quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Finalmente reeditada obra poética de Camilo de Jesus Lima.


Ruy Medeiros

Obra Poética (2 Volumes) de Camillo de Jesus Lima

Lançamento: Dia – 11 de setembro
Hora – 19:00 h
Local – Câmara Municipal de Vitória da Conquista

Camilo de Jesus Lima nasceu em Caetité, Bahia, em 9 de setembro de 1912, e faleceu em 28 de fevereiro de 1975, em Itapetinga, Bahia.
Camilo foi grande poeta, autor de boa crítica literária, de crônicas, de romance (inédito). Em 1942, ganhou, com o livro “Poemas”, o prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras.
O poeta evoluiu de uma poesia intimista (em que o sentimento de saudade predomina amplamente) para a poesia social mais afirmativa dentre os poetas baianos contemporâneos, especialmente os versos publicados em jornais locais, muitos dos quais reunidos em “Cantigas da Tarde Nevoenta” e as “Trevas da Noite estão passando” (este em colaboração com Laudionor Brasil).
Sua prosa foi publicada em vários jornais e revistas, algumas de circulação nacional, como é o caso de Vamos Ler, O Malho, e Leitura (esta, importante publicação cultural editada no Rio de Janeiro).
O Poeta esteve em grande evidência nas décadas de 1940 a 1960, quando ativamente veiculava textos em jornais. Mas a edição de seus livros, financiada por amigos ou custeada por si mesmo, não excedia de 300 exemplares e isso não permitia ampla circulação. Depois, a ditadura não queria poesia libertária. A censura imperou. Foi preso e vigiado
Camilo combateu o nazismo. Uma das primeiras reações contra a invasão da Polônia pela Alemanha (1939) é seu poema “imortal”, que mereceu agradecimento do Embaixador polonês no Brasil. Cantou a paz, a solidariedade, a igualdade social, mas sobretudo o amor e a liberdade.
A re (edição) da obra de Camilo, que organizei (preservando cronologia e introdução de José Mozart Tanajura) foi realizada pela Editora da Assembléia Legislativa da Bahia, (parabéns, Marcelo Nilo e Délio Pinheiro!) antecedida de esforços desenvolvidos pela Cada da Cultura, filhos de Camilo, amigos e admiradores (Carlos Jehovah à frente), José Raimundo Fontes, Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista e Edições UESB.
Os dois volumes que serão lançados trazem o que Camilo enfeixou em livros e editou. Ficam fora, por enquanto, obras importantes como Cancioneiro de Vira Mundo, Poemas Satíricos, Velhos Temas, Socaite em três variações, Tristes Memórias do Professor Mamede Campelo, Crônicas e Artigos, etc.
Vale a pena – e muito – editar o restante da obra, especialmente Cancioneiro de Viramundo (poesias) e Tristes Memórias do Professor Mamede Campelo (romance)
A Balada de Vira Mundo
(Camillo de Jesus Lima)

Me solta, gente, que eu quero atravessar a fronteira,
Eu quero ouvir saudades cantadas, choradas, suspiradas,
Molhadas de suor, na segunda classe, onde os emigrantes fazem mútuas confidências.                                            
Eu quero sentir o vento levantando-me os cabelos,
Eu quero encher meus pulmões com o ar puro dos campos.
Eu quero jogar o resto de tabaco do meu cachimbo nas ondas revoltas.
Que quero ver os olhos dos que procuram devassar os horizontes longínquos na ilusão de verem lenços acenando,
- Olhos tristes que lembram noites de amor e que geram poemas.
Me solta, gente, que eu quero atravessar a fronteira.
Eu quero ver se o beijo de Amor, que mora em Changai e bebe chá na taça amarela de porcelana.
é mais doce que o de Dolores que morreu na rua de Madrid, acenando o lenço vermelho no ar, como se fosse uma serpente de sangue.
(O beijo de amor pode ser mais doce, mas nunca há de ser selvagem como o de Vera,
Que uiva de amor como a loba ferida no gelo da estepe).
Me solta, gente, que eu quero ir com Wanda, por este mundo a fora,
Como dois ciganos sem rumo e sem destino.
Eu quero ver os olhos de Sara perdidos no cais como duas estrelas negras.
Eu quero respirar fumaça naquela taverna escura de Manilha.
Eu quero comprar corais daquele marujo cor-de-cobre
Para que eles pareçam no colo alvo da minha Pecadora,
Marcas sangrentas que meus dentes fizeram.
Me solta, gente, que aquela menina araucana, morena, de olhos pretos está me dizendo que o mundo é muito grande,
enquanto os Andes parecem pontos de admiração enormes, de cabeça para baixo,
com pingos de condores quase invisíveis, no alto, parados.
Me solta, gente, que os trilhos dos trens de ferro estão escrevendo meu destino no dorso infinito da terra.
Me solta, gente, que a brisa do mar está me chamando,
Me chamando,
Me chamando...





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