sexta-feira, 31 de março de 2017

31 de março - 31-03-2017



31 de março

Aos que perderam a memória
do tempo obscuro

Ruy Medeiros

Em 31 de março (tiveram vergonha de dizer que foi em 1° de abril) um general que se autodenominava “Uma Vaca Fardada”, deu seguimento a demorada conspiração e iniciou a fase concreta de assalto à máquina do Estado.
A partir daí era a ditadura. É difícil definir esse regime de ódio.
Mas, com certeza, sabe-se que a ditadura pode ter definição aproximada a partir de sua forma de agir.
Ela, de logo, proíbe os direitos de opinião e de reunião. Todas as ditaduras o fazem, com ou sem édito prévio.
Ela é contra a dignidade, porque não respeita os atributos da pessoa humana, os trata como objeto dos quais pode dispor ou o quais pode descartar; ela é contra a opinião, porque não aceita o diálogo e a todos trata como inimigos potenciais ou declarados; é contra a reunião, que não a favoreça, porque teme que de várias inteligências surja um consenso para a ação; é contra a arte, por isso censura todas as expressões estéticas; é contra a liberdade, por isso encarcera; é contra a vida, por isso tortura e mata.
A ditadura não é moral. Ao contrário disso, censurar, impedir reunião, tratar pessoas como objetos, impor o reinado do maniqueísmo, encarcerar, tortura e matar, tudo isso representa suprema imoralidade. Mas quanto à chamada probidade no trato da coisa pública, o seu assalto a bens e direitos públicos fica acobertado pelo terror, medo, ameaças, e punição ou morte daqueles que denunciam suas falcatruas. Como não podem ser divulgados, seus agentes posam de honestos, pais da pátria, protetores.
A ditadura promete preservar a democracia (que contradição, que farsa, que ironia), mas estabelece o condomínio restrito do poder aterrorizante e dos interesses de ínfima minoria. Afinal é ditadura.
Hoje, quando retornam insistentemente discurso e voz a favor da ditadura, é preciso dizer que para aprova-lo é necessário que se prepare para renunciar à ciência compartilhada, à liberdade, ao diálogo, à dignidade, à arte e, no limite, à vida. É necessário que se torne gusano ou escravo. Os condôminos do poder devoram uns aos outros e mesmo a grande esperteza de alguns na arte de bajular não é suficiente para fazê-los sentar-se à mesa do círculo dos ditadores. Muitas vezes a admiração incondicional e a bajulação também incomodam os ditadores: oportunistas que são, eles tem faro suficiente para afastar os medíocres que incensam seus atos e outros oportunistas que querem gozar das vantagens de ser cúmplice do regime de ódio.
Enfim, como diz Afonso Romano de Santana:
“Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
Pela Mentira, nem á democracia
Pela ditadura.” 

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