quarta-feira, 23 de maio de 2012



DOMINGO, 7 DE AGOSTO DE 2011

Publicado em http://nerdidade-nerdidade.blogspot.com.br

Rio Verruga - Entrevista com Ruy Medeiros

Ruy H. Medeiros*
N@ (Nerdidade) – Professor Ruy, qual o significado desse rio chamar-se Verruga?
RM – O rio tem o nome de Verruga porque banha o distrito de Verruga (hoje Itambé). As pessoas não vinculavam o trecho de Itambé (verruga) com a nascente do Piripiri e o rio no trecho urbano da Imperial Vila da Vitória (hoje Vitória da Conquista) era chamado ora riacho da Vitória, ora riacho do Piripiri ou simplesmente córrego. Poucos sabiam que se tratava do mesmo “rio”.
N@  O rio Verruga já foi utilizado para o abastecimento de água para a população? Ainda hoje essa água é utilizada pela a população?  
RM – Sim. Durante muito tempo, o rio era a fonte de água para as diversas necessidades humanas, vegetais e animais. Em parte, em alguns trechos sua água é utilizada. O serviço de água tratada na cidade (a partir de 1968) diminuiu o uso doméstico urbano. Em muitos casos, as cisternas das casas distantes do rio foram transformadas em fossas, causando poluição do subsolo, quando foi instalado serviço público de esgotamento sanitário.
N@ – Qual a sua importância para cidade de Vitória da Conquista?
RM – Além da grande importância histórica, o rio Verruga compõe nosso meio ambiente. Uma vez recuperado, o rio voltará a ter suas águas usadas. Alguns lugares de suas margens podem abrigar parques com preocupação preservacionista. Não há incompatibilidade de integrar o rio à malha urbana das cidades (Conquista Itambé) e sua preservação, depende do modo e dos instrumentos para isso utilizáveis.
N@ – Esse rio serve para quê atualmente? E antigamente qual era a sua serventia?
RM – Antigamente, o rio tinha grande serventia: abastecia de água a sede da Vila (Imperial Vila da Vitória e a sede do distrito de Verruga). Suas águas serviam para beber e para todo uso doméstico (lavar casa, roupas, pratos, etc.) servir de descarga de dejetos, molhar plantas etc. Em 1904, abaixo da área urbana (proximidade da praça Vitor Brito e Avenida Bartolomeu de Gusmão atuais) parte das águas do rio foi represada para servir a animais em trânsito para outras regiões. Em 1950, foi aí perto construída uma “lavanderia” de uso público. Na zona rural a utilização era a mesma, acrescida do uso animal mais intenso. Limitadamente, o rio tem o mesmo uso na zona rural por animais, o que é bem freqüente.
N@ – Na década de 1940, seu curso era perfeitamente perceptível, mas as autoridades canalizaram para debaixo da terra, por quê?
RM – O trecho urbano do rio Verruga (trecho do centro de Vitória da Conquista até a Avenida Bartolomeu de Gusmão) sofreu intervenção saneadora do DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento) em colaboração com a SUDENE. Isso ocorreu entre os anos de 1970 e 1974. Havia dois segmentos muito sujos – Rua Ernesto Dantas (popularmente chamada Beco Sujo) e praça Nove de Novembro/quintais das casas da Praça Barão do Rio Branco e Francisco Santos. O rio foi canalizado desde trecho da Rua D. Pedro II/Tiradentes até trecho da Avenida Bartolomeu de Gusmão. A intervenção consistiu em canalizar o rio em galeria coberta e, ao mesmo tempo, desviou parte de seu curso, desviando o rio a partir da Praça 9 de Novembro para a Avenida Bartolomeu de Gusmão onde retoma o curso antigo. Ocorre, no entanto, que algumas casas da Praça Barão do Rio Branco, Francisco Santos, Travessa Góes Calmon, continuaram a lançar seus esgotos no leito inativo do rio (como dito antes), fato que motivou medida da Prefeitura Municipal, não totalmente acatada (construção de fossas sépticas tipo “Moura”).
N@ (Nerdidade) – Quando o rio Verruga começou a ser poluído?
Ruy Medeiros – A poluição do rio Verruga é decorrente de longo processo histórico, embora tenha intensificado nos últimos 30 anos.
Houve preocupação por parte das autoridades de deixar o trecho urbano do rio Verruga limpo, pois a a vila, depois cidade, tinha nessa sua fonte de abastecimento de água para beber e para uso doméstico. Mas isso nem sempre era obedecido. De qualquer maneira, a parte superior do rio, na Serra do Periperi, ficou protegida razoavelmente até os anos sessenta do século passado.
Com o crescimento da cidade, muitas casas passaram a utilizar o rio como destino de esgoto sanitário e águas servidas. Isso era muito difícil de controlar. Em 1973, a administração exigiu que moradores que tinham seus quintais na margem do rio fizessem fossas sépticas, cessando com o mau uso do rio. O estabelecimento do serviço Público de esgoto a partir da década de 1970 minorou a situação, embora algumas residências e casas comerciais continuassem a destinar seus esgotos ao rio.
Nos últimos trinta anos, com o crescimento da cidade e o não acompanhamento da extensão da rede de esgoto, a situação ficou crítica. A própria capacidade da “estação de tratamento” (tipo lagoa de decantação) na margem do rio, comprometeu sua limpeza. A cidade continuou crescendo e algumas das nascentes do rio passaram a sofrer comprometimento (nascentes da Serra do Piripiri, da Muranga (proximidade do Estádio Lomanto Junior, do Jurema) e riachos que deságuam no rio Verruga também passaram a ser poluídos (riacho São Pedro, cujas margens foram povoadas), riacho Santa Rita (com crescimento dos povoados de Campinhos, onde se produz farinha e o vinhoto da mandioca em boa parte vai para o riacho, e Simão). Muitas residências continuam a lançar dejetos no rio, inclusive na zona rural (há áreas que tiveram população adensada à margem do rio, como é o caso da Fazenda Amaralina). O volume de lixo aumentou e águas pluviais terminam por levá-lo para o rio e assoreá-lo. Na cidade de Itambé a poluição do rio tem forte continuidade.

N@ – De quem é a responsabilidade de proteger e conservar o rio Verruga?
RM – A responsabilidade de cuidar da proteção e conservação do rio Verruga é de toda a sociedade, que deve abster-se de poluir suas águas. Mas é muito evidente que governos (municipal, estadual e federal), por intermédio de seus órgãos de gestão e proteção ambiental e do Ministério Público, que tem legitimidade para a proteção dos interesses difusos, dentre os quais a defesa do meio ambiente, devem atuar em ma proteção.
N@ – O que o fluxo de veículos tem a ver com o atual quadro do rio Verruga?
RM – A disfunção urbana quanto à má circulação de veículos pode ser minorada por diversos meios: alternância de acesso, primazia de transporte coletivo, vedação de acesso por automóveis particulares a certas áreas, proibição de carga e descarga em certos horários e locais, etc., etc.
N@ – O que o senhor acha que deve ser feito para acabar com a poluição no rio?
RM – Um conjunto de medidas devem ser adotadas: limpeza do leito do rio, desassoreando-o; retirada de ligações de esgoto; integração de suas margens à malha urbana (trecho do antigo Aguão, ou área ocupada pelo antigo açude, punição dos poluidores, fixação de mata ciliar, proibição de desmatar suas margens e de seus afluentes, evitar que lixo continue a ser lançado no rio, campanhas de esclarecimento, etc., etc.
N@  Em sua opinião se houvesse planejamento quanto à alocação das residências próximas ao rio e a preservação da mata ciliar, teria evitado parte da poluição do rio e a degradação da mata ciliar?
RM – Sim. A expansão urbana (Vitória da Conquista e Itambé) contribuiu para a poluição do rio Verruga, conforme já foi explicado. A atividade urbana propicia acúmulo de muito lixo. A topografia da cidade também potencializa a poluição do rio mencionado. Vitória da Conquista é cidade natural, isto é, não previamente planejada. As aglomerações humanas normalmente se fixam onde há água. Essa é a regra geral. Então, no inicio, quando nem se pensava que arraial fosse transformar-se em grande cidade, a norma geral se impôs, ditada pela necessidade. O grande mal veio depois, especialmente quando, a partir de meados da década de 1940, a idéia de planejamento já era bem conhecida com seus fundamentos. O não planejamento e a deficiência de serviços públicos agravaram, como visto, a poluição do rio e o desfazimento da mata ciliar (o desmatamento também ocorreu com as atividades de pecuária e lavoura. Não se esqueça que a área urbana anteriormente eram fazendas: Muranga, Campinhos, Felícia, etc.,etc.
N@  A restauração de trechos da mata ciliar do rio Verruga ajudaria no “projeto de Reflorestamento Participativo do rio Verruga (RPRV)?
RM – A restauração da mata ciliar muito auxiliaria o rio Verruga. Haveria impacto quanto ao fluxo do rio, parcial barreiramento contra o assoreamento, diminuição da evaporação, fixação de microclima.
*Advogado, historiador e professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

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