Artigo publicado na data da Inauguração do Memorial
HOMENAGEM
Ruy Medeiros
Em julho deste ano, Vitória da
Conquista presenciará uma homenagem profunda a
27 baianos, vítimas da ditadura militar.
Será inaugurado em praça pública um monumento contendo os nomes de Antonio Carlos Monteiro Teixeira, Aderval
Alves Coqueiro, Carlos Marighella, Dermeval da Silva Pereira, Dinaelza Santana Coqueiro, Dinalva Oliveira Teixeira, Eudaldo
Gomes da Silva, Jorge Leal Gonçalves, José Lima Piauhy Dourado, João Carlos
Cavalcante Reis, José Campos Barreto, Joel Vasconcelos Santos, Luís Antonio
Santa Bárbara, Mário Alves de Souza Vieira, Maurício Grabois, Nilda Carvalho
Cunha, Nelson Lima Piauhy Dourado, Péricles Gusmão Regis, Pedro Domiense de
Oliveira, Otoniel Campos Barreto, Rosalindo Souza, Sérgio Landulfo Furtado,
Stuart Edgard Angel Jones, Uirassu de Assis Batista, Vitorino Alves Moitinho,
Vandick Reidner Pereira Coqueiro e Walter Ribeiro Novaes.
Dentre as pessoas referidas, são conquistenses: Péricles Gusmão Regis,
filho de Adalberto Regis Keller da Silva e Laudicéia Gusmão de Freitas Portela,
nascido em 5 de dezembro de 1925, e falecido em 12 de maio de 1964, e Dinaelza
Soares Santana Coqueiro, filha de Antonio Pereira de Santana e Jumília Soares
Santana, nascida em 22 de março de 1949, e falecida em 1973, no Araguaia.
Péricles Gusmão Regis fora eleito
vereador pela legenda do MTR - Movimento Trabalhista Renovador - nas
eleições de 1962. Preso por força do exército comandada pelo Coronel Bendochi
Alves Filho, em 12 de maio de 1964 foi encontrado morto em cela do quartel da
polícia militar, em Vitória da Conquista. Dinaelza Santana Coqueiro residira em
Jequié, Bahia, e para completar estudo fora para Salvador, Bahia. Aí passou a
militar no PCdoB, juntamente com Wandick Coqueiro, e depois ambos foram para o
Araguaia e nunca mais foram vistos.
O monumento tem a arte de Romeu Ferreira (artista expressionista, que
hoje incursiona pelo neo-barroco), a partir de esboço feito pela Professora Ana
Palmira B. S. Casimiro. Sobre a idéia de uma figuração vazada em pedra,
parcialmente jungida a outra lâmina de
ganito, imaginada pela Professora Ana Palmira, Romeu Ferreira desenvolveu
o monumento, dando-lhe grande expressividade,
completando-o. O desenho vazado, que significa ausência, representa a memória e
esta fixa-se ainda mais em razão da
"perenidade" do granito
e da figuratividade de sua cor verde-ubatuba.
Os baianos homenageados foram vítimas da ditadura militar, em razão de
seu combate político.
A preservação da memória dos que resistiram à opressão fascista é uma
tarefa de singular importância: Não se trata de lembrar emotivamente pessoas
que foram semente de história, mas de denunciar para hoje e para o futuro que
haverá sempre quem se oponha às ditaduras e que o destino do homem é a
liberdade com igualdade social. O monumento tenta dizer isso com o nome
daqueles que se igualaram na busca do futuro.
Em pedra duradoura ( e assim
espera-se que o seja), uma memória é resgatada: Não se trata apenas de
preservar nomes. Mas é todo um tempo obscuro e terrível que fica lembrado: "Um tempo de guerra, um tempo sem
sol". A ditadura ceifou vidas,
sonhos e liberdade. Torturou, matou, prendeu, cassou direitos, baniu, exilou.
Mas houve a resistência. Então, nomes, momentos e resistência são lembrados.
Quem olhar assim com os olhos de ver um monumento de pedras há de pensar
que a luta dos homenageados não foi em vão. Afinal estão mortos, estão vivos.
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