quarta-feira, 30 de maio de 2012


                            Lembranças de muito longe e de muito perto

                                                          
                                   Ruy  Hermann Araújo Medeiros. (Digitado em1999)

José Raimundo dos Santos,  enquanto espera a liberdade escreve sua história, dá forma de livro às lembranças de muitos tempos e lugares. Quer voltar a ter alegri de viver  porque seus dias estão  “sendo muito amargos” e suas  “noites se transformam em verdadeiros pesadelos”.
Homem que percorreu quase todo o Brasil, dirigindo carreta, diz que  “hoje, todo o caminho” que fez  “está reduzido e dividido entre os corredores das galerias do presídio, do pátio e da fila do refeitorio que, se somar todas juntas não dão nem ao menos 200 metros dos milhares de quilômetros de todas as rodovias deste Brasil”.
Estimulado pelo Proler Carcerário, então sob cuidados da poetisa Heleusa Câmara, José Raimundo dos Santos resolveu escrever suas memórias, retalhos de lembranças, na forma de história-puxa-história. E, assim, como quem dirige sua carreta, viaja pelo mundo das recordações desde a infância em fazenda de cacau, a escola, o trabalho duro no campo, sobretudo as vitórias e decepções de sua vida quando exercia profissão de caminhoneiro, e a prisão, a terrível prisão.
Resta ao autor desde  “vida de caminhoneiro” a liberdade buscada de escrever. Os  caminhos de sua escritura são longos e difíceis para o homem que teve que parar de estudar por faltar-lhe dinheiro e que fora vendido para trabalhar em fazenda longe de sua casa. Muito longe. Mas não se deixou intimidar. No presídio, sonha:  “Em consegui, desta vez, colocar o meu nome no livro dos escritores, eu sei que vou vencer a última batalha da minha vida, vou voltar para Ilhéus, a terra onde eu praticamente me criei e terminar a minha vida na carreira de escritor”.
Entre a pena e a pena as histórias andam e desandam, como causos contados, que poderiam ser narrados de qualquer lugar, - mas porque do presídio?
José Raimundo dos Santos consegue ser um narrador seguro. Não lhe peçam palavras difíceis ou frases rebuscadas. Ele não as tem. Sua vida foi de trabalho e é a linguagem essencial ao trabalhador que serve a seu ofício de escrever. Melhor que seja assim. Não havia porque obscurecer caminhos do acontecido com palavras não conhecidas dos seus atores. O uso do vocabulário essencial ou de formas não ricas  nunca pode ser limite; o próprio autor os tem como forma de liberdade, de ir além de onde está, de ampliar a sua voz.
Faço votos de que o livro de José Raimundo ganhe as estradas que ele um dia percorreu e que sua experiência se junte às experiências de seus companheiros de qualquer tipo de estrada.

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