DOMINGO, 7 DE AGOSTO DE 2011
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Rio Verruga - Entrevista com Ruy Medeiros
Ruy H. Medeiros*
N@ (Nerdidade) – Professor Ruy, qual o significado desse rio chamar-se
Verruga?
RM – O rio tem o nome de Verruga porque banha o distrito de
Verruga (hoje Itambé). As pessoas não vinculavam o trecho de Itambé (verruga)
com a nascente do Piripiri e o rio no trecho urbano da Imperial Vila da Vitória
(hoje Vitória da Conquista) era chamado ora riacho da Vitória, ora riacho do
Piripiri ou simplesmente córrego. Poucos sabiam que se tratava do mesmo “rio”.
N@ – O
rio Verruga já foi utilizado para o abastecimento de água para a população?
Ainda hoje essa água é utilizada pela a população?
RM – Sim. Durante muito tempo, o rio era a fonte de água para
as diversas necessidades humanas, vegetais e animais. Em parte, em alguns
trechos sua água é utilizada. O serviço de água tratada na cidade (a partir de
1968) diminuiu o uso doméstico urbano. Em muitos casos, as cisternas das casas
distantes do rio foram transformadas em fossas, causando poluição do subsolo,
quando foi instalado serviço público de esgotamento sanitário.
N@ – Qual a sua importância para cidade de Vitória da
Conquista?
RM – Além da
grande importância histórica, o rio Verruga compõe nosso meio ambiente. Uma vez
recuperado, o rio voltará a ter suas águas usadas. Alguns lugares de suas
margens podem abrigar parques com preocupação preservacionista. Não há
incompatibilidade de integrar o rio à malha urbana das cidades (Conquista
Itambé) e sua preservação, depende do modo e dos instrumentos para isso
utilizáveis.
N@ – Esse rio serve para quê atualmente? E antigamente qual
era a sua serventia?
RM –
Antigamente, o rio tinha grande serventia: abastecia de água a sede da Vila
(Imperial Vila da Vitória e a sede do distrito de Verruga). Suas águas serviam
para beber e para todo uso doméstico (lavar casa, roupas, pratos, etc.) servir
de descarga de dejetos, molhar plantas etc. Em 1904, abaixo da área urbana
(proximidade da praça Vitor Brito e Avenida Bartolomeu de Gusmão atuais) parte
das águas do rio foi represada para servir a animais em trânsito para outras
regiões. Em 1950, foi aí perto construída uma “lavanderia” de uso público. Na
zona rural a utilização era a mesma, acrescida do uso animal mais intenso.
Limitadamente, o rio tem o mesmo uso na zona rural por animais, o que é bem
freqüente.
N@ – Na década
de 1940, seu curso era perfeitamente perceptível, mas as autoridades
canalizaram para debaixo da terra, por quê?
RM – O trecho urbano do rio Verruga (trecho do centro de
Vitória da Conquista até a Avenida Bartolomeu de Gusmão) sofreu intervenção
saneadora do DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento) em colaboração
com a SUDENE. Isso ocorreu entre os anos de 1970 e 1974. Havia dois segmentos
muito sujos – Rua Ernesto Dantas (popularmente chamada Beco Sujo) e praça Nove
de Novembro/quintais das casas da Praça Barão do Rio Branco e Francisco Santos.
O rio foi canalizado desde trecho da Rua D. Pedro II/Tiradentes até trecho da
Avenida Bartolomeu de Gusmão. A intervenção consistiu em canalizar o rio em
galeria coberta e, ao mesmo tempo, desviou parte de seu curso, desviando o rio
a partir da Praça 9 de Novembro para a Avenida Bartolomeu de Gusmão onde retoma
o curso antigo. Ocorre, no entanto, que algumas casas da Praça Barão do Rio
Branco, Francisco Santos, Travessa Góes Calmon, continuaram a lançar seus
esgotos no leito inativo do rio (como dito antes), fato que motivou medida da
Prefeitura Municipal, não totalmente acatada (construção de fossas sépticas
tipo “Moura”).
N@ (Nerdidade) – Quando o rio Verruga começou a ser poluído?
Ruy Medeiros – A
poluição do rio Verruga é decorrente de longo processo histórico, embora tenha
intensificado nos últimos 30 anos.
Houve preocupação por parte das autoridades de deixar o
trecho urbano do rio Verruga limpo, pois a a vila, depois cidade, tinha nessa
sua fonte de abastecimento de água para beber e para uso doméstico. Mas isso
nem sempre era obedecido. De qualquer maneira, a parte superior do rio, na
Serra do Periperi, ficou protegida razoavelmente até os anos sessenta do século
passado.
Com o crescimento da cidade, muitas casas passara m a utilizar o rio como destino de esgoto
sanitário e águas servidas. Isso era muito difícil de controlar. Em 1973, a administração
exigiu que moradores que tinham seus quintais na margem do rio fizessem fossas
sépticas, cessando com o mau uso do rio. O estabelecimento do serviço Público
de esgoto a partir da década de 1970 minorou a situação, embora algumas
residências e casas comerciais continuassem a destinar seus esgotos ao rio.
Nos últimos trinta anos, com o crescimento da cidade e o
não acompanhamento da extensão da rede de esgoto, a situação ficou crítica. A
própria capacidade da “estação de tratamento” (tipo lagoa de decantação) na
margem do rio, comprometeu sua limpeza. A cidade continuou crescendo e algumas
das nascentes do rio passara m a
sofrer comprometimento (nascentes da Serra do Piripiri, da Muranga (proximidade
do Estádio Lomanto Junior, do Jurema) e riachos que deságuam no rio Verruga
também passara m a ser poluídos
(riacho São Pedro, cujas margens foram povoadas), riacho Santa Rita (com
crescimento dos povoados de Campinhos, onde se produz farinha e o vinhoto da
mandioca em boa parte vai para o riacho, e Simão). Muitas residências continuam
a lançar dejetos no rio, inclusive na zona rural (há áreas que tiveram
população adensada à margem do rio, como é o caso da Fazenda Amaralina). O
volume de lixo aumentou e águas pluviais terminam por levá-lo para o rio e
assoreá-lo. Na cidade de Itambé a poluição do rio tem forte continuidade.
N@ – De quem é a responsabilidade de proteger e conservar o
rio Verruga?
RM – A
responsabilidade de cuidar da proteção e conservação do rio Verruga é de toda a
sociedade, que deve abster-se de poluir suas águas. Mas é muito evidente que
governos (municipal, estadual e federal), por intermédio de seus órgãos de
gestão e proteção ambiental e do Ministério Público, que tem legitimidade para
a proteção dos interesses difusos, dentre os quais a defesa do meio ambiente,
devem atuar em ma proteção.
N@ – O que o
fluxo de veículos tem a ver com o atual quadro do rio Verruga?
RM – A disfunção urbana quanto à má circulação de veículos
pode ser minorada por diversos meios: alternância de acesso, primazia de
transporte coletivo, vedação de acesso por automóveis particulares a certas
áreas, proibição de carga e descarga em certos horários e locais, etc., etc.
N@ – O que o senhor acha que deve ser feito para acabar com a
poluição no rio?
RM – Um conjunto de medidas devem ser adotadas: limpeza do
leito do rio, desassoreando-o; retirada de ligações de esgoto; integração de
suas margens à malha urbana (trecho do antigo Aguão, ou área ocupada pelo
antigo açude, punição dos poluidores, fixação de mata ciliar, proibição de
desmatar suas margens e de seus afluentes, evitar que lixo continue a ser
lançado no rio, campanhas de esclarecimento, etc., etc.
N@ – Em
sua opinião se houvesse planejamento quanto à alocação das residências próximas
ao rio e a preservação da mata ciliar, teria evitado parte da poluição do rio e
a degradação da mata ciliar?
RM – Sim. A expansão urbana (Vitória da Conquista e Itambé)
contribuiu para a poluição do rio Verruga, conforme já foi explicado. A
atividade urbana propicia acúmulo de muito lixo. A topografia da cidade também
potencializa a poluição do rio mencionado. Vitória da Conquista é cidade
natural, isto é, não previamente planejada. As aglomerações humanas normalmente
se fixam onde há água. Essa é a regra geral. Então, no inicio, quando nem se
pensava que arraial fosse transformar-se em grande cidade, a norma geral se
impôs, ditada pela necessidade. O grande mal veio depois, especialmente quando,
a partir de meados da década de 1940,
a idéia de planejamento já era bem conhecida com seus
fundamentos. O não planejamento e a deficiência de serviços públicos agravaram,
como visto, a poluição do rio e o desfazimento da mata ciliar (o desmatamento
também ocorreu com as atividades de pecuária e lavoura. Não se esqueça que a
área urbana anteriormente eram fazendas: Muranga, Campinhos, Felícia, etc.,etc.
N@ – A
restauração de trechos da mata ciliar do rio Verruga ajudaria no “projeto de
Reflorestamento Participativo do rio Verruga (RPRV)?
RM – A restauração da mata ciliar muito auxiliaria o rio
Verruga. Haveria impacto quanto ao fluxo do rio, parcial barreiramento contra o
assoreamento, diminuição da evaporação, fixação de microclima.
*Advogado, historiador e professor da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia.
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