Carta ao Secretário de
Educação
Ruy Medeiros
Walter
Pinheiro:
Penso
que posso dirigir-me a você sem as informalidades do cargo e dos pronomes de
tratamento. Também considero que posso trata-lo por você.
Neste
momento escreve-lhe uma pessoa que aos 14, ou 15 anos de idade participou de
seu primeiro ato político como protagonista, dentre muitos outros estudantes
que se insurgiram contra o golpe dos generais que objetivava impedir a posse de
João Goulart. E, a partir daí, passou a batalhar. Participou do movimento
estudantil contra a ditadura, preso respondeu a IPM. Depois, já formado em
direito, continuou a militância, foi novamente preso, torturado, julgado pela
auditoria militar, perseguido, mas continuou a lutar.
Parte
mais recente dessa minha história você conhece, pois em alguns momentos, com
José Gomes Novais e outros estivemos juntos na luta política.
Agora,
tenho dado continuidade à batalha junto a movimentos sociais. Estive anteontem
reunido, a convite, com estudantes e professores da Escola Nilton Gonçalves,
situada no Bairro Ibirapuera, na cidade onde resido. Essa escola, com seus
setecentos e tantos alunos, que atende bairros populosos, dois dos quais
periféricos, é aquela que você pretende fechar. Os argumentos para isso são
canhestros, medíocres e insignificantes. Não há argumentos válidos para
suprimir a escola do mapa educacional do Estado. Isso é um crime.
O
que se pode e deve esperar de Secretário de Educação é que abra, abra, abra
mais e mais escolas, ao invés de encerrá-las.
No
momento em que famílias se ralam para manter filhos em escolas da rede
particular de ensino, você deveria ser paladino da renovação da escola pública,
da retomada do prestígio dessa, da valorização do ensino, da educação e dos
profissionais da escola. Você deveria trazer de volta para a escola pública
milhares de crianças, adolescentes e jovens cujas famílias sacrificam-se para
pagar mensalidades de seus filhos em escolas da rede privada, que vai ocupando
cada vez mais espaço, desmentindo ser a educação um direito social.
Walter
Pinheiro, não cometa atentado contra a educação de nosso povo. Não feche a Escola
Nilton Gonçalves. Não disperse para longe de suas famílias crianças e
adolescentes, não mate a rede de sociabilidade e de coleguismo que a Escola
Nilton Gonçalves tem garantido. Pense em abrir escolas, excelentes escolas, ao
invés de fechar aquelas que, após já fechar tantas, o Estado ainda mantém. Atos
desse tipo têm o preço cobrado não apenas no presente, pois também são exigidos
no futuro.
Atenciosamente,
Ruy
Medeiros
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