Finalmente reeditada obra poética de Camilo de Jesus Lima.
Ruy
Medeiros
Obra Poética (2 Volumes) de Camillo de Jesus Lima
Lançamento:
Dia – 11 de setembro
Hora
– 19:00 h
Local
– Câmara Municipal de Vitória da Conquista
Camilo
de Jesus Lima nasceu em Caetité, Bahia, em 9 de setembro de 1912, e faleceu em
28 de fevereiro de 1975, em Itapetinga, Bahia.
Camilo
foi grande poeta, autor de boa crítica literária, de crônicas, de romance
(inédito). Em 1942, ganhou, com o livro “Poemas”, o prêmio Raul de Leoni, da
Academia Carioca de Letras.
O
poeta evoluiu de uma poesia intimista (em que o sentimento de saudade predomina
amplamente) para a poesia social mais afirmativa dentre os poetas baianos
contemporâneos, especialmente os versos publicados em jornais locais, muitos
dos quais reunidos em “Cantigas da Tarde Nevoenta” e as “Trevas da Noite estão
passando” (este em colaboração com Laudionor Brasil).
Sua
prosa foi publicada em vários jornais e revistas, algumas de circulação nacional,
como é o caso de Vamos Ler, O Malho, e Leitura (esta, importante publicação
cultural editada no Rio de Janeiro).
O
Poeta esteve em grande evidência nas décadas de 1940 a 1960, quando ativamente
veiculava textos em jornais. Mas a edição de seus livros, financiada por amigos
ou custeada por si mesmo, não excedia de 300 exemplares e isso não permitia
ampla circulação. Depois, a ditadura não queria poesia libertária. A censura
imperou. Foi preso e vigiado
Camilo
combateu o nazismo. Uma das primeiras reações contra a invasão da Polônia pela
Alemanha (1939) é seu poema “imortal”, que mereceu agradecimento do Embaixador
polonês no Brasil. Cantou a paz, a solidariedade, a igualdade social, mas
sobretudo o amor e a liberdade.
A
re (edição) da obra de Camilo, que organizei (preservando cronologia e
introdução de José Mozart Tanajura) foi realizada pela Editora da Assembléia
Legislativa da Bahia, (parabéns, Marcelo Nilo e Délio Pinheiro!) antecedida de
esforços desenvolvidos pela Cada da Cultura, filhos de Camilo, amigos e
admiradores (Carlos Jehovah à frente), José Raimundo Fontes, Prefeitura
Municipal de Vitória da Conquista e Edições UESB.
Os
dois volumes que serão lançados trazem o que Camilo enfeixou em livros e
editou. Ficam fora, por enquanto, obras importantes como Cancioneiro de Vira
Mundo, Poemas Satíricos, Velhos Temas, Socaite em três variações, Tristes
Memórias do Professor Mamede Campelo, Crônicas e Artigos, etc.
Vale
a pena – e muito – editar o restante da obra, especialmente Cancioneiro de Viramundo
(poesias) e Tristes Memórias do Professor Mamede Campelo (romance)
A
Balada de Vira Mundo
(Camillo
de Jesus Lima)
Me
solta, gente, que eu quero atravessar a fronteira,
Eu
quero ouvir saudades cantadas, choradas, suspiradas,
Molhadas
de suor, na segunda classe, onde os emigrantes fazem mútuas confidências.
Eu
quero sentir o vento levantando-me os cabelos,
Eu
quero encher meus pulmões com o ar puro dos campos.
Eu
quero jogar o resto de tabaco do meu cachimbo nas ondas revoltas.
Que
quero ver os olhos dos que procuram devassar os horizontes longínquos na ilusão
de verem lenços acenando,
-
Olhos tristes que lembram noites de amor e que geram poemas.
Me
solta, gente, que eu quero atravessar a fronteira.
Eu
quero ver se o beijo de Amor, que mora em Changai e bebe chá na taça amarela de
porcelana.
é
mais doce que o de Dolores que morreu na rua de Madrid, acenando o lenço
vermelho no ar, como se fosse uma serpente de sangue.
(O
beijo de amor pode ser mais doce, mas nunca há de ser selvagem como o de Vera,
Que
uiva de amor como a loba ferida no gelo da estepe).
Me
solta, gente, que eu quero ir com Wanda, por este mundo a fora,
Como
dois ciganos sem rumo e sem destino.
Eu
quero ver os olhos de Sara perdidos no cais como duas estrelas negras.
Eu
quero respirar fumaça naquela taverna escura de Manilha.
Eu
quero comprar corais daquele marujo cor-de-cobre
Para
que eles pareçam no colo alvo da minha Pecadora,
Marcas
sangrentas que meus dentes fizeram.
Me
solta, gente, que aquela menina araucana, morena, de olhos pretos está me
dizendo que o mundo é muito grande,
enquanto
os Andes parecem pontos de admiração enormes, de cabeça para baixo,
com
pingos de condores quase invisíveis, no alto, parados.
Me
solta, gente, que os trilhos dos trens de ferro estão escrevendo meu destino no
dorso infinito da terra.
Me
solta, gente, que a brisa do mar está me chamando,
Me
chamando,
Me
chamando...
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