Você não tem nada com
isso?
Ruy
Medeiros
Marie-France Hirigayen, em seu já
famoso livro “Assédio Moral – A violência do cotidiano” escreve: “Ao longo da vida há encontros estimulantes,
que nos incitam a dar o melhor de nós mesmos, mas há igualmente encontros que
nos minam e podem terminar nos aniquilando. Um indivíduo pode conseguir
destruir outra por um processo contínuo e atormentante de assédio moral. Pode
mesmo acontecer que o ardor furioso dessa luta acabe em verdadeiro assassinato
psíquico.
Todos nós já fomos testemunhas de
ataques perversos em um nível ou outro, seja entre um casal, dentro das
famílias, dentro das empresas, ou mesmo na vida política e social. No entanto
nossa sociedade mostra-se cega diante dessa forma de violência, indireta. A
pretexto de tolerância, tornamo-nos complacentes”.
E, também:“Pequenos atos perversos são
tão corriqueiros que parecem normais. Começam com uma simples falta de
respeito, uma mentira ou uma manipulação. Não achamos isso insuportável, a
menos que sejamos diretamente atingidos. Se o grupo social em que tais condutas
aparecem não se manifesta, elas se
transformam progressivamente em condutas perversas ostensivas, que têm
conseqüências graves sobre a saúde psicológica das vítimas”.
O
que a autora, para outro contexto e sistematicamente, diz do assédio moral pode
ser visto igualmente no comportamento de certos meios de comunicação social.
Á
face de todos e surpreendentemente sem protestos, ora sob alegação de liberdade
de comunicação, ora de liberdade de pensamento, alguns jornais, revistas,
rádios, utilizam da mentira, da farsa, do sarcasmo, do engano, para agredir
pessoas, solapar reputação, acuar adversários. Muitos se calam por
incompreensão daquilo que efetivamente seja a tolerância (tolerar o mal não é
tolerância). Verdadeiro assédio, pela continuidade diária das agressões, é
estabelecido contra uma vítima escolhida, por alguns meios de comunicação que
desprezam a democracia (e, no entanto, a cada defesa da vítima defendem-se
dizendo ser força mantenedora da democracia!).
Ora,
a defesa da imprensa livre é igualmente a defesa de atributos próprios da
convivência democrática: reconhecimento da dignidade das pessoas, de sua honra,
de sua reputação. São farsantes aqueles que só querem a democracia para uso
próprio. Imprensa que não respeita a dignidade da pessoa humana não é imprensa
democrática: realiza o que as ditaduras costumam fazer – o desrespeito aos
direitos das pessoas.
Não
faz muito tempo, meios de comunicação veicularam denúncia de que determinados
professores abusaram de uma criança. Dia e noite repetiram a denúncia,
trouxeram detalhes, entrevistaram delegado de polícia,açularam pessoas para
destruir o prédio de ensino (o que foi feito). Processados judicialmente, os
professores foram absolvidos. Tudo não passou de uma farsa. Absolvidos,
julgados inocentes, mas já adoecidos pela calúnia e empobrecidos. Dia–a–dia
foram acuados, maltratados, vilipendiados e finalmente receberam a justiça
tardiamente, muito tardiamente. Os mesmos meios de comunicação não tiveram a
honestidade de retratarem. Permaneceram cinicamente calados quanto ao crime que
eles, sim, cometeram.
Tendo
escolhido suas vítimas, ora um homem ou uma mulher simples, ora um vereador,
ora um prefeito, ou um deputado...a imprensa fascista promove o assédio moral:
impõe o medo, o estresse, o isolamento, a discriminação.
E
porque, você ainda não foi atingido, “não tem nada com isso”?
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