O Museu Pedagógico da
UESB; espaço guardião do patrimônio cultural, histórico, educacional e científico
da Região Centro-Sul da Bahia
Lívia Diana Rocha Magalhães[1]
Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro[2]
Ruy Hermann de Araújo Medeiros[3]
Poderíamos
afirmar, que principalmente a partir dos anos oitenta do século XX,
ocorre um inevitável debate sobre
as teorias, as fontes e os métodos para o estudo da História da Educação,
sobretudo considerando as discussões sobre a ciência da história e a
historiografia contemporânea, o que equivale a dizer, em certa medida, um debate sobre os métodos historiográficos,
sua natureza, e as conseqüências da leitura dos documentos para
a realidade histórica. Esse debate também
acabou evidenciando que a cognoscibilidade da História
depende não só das fontes, dos materiais disponíveis para recobrarmos um
tempo próprio, condensado no documento, mas também do método, das teorias
historiográficas às quais recorremos para analisá-lo. (BERMEJO,
).
Assim, o conceito de
fonte documental passa pelo crivo das correntes
historiográficas, principalmente
considerando a ampliação do conceito de documentos pela chamada História Nova. O fato é que esse
debate ganha vigor nesse período, uma
vez que havia uma constatação palpável, por parte dos estudiosos da
área, que ainda era imprescindível a organização de um corpus documental para o estudo da
História da Educação, posto que as suas fontes, até então, pouco
valorizadas e muitas vezes guardadas como arquivo morto nas instituições,
nos órgãos ou arquivos públicos, precisavam ser
disponibilizadas em função da pesquisa. Esse debate denuncia que a
História da Educação, principalmente escrita para os manuais didáticos se
baseava em narrativas mescladas de
construções teóricas idealistas e impregnadas de um forte positivismo
historiográfico e que ainda havia muito a ser estudado pela História da
Educação em sua dimensão local,
regional, nacional.
Nesse sentido, poder-se-ia
dizer que anos de 1980, os
pesquisadores da área realizam uma crítica bastante fundamentada sobre a
interpretação linear da história da educação,ao mesmo tempo em que realizam um
notável esforço para tornar factível para todos os tipos de documentos e
informações para a superação da debilidade do conhecimento histórico
educacional. A partir de teorias historiográficas distintas podemos
destacar entre outros, os esforços do HISTEDBR e a da SBHE, para a organização de
fontes para os estudos da história da educação brasileira, embora saibamos que ainda há muito
a ser feito para localizar, sistematizar, disponibilizar as fontes para a nossa
área de atuação.
Destarte, mais do que
um esforço para localizar documentos para o estudo da História da Educação, instala-se
nesse bojo de preocupações, outro debate inevitável acerca das condições,
incentivos e instituições que assegurem a guarda e o acesso a essas fontes.
Como ressalta Bermejo ( ) a despeito da formação do
historiador e das idéias sobre a necessidade ou importância da conservação ou
construção de condições para o conhecimento histórico:
El corpus
documental está ahì, nos viene dado, pero no nos viene dado por la naturaleza,
ni por el passdo, seno por el presente, a través de una serie de mecanismos
institucionales y través de un sistema de conocimientos que determina en cada
momento qué es y que no es un documento histórico. (BERMEJO,
p 143).
É dentro desse contexto
que projetamos o Museu Pedagógico da UESB, cujo relato passamos a realizar a
seguir.
As Raízes do Museu Pedagógico
A
palavra museu tem uma denotação resultante da sua função histórica. No
Dicionário Aurélio1 significa “qualquer estabelecimento permanente
criado para conservar, estudar, valorizar pelos mais diversos modos, e
sobretudo expor para deleite e educação do público, coleções de interesse
artístico, histórico e técnico.”
No
sentido etimológico a palavra se origina de ‘templo das musas’2 e, a
partir do século XVI, passou a significar lugar destinado à reunião e exposição
de obras de arte, de peças e de coleções científicas, ou de objetos antigos3.
Assim aconteceu até o século XIX e, a partir desse século o conceito se
ampliou, na mesma medida da ampliação das funções do museu, quando alguns
destes alçaram a posição de guardiães virtuais da cultura humana
judaico-ocidental.
Independentemente da evolução
histórica do conceito, hoje compreendido como lugar dinâmico, resultante de
pesquisas temáticas, ou mesmo virtual, a palavra museu sempre evoca palavras
tradicionais como: ‘patrimônio’, pinacoteca, ‘exposição’, ‘acervo’, ‘reserva
técnica’, memória ─ palavras essas que, por sua vez, carregam sentidos como:
antiguidade, arte, riqueza, erudição, valor, compra, aquisição ou doação.
Entretanto, a palavra tem outras
conotações, dentre as quais, a do presente trabalho, no qual utilizamos aquela
ligada à sua função usual, de ‘espaço’ guardião da memória e da história de
determinados saberes, mas, também, de ‘centro’ de produção, preservação e
disponibilização de fontes e saberes considerados como científicos, artísticos
e culturais. Estas funções, carregadas de significados, são a essência do Museu
Pedagógico da Universidade Estadual de Bahia – UESB.
Como o próprio nome o diz, seu
acervo é pedagógico, ou seja, tem como centro de interesse a matéria pedagógica
compreendida no seu sentido lato. Ou seja, pedagógico compreendido aqui
como parte da teia de relações sincrônicas e diacrônicas que envolvem educação
escolar e não escolar, e mais: bases materiais, bases sociais e organização do
conhecimento na totalidade e na parte específica onde este se situa.
Foi exatamente a busca de
um ‘espaço’ que abrigasse fontes educacionais, mas que, ao mesmo tempo,
viabilizasse a interpretação, discussão, compreensão e realização da
investigação sistemática dessas fontes ─ transformadas pelos agentes da
pesquisa em objetos de estudos ─ que possibilitou a implantação real do Museu
Pedagógico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB (doravante
Museu Pedagógico), no final do ano de 1999, segundo a concepção de museu, como
lugar vivo e dinâmico mantido, sobretudo, pelo princípio interdisciplinar. No
Museu Pedagógico esses saberes comparecem tanto na forma do concreto
‘concreto’, pura e simplesmente, como na forma do concreto pensado.
Destarte, já inicialmente, o
Museu Pedagógico pretendeu se constituir como um espaço guardião de fontes e
oficina de produção de hipóteses, problemas, reflexões, projeções, pesquisas,
práticas e produção de saberes, sobre questões relacionadas à trajetória da
educação ─ alavancado pela catalogação de fontes documentais primárias e
secundárias, cartográficas, imagéticas, fílmicas, sonoras, literárias,
estatísticas ─ fossem elas orais ou escritas, no sentido de possibilitar
diferentes olhares e leituras interdisciplinares sobre o mesmo objeto.
As formas de articulação, entre
ensino, pesquisa e extensão do Museu Pedagógico, como ‘espaço’ livre para
permanente olhar, interpretação e reflexão sobre a educação brasileira,
pretenderam abrir possibilidades às várias áreas de conhecimento, aos diversos
saberes e informações, facultando a formação de grupos permanentes, eventuais e
livres. Daí, o saber interdisciplinar, que dá sentido e organização à pesquisa,
ao ensino e à extensão no Museu Pedagógico, aos poucos, foi se concretizando e
se ampliando mediante a implementação de variadas proposições de trabalho e de
variados métodos de investigação.
As Relações intramuros do Museu
Pedagógico
Tendo como finalidade dinamizar
os processos e os resultados da pesquisa sobre História da Educação e das
Ciências na Região Centro-Sul da Bahia ─ porém, sem perder a sua dimensão
nacional ─ a organização, catalogação e disponibilização de materiais sobre a
História da Educação e das Ciências do Museu Pedagógico brotam da investigação
e da pesquisa acadêmica. Exatamente por isso, do ponto de vista metodológico, o
Museu Pedagógico foi pensado e realizado com base no princípio
inter/multidisciplinar, ou seja, supondo que a Educação Escolar e a Não-Escolar
pertencem a campos, ao mesmo tempo comuns e distintos, os quais exigem uma
visão totalizante que problematiza o conjunto de temas que compõem o sentido da
Educação e das Ciências em uma dada sociedade, local, etc.
O Museu é integrado por
professores/pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB e
de outras instituições parceiras e agrega nos seus grupos de trabalho,
professores da educação básica, alunos da graduação e da pós-graduação lato
e stricto sensu, técnicos administrativos, colaboradores e autodidatas que realizam
estudos e pesquisas, bem como catalogam e organizam fontes escritas e orais que
possibilitam a organização de materiais de pesquisa, seu tratamento e
musealização para serem, depois, disponibilizados para todos aqueles que se
interessam em pesquisar ou em rever a história da educação e das ciências desta
região, no seu sentido totalizador, isto é, sem perder de vista suas relações
culturais nacionais e internacionais.
Atualmente, o Museu Pedagógico é
composto por onze grupos permanentes de estudos e pesquisa e sete grupos
associados espontaneamente[4].
Todos eles cadastrados no CNPq. Mencionados grupos de pesquisa, sob o
guarda-chuva do Projeto Diretor do Museu Pedagógico4, funcionam
por intermédio de uma coordenação colegiada e de várias comissões de trabalho.
Com a finalidade de proporcionar
a iniciação científica para os estudantes, o Museu Pedagógico também conta com
a participação de bolsistas de pesquisa
e extensão que estão vinculados aos projetos de pesquisa dos professores e aos
editais de iniciação científica5. Cada vez mais o Museu tem ganhado
visibilidade nacional e internacional, mantendo um diálogo inclusive com o Museo
Pedagóxico da Galícia – Espanha, e prestado várias consultorias em resposta
aos vários convites de diversas regiões do Norte e Sudeste do Brasil
interessados em implantar em suas localidades um Museu Pedagógico, considerando
que é um dos poucos museus com essas características.
Desse modo, o Museu Pedagógico
continua buscando a interdisciplinaridade do conhecimento e a dialogia entre
conhecimento e opções teóricas distintas, visando a superar a divisão
artificial de conhecimento e a realização de ações acadêmicas em rede, por meio
do diálogo entre as diversas ciências, toma como objeto a região do Centro-Sul
da Bahia (MAGALHÃES, 2011, p.30-31).
Ao longo desses doze anos de
trabalho, cada vez mais tem se constituído como um lugar de pesquisa que parte
da concepção de museu vivo, dinâmico, capaz de estudar e musealizar a realidade
sem perder de vista a sua relação com a extensão do conhecimento por ele
produzido e o diálogo nacional e internacional que interpela o passado a
serviço do presente e das perspectivas futuras. (MAGALHÃES, 2011).
As relações extramuros do Museu
Pedagógico
Os
seus grupos de estudos e pesquisa são associados a um conjunto de redes de
pesquisa, dentre os quais ao grupo História, Sociedade e Educação no Brasil
(HISTEDBR/UNICAMP) sobre a escola pública, por meio da fundação do grupo de
História, Sociedade e Educação na Bahia-HISTEDBA (composto por
professores/pesquisadores da UESB, UNEB, UEFS, UESC, UFBA). A partir dessa rede
de pesquisa, o Museu Pedagógico amplia e organizou o Programa de Qualificação
Interinstitucional – PQI/CAPES (2002-2008) com a UFSCar, UNICAMP e a PUC/SP e,
agora o PROCAD/CAPES, em sua continuidade, com a UNICAMP- PUC-SP e com a UNEB.
O Museu Pedagógico mantêm ainda
outras redes de intercâmbio, dentre elas com a UNL-Argentina, Universidade de
Santiago de Compostela-Espanha. Essas ações dão lastro a pesquisas conjuntas e
aos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu: Especialização em Educação,
Cultura e Memória, e Especialização em: Fundamentos Sociais e Políticos da
Educação, como também ao curso de Pós-graduação Stricto Sensu nível
Mestrado Acadêmico multidisciplinar em Memória: Linguagem e Sociedade,
juntamente com o Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da UESB6.
Centro de Documentação
O
Centro de Documentação do Museu Pedagógico/UESB recebeu o nome da professora
Albertina Lima Vasconcelos, historiadora, professora da UESB e co-fundadora do
referido Museu, por tratar de reconhecimento a uma colega que trabalhou
incansavelmente na leitura documental, vindo a falecer em 2005, ainda na mesma
lida, realizando pesquisa histórica. O referido Centro começou sua história a
partir do processo de reconhecimento de acervos e fontes documentais locais e
regionais, quando observamos a situação de determinados arquivos que se
encontravam precários, com muitos documentos importantes para o conhecimento da
educação regional, correndo sérios riscos de desaparecer. Hoje, o acervo
das escolas extintas de Vitória da Conquista e cidades circunvizinhas se
encontra sob a guarda do Museu Pedagógico, desde 2006, como desdobramento do
convênio assinado entre a UESB e a DIREC-20, e tem, como objetivo, a
disponibilização para consulta de documentos biográficos comprobatórios, como
também a preservação e digitalização para a pesquisa. Estas fontes escolares
referem-se às práticas pedagógicas e ao cotidiano escolar, sendo compostas de:
cadernetas, pastas de alunos, fotografias de alunos, formulários de matrículas,
livros de atas, comprobatórios biográficos e rol de professores7.
O
Centro de Documentação abriga a Documentação de Escolas Extintas, que guarda
55.891 pastas de alunos, contendo cada pasta cerca de 20 documentos, incluindo
histórico escolar, matrícula, fichas de cada ano letivo, atestado médico,
certificado de vacinação, dentre outros, além de 4.464 cadernetas escolares,
135 livros de atas diversos.
Por
enquanto, aquele acervo totaliza cerca de quinhentos mil documentos. De todo o
acervo, foram digitalizados apenas 5.000 pastas de aluno, de um só colégio, mas
o trabalho está em curso. A gestão do arquivo está sendo conjunta, envolvendo o
pessoal da Secretaria de Educação do Estado – a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, sob a guarda e assessoria técnica, é claro, da Equipe do
Museu Pedagógico. Na sua finalidade o arquivo guardará não apenas a
documentação de escolas extintas, mas todo arquivo não-corrente das escolas
públicas conquistenses e adjacentes.
Em
suma, apresenta a importância para “alunos e professores que podem ter
comprovantes de sua situação e direitos decorrentes de seus cursos”, cumprindo
assim, a “finalidade de documentar e ressalvar direitos”, quando, que agora
desejam retornar para a mesma, ou que precisam do registro escolar para
comprovar currículos, ingressar em empregos, prestar vestibular, etc., além de
registrar parte da vida escolar de pessoas que compõem ou compuseram esse
universo.
Estes
mesmos documentos possibilitam que haja uma imersão sobre conhecimentos acerca
da história e memória da educação, reunidos, num espaço adequado, catalogados,
digitalizados, conservados, classificados e democratizados para acesso às
fontes e para desenvolvimento do conhecimento científico. Espaços como esse
garantem a manutenção de memórias coletivas e de suas experiências, além de
possibilitar às gerações atuais e futuras o conhecimento do passado, colocando ao
alcance da comunidade e dos pesquisadores que pretendem reconstituir a memória
histórica da educação, sobretudo, no que corresponde às Instituições escolares,
seus sujeitos e materiais, um importante acervo concentrado em um mesmo local
de guarda.
O
Museu Pedagógico é orientado pelo princípio interdisciplinar da relação
entre ensino, pesquisa e extensão e presidido pela história da educação e das
ciências. Desenvolve uma produção coletiva do conhecimento e sua socialização
por meio de eventos e exposições fixas e eventuais que, além de retratar o
processo da pesquisa, possibilita ao público revisitar sua história da educação
escolar e não escolar.
Essa
documentação, além de propiciar a memória da educação local e regional, se
constitui na memória do governo regional (MEDEIROS, 2004), uma vez que contém
informações referentes ao planejamento, refletindo diversas ações e realizações
governamentais, dentre outros fins oficiais, como por exemplo, atendimento ao
público que estudou em uma escola extinta e precisa retomar sua documentação.
Conta,
igualmente, com um acervo de livros didáticos de 1904 até os dias atuais; um
acervo de exposições temporárias ou fixas que apresentam os processos e os
resultados da pesquisa sobre a história da educação e das Ciências (as
primeiras escolas e os primeiros professores de Vitória da Conquista, a
história das políticas educacionais e seus registros por meio das fontes
oriundas das escolas da região); as escolas formativas para o trabalho a partir
da década de 1930, como a escola de laticínios e de datilografia; a história
dos colégios e ginásios, inclusive do primeiro da cidade, local onde está
instalado o Museu Pedagógico; a história das mulheres, letradas e donas de
casa, a história da física por meio de materiais representativos sobre as suas teorias;
a história da matemática por meio dos livros didáticos e de outros artefatos; a
história das religiões, com ênfase nas manifestações culturais e materiais da
cultura afro-brasileira; um acervo fílmico que revela, além de outros aspectos,
a história de um dos cinéfilos da cidade.
Ao
lado de outros acervos particulares sob a guarda do Museu, dentre os quais um
acervo jornalístico sobre os fatos marcantes da História do Brasil (da Lei
Áurea até a Ditadura Militar) e da cidade de Vitória da Conquista, o acervo
comporta figuras e objetos relativos aos primeiros habitantes da região
(monólitos, artefatos indígenas, gravuras originárias de registros do viajante
Príncipe Maximiliano, no século XVII, quando esteve na região).
Em
termos de espaço físico, o Museu Pedagógico da UESB funciona no prédio do Velho
Ginásio de Conquista, localizado na Praça Sá Barreto, integrante da parte
central da malha urbana de Vitória da Conquista. O mencionado prédio pertence à
Arquidiocese de Vitória da Conquista encontra-se em regime de longo comodato
para uso pela UESB- Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, para ali
desenvolver as atividades do Museu Pedagógico.
O referido Prédio é uma
edificação térrea, construída de adobes (barro/argila cru), de paredes largas
(tijolos assentados a tição, isto é, de forma a tornar grossas as paredes),
conservando o padrão de arquitetura de velhos prédios de colégios, com salas
amplas, grande salão, janelas altas e largas. Exceto quando ao teto, piso e
anexo residencial, o prédio conserva-se inteiramente como era. Mas, seu valor
arquitetônico8 fica muito aquém do grande valor histórico. Pessoas
de vários lugares ainda o procuram para mostrar a filhos e netos,
orgulhosamente, o local onde estudaram. Afinal, era o único Ginásio num grande
raio de extensão e era privilégio estudar aí.
Em seu funcionamento como Museu,
o prédio dispõe de duas salas para o funcionamento administrativo; uma sala
para a coordenação geral, três salas para reunião dos grupos de estudos e
pesquisas, duas salas para exposições fixas, um auditório para as exposições
temporárias e a realização de eventos, uma sala de aula para os dois cursos de
especialização (alternados) e para a orientação de pesquisa do Programa de
Pós-Graduação stricto sensu em Memória: Linguagem e Sociedade, que
também serve para estudos dirigidos, orientações, reuniões temáticas, dentre
outras atividades relevantes; e três salas para o Centro de Documentação
(Fontes documentais, oficina de catalogação e digitalização e Biblioteca), que
não estão comportando mais os materiais e as necessidades do respectivo Centro
Documental, inclusive dificultando o acesso público a esses acervos.
Possui, ainda, uma sala para a
brinquedoteca (Memória da Infância) e um laboratório de informática com aproximadamente
12 computadores, financiados pela FAPESB, através do projeto Museu Pedagógico
na Escola, além de outros equipamentos como telões, data-show, etc., oriundos
do financiamento de projetos, entre eles o PROEXT-MEC. O número de visitas
públicas às exposições tem crescido e como sua estrutura física já não comporta
o número de exposições previstas, há sempre uma constante solicitação para que
determinadas exposições continuem funcionando e nem sempre as demandas são
atendidas em função da falta de condições físicas.
Os seus espaços estão exigindo
ampliação dos espaços insuficientes e precários para abrigar o acervo
documental das escolas extintas, uma sala provisória para a biblioteca, ambas,
compondo o Centro de Documentação. O Museu conta ainda com acervos imobiliários
escolares (para exposição), e cozinha, banheiros, etc. A parte de pessoal é
assumida pela UESB. Dois técnicos-administrativos, um vigilante, uma auxiliar
de serviços gerais, e mais dois estagiários um da área de história (graduanda)
e outro da área de computação (aluno do ensino médio) para acompanhar o
trabalho do Centro de Documentação e da parte de informática, respectivamente.
É perceptível a valorização do
Museu Pedagógico a cada dia, na medida em que aumenta o número de visitação de
uma comunidade interna e externa a Vitória da Conquista e de várias regiões do
Brasil (do Norte ao Sul do país) interessados em conhecê-lo. A preocupação com
a memória e preservação do patrimônio educacional e cultural na região, tem
motivado a equipe e a instituição à qual ela é vinculada (UESB) a realizar
políticas museológicas ligadas a programas e/ou ações governamentais,
convênios, projetos e as ações que envolvam a modernização e preservação de seu
acervo para que se possa oferecer à comunidade um Museu vivo e dinâmico, tal
qual foi concebido: interação com o público, socialização dos resultados e
estágios de pesquisas, acesso ao seu Centro de Documentação e a realização de
exposições, eventos e oficinas temáticas como uma extensão do mesmo.
Metodologia
A
partir de uma matriz dialética, considerada em toda a sua abrangência, busca-se
a renovação metodológica para o tratamento das fontes e a incorporação de novas
concepções e fontes historiográficas, acompanhadas de duas vertentes
principais: a) as bases epistemológicas que abrangem o campo da metodologia da
pesquisa, da história e da historiografia e que possibilitam a análise da
educação e das Ciências em geral; b) a aplicação e a interpelação sincrônica e
diacrônica dos fenômenos estudados, mediante métodos de procedimentos e
técnicas pertinentes.
Partindo, ainda, da concepção da
educação em sua forma ampla de práticas sociais, ancoradas em muitas fontes,
versões, ciências, disciplinas, materiais e testemunhos da história da
educação, particularmente, do Sudoeste baiano, o referido museu vai observando
a relação entre educação e cultura hegemônica e/ou educação e cultura
não-hegemônica.
Quanto à metodologia básica
para desenvolvimento do Projeto Diretor e dos demais, adotou-se a perspectiva
que considera que o diálogo entre fontes documentais poderá desencadear
interrogações às evidências, e, segundo Schaff (1978) que diz ser possível o
acúmulo de verdades relativas; ou, ainda, de Marx (1973) para quem a partir do
mais desenvolvido pode-se entender o menos desenvolvido.
Não é possível a
história sem fontes e os documentos ainda são as fontes históricas
fundamentais. Vale a pena revisitar as palavras de Jameson (1984),
segundo o qual, o homem é o único animal que deixa documentação a ser
usada pela posteridade. Seja isso uma benção ou uma maldição, ele aprende
através da sabedoria acumulada ou dos erros do passado. Ao passo que a
lembrança individual se transforma em pó ou cinzas, a memória coletiva
sobrevive em documentos escritos. Essas experiências registradas do passado
evitam ensaios onerosos e experimentos desnecessários no futuro.
Ainda na visão de Jameson (1984),
tanto as coletividades religiosas como as seculares têm seus idolatrados
patrimônios históricos. As igrejas referem-se a uma plêiade de homens e
mulheres elevados ao estado de santidade. As nações cultuam a memória dos seus
estadistas. As famílias referem-se com orgulho à sua genealogia. As
organizações imortalizam o nome de seus fundadores em placas de bronze. Os
acadêmicos emitem publicações especiais em memória de seus membros exponenciais
e publicam as primeiras edições de suas obras. Os artistas, inventores,
descobridores, mártires, revolucionários, heróis, etc., que marcaram
indelevelmente sua geração, são reverenciados pela própria geração ou pelas
gerações futuras.
Para o autor (1984), os
documentos públicos, tais como a correspondência legal, política, cultural, e
mesmo pessoal, possuem valor histórico. Sua preservação permanente
transformou-se em problema de importância capital. Daí, os arquivistas
colecionarem textos, auxílios audiovisuais, mapas, correspondência,
formulários, depoimentos, minutas, contratos comerciais, itens relativos a
genealogias, acordos nacionais e internacionais, notas, declarações, etc. Essa
função de coletar material de diferentes tipos impõe grande responsabilidade ao
arquivista porque lhe cabe determinar o que deve ser preservado e posto ao
alcance do público quando surge a procura.
Considerações Finais
Fruto
da tensão social de seu tempo e tendo como referência principal a idéia de
Musealização, o Museu Pedagógico, apresenta-se como espaço vivo, dinâmico,
capaz de olhar e de ser olhado pelos mais diferentes ângulos e de realizar,
educar e se educar no fazer científico, acadêmico, prático, registrando a
pedagogia das relações sociais e disponibilizando as fontes musealizadas.
Dentre outros aspectos pretendidos e referenciados desde o seu projeto
original, privilegia o estudo do espaço, tempo, ação, imagens, num sentido
sincrônico e diacrônico, em torno da abordagem de um objeto comum – a educação
– em sua dimensão interdisciplinar (MAGALHÃES, 1995).
No ano de 2012, a equipe do Museu
Pedagógico deverá concentrar sua atenção na organização do Centro de
Documentação, ampliando seu espaço e readequando-o para abrigar as suas fontes
materiais e digitalizadas, bem como oferecer condições de acesso público ao seu
espaço. Nesse sentido, pretende-se a digitalização dos documentos escolares sob
guarda do Museu, bem como do acervo fílmico doado por um dos maiores
colecionadores da cidade, a fim de atender ao público interessado em sua
biografia escolar e a pesquisa interdisciplinar na área da História da Educação
e das Ciências, bem como do Cinema.
Para tanto, necessita-se de uma
melhor infra-estrutura a fim de viabilizar uma melhor estrutura e condições
para que a pesquisa possa ser, de fato, mais efetivada e também divulgada para
a comunidade acadêmica e geral, incentivando o cultivo da pesquisa local e
regional. O Museu Pedagógico, cada vez mais, como um lugar de memória que
agrega a história educacional da região, espaço de produção voluntária de
conhecimentos, reflexões, pesquisa e produção de saberes, sobre questões
relacionadas à trajetória da educação e das ciências.
O Museu Pedagógico organizou-se,
desta forma, como um espaço de produção voluntária de conhecimentos, reflexões,
pesquisa e produção de saberes, sobre questões relacionadas à trajetória e
história da educação, a partir da catalogação de fontes no sentido de
possibilitar diferentes olhares sobre o mesmo objeto e leituras
interdisciplinares.Desde então, o saber interdisciplinar, que dá sentido e
organização à pesquisa, ao ensino e à extensão no Museu Pedagógico vem se
concretizando e ampliando-se mediante a implementação de várias propostas.
A criação e implantação paulatina
do Museu se deram, particularmente, em decorrência do amadurecimento do
diálogo, das discussões acumuladas e da vontade expressa por sujeitos sociais
professores, alunos, técnicos administrativos, pessoas da comunidade além do
crescente interesse por pesquisa e registro histórico da Educação da Região e a
busca de um “espaço” que viabilizasse a compreensão, interpretação, discussão e
realização da investigação sistemática sobre seus objetos de estudos, suas
interpelações e interrogações, possibilitaram a implantação real dessa idéia do
projeto, que advém do ano de 1999.
REFERÊNCIAS
BERMEJO,
CUNHA,
Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
HESÍODO. Teogonia:
a origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 1991
(Biblioteca
Pólen).
JAMESON,
S.H. (Org.) – Administração de Arquivos e Documentos, 1ª edição,
páginas XV/XVI, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1964.
MAGALHÃES,
J.P. Linhas de investigação em História da Educação e da Alfabetização em
Portugal. Um domínio do conhecimento em renovação. In: Anais do II Seminário
Nacional de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”,
Campinas: SP, nov/1995.
MAGALHÃES,
L. D. R; AGUIAR, E. P (Org.) Guia de Fontes Educacionais. Vitória da
Conquista: Museu Pedagógico; DIGRAF/UESB, 2007.
______.
Os estudos sobre memória e memória geracional no Brasil: um recorte com base
nos cursos stricto sensu e no
diretório dos grupos de pesquisa. In: Anais
do IX Colóquio Nacional e II Colóquio Internacional do Museu Pedagógico. Vitória
da Conquista: 2011.
MARX, K. Contribuição
para a crítica da economia política. Lisboa. Estampa, 1973.
Novo
Aurélio Séc. XXI. O Dicionário da Língua Portuguesa. Versão 3.1, Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, s/d
Pasta de
Cadastramento de Projetos do Museu Pedagógico da UESB.
SCHAFF,
Adam. História e Verdade. São Paulo: Martins Fontes,
1978.
[1] Professora do Departamento de
Filosofia e Ciências Humanas da UESB, coordenadora geral do Museu Pedagógico,
lrochamagalhaes@gmail.com.
[2] Professora aposentada do
Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UESB, membro do Museu
Pedagógico, apcasimiro@oi.com.br.
[3] Professor do Departamento de
Ciências Sociais Aplicadas da UESB, membro do Museu Pedagógico, ruy-medeiros@uol.com.br.
[4] Grupos de
pesquisa coordenados por professores/pesquisadores do Museu Pedagógico da UESB:
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: MEMÓRIA, RELIGIÃO, ARTE E
EDUCAÇÃO; MEMÓRIA GERACIONAL, POLÍTICAS EDUCACIONAIS E TRAJETÓRIAS SOCIAIS;
HISTÓRIA, TRABALHO E EDUCAÇÃO; NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE A DIVERSIDADE HUMANA;
RELIGIÃO, HISTÓRIA E SOCIEDADE; ENSINO DE HISTÓRIA: HISTORIOGRAFIA, SUJEITOS,
SABERES E PRÁTICAS; ESTUDOS DO LETRAMENTO: PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA E
ESCRITA; TEORIAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM DAS CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS E DA
MATEMÁTICA; AS MÚLTIPLAS FACES DOS ESTUDOS SOBRE GÊNERO, INFÂNCIA E JUVENTUDE;
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE DROGAS E ÁLCOOL; IDEOLOGIA E LUTA DE
CLASSES; ESTADO E POLÍTICA NO BRASIL IMPERIAL E REPUBLICANO. Grupos Associados
ao Museu Pedagógico: HISTEDBR – História, Sociedade e Educação no Brasil;
NATUREZA, CULTURA E COMPLEXIDADE; HISTÓRIA DA ÁFRICA E DA AMÉRICA NEGRA;
MEMÓRIA, CULTURA E DESENVOLVIMENTO; EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO;
ESCOLA, CURRÍCULO E PRÁTICA PEDAGÓGICA; NÚCLEO DE ESTUDO, PESQUISA E FORMAÇÃO
DE PROFESSORES.