segunda-feira, 4 de junho de 2012


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O Museu Pedagógico da UESB; espaço guardião do patrimônio cultural, histórico, educacional e científico da Região Centro-Sul da Bahia 


Lívia Diana Rocha Magalhães[1]
Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro[2]
Ruy Hermann de Araújo Medeiros[3]

 Poderíamos afirmar, que  principalmente a partir dos anos oitenta do século XX,  ocorre  um inevitável debate  sobre as teorias, as fontes e os métodos para o estudo da História  da Educação, sobretudo considerando as discussões sobre a ciência da história e a historiografia contemporânea, o que equivale a dizer,  em certa medida,  um debate sobre os métodos historiográficos, sua natureza, e as  conseqüências  da  leitura dos documentos para a   realidade histórica. Esse  debate  também  acabou evidenciando que a   cognoscibilidade da História depende não só das  fontes, dos materiais disponíveis para recobrarmos um tempo próprio, condensado no documento, mas também do método, das teorias historiográficas às quais recorremos para analisá-lo. (BERMEJO, ).
Assim, o conceito de fonte documental passa pelo crivo  das correntes historiográficas, principalmente  considerando a ampliação do conceito de documentos pela  chamada  História Nova. O fato é que esse debate   ganha vigor nesse período, uma vez que   havia uma constatação palpável, por parte dos estudiosos da área, que ainda era imprescindível a  organização de um corpus documental para o estudo da História da Educação, posto que as suas fontes, até então, pouco  valorizadas e muitas vezes  guardadas como arquivo morto nas instituições, nos órgãos ou arquivos públicos, precisavam ser  disponibilizadas em função da pesquisa. Esse debate denuncia que a História da Educação, principalmente escrita para os manuais didáticos se baseava em  narrativas mescladas de construções teóricas idealistas e impregnadas de um forte positivismo historiográfico e que ainda havia muito a ser estudado pela História da Educação em sua dimensão  local, regional, nacional.
Nesse sentido, poder-se-ia dizer que  anos de 1980,  os pesquisadores da área realizam uma crítica bastante fundamentada  sobre a interpretação linear da história da educação,ao mesmo tempo em que realizam um notável esforço para tornar factível para todos os tipos de documentos e  informações para a superação da debilidade do conhecimento histórico educacional. A partir de  teorias historiográficas distintas podemos destacar entre outros, os esforços   do HISTEDBR e a da SBHE, para a organização de fontes para os estudos da história da educação brasileira, embora saibamos que ainda há  muito a ser feito para localizar, sistematizar, disponibilizar as fontes para a nossa área de atuação.
Destarte, mais do que um esforço para localizar documentos para o estudo da História da Educação, instala-se nesse bojo de preocupações, outro debate inevitável acerca das  condições, incentivos e instituições  que assegurem  a guarda e o acesso a essas fontes.
Como ressalta Bermejo (   ) a despeito da formação do historiador e das idéias sobre a necessidade ou importância da conservação ou construção de condições para o conhecimento histórico:
El corpus documental está ahì, nos viene dado, pero no nos viene dado por la naturaleza, ni por el passdo, seno por el presente, a través de una serie de mecanismos institucionales y través de un sistema de conocimientos que determina en cada momento qué es y que no es un documento histórico. (BERMEJO, p 143).

É dentro desse contexto que projetamos o Museu Pedagógico da UESB, cujo relato passamos a realizar a seguir.
As Raízes do Museu Pedagógico
            A palavra museu tem uma denotação resultante da sua função histórica. No Dicionário Aurélio1 significa “qualquer estabelecimento permanente criado para conservar, estudar, valorizar pelos mais diversos modos, e sobretudo expor para deleite e educação do público, coleções de interesse artístico, histórico e técnico.”
            No sentido etimológico a palavra se origina de ‘templo das musas’2 e, a partir do século XVI, passou a significar lugar destinado à reunião e exposição de obras de arte, de peças e de coleções científicas, ou de objetos antigos3. Assim aconteceu até o século XIX e, a partir desse século o conceito se ampliou, na mesma medida da ampliação das funções do museu, quando alguns destes alçaram a posição de guardiães virtuais da cultura humana judaico-ocidental.
Independentemente da evolução histórica do conceito, hoje compreendido como lugar dinâmico, resultante de pesquisas temáticas, ou mesmo virtual, a palavra museu sempre evoca palavras tradicionais como: ‘patrimônio’, pinacoteca, ‘exposição’, ‘acervo’, ‘reserva técnica’, memória ─ palavras essas que, por sua vez, carregam sentidos como: antiguidade, arte, riqueza, erudição, valor, compra, aquisição ou doação.
Entretanto, a palavra tem outras conotações, dentre as quais, a do presente trabalho, no qual utilizamos aquela ligada à sua função usual, de ‘espaço’ guardião da memória e da história de determinados saberes, mas, também, de ‘centro’ de produção, preservação e disponibilização de fontes e saberes considerados como científicos, artísticos e culturais. Estas funções, carregadas de significados, são a essência do Museu Pedagógico da Universidade Estadual de Bahia – UESB.
Como o próprio nome o diz, seu acervo é pedagógico, ou seja, tem como centro de interesse a matéria pedagógica compreendida no seu sentido lato. Ou seja, pedagógico compreendido aqui como parte da teia de relações sincrônicas e diacrônicas que envolvem educação escolar e não escolar, e mais: bases materiais, bases sociais e organização do conhecimento na totalidade e na parte específica onde este se situa.
 Foi exatamente a busca de um ‘espaço’ que abrigasse fontes educacionais, mas que, ao mesmo tempo, viabilizasse a interpretação, discussão, compreensão e realização da investigação sistemática dessas fontes ─ transformadas pelos agentes da pesquisa em objetos de estudos ─ que possibilitou a implantação real do Museu Pedagógico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB (doravante Museu Pedagógico), no final do ano de 1999, segundo a concepção de museu, como lugar vivo e dinâmico mantido, sobretudo, pelo princípio interdisciplinar. No Museu Pedagógico esses saberes comparecem tanto na forma do concreto ‘concreto’, pura e simplesmente, como na forma do concreto pensado.
Destarte, já inicialmente, o Museu Pedagógico pretendeu se constituir como um espaço guardião de fontes e oficina de produção de hipóteses, problemas, reflexões, projeções, pesquisas, práticas e produção de saberes, sobre questões relacionadas à trajetória da educação ─ alavancado pela catalogação de fontes documentais primárias e secundárias, cartográficas, imagéticas, fílmicas, sonoras, literárias, estatísticas ─ fossem elas orais ou escritas, no sentido de possibilitar diferentes olhares e leituras interdisciplinares sobre o mesmo objeto.
As formas de articulação, entre ensino, pesquisa e extensão do Museu Pedagógico, como ‘espaço’ livre para permanente olhar, interpretação e reflexão sobre a educação brasileira, pretenderam abrir possibilidades às várias áreas de conhecimento, aos diversos saberes e informações, facultando a formação de grupos permanentes, eventuais e livres. Daí, o saber interdisciplinar, que dá sentido e organização à pesquisa, ao ensino e à extensão no Museu Pedagógico, aos poucos, foi se concretizando e se ampliando mediante a implementação de variadas proposições de trabalho e de variados métodos de investigação.  
As Relações intramuros do Museu Pedagógico
Tendo como finalidade dinamizar os processos e os resultados da pesquisa sobre História da Educação e das Ciências na Região Centro-Sul da Bahia ─ porém, sem perder a sua dimensão nacional ─ a organização, catalogação e disponibilização de materiais sobre a História da Educação e das Ciências do Museu Pedagógico brotam da investigação e da pesquisa acadêmica. Exatamente por isso, do ponto de vista metodológico, o Museu Pedagógico foi pensado e realizado com base no princípio inter/multidisciplinar, ou seja, supondo que a Educação Escolar e a Não-Escolar pertencem a campos, ao mesmo tempo comuns e distintos, os quais exigem uma visão totalizante que problematiza o conjunto de temas que compõem o sentido da Educação e das Ciências em uma dada sociedade, local, etc.
O Museu é integrado por professores/pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB e de outras instituições parceiras e agrega nos seus grupos de trabalho, professores da educação básica, alunos da graduação e da pós-graduação lato e stricto sensu, técnicos administrativos, colaboradores e autodidatas que realizam estudos e pesquisas, bem como catalogam e organizam fontes escritas e orais que possibilitam a organização de materiais de pesquisa, seu tratamento e musealização para serem, depois, disponibilizados para todos aqueles que se interessam em pesquisar ou em rever a história da educação e das ciências desta região, no seu sentido totalizador, isto é, sem perder de vista suas relações culturais nacionais e internacionais.
Atualmente, o Museu Pedagógico é composto por onze grupos permanentes de estudos e pesquisa e sete grupos associados espontaneamente[4]. Todos eles cadastrados no CNPq. Mencionados grupos de pesquisa, sob o guarda-chuva do Projeto Diretor do Museu Pedagógico4, funcionam por intermédio de uma coordenação colegiada e de várias comissões de trabalho.
Com a finalidade de proporcionar a iniciação científica para os estudantes, o Museu Pedagógico também conta com a participação de  bolsistas de pesquisa e extensão que estão vinculados aos projetos de pesquisa dos professores e aos editais de iniciação científica5. Cada vez mais o Museu tem ganhado visibilidade nacional e internacional, mantendo um diálogo inclusive com o Museo Pedagóxico da Galícia – Espanha, e prestado várias consultorias em resposta aos vários convites de diversas regiões do Norte e Sudeste do Brasil interessados em implantar em suas localidades um Museu Pedagógico, considerando que é um dos poucos museus com essas características.
Desse modo, o Museu Pedagógico continua buscando a interdisciplinaridade do conhecimento e a dialogia entre conhecimento e opções teóricas distintas, visando a superar a divisão artificial de conhecimento e a realização de ações acadêmicas em rede, por meio do diálogo entre as diversas ciências, toma como objeto a região do Centro-Sul da Bahia (MAGALHÃES, 2011, p.30-31).
Ao longo desses doze anos de trabalho, cada vez mais tem se constituído como um lugar de pesquisa que parte da concepção de museu vivo, dinâmico, capaz de estudar e musealizar a realidade sem perder de vista a sua relação com a extensão do conhecimento por ele produzido e o diálogo nacional e internacional que interpela o passado a serviço do presente e das perspectivas futuras. (MAGALHÃES, 2011). 
As relações extramuros do Museu Pedagógico
            Os seus grupos de estudos e pesquisa são associados a um conjunto de redes de pesquisa, dentre os quais ao grupo História, Sociedade e Educação no Brasil (HISTEDBR/UNICAMP) sobre a escola pública, por meio da fundação do grupo de História, Sociedade e Educação na Bahia-HISTEDBA (composto por professores/pesquisadores da UESB, UNEB, UEFS, UESC, UFBA). A partir dessa rede de pesquisa, o Museu Pedagógico amplia e organizou o Programa de Qualificação Interinstitucional – PQI/CAPES (2002-2008) com a UFSCar, UNICAMP e a PUC/SP e, agora o PROCAD/CAPES, em sua continuidade, com a UNICAMP- PUC-SP e com a UNEB.
O Museu Pedagógico mantêm ainda outras redes de intercâmbio, dentre elas com a UNL-Argentina, Universidade de Santiago de Compostela-Espanha. Essas ações dão lastro a pesquisas conjuntas e aos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu: Especialização em Educação, Cultura e Memória, e Especialização em: Fundamentos Sociais e Políticos da Educação, como também ao curso de Pós-graduação Stricto Sensu nível Mestrado Acadêmico multidisciplinar em Memória: Linguagem e Sociedade, juntamente com o Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da UESB6.  
Centro de Documentação
      O Centro de Documentação do Museu Pedagógico/UESB recebeu o nome da professora Albertina Lima Vasconcelos, historiadora, professora da UESB e co-fundadora do referido Museu, por tratar de reconhecimento a uma colega que trabalhou incansavelmente na leitura documental, vindo a falecer em 2005, ainda na mesma lida, realizando pesquisa histórica. O referido Centro começou sua história a partir do processo de reconhecimento de acervos e fontes documentais locais e regionais, quando observamos a situação de determinados arquivos que se encontravam precários, com muitos documentos importantes para o conhecimento da educação regional, correndo sérios riscos de desaparecer.  Hoje, o acervo das escolas extintas de Vitória da Conquista e cidades circunvizinhas se encontra sob a guarda do Museu Pedagógico, desde 2006, como desdobramento do convênio assinado entre a UESB e a DIREC-20, e tem, como objetivo, a disponibilização para consulta de documentos biográficos comprobatórios, como também a preservação e digitalização para a pesquisa. Estas fontes escolares referem-se às práticas pedagógicas e ao cotidiano escolar, sendo compostas de: cadernetas, pastas de alunos, fotografias de alunos, formulários de matrículas, livros de atas, comprobatórios biográficos e rol de professores7.
      O Centro de Documentação abriga a Documentação de Escolas Extintas, que guarda 55.891 pastas de alunos, contendo cada pasta cerca de 20 documentos, incluindo histórico escolar, matrícula, fichas de cada ano letivo, atestado médico, certificado de vacinação, dentre outros, além de 4.464 cadernetas escolares, 135 livros de atas diversos.
      Por enquanto, aquele acervo totaliza cerca de quinhentos mil documentos. De todo o acervo, foram digitalizados apenas 5.000 pastas de aluno, de um só colégio, mas o trabalho está em curso. A gestão do arquivo está sendo conjunta, envolvendo o pessoal da Secretaria de Educação do Estado – a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob a guarda e assessoria técnica, é claro, da Equipe do Museu Pedagógico. Na sua finalidade o arquivo guardará não apenas a documentação de escolas extintas, mas todo arquivo não-corrente das escolas públicas conquistenses e adjacentes.
      Em suma, apresenta a importância para “alunos e professores que podem ter comprovantes de sua situação e direitos decorrentes de seus cursos”, cumprindo assim, a “finalidade de documentar e ressalvar direitos”, quando, que agora desejam retornar para a mesma, ou que precisam do registro escolar para comprovar currículos, ingressar em empregos, prestar vestibular, etc., além de registrar parte da vida escolar de pessoas que compõem ou compuseram esse universo.
      Estes mesmos documentos possibilitam que haja uma imersão sobre conhecimentos acerca da história e memória da educação, reunidos, num espaço adequado, catalogados, digitalizados, conservados, classificados e democratizados para acesso às fontes e para desenvolvimento do conhecimento científico. Espaços como esse garantem a manutenção de memórias coletivas e de suas experiências, além de possibilitar às gerações atuais e futuras o conhecimento do passado, colocando ao alcance da comunidade e dos pesquisadores que pretendem reconstituir a memória histórica da educação, sobretudo, no que corresponde às Instituições escolares, seus sujeitos e materiais, um importante acervo concentrado em um mesmo local de guarda.
      O Museu Pedagógico é orientado pelo princípio interdisciplinar da relação entre ensino, pesquisa e extensão e presidido pela história da educação e das ciências. Desenvolve uma produção coletiva do conhecimento e sua socialização por meio de eventos e exposições fixas e eventuais que, além de retratar o processo da pesquisa, possibilita ao público revisitar sua história da educação escolar e não escolar.
      Essa documentação, além de propiciar a memória da educação local e regional, se constitui na memória do governo regional (MEDEIROS, 2004), uma vez que contém informações referentes ao planejamento, refletindo diversas ações e realizações governamentais, dentre outros fins oficiais, como por exemplo, atendimento ao público que estudou em uma escola extinta e precisa retomar sua documentação.
      Conta, igualmente, com um acervo de livros didáticos de 1904 até os dias atuais; um acervo de exposições temporárias ou fixas que apresentam os processos e os resultados da pesquisa sobre a história da educação e das Ciências (as primeiras escolas e os primeiros professores de Vitória da Conquista, a história das políticas educacionais e seus registros por meio das fontes oriundas das escolas da região); as escolas formativas para o trabalho a partir da década de 1930, como a escola de laticínios e de datilografia; a história dos colégios e ginásios, inclusive do primeiro da cidade, local onde está instalado o Museu Pedagógico; a história das mulheres, letradas e donas de casa, a história da física por meio de materiais representativos sobre as suas teorias; a história da matemática por meio dos livros didáticos e de outros artefatos; a história das religiões, com ênfase nas manifestações culturais e materiais da cultura afro-brasileira; um acervo fílmico que revela, além de outros aspectos, a história de um dos cinéfilos da cidade.
      Ao lado de outros acervos particulares sob a guarda do Museu, dentre os quais um acervo jornalístico sobre os fatos marcantes da História do Brasil (da Lei Áurea até a Ditadura Militar) e da cidade de Vitória da Conquista, o acervo comporta figuras e objetos relativos aos primeiros habitantes da região (monólitos, artefatos indígenas, gravuras originárias de registros do viajante Príncipe Maximiliano, no século XVII, quando esteve na região).
      Em termos de espaço físico, o Museu Pedagógico da UESB funciona no prédio do Velho Ginásio de Conquista, localizado na Praça Sá Barreto, integrante da parte central da malha urbana de Vitória da Conquista. O mencionado prédio pertence à Arquidiocese de Vitória da Conquista encontra-se em regime de longo comodato para uso pela UESB- Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, para ali desenvolver as atividades do Museu Pedagógico.  
O referido Prédio é uma edificação térrea, construída de adobes (barro/argila cru), de paredes largas (tijolos assentados a tição, isto é, de forma a tornar grossas as paredes), conservando o padrão de arquitetura de velhos prédios de colégios, com salas amplas, grande salão, janelas altas e largas. Exceto quando ao teto, piso e anexo residencial, o prédio conserva-se inteiramente como era. Mas, seu valor arquitetônico8 fica muito aquém do grande valor histórico. Pessoas de vários lugares ainda o procuram para mostrar a filhos e netos, orgulhosamente, o local onde estudaram. Afinal, era o único Ginásio num grande raio de extensão e era privilégio estudar aí.
Em seu funcionamento como Museu, o prédio dispõe de duas salas para o funcionamento administrativo; uma sala para a coordenação geral, três salas para reunião dos grupos de estudos e pesquisas, duas salas para exposições fixas, um auditório para as exposições temporárias e a realização de eventos, uma sala de aula para os dois cursos de especialização (alternados) e para a orientação de pesquisa do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Memória: Linguagem e Sociedade, que também serve para estudos dirigidos, orientações, reuniões temáticas, dentre outras atividades relevantes; e três salas para o Centro de Documentação (Fontes documentais, oficina de catalogação e digitalização e Biblioteca), que não estão comportando mais os materiais e as necessidades do respectivo Centro Documental, inclusive dificultando o acesso público a esses acervos.
Possui, ainda, uma sala para a brinquedoteca (Memória da Infância) e um laboratório de informática com aproximadamente 12 computadores, financiados pela FAPESB, através do projeto Museu Pedagógico na Escola, além de outros equipamentos como telões, data-show, etc., oriundos do financiamento de projetos, entre eles o PROEXT-MEC. O número de visitas públicas às exposições tem crescido e como sua estrutura física já não comporta o número de exposições previstas, há sempre uma constante solicitação para que determinadas exposições continuem funcionando e nem sempre as demandas são atendidas em função da falta de condições físicas.
Os seus espaços estão exigindo ampliação dos espaços insuficientes e precários para abrigar o acervo documental das escolas extintas, uma sala provisória para a biblioteca, ambas, compondo o Centro de Documentação. O Museu conta ainda com acervos imobiliários escolares (para exposição), e cozinha, banheiros, etc. A parte de pessoal é assumida pela UESB. Dois técnicos-administrativos, um vigilante, uma auxiliar de serviços gerais, e mais dois estagiários um da área de história (graduanda) e outro da área de computação (aluno do ensino médio) para acompanhar o trabalho do Centro de Documentação e da parte de informática, respectivamente.
É perceptível a valorização do Museu Pedagógico a cada dia, na medida em que aumenta o número de visitação de uma comunidade interna e externa a Vitória da Conquista e de várias regiões do Brasil (do Norte ao Sul do país) interessados em conhecê-lo. A preocupação com a memória e preservação do patrimônio educacional e cultural na região, tem motivado a equipe e a instituição à qual ela é vinculada (UESB) a realizar políticas museológicas ligadas a programas e/ou ações governamentais, convênios, projetos e as ações que envolvam a modernização e preservação de seu acervo para que se possa oferecer à comunidade um Museu vivo e dinâmico, tal qual foi concebido: interação com o público, socialização dos resultados e estágios de pesquisas, acesso ao seu Centro de Documentação e a realização de exposições, eventos e oficinas temáticas como uma extensão do mesmo. 
Metodologia
            A partir de uma matriz dialética, considerada em toda a sua abrangência, busca-se a renovação metodológica para o tratamento das fontes e a incorporação de novas concepções e fontes historiográficas, acompanhadas de duas vertentes principais: a) as bases epistemológicas que abrangem o campo da metodologia da pesquisa, da história e da historiografia e que possibilitam a análise da educação e das Ciências em geral; b) a aplicação e a interpelação sincrônica e diacrônica dos fenômenos estudados, mediante métodos de procedimentos e técnicas pertinentes.
Partindo, ainda, da concepção da educação em sua forma ampla de práticas sociais, ancoradas em muitas fontes, versões, ciências, disciplinas, materiais e testemunhos da história da educação, particularmente, do Sudoeste baiano, o referido museu vai observando a relação entre educação e cultura hegemônica e/ou educação e cultura não-hegemônica.
Quanto à metodologia básica para desenvolvimento do Projeto Diretor e dos demais, adotou-se a perspectiva que considera que o diálogo entre fontes documentais poderá desencadear interrogações às evidências, e, segundo Schaff (1978) que diz ser possível o acúmulo de verdades relativas; ou, ainda, de Marx (1973) para quem a partir do mais desenvolvido pode-se entender o menos desenvolvido.
Não  é possível a história sem fontes e os documentos ainda são as fontes históricas fundamentais.  Vale a pena revisitar as palavras de Jameson (1984), segundo o qual, o homem é o único animal que deixa documentação a ser usada pela posteridade. Seja isso uma benção ou uma maldição, ele aprende através da sabedoria acumulada ou dos erros do passado. Ao passo que a lembrança individual se transforma em pó ou cinzas, a memória coletiva sobrevive em documentos escritos. Essas experiências registradas do passado evitam ensaios onerosos e experimentos desnecessários no futuro.
Ainda na visão de Jameson (1984), tanto as coletividades religiosas como as seculares têm seus idolatrados patrimônios históricos. As igrejas referem-se a uma plêiade de homens e mulheres elevados ao estado de santidade. As nações cultuam a memória dos seus estadistas. As famílias referem-se com orgulho à sua genealogia. As organizações imortalizam o nome de seus fundadores em placas de bronze. Os acadêmicos emitem publicações especiais em memória de seus membros exponenciais e publicam as primeiras edições de suas obras. Os artistas, inventores, descobridores, mártires, revolucionários, heróis, etc., que marcaram indelevelmente sua geração, são reverenciados pela própria geração ou pelas gerações futuras.
Para o autor (1984), os documentos públicos, tais como a correspondência legal, política, cultural, e mesmo pessoal, possuem valor histórico. Sua preservação permanente transformou-se em problema de importância capital. Daí, os arquivistas colecionarem textos, auxílios audiovisuais, mapas, correspondência, formulários, depoimentos, minutas, contratos comerciais, itens relativos a genealogias, acordos nacionais e internacionais, notas, declarações, etc. Essa função de coletar material de diferentes tipos impõe grande responsabilidade ao arquivista porque lhe cabe determinar o que deve ser preservado e posto ao alcance do público quando surge a procura.     
Considerações Finais
            Fruto da tensão social de seu tempo e tendo como referência principal a idéia de Musealização, o Museu Pedagógico, apresenta-se como espaço vivo, dinâmico, capaz de olhar e de ser olhado pelos mais diferentes ângulos e de realizar, educar e se educar no fazer científico, acadêmico, prático, registrando a pedagogia das relações sociais e disponibilizando as fontes musealizadas. Dentre outros aspectos pretendidos e referenciados desde o seu projeto original, privilegia o estudo do espaço, tempo, ação, imagens, num sentido sincrônico e diacrônico, em torno da abordagem de um objeto comum – a educação – em sua dimensão interdisciplinar (MAGALHÃES, 1995).
No ano de 2012, a equipe do Museu Pedagógico deverá concentrar sua atenção na organização do Centro de Documentação, ampliando seu espaço e readequando-o para abrigar as suas fontes materiais e digitalizadas, bem como oferecer condições de acesso público ao seu espaço. Nesse sentido, pretende-se a digitalização dos documentos escolares sob guarda do Museu, bem como do acervo fílmico doado por um dos maiores colecionadores da cidade, a fim de atender ao público interessado em sua biografia escolar e a pesquisa interdisciplinar na área da História da Educação e das Ciências, bem como do Cinema.
Para tanto, necessita-se de uma melhor infra-estrutura a fim de viabilizar uma melhor estrutura e condições para que a pesquisa possa ser, de fato, mais efetivada e também divulgada para a comunidade acadêmica e geral, incentivando o cultivo da pesquisa local e regional. O Museu Pedagógico, cada vez mais, como um lugar de memória que agrega a história educacional da região, espaço de produção voluntária de conhecimentos, reflexões, pesquisa e produção de saberes, sobre questões relacionadas à trajetória da educação e das ciências.
O Museu Pedagógico organizou-se, desta forma, como um espaço de produção voluntária de conhecimentos, reflexões, pesquisa e produção de saberes, sobre questões relacionadas à trajetória e história da educação, a partir da catalogação de fontes no sentido de possibilitar diferentes olhares sobre o mesmo objeto e leituras interdisciplinares.Desde então, o saber interdisciplinar, que dá sentido e organização à pesquisa, ao ensino e à extensão no Museu Pedagógico vem se concretizando e ampliando-se mediante a implementação de várias propostas.
A criação e implantação paulatina do Museu se deram, particularmente, em decorrência do amadurecimento do diálogo, das discussões acumuladas e da vontade expressa por sujeitos sociais professores, alunos, técnicos administrativos, pessoas da comunidade além do crescente interesse por pesquisa e registro histórico da Educação da Região e a busca de um “espaço” que viabilizasse a compreensão, interpretação, discussão e realização da investigação sistemática sobre seus objetos de estudos, suas interpelações e interrogações, possibilitaram a implantação real dessa idéia do projeto, que advém do ano de 1999.
REFERÊNCIAS
BERMEJO,

CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 1991
(Biblioteca Pólen).

JAMESON, S.H. (Org.) – Administração de Arquivos e Documentos, 1ª edição, páginas XV/XVI, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1964.

MAGALHÃES, J.P. Linhas de investigação em História da Educação e da Alfabetização em Portugal. Um domínio do conhecimento em renovação. In: Anais do II Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”, Campinas: SP, nov/1995.

MAGALHÃES, L. D. R; AGUIAR, E. P (Org.) Guia de Fontes Educacionais. Vitória da Conquista: Museu Pedagógico; DIGRAF/UESB, 2007.

______. Os estudos sobre memória e memória geracional no Brasil: um recorte com base nos cursos stricto sensu e no diretório dos grupos de pesquisa. In: Anais do IX Colóquio Nacional e II Colóquio Internacional do Museu Pedagógico. Vitória da Conquista: 2011.

MARX, K. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa.  Estampa, 1973.

Novo Aurélio Séc. XXI. O Dicionário da Língua Portuguesa. Versão 3.1, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d

Pasta de Cadastramento de Projetos do Museu Pedagógico da UESB.

SCHAFF, Adam.  História e Verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1978.  



[1] Professora do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UESB, coordenadora geral do Museu Pedagógico, lrochamagalhaes@gmail.com.
[2] Professora aposentada do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UESB, membro do Museu Pedagógico, apcasimiro@oi.com.br.
[3] Professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da UESB, membro do Museu Pedagógico, ruy-medeiros@uol.com.br.
[4] Grupos de pesquisa coordenados por professores/pesquisadores do Museu Pedagógico da UESB: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: MEMÓRIA, RELIGIÃO, ARTE E EDUCAÇÃO; MEMÓRIA GERACIONAL, POLÍTICAS EDUCACIONAIS E TRAJETÓRIAS SOCIAIS; HISTÓRIA, TRABALHO E EDUCAÇÃO; NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE A DIVERSIDADE HUMANA; RELIGIÃO, HISTÓRIA E SOCIEDADE; ENSINO DE HISTÓRIA: HISTORIOGRAFIA, SUJEITOS, SABERES E PRÁTICAS; ESTUDOS DO LETRAMENTO: PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA E ESCRITA; TEORIAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM DAS CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS E DA MATEMÁTICA; AS MÚLTIPLAS FACES DOS ESTUDOS SOBRE GÊNERO, INFÂNCIA E JUVENTUDE; GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE DROGAS E ÁLCOOL; IDEOLOGIA E LUTA DE CLASSES; ESTADO E POLÍTICA NO BRASIL IMPERIAL E REPUBLICANO. Grupos Associados ao Museu Pedagógico: HISTEDBR – História, Sociedade e Educação no Brasil; NATUREZA, CULTURA E COMPLEXIDADE; HISTÓRIA DA ÁFRICA E DA AMÉRICA NEGRA; MEMÓRIA, CULTURA E DESENVOLVIMENTO; EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO; ESCOLA, CURRÍCULO E PRÁTICA PEDAGÓGICA; NÚCLEO DE ESTUDO, PESQUISA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES.


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