Leitura
Ruy
Medeiros. (Digitado 1999)
Sempre há queixa de que os índices de leitura no
Brasil são ridículos. Mesmo, em geral, o professor não lê suficientemente. Em
recente pesquisa feita em Araraquara, Estado de São Paulo, relatada no 12º Cole
(Congresso de Leitura do Brasil), realizado na UNICAMP, Campinas, a leitura
está em quarto lugar dentre as formas de lazer dos professores daquele
município.
É
evidente que os meios impressos não são a única forma de obter informação e
conhecimento. No entanto, o livro é ainda o principal instrumento de educação,
de formação cultural. Neste sentido, o primeiro passo é a alfabetização.
Apesar
da importância dos livros, nota-se que seu preço torna proibitiva sua aquisição
em títulos fundamentais, mesmo por bibliotecas públicas. Aliás, inúmeros
municípios sequer possuem bibliotecas públicas.
Premido
entre o preço dos livros e os baixos salários, o brasileiro não tem como
adquirir livros. No entanto, não é este o único motivo, embora seja
fundamental.
Em
verdade, em média, cada edição de livro corresponde a 2.500 a 3.000 exemplares,
encarecendo seu preço unitário.
Livro
é caro e mal distribuído. Poucas livrarias, concentradas em grandes cidades,
indicam que a existência de novos títulos é conhecida por bem poucos. Mesmo as
revistas especializadas não cobrem todos os lançamentos. Então, o custo e a
imperfeita distribuição, além da inexistência de bibliotecas, ou de bibliotecas
que cheguem até o leitor, são fatores que inibem a leitura.
Mas,
além disso tudo, há outras questões: A escola tem estimulado o hábito de
leitura? As pessoas alfabetizadas estão preparadas para a leitura? O gosto de
ler é promovido?
Mal
pode a escola estimular o hábito de leitura. Com raríssimas exceções, as
próprias escolas não possuem bibliotecas, nem ponto de venda de livros.
As
pessoas, por estarem alfabetizadas não significa que estão prontas para a
leitura. Há o chamado analfabetismo funcional: As pessoas conhecem as palavras,
sabem de seu significado, mas não se encontram aptas para o trabalho de
interpretação, não estão preparadas para a
a “sua leitura”. Às vezes o preparo chega a um livro de Paulo
Coelho e para aí. Mesmo os chamados livros de auto-ajuda não são bem lidos (por
isso mesmo eles existem em quantidade).
Assusta
a discrepância de títulos e de exemplares, em livrarias de cidades médias,
entre os livros sem qualidade e aqueles que são fundamentais. A boa ficção, os
bons livros técnicos, as boas obras filosóficas, naquelas cidades, quase que
inexistem ( e as vezes inexistem) em comparação aos livros que em nada
contribuem para a formação intelectual das pessoas.
Como
exigir-se do professor ( que é teoricamente quem mais deve ler) leitura diante
dessa situação? Há mesmo boas editoras que são desconhecidas. As “resenhas” nos jornais, sobre livros em
lançamento, abrangem títulos de umas poucas editoras.
As
feiras de livros concentram-se, quando realizadas, em algumas cidades grandes.
Algumas
obras fundamentais não são reeditadas.
“Uma Comunidade Rural no Brasil Antigo” ( de Lycurgo Santos Filho), por
exemplo tem sua última edição de 1956. Há livros importantes que não foram
reeditados após sua edição inicial, no século passado, como é o caso do livro
do Frei Jaboatão ( “Novo Orbe Seráfico”, de 1858). A “História Territorial do Brasil”, de Felisbelo Freyre, editada em 1906, só foi
reeditada recentemente, em número limitado de exemplares, apesar de sua
importância.
Alguns
programas interessantes de estímulo à leitura (caso do proler) são desativados
relativamente porque a prioridade, na área de leitura, não é a “expansão da leitura”!
A
falta de leitura – ou a impossibilidade desta para milhões de pessoas – parece
não ser problema para certos governantes. Para estes basta o controle de um ou
dois canais de televisão para desestimularem exatamente a leitura. Quanto mais
imbecis os programas televisivos, é melhor a situação para o governante que não
tem a expansão da leitura como uma de suas prioridades de política cultural (ou
daquilo que eles assim chamam).
O
leitor já deve ter visto no ecran de seu televisor certos políticos deitando
falação sobre escola, aumento de matrículas, suposta diminuição de índices de
analfabetismo, etc. etc. Tentam passar um compromisso, que não têm, com a
cultura. Para aqueles, educação e cultura são meros problemas burocráticos de
estatística. Algo fossilizado. Não entendem, nem conhecem, realmente, o livro e
seu poder. Ou talvez, por suspeitarem do poder do livro, resolvem impedir que
eles circulem “a mancheias”, como queria o poeta baiano, para que o
brasileiro não possa julgá-los convenientemente,
Afinal,
há uma política do livro no Brasil? – É evidente que não. A política existente
é contra a leitura.
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