terça-feira, 22 de maio de 2012


A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O DESENVOLVIMENTO DE VITÓRIA DA CONQUISTA E DA REGIÃO
29th/jan/2009 . 9:44 pm 

Ruy Medeiros
Às vezes, notas de jornal antigo despertam a atenção para fatos relevantes. É o caso de dois artigos que hoje são transcritos e comentados. Ambos relacionam o desenvolvimento de Vitória da Conquista com a Segunda Grande Guerra. Ei-los:
“VITÓRIA DA CONQUISTA”
“(…) Na pecuária reside a principal riqueza do Município, vale dizer, sua mais importante fonte de renda. No decurso da Segunda Guerra Mundial, os rebanhos, mercê de incessante demanda nos centros consumidores, lograram notável incremento, especialmente o bovino. Consoante dados do Serviço de Estatística da Produção, filiado ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o rebanho pecuário totalizava, em 1946, o efetivo de 410.500 cabeças, das quais 250.000 de bovinos, 28.000 de equinos, 6.000 de asininos, 8.000 de muares, 7.000 de suinos, 18.500 de ovinos e 30.000 de caprinos. A quantidade de carne produzida foi de 859.376 quilogramas, no valor de 5.261.499 cruzeiros.
“Conquanto a pecuária seja, como se nota, a principal riqueza do município, cabe à produção agrícola papel de relevo em sua vida econômica. Digna de nota é a circunstância de se achar generalizada a plicultura, graças à parte, a excelência de seus solos aptos a variadas culturas. O valor dessa produção foi, em 1946, de 4.224.191 cruzeiros. Os produtos a que se achavam atribuídos valores mais expressivos foram abacaxi, o feijão e a banana.
“O Município é, ainda, rico em minérios, possuindo cristal de rocha de notável pureza, águas marinhas, ametistas, esmeraldas, ultimamente exploradas no distrito de Anagé (ex-Joanópolis) e, até mesmo, segundo se presume, diamante até hoje inexplorado.
“O estabelecimento de ligação permanente com o litoral sulbaiano, tornado realidade com a conclusão durante a última guerra, da rodovia Vitória da Conquista a Ilhéus, abriu promissoras perspectivas à vida econômica do Município, que passou a contar, naquela zona, com importante mercado de consumo para os produtos de sua atividade, dali recebendo, em troca, as mercadorias de que necessita”. ( Jornal do Brasil, edição de 24 de julho de 1949. A transcrição acima é parcial).
SURTO DE PROGRESSO
“É inegável o surto de progresso por que está passando a nossa cidade. Apesar de primitivamente sem plano; horrivelmente desarrumada. Conquista hoje obedece a uma planta que a vai corrigindo. Força é dizer que tal correção nunca poderá ser completa. É que se cuidou disso muito tarde e as rendas municipais não oferecem margem às desapropriações em massa.
“Temos, por isso, de tolerar muita coisa que está, como se diz, na casado sem jeito.
“A par de erros e velharias sem remédio, sentimos aqui um ritmo novo de vida. Poucas ou nenhumas cidades do interior baiano cresceram tanto em tão pouco, como Conquista. A guerra, agente de males para todos, teve aqui, para nós, esse lado bom, que de nenhum modo a justifica.
“Devido em grande parte à guerra, o surto de progresso, por que passa Conquista, acentuar-se-á com a paz, através do trabalho esclarecido de seus habitantes, apoiados pela Prefeitura, a quem toca, neste particular, a posição de vanguardeira, se não quiser trair a confiança do povo”. ( “A Conquista”, edição de 2 de julho de 1944).
As notas acima foram transcritas, ainda, pelo seu valor de fonte subsidiária ao estudo da história recente do Município. Como se vê, não se trata de texto oficial, mas isso não diminui sua importância.
GUERRA E EXPORTAÇÃO
Resta saber se, realmente, o Conflito Mundial repercutiu favoravelmente ao desenvolvimento econômico do Município e região. Tudo indica que sim. Tudo indica que aqueles artigos de jornal refletem a realidade. Entretanto, é necessário que fique explicitado como isso ocorreu.
Não se deve esquecer que o período de guerra, em geral, beneficiou a economia brasileira como um todo (não quer isso dizer que ela tenha melhorado o nível de vida do povo brasileiro em seu conjunto).
Caio Prado Junior explica que “no curso da Guerra, sobretudo em sua última fase e prolongando-se nos anos subsequentes, assistimos a um revigoramento esporádico do tradicional sistema do passado, abrindo-se para tal sistema (isto é, uma economia exportadora de produtos primários e voltada essencialmente para o exterior), nova e brilhante oportunidade. Com uma intensidade de que havia muito o país não tinha notícia, o Brasil se fazia alvo de forte demanda internacional de gêneros alimentares e matérias-primas exigidos agora pelas necessidades da luta em que se empenhavam as grandes potências de que o Brasil era e ainda é tributário.
“Essa intensificação da demanda não se reflete tanto no volume da exportação, cujo aumento não será muito sensível. Circunstância que devemos notar desde já e que mostra o esgotamento da capacidade produtiva da economia brasileira de exportação. Mas no valor, o efeito será considerável, ascendendo a exportação brasileira de gêneros alimentícios e matérias primas para altos níveis” (Prado Júnior, Caio – História Econômica do Brasil. 19a. Edição, Editora Brasiliense, São Paulo, 1976, págs. 301/302).
É justamente aí que se insere o quadro econômico e que se beneficiará Vitória da Conquista. Com efeito, não se tratava tanto de aumento de exportação, mas do aumento do valor externo dos produtos de exportação. É lógico que havia condições externas favoráveis à demanda de gêneros agrícolas e matérias primas brasileiros, mas a capacidade produtiva de áreas tradicionais não acompanhava aquela demanda. O país necessitava de exportar. Manter o rítmo de exportação era muito necessário para sua economia dependente.
“NÍVEIS DE PREÇO”
A par disso deve lembrar-se, como assinala Celso Furtado, que o nível de “preços de exportação cresceu em 110 por cento”, entre 1939 e 1944, “enquanto o nível de preços internos se elevou 98 por cento” no mesmo período.
Para os produtores ou grupos dotados de condições (conhecimentos técnicos, equipamentos, etc) de exportar era vantagem escoar os produtos para o exterior ao invés de forçar a demanda interna ou colocar seus gêneros à disposição do mercado consumidor interno.
EXPANSÃO DE NOVAS ÁREAS
Ora, não tendo havido aumento substancial das exportações, mas tendo havido relativo esgotamento da “capacidade produtiva da economia de exportação” em certas áreas, a manutenção do ritmo de exportação só se explica pela integração de outras regiões às exigências de demanda da época ora estudada. Ou seja, para que o país pudesse continuar exportando, outras regiões teriam que fazer sua integração á economia voltada para o mercado consumidor externo. Não quer isto dizer, entretanto, que a integração tenha sido feita através da venda direta de produtos de novas áreas para o exterior, pois os centros consumidores internos necessitavam igualmente de gêneros em grandes quantidades. Aliás, é lícito argumentar-se que geralmente era nestes grandes centros internos que coincidentemente atuavam os grupos exportadores, interessados mais nos altos preços externos que os produtos alcançavam que na venda para o mercado interno.
Parece, assim, que áreas próximas a centros consumidores internos tradicionais tiveram seus produtos colocados no circuito da exportação e, por outro lado, para atender suas próprias necessidades voltaram-se para áreas relativamente novas, isto é, áreas cujas potencialidades econômicas não tinham sido exploradas a contento. Assim, estas áreas mais distantes de grandes centros foram beneficiadas, seja com consumo de seus produtos nestes centros, seja mesmo pela exportação de parte de seus gêneros. Este raciocínio se fixa se for ainda levado em consideração que a população brasileira na década de 1940 sofreu substancial acréscimo e que o período foi de expansão urbana e de industrialização, fatores estes condicionantes de aumento da demanda. Também pode-se alegar que as áreas tradicionalmente voltadas para a exportação especializavam-se em determinado gênero, fixando uma monocultura e determinando que suas populações fossem buscar em outras regiões produtos necessários à sua subsistência.
IMPACTO SOBRE O MUNICÍPIO E REGIÃO
O Município de Vitória da Conquista e Região integraram-se naquele quadro e beneficiaram-se da conjuntura patrocinada em nosso país pela Segunda Guerra Mundial. Este conflito colocara na ordem do dia uma demanda maior de produtos agrários para abastecimento dos grandes centros. O bolsão produtivo da região de Vitória da Conquista (incluindo Itapetinga e Itambé) não ficou estranho ao fenômeno, fato que gerou fluxo de renda para a região, estimulando o produtor para ocupação de áreas disponíveis de terras. Manifesto do Sr. Juvino Oliveira (que mais tarde seria prefeito de Itapetinga), datado de inícios da década de 1940, intitulado “Aos fazendeiros, negociantes e industriais da zona de Couro d’Anta e Potiraguá”, nos fala em “carros voltando carregados de produtos da zona, como sejam madeiras, porcos, feijão e outros gêneros alimentícios, tão carentes nos centros de grandes consumos”.
O quadro econômico da década de 1940, favorável à exportação, formado principalmente pela repercussão do segundo grande conflito mundial, explica em grande parte o desenvolvimento experimentado por Vitória da Conquista e região naquele período.
Vitória da Conquista, 3 de janeiro de 1978 – FIFÓ -9

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