
compartilhada, à liberdade, ao diálogo, à dignidade, à arte e, no limite, à
vida. É necessário que se torne gusano ou escravo. Os condôminos do poder
devoram uns aos outros e mesmo a grande esperteza de alguns na arte de bajular
não é suficiente para fazê-los sentar-se à mesa do círculo dos ditadores.
Muitas vezes a admiração incondicional e a bajulação também incomodam os
ditadores: oportunistas que são, eles tem faro suficiente para afastar os
medíocres que incensam seus atos e outros oportunistas que querem gozar das
vantagens de ser cúmplice do regime de ódio.
Enfim,
como diz Afonso Romano de Santana:
“Sei
que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura.
Mas
não se chega à verdade
Pela
Mentira, nem á democracia
Pela
ditadura.”
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