quarta-feira, 29 de março de 2017

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Da Série O Professor Hemetério e seu detestável Aluno: Décima Conversa





Ruy Medeiros

Alô, alô. Pô, Hemetério! Até que enfim você atende minha chamada ao telefone! Que há? Chiquinho assistiu ao debate de que você participou. Nem perguntei qual a opinião dele. Tenho até medo de que ele vista uma dessas camisas que trazem propaganda do Bolsonaro. O que você está fazendo agora?
Era Isadora (grande mulher, grande mulher) ao telefone.
O professor Hemetério respondeu:
Escuta, o Chiquinho não cometeria esse absurdo. Quanto a mim, vivo em tremendo mal estar diante da desfaçatez política governamental. A coisa está tão retrógrada que simples liberal um pouco esclarecido passa por revolucionário. Para desopilar um pouco estou lendo coisas do Zé Limeira.
– Mas… Zé Limeira, Hemetério?
Sim, veja como ele começou uma de suas aparições em Campina Grande:
“Peço Licença aos prugilos / dos Quelés da Juvenia / dos tolfus dos audíocos / dos Baixos da silencia / do genuíno da Bribria / do grau da grodofobia”.
– Como?! Rararará… Você está brincando… Leia para mim a parte do texto que você escreveu sobre a temerosa propaganda da reforma previdenciária. Pode ser agora, por telefone.
– Então ouça:
Ítalo Calvino, que nasceu em Cuba mas ainda criança foi para a Itália onde viria tornar-se grande escritor, em seu conto “A memória do Mundo” dá voz a personagem que, a certa altura, diz a interlocutor:
“A mentira só exclui a verdade aparentemente; você sabe que em muitos casos as mentiras – por exemplo, para o psicanalista, as do paciente – são tão ou mais indicativos do que a verdade; e assim será para os que tiverem de interpretar a nossa mensagem (…) ouça: a mentira é a verdadeira informação que temos de transmitir. Por isso não quis me proibir um uso discreto da mentira, quando ela não complicava a mensagem, mas, ao contrário, a simplificava”.
A temerosa propaganda do governo segue a diretriz do personagem de Italo Calvino. A conversa de que uma geração paga a previdência para a geração seguinte é totalmente falsa. A Previdência Social é Constitucionalmente parte integrante do Estado. É permanente. O Estado dotou-se de função previdenciária. Minha geração, que já se vai (para usar uma expressão de Brecht) afundando sob a crista da maré montante da geração nova, aqui presente, contribuiu (e ainda contribui) para a Previdência, mas esta não vive apenas das contribuições pessoais. Empresas são obrigadas a contribuir para o sistema previdenciário, parte de recursos obtidos com loteria vai para ela, assim como a contribuição do importador de bens e serviços do exterior, o Estado é obrigado a direcionar recursos para ela. E, sobretudo, a Seguridade Social (Previdência e Assistência Social) têm orçamento próprio, no orçamento anual do País, e pode, valer-se de outras fontes criadas por lei para a sua manutenção e expansão, tudo como prevê a Constituição Federal. Política permanente que é, criada, inclusive com previsão de expansão, não pode ser assimilada à vontade de uma geração. Mas o governo prefere seguir a orientação semelhante àquela do cínico personagem de Calvino: “A mentira é a verdadeira informação que temos de transmitir”. Além disso…
– Alô, alô, alôo… A ligação caiu. Essas drogas de Operadoras! A turma do Fernando Henrique disse que a privatização das teles era para quebrar o monopólio e melhorar os serviços. Que nada! Alô, alôôô… Nenhuma voz no outro lado da linha.

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