A
Farsa
Ruy Medeiros
Institutos
de pesquisa anunciam, quando divulgam intenção de voto em candidatos ás
eleições que devem ocorrer no próximo domingo, que a maioria de eleitores com
formação superior declara voto em um capitão da reserva remunerada do exército,
de fama recente, alicerçada em dizeres preconceituosos e em um grito (todos os
canais televisivos e todos os microfones das rádios escancarados) de carinho
(voltado ao passado), solidariedade e identificação a um coronel que se
notabilizou por chefiar o DOI-CODI em cujos porões torturavam-se pessoas ou
maquinavam-se “desaparecimentos”.
A
mensagem é clara: “os bem letrados, os bem dotados do saber, o que têm
(suposta) legitimidade da voz”, os ricos de conhecimento, aqueles que
efetivamente sabem o que dizem, em sua grande maioria, já declaram o que pensa
a inteligência nacional. Os doutores já disseram em quem votar!
As
emissoras de TV, sobretudo, e outros meios de comunicação, bradam
retumbantemente o dado da pesquisa: quem sabe das coisas (os doutores) já optou.
Alguns, é claro, agem de forma subliminar.
É
a farsa é espalhada aos quatro ventos. Não se faz nenhum cruzamento entre
classe social e os doutores, entre idade, classe e “doutores”, nenhuma análise.
No fundo, o que se verifica é que membros da classe mais abastada e de setores
da classe média alienada, diante da crise, têm medo. Querem um militar que,
como em 1964, faça um governo de exceção.
Mas
serão mesmo os mais instruídos? Os realmente de formação superior, é por serem
de formação superior que votam no Capitão? Ou será que o fazem por outro motivo
que não a sua formação?
Como
é triste saber que pessoas instruídas coloquem de lado o seu saber para, como
rebanho, seguir a coorte da obscuridade.
Será
que não tem importância saber por que as pessoas votam em determinado
candidato? Essa pesquisa não é feita, porque se for realizada,
ficará evidente que não é o saber daqueles de formação superior que comanda o
seu voto, mas sim outra motivação, do medo, do puro reacionarismo ou da
alienação.
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