Anel Viário, ou simples “Travessia”?
Ruy
Medeiros
Uma questão
urbana fundamental em Vitória da Conquista é a mistura dos trânsitos ( e
tráfegos ) urbano e rodoviário.
Grandes
avenidas são, pelo menos em parte, também estradas de rodagem. Aí estão as
“avenidas” Presidente Vargas, Juracy Magalhães e Presidente Dutra, que são
partes de estradas de rodagem ou, pelo menos, acesso contínuo e imediato de
estradas.
A mistura de
dois tipos de trânsito sempre foi condenada por urbanistas e estudiosos de
sistema de trânsito. Pedro Escribano Collado, por exemplo, chega a afirmar que
a travessia de estradas dentro de u ‘a
malha urbana é um “nucleo de
problemas mais que um benefício para a circulação dentro do perímetro urbeno”.
Ele está certo.
Em Vitória da
Conquista, muitos loteamentos foram criados perpendicularmente às estradas e
estas passara m cada vez mais
servirem como acesso à malha urbana já estabelecida. É histórico. Mesmo os
parcelamentos iniciais surgiram (adensado que foi o centro) à beira das
estradas, com ruas perpendiculares a esta. Assim surgiram a Siqueira Campos /
San Juan (estrada da Muranga), 10 de
Novembro (estrada/caminho do São Berna rdo), Fernando Spínola/Nicanor Ferreira
(estrada/caminho dos campinhos) etc.
O
estabelecimento de conjuntos habitacionais, só articulados com a malha urbana
inicialmente por estradas, agravou o problema. Aí estão conjuntos feitos ou
assumidos pela URBIS, empresa pública estadual, que agravaram problemas de
circulação em trechos rodoviários que buscam Barra do Choça, Itambé e,
sobretudo Brumado. A mistura de dois trânsitos aumentou; vetores de crescimento
ficaram mais potentes e novas demandas incidiram sobre a administração pública,
ampliando, inclusive, custos de serviços.
A questão
tornou-se muito séria no que diz repeito à BR 116 - Rio-Bahia/Avenida
Presidente Dutra. Complicou a situação ainda mais o fato de a estrada para
Brumado passar a servir bastante como
“avenida”,. Muito se disse e se escreveu (embora textos pequenos, notas) sobre a necessidade de tirar
o tráfego/trânsito da Rio-Bahia (BR116) do centro de Conquista ou de melhor
articulá-la a fim de que não trouxesse maior dano à população. Foram imaginados
viaduto, passarelas, elevados, etc. O certo é que pequenas intervenções de nada
resolveram e sequer foram edificadas passarelas, hoje já indispensáveis mesmo
que a Rio-Bahia seja relocada para futuro anel viário. Recuperando a
administração do solo, no local por onde hoje a estrada passa pela malha urbana
( Av. Presidente Dutra), o Município poderá, com autonomia, fazer as passarelas necessárias.
As
circunstâncias impuseram a necessidade do anel viário. Era ( e é) imperioso
tirar o trânsito pesado da Avenida Presidente Dutra. A idéia, nas décadas de 70
( quando foi discutido o Plano Diretor Urbano), e 80 era exatamente não
permitir aquele tipo de trânsito pela malha urbana.
Agora, com
atraso, inicia-se a construção de anel viário. A rigor, um anel rodoviário não
é exatamente o que está sendo feito. Como a cidade cresceu ( e continua
crescendo), o dito anel viário não passa de mera “travessia”,
pois atinge parte considerável da malha urbana.
É certo que
o anel viário apresenta um avanço, pois reloca a estrada para uma área menos
crítica. Mas já nasce com a marca da improvisação, anunciando futuros problemas.
Em texto anterior, o autor destas linhas mostrava importância da obra. Mas não
se pode negar que o anel viário apresenta possibilidades não remotas, mas de
curto prazo, de transferência de problemas. A concepção que reúne idéia de
rodovia cadada com acesso à cidade, já na malha urnaba periférica, utilizando
parte desta, não observou que o uso do solo urbano já é intenso nas imediações
do entroncamento BR116/Estrada de Brumado. Assim, logo logo surgirão problemas,
embora menores que os que a Avenida Presidente Dutra apresenta hoje, mas que
podem mesmo serem maiores no futuro.
A obra será
incompleta e logo ficará superada se não for planejado e executado programa
suplementar de acesso de veículos e pessoas de um lado para outro do sistema
viário urbano no local (passarelas, rótulas, avenidas paralelas, variantes,
elevados, etc). Também é necessário antecipar programa de planejamento urbano
para o sítio do entorno e decretar como área non aedificandi uma porção de
terra na proximidade da faixa de domínio, transformando-a em área verde. A
proteção à vida deve estar em primeiro lugar. A circulação é fenômeno que deve
ficar inteiramente submetido ao critério maior de preservação da vida e busca
crescente de melhoria de qualidade desta. Choca, igualmente, a falta de
qualquer projeto estético para o anel viário (mera travessia, como vimos).
Parece que se fica contente com a pista de rolamento, o acostamento e a
servidão (faixa de domínio). L. Hornbeck e L. Golden com razão assinalam a importância
do projeto estético para as rodovias (lato sensu), ao acentuarem que “se se quer que a estrada seja agradável,
estética, moderna e segura, é preciso estabelecer, muito cedo, os critérios e
os objetivos estéticos, e assegurar-se de que serão respeitados, por
consequência” (apud José Afonso da Silva, Direito Urbanístico”).
Ora, a
travessia, dito anel viário, passa pela malha urbana (grande trecho) ou próximo
desta. Neste sentido ganha força a necessidade de um projeto estético bem
definido, não necessariamente caro.
Se não forem
adotados meios que melhorem o acesso à
estrada de Brumado, problemas
avolumar-se-ão, especialmente nos finais de semana (quando muitas pessoas vão
para o “Açude de Anagé”). É que, sem contar que há cruzamento (embora
com rótula) de estradas, há vias urbanas de ambos os lados da pista do anel.
Há,
portanto, razões para inquietação.. Não se pode simplesmente substituir a
vantagem da circulação de veículos pesados com o desassossego da população
urbana que mora e/ou trabalha próximo do anel viário em construção.
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