quarta-feira, 30 de maio de 2012


Leitura

                                                                      
                                                                       Ruy Medeiros.  (Digitado 1999)


Sempre há queixa de que os índices de leitura no Brasil são ridículos. Mesmo, em geral, o professor não lê suficientemente. Em recente pesquisa feita em Araraquara, Estado de São Paulo, relatada no 12º Cole (Congresso de Leitura do Brasil), realizado na UNICAMP, Campinas, a leitura está em quarto lugar dentre as formas de lazer dos professores daquele município.
É evidente que os meios impressos não são a única forma de obter informação e conhecimento. No entanto, o livro é ainda o principal instrumento de educação, de formação cultural. Neste sentido, o primeiro passo é a alfabetização.
Apesar da importância dos livros, nota-se que seu preço torna proibitiva sua aquisição em títulos fundamentais, mesmo por bibliotecas públicas. Aliás, inúmeros municípios sequer possuem bibliotecas públicas.
Premido entre o preço dos livros e os baixos salários, o brasileiro não tem como adquirir livros. No entanto, não é este o único motivo, embora seja fundamental.
Em verdade, em média, cada edição de livro corresponde a 2.500 a 3.000 exemplares, encarecendo seu preço unitário.
Livro é caro e mal distribuído. Poucas livrarias, concentradas em grandes cidades, indicam que a existência de novos títulos é conhecida por bem poucos. Mesmo as revistas especializadas não cobrem todos os lançamentos. Então, o custo e a imperfeita distribuição, além da inexistência de bibliotecas, ou de bibliotecas que cheguem até o leitor, são fatores que inibem a leitura.
Mas, além disso tudo, há outras questões: A escola tem estimulado o hábito de leitura? As pessoas alfabetizadas estão preparadas para a leitura? O gosto de ler é promovido?
Mal pode a escola estimular o hábito de leitura. Com raríssimas exceções, as próprias escolas não possuem bibliotecas, nem ponto de venda de livros.
As pessoas, por estarem alfabetizadas não significa que estão prontas para a leitura. Há o chamado analfabetismo funcional: As pessoas conhecem as palavras, sabem de seu significado, mas não se encontram aptas para o trabalho de interpretação, não estão preparadas para a  a  “sua leitura”.  Às vezes o preparo chega a um livro de Paulo Coelho e para aí. Mesmo os chamados livros de auto-ajuda não são bem lidos (por isso mesmo eles existem em quantidade).
Assusta a discrepância de títulos e de exemplares, em livrarias de cidades médias, entre os livros sem qualidade e aqueles que são fundamentais. A boa ficção, os bons livros técnicos, as boas obras filosóficas, naquelas cidades, quase que inexistem ( e as vezes inexistem) em comparação aos livros que em nada contribuem para a formação intelectual das pessoas.
Como exigir-se do professor ( que é teoricamente quem mais deve ler) leitura diante dessa situação? Há mesmo boas editoras que são desconhecidas. As  “resenhas” nos jornais, sobre livros em lançamento, abrangem títulos de umas poucas editoras.
As feiras de livros concentram-se, quando realizadas, em algumas cidades grandes.
Algumas obras fundamentais não são reeditadas.  “Uma Comunidade Rural no Brasil Antigo” ( de Lycurgo Santos Filho), por exemplo tem sua última edição de 1956. Há livros importantes que não foram reeditados após sua edição inicial, no século passado, como é o caso do livro do Frei Jaboatão ( “Novo Orbe Seráfico”, de 1858). A  “História Territorial do Brasil”,  de Felisbelo Freyre, editada em 1906, só foi reeditada recentemente, em número limitado de exemplares, apesar de sua importância.
Alguns programas interessantes de estímulo à leitura (caso do proler) são desativados relativamente porque a prioridade, na área de leitura, não é a  “expansão da leitura”!
A falta de leitura – ou a impossibilidade desta para milhões de pessoas – parece não ser problema para certos governantes. Para estes basta o controle de um ou dois canais de televisão para desestimularem exatamente a leitura. Quanto mais imbecis os programas televisivos, é melhor a situação para o governante que não tem a expansão da leitura como uma de suas prioridades de política cultural (ou daquilo que eles assim chamam).
O leitor já deve ter visto no ecran de seu televisor certos políticos deitando falação sobre escola, aumento de matrículas, suposta diminuição de índices de analfabetismo, etc. etc. Tentam passar um compromisso, que não têm, com a cultura. Para aqueles, educação e cultura são meros problemas burocráticos de estatística. Algo fossilizado. Não entendem, nem conhecem, realmente, o livro e seu poder. Ou talvez, por suspeitarem do poder do livro, resolvem impedir que eles circulem  “a mancheias”,  como queria o poeta baiano, para que o brasileiro não possa julgá-los convenientemente,
Afinal, há uma política do livro no Brasil? – É evidente que não. A política existente é contra a leitura.

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