quarta-feira, 15 de setembro de 2021

A Mestra não batia continência

 


Ruy Medeiros



A mestra chamava-se Edvanda Teixeira. Ela envolveu-se de corpo e alma no trabalho de educação popular. Embora professora da rede pública de ensino e cumpridora de seus deveres de servidora pública, tirava a maior parte de seu tempo em atividades de Educação popular. É que gratuitamente ensinava, na periferia da cidade e na zona rural, a trabalhadores, jovens, donas de casa, desempregados.

Foi a grande educadora, na região, das Comunidades Eclesiais de Base. Seu ensino era problematizador e emancipatório. Todos os envolvidos participavam, a fala de todos era buscada e considerada. A visão crítica das coisas estabelecia-se no auditório e as diversas contribuições sobre o tema em pauta eram discutidas. A liberdade era cultivada.

Grande parte de sua vida transcorreu no período da ditadura militar. A parábola tinha de ser utilizada.

O Município de Vitória da Conquista batizou uma de suas escolas com o nome da educadora. Homenageava-a, reconhecia-lhe o trabalho e queria perpetuar sua memória de educadora para a liberdade, seu método, inclusive (ou sobretudo?).

Agora, circula notícia de que a escola que ostenta o nome da educadora Edvanda Teixeira oferecerá ensino com pedagogia nos moldes de Colégio Militar.

Quem, sem conhecer a história de vida da educadora, Edvanda Teixeira, ver o seu nome inscrito na fachada da escola, que passar a adotar a pedagogia dos Colégios Militares, há de imaginar que era essa a pedagogia de Edvanda Teixeira e a sua memória estará desfeita ou, no mínimo, desnaturada. Todo objetivo de preservar a memória íntegra de uma grande educadora se esvairá. Esse não pode e não deve ser objetivo de homenagem. Não.




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