Conquista:
Poder e Conflito nos anos 30 do Século XX
30th/dez/2008 . 6:46 am
Por Ruy Medeiros*
Realistas e idealistas
Resultante da crise político-social dos anos 20, agravada com a expansão
da crise econômica de 29/30, houve a aglutinação de setores da oligarquia com o
tenentismo. Luís Carlos Prestes chegaria mesmo a dizer, em carta do exílio, que
muitos companheiros abandonaram a revolução para ingenuamente acreditar em
promessas da oligarquia.
Em Vitória da Conquista, como no restante do país, as disputas
partidárias acirraram. A disputa eleitoral nacional aqui teve reflexos
inevitavelmente. Para apoiar a campanha da Aliança Liberal e igualmente melhor
organizar-se para embates políticos locais, Deraldo Mendes Ferraz, Júlio
Guimarães Lacer-da, Laudionor Andrade Brasil, Bruno Bacelar de Oliveira, Manoel
Januário de Andrade, Firmino Gusmão, Virgílio Men-des Ferraz, José Vieira
Freitas, Antônio Vicente de Andrade, Juvenal Pinheiro de Andrade e outros
fundaram, em 10 de novembro de 1929, o Partido Liberal Conquistense.
Do outro lado, estavam os componentes do Partido Republicano Conquistense,
com Otávio José dos Santos Silva, Cassiano Fernandes dos Santos Silva, Zeferino
Correia de Melo, Luis Régis Pacheco Pereira e outros.
Entre esses dois grupos, ocorria a disputa pelo poder local. Fortemente influenciados pelas parentelas, que dita-vam o curso da política, esses grupos não podiam evitar a oposição localizada de um ou outro parente. Aqui e ali, contrariado em determinado interesse, um ou outro parente deixava de seguir a orientação do chefe. Mas, mesmo rápida visão indica a influência familiar preponderante no controle dos partidos.
Pouco antes de 1930, em novem-bro de 1927, foi eleito Otávio José dos Santos Silva a intendente municipal (cargo que depois tomaria o nome de Prefeito Municipal), que assumiu o cargo em 1º de janeiro de 1928. Substituíra seu correligionário, Paulino Fernandes dos Santos Silva.
A pregação liberal, especialmente de Bruno Bacelar de Oliveira e Laudio-nor Andrade Brasil, com escritos no Jor-nal “O Combate” (do segundo) desenvol-veu-se. Bruno e Laudionor chegaram a editar em formato de livro os editoriais pró-Aliança Liberal publicados no Com-bate (“De Lenço Vermelho”). Como se sabe, a disputa eleitoral pela Presidên-cia da República entre Júlio Prestes (candidato apoiado pelo Presidente Washington Luís) e Getúlio Vargas, da Aliança Liberal, foi bastante acirrada. Em Conquista, não foi diferente.
Insatisfeita com a derrota na cam-panha pela Presidência, alegando frau-des, a Aliança Liberal resolve partir para o golpe. Fração da oligarquia, descon-tente com o grupo do poder, a qual viera influenciando e sofrendo influência dos tenentes, assume o caminho da luta armada para a ocupação do poder: em 03 de outubro de 1930, a revolução é defla-grada. Em 24 do mesmo mês, Washington Luís é deposto e Getúlio Vargas as-sume o poder. É o novo ditador da confu-sa aliança entre tenentes e oligarcas.
A vitória da Revolução de 30 provocou imediata reviravolta em Con-quista. Sob argumento de que o poder mudara e que a nova ordem não podia suportar no poder local os derrotados, os seguidores de Getúlio Vargas, arma-dos, impuseram ao Intendente Otávio José dos Santos Silva o afastamento do cargo. Deraldo Mendes Ferraz, auto-designado representante local da Revo-lução, indica para o cargo de intendente o jornalista Bruno Bacelar de Oliveira, embora ele próprio ambicionasse o cargo. Vinha preparando-se para isso desde a primeira metade da década anterior, quando fundara e sustentara o jornal “A Semana”.
Bruno não permaneceu no cargo. Seu governo resistiu quinze dias ape-nas. O Interventor na Bahia, Leopoldo Afrânio Bastos do Amaral, realizou o desejo de Deraldo Mendes Ferraz, nomeando-o Prefeito de Conquista. Aí ocorre a primeira cisão. Não demorou muito para que o realista Deraldo Mendes Ferraz entrasse em choque com o então idealista Bruno Bacelar de Oliveira. Repetia-se o velho embate entre realistas e idealistas.
Bruno Bacelar e outros já não estão com Deraldo Mendes Ferraz. Em telegrama datado de 31 de setembro de 1931, Bruno Bacelar expõe seu descon-tentamento ao novo Interventor Federal da Bahia, Tenente Juracy Montenegro Magalhães, em telegrama:
“Revolucionário que fui e sou to-dos tempos peço vossência olhar Con-quista entregue mercenários General Santa Cruz antigos chefes Batalhões Patrióticos inimigos portanto Revolução PT Não sou político Não quero posições políticas PT sou revolucionário tendo publicado livro De Lenço Vermelho antes Revolução PT Redijo jornal por mim fundado defender princípios revolucio-nários por idealismo por isso posso ci-entificar vossência Conquista vive en-tregue maiores adversários Revolução que iludem responsáveis finalidade obra revolucionária nosso Estado PT Aguar-dava posse vossência a fim pedir provi-dências esperando serem atendidas afirmando não ter interesse não aceitar cargo algum PT Cordiais saudações Bruno Bacelar Oliveira Redator proprie-tário Avante jornal defensor princípios revolucionários” (arquivo Juracy Maga-lhães, Municípios, Pasta 1, Conquista – CPDOC/Fundação Getúlio Vargas).
Mas, a lógica denunciada por Luís Carlos Prestes, inconformado com a aliança entre tenentes e mandonistas, tinha continuidade. O tenente Juracy Montenegro Magalhães foi seu fiel executor, tornou-se um supercoronel regional (como depois diria Eul-soo Pang).
A esse tempo, a coluna desarma-mentista do capitão João Faço já havia feito seu trabalho de retirar as armas dos coronéis adversários. O sargento Verçosa, em sua truculência, semeara já medo entre os distritos e fazendas, e fora assassinado em resposta a suas arbitrariedades, no interior do Município.
Agora, Deraldo Mendes Ferraz ocupava o poder local e daí por diante é ele quem indicará o prefeito, enquanto Juracy Montenegro Magalhães gover-nar a Bahia na década (até 10 de novembro de 1937, quando renuncia em conseqüência do golpe do Estado Novo).
Deraldo Mendes Ferraz esteve na Convenção convocada por Juracy Magalhães para a fundação de seu próprio partido – o Partido Social Democrático, em 1933. A composição desse partido é revelada pelo próprio Juracy Magalhães em carta a Getúlio Vargas, quando fala do Congresso de fundação do mesmo:
“… Vieram ao congresso, pesso-almente, velhos chefes sertanejos, mui-tos dos quais nunca tinham comparecido a uma reunião e outros jamais tinham vindo à capital. Somente Góes Calmon, que fez política no interior, e para o inte-rior, conseguiu trazer à capital a metade dos elementos que agora se reuniram nesse memorável Congresso. Basta dizer à Vossa Excelência que a gente do São Francisco veio unânime, depois de ter feito a fusão de todas as suas forças políticas, em uma reunião na ci-dade de Juazeiro. Parece-me esse o fa-to mais expressivo do momento político baiano, pois aquela gente viveu sempre dividida por lutas tremendas”. (O texto completo da carta, do arquivo de Getúlio Vargas, pode ser visto em Hélio Silva – 1933: a crise do tenentismo, ou em Edgard Corone – O Tenentismo). Vence o realismo.
A política local de Deraldo Mendes estará vinculada a Juracy Magalhães. Seu governo será marcado pelo clientelismo profundo. E qualquer tentativa de descumprimir o ambiente político local será rechaçado.
1932 – O uso local do pretexto da Revolução Constitucionalista
Em junho de 1932, Deraldo Men-des Ferraz pede a Juracy Magalhães licença do cargo de Prefeito. Em seu lugar, fica o senhor Júlio Guimarães Lacerda, fidelíssimo correligionário, até a reassunção de seu chefe, em 20 de julho de 1932.
O ano é marcado por agudização de conflitos. Em 9 de julho estoura a Revolta Constitucionalista em São Paulo. Em Conquista, o movimento constitucionalista será utilizado como motivo para a perseguição de adversá-rios. É verdade que os autonomistas baianos (dentre os quais Régis Pache-co) demonstravam simpatia pela palavra de ordem da reconstitucionalização do Estado Brasileiro. Mas isso não signi-fica que, em Conquista, houvesse a pre-paração de movimento para secundar a luta armada em São Paulo.
Júlio Guimarães Lacerda, em 11 de julho, como que a preparar o am-biente, telegrafa a Juracy Magalhães:
“… Elementos oposicionistas desvalorizados exploram situação procurando amesquinhar governo vossência pt Devidamente prestigiado bons elementos locais esmagarei surtos impatrióticos políticos exploradores Conquista defesa causa revolucionária vg cônscio cumprir dever correspon-dendo confiança vossência nos princípios pt aguardo ordens” (Arquivo Juracy Magalhães, Municípios, Conquista, CPDOC/FGV).
Em 16 de julho, o capitão Otoniel e o tenente João Antônio telegrafam ao Interventor Juracy Magalhães, com conteúdo semelhante àquele de Júlio Lacerda, como se pode ver:
Políticos oportunistas aqui vg manifestando ideais apoio impatriótico movimento pt recorremos medidas enérgicas vg repressivas vg contando decidido apoio prefeito local vg inúmeros elementos Moraes terra pt Ficamos espectativa esmagar qualquer tentativa oportunistas decaídos lado dedicados amigos interventor pt sem vacillar estamos promptos cumprir nosso dever onde reclame pátria pt.
Em 17 de julho, os mesmos militares citados, sob alegação de que Esmeraldo Andrade (em verdade desafeto do Tenente João Antônio) havia partido para a Fazenda Lagoinha com 18 homens armados “com intuito de por em liberdade indivíduos que expunham idéias subversivas”, comu-nicam a Juracy Magalhães que prende-ram Régis Pacheco, Otávio Santos e “outros indivíduos de menor responsabi-lidade entusiastas do movimento paulista”. Não perdem oportunidade para atiçarem ódio: “Régis vem abusando momento declarando nesta delegacia ser inimigo tenente Juracy além patrocinar ostensivamente mesmo aludido Esmeraldo” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
Em 19 de julho, os mesmos militares voltam a telegrafar a Juracy Magalhães, informando-lhe que fora determinada diligência em Fazenda de Justino Gusmão, onde se homisiava Esmeraldo Andrade, e que houve tenta-tiva de reação armada contra o tenente João Antônio, tendo os sediciosos conseguido fugir do local, onde havia: “sinais evidentes de aparelhamento bélico”. Asseguram, finalmente, que “inimigos da ditadura não encontrarão tréguas pt Afirmo ordem pública inalterada” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
Deraldo reassume o governo municipal, de forma direta, em 20 de julho (1932) e a primeira providência é comunicar o fato a Juracy Magalhães e afirma que a tentativa sediciosa dos adversários fracassara, que a cidade voltara à vida normal, que os elementos exaltados evadiram e que mandara emissários aos sediciosos “aconselhan-do-os a entregar armas” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
A repercussão da Revolta Cons-titucionalista de 32 e seu uso local para perseguição política terminaram por agudizar as divergências políticas. Foi momento de obter dividendos, declarar solidariedade ao interventor. Há re-gistro, do dia 22 de julho, em que Deral-do Mendes, João Torres Costa, Cres-cêncio Lacerda, Aloísio Lacerda, José Freitas, Germiniano Viana, João Gus-mão, José Ribeiro Martins, Firmino Gus-mão e Crescêncio Lacerda oferecem serviços para formarem companhia em defesa do estado. Foi momento em que Rachel Lacerda e Irani Silveira oferece-ram-se ao interventor para servirem na Cruz Vermelha, “nesse lance decisivo de nossa vida política”. É também o momento em que M. V. Greit, capitão reformado do Exército Inglês, que lutara em Transwall e na Grande Guerra, de Conquista, onde se encontrava, oferece serviços militares em “defesa da integridade do Brasil” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
Mas, como dito, ocorreu agudiza-ção das divergências políticas entre os grupos locais e perda de pessoas pelo grupo de Deraldo Mendes. A prisão de parentes desagradou a muitos parti-dários do chefe local.
O Intermezzo de Arlindo Mendes Rodrigues
Caixeiro viajante, casado com uma conquistense de família tradicional (Alice Santos Ferraz, filha de Virgílio Ferraz de Oliveira e Ana Santos Ferraz), Arlindo Mendes Rodrigues era homem letrado. Escrevera em jornais locais e mais tarde (1938) seria um dos fundadores da Ala de Letras de Conquista, com Camilo de Jesus Lima, Laudionor Andrade Brasil e outros.
Arlindo Mendes Rodrigues fora nomeado Prefeito por Juracy Magalhães, em 1933. O ano de 1934 fora ano de reconstitucionalização. Ano de eleições políticas. A luta pela qualificação de eleitores foi intensa em todos os lugares, inclusive em Vitória da Conquista. Getúlio Vargas é eleito, de forma indireta, pela Assembléia Constituinte, Presidente da República. A esse tempo, como dito antes, Juracy Magalhães já havia criado o PSD – Partido Social Democrático – com “coronéis” sertanejos, inclusive Deraldo Mendes. Preparava-se o interventor para as lides eleitorais, pois pretendia continuar a governar a Bahia, apesar da cerrada campanha que lhe moviam os remanescentes do PRB, agora autonomistas. As eleições para deputados à Constituinte Estadual, que também elegeria o Governador Constitucional do estado da Bahia, tornou-se fundamental.
Em Conquista, o PSD comunicou, em 8 de agosto de 1934, que tinha interesse na candidatura de Crescêncio Silveira. Em 31 de agosto de 1934, encerrou-se o período de alistamento eleitoral. O PSD conseguiu alistar 2.902 eleitores enquanto que os autonomistas conseguiram alistar 2.240 eleitores. Em setembro, o PSD lança a candidatura de Juracy Magalhães a Governador (eleição indireta, pela Assembléia Constituinte). Em 28 de setembro, ocorreu comício do PSD em que a tônica maior foi o combate aos autonomistas (“desumilhadores”), em discursos acusadores de Israel Silveira, Crescêncio Silveira e Raimundo Brito.
Jornais oposicionistas da capital (“A tarde” e “O Imparcial”) eram boicotados na cidade por Deraldo Mendes e seus seguidores. Sob pressão, os “desumilhadores”, ou autonomistas, fizeram seu comício.
Em 15 de outubro ocorreram as eleições, de forma calma, contrariando previsões em contrário espalhadas durante a campanha, inclusive pedido de reforço de 40 praças, para o policiamento local, ao interventor baiano. Crescêncio Silveira foi eleito deputado à Constituinte Estadual.
Arlindo Rodrigues ensaia descomprimir a situação política local. Encontra, no entanto, forte oposição do senhor Júlio Lacerda. Arlindo recebe carta de solidariedade de seus próprios adversários, que lhe trazem “apoio moral, nesta hora bastante amarga para vós, quando tendes o senhor Júlio Lacerda atrapalhando vossa acção honesta e moralizadora”. A carta (de 20.2.35) é firmada por expoentes locais do PRB (autonomistas), como Cassiano Fernandes dos Santos Silva, Virgílio Ferraz de Oliveira, Adriano Bernardes Batista, João Oliveira Lopes, que dizem que se Luís Regis Pacheco e Zeferino Correia estivessem presentes assina-riam igualmente (Arquivo de Juracy Magalhães, Municípios, Pasta 2 – Conquista, CPDOC/FGV).
Em 22 de fevereiro de 1935, Arlin-do Rodrigues dirige-se a Juracy Maga-lhães, mencionando não ser compreen-dido por elementos do seu partido “que procuram criar embaraços a sua gestão, apoiada inclusive por pessoas da oposi-ção e pede orientação. No dia anterior, o Prefeito demonstrara, em entrevista a jornal local, seu descontentamento com alguns correligionários do PSD. O ato foi repudiado por esse partido. Logo, Crescêncio Silveira, Deraldo Mendes, Francisco Costa, Vitor Brito, Joaquim Sales, José Freitas, Virgílio Mendes, Arestides Rocha Oliveira, Carlos Leony, Florentino Mendes e Júlio Guimarães Lacerda comunicam a Juracy Maga-lhães que o PSD reunira-se para apre-ciar atitudes hostis de Arlindo Rodri-gues, acusando-o de querer criar um partido sob sua direção e afirmando que havia informação de que aquele preten-dia aliciar adversários. Em 22 de feve-reiro, Crescêncio Silveira informa a Juracy Magalhães que o PSD resolvera desapoiar (“eliminar benefício”) Arlindo Rodrigues porque este agira desleal-mente quando admitiu no partido Landul-pho Neves, Jesuíno Oliveira, Henrique Ferraz e Francisco Viana, tidos como adversários, e que o mesmo partido fir-mara solidariedade a Deraldo Mendes que estava revestido de “amplos pode-res para entendimento” com o interven-tor (Arquivo de Juracy Magalhães, local citado).
Arlindo Rodrigues resolveu, em 25 de fevereiro de 1935, pedir exonera-ção do cargo de Prefeito a Juracy Maga-lhães, em carta na qual esclarece ter promovido esforços para evitar cisão no PSD local, mas que fora vítima de hostili-dades por parte de membros desse partido, que o “punham verdadeiramente diminuído” em sua autoridade, não lhe restando outro caminho senão afastar-se do diretório. Disse não julgar-se em desacordo com a política do interventor e que continuaria a empregar a sua “atividade pela paz, pela harmonia da família conquistense reunida sob uma só bandeira, içada pelo seu governador constitucional após revolução”. Afirma que sua consciência não o condena de ter procurado embaraçar o governo, e que se encontrava confortado por haver “criado um ambiente de cordialidade, passada a luta, procurando ampliar as nossas forças com adesão de novos elementos” (Arquivo de Juracy Magalhães, local citado).
Arlindo Rodrigues não ficou sem apoio diante dos ataques desferidos pelos seus próprios correligionários, especialmente por Júlio Lacerda. Lau-dionor Andrade Brasil, Julio Correia de Mello, Antônio da Silva Lemos, Belizário Souza Lima e Arestides Rocha de Oliveira hipotecaram-lhe solidariedade e disso fizeram questão de cientificar a Juracy Magalhães. Fizeram o mesmo os senhores Paulino Fonseca e Antônio Alves Nascimento. O jornal “O Combate” também prestou sua solidariedade e foi mais longe. Em telegrama a Juracy Magalhães pede-lhe que resolva o caso da dissidência do diretório local do PSD e diz que “seria doloroso se Conquista ficasse entregue aos caprichos de Julio Lacerda que se tornou ponto de discórdia da família conquistense e maior inimigo da política” de Juracy nesta terra (Arquivo de Juracy Magalhães, local citado).
Um grupo de comerciantes igual-mente faz chegar a Juracy Magalhães que o comércio de Conquista prestara solidariedade ao “laborioso prefeito Arlindo Rodrigues motivo sua digna atitude defesa interesse da comuna” (mesmo arquivo, mesmo local).
Juracy Magalhães preferiu ficar com Deraldo Mendes e o nomeou prefeito. Arlindo Rodrigues, demonstran-do repúdio, abandonou a cidade sem transmitir o cargo ao sucessor. Deraldo Mendes Ferraz reassumiu a prefeitura em 19 de março de 1935, sem qualquer interesse em descontrair as tensões políticas, como outros fatos indicariam.
É certo, no entanto, que havia interessados em diminuir os conflitos partidários. Em 1932, portanto antes dos esforços de Arlindo Rodrigues, o poeta Euclides Dantas, dirigira-se ao interventor para dizer que não podia calar-se diante “da campanha ora travada neste município originada dos imbróglios das ambições pessoais ou nas razões de princípios revolucioná-rios”, e que para evitar a continuidade daquele clima sugeria que fosse nomea-do Prefeito de Conquista o coronel Manoel Januário de Andrade.
Se antes não foi possível amaina-mento dos choques partidários, em 1935 isso era mais difícil. As eleições municipais estavam próximas e o clima de disputas em todo o Brasil era intenso.
Entre esses dois grupos, ocorria a disputa pelo poder local. Fortemente influenciados pelas parentelas, que dita-vam o curso da política, esses grupos não podiam evitar a oposição localizada de um ou outro parente. Aqui e ali, contrariado em determinado interesse, um ou outro parente deixava de seguir a orientação do chefe. Mas, mesmo rápida visão indica a influência familiar preponderante no controle dos partidos.
Pouco antes de 1930, em novem-bro de 1927, foi eleito Otávio José dos Santos Silva a intendente municipal (cargo que depois tomaria o nome de Prefeito Municipal), que assumiu o cargo em 1º de janeiro de 1928. Substituíra seu correligionário, Paulino Fernandes dos Santos Silva.
A pregação liberal, especialmente de Bruno Bacelar de Oliveira e Laudio-nor Andrade Brasil, com escritos no Jor-nal “O Combate” (do segundo) desenvol-veu-se. Bruno e Laudionor chegaram a editar em formato de livro os editoriais pró-Aliança Liberal publicados no Com-bate (“De Lenço Vermelho”). Como se sabe, a disputa eleitoral pela Presidên-cia da República entre Júlio Prestes (candidato apoiado pelo Presidente Washington Luís) e Getúlio Vargas, da Aliança Liberal, foi bastante acirrada. Em Conquista, não foi diferente.
Insatisfeita com a derrota na cam-panha pela Presidência, alegando frau-des, a Aliança Liberal resolve partir para o golpe. Fração da oligarquia, descon-tente com o grupo do poder, a qual viera influenciando e sofrendo influência dos tenentes, assume o caminho da luta armada para a ocupação do poder: em 03 de outubro de 1930, a revolução é defla-grada. Em 24 do mesmo mês, Washington Luís é deposto e Getúlio Vargas as-sume o poder. É o novo ditador da confu-sa aliança entre tenentes e oligarcas.
A vitória da Revolução de 30 provocou imediata reviravolta em Con-quista. Sob argumento de que o poder mudara e que a nova ordem não podia suportar no poder local os derrotados, os seguidores de Getúlio Vargas, arma-dos, impuseram ao Intendente Otávio José dos Santos Silva o afastamento do cargo. Deraldo Mendes Ferraz, auto-designado representante local da Revo-lução, indica para o cargo de intendente o jornalista Bruno Bacelar de Oliveira, embora ele próprio ambicionasse o cargo. Vinha preparando-se para isso desde a primeira metade da década anterior, quando fundara e sustentara o jornal “A Semana”.
Bruno não permaneceu no cargo. Seu governo resistiu quinze dias ape-nas. O Interventor na Bahia, Leopoldo Afrânio Bastos do Amaral, realizou o desejo de Deraldo Mendes Ferraz, nomeando-o Prefeito de Conquista. Aí ocorre a primeira cisão. Não demorou muito para que o realista Deraldo Mendes Ferraz entrasse em choque com o então idealista Bruno Bacelar de Oliveira. Repetia-se o velho embate entre realistas e idealistas.
Bruno Bacelar e outros já não estão com Deraldo Mendes Ferraz. Em telegrama datado de 31 de setembro de 1931, Bruno Bacelar expõe seu descon-tentamento ao novo Interventor Federal da Bahia, Tenente Juracy Montenegro Magalhães, em telegrama:
“Revolucionário que fui e sou to-dos tempos peço vossência olhar Con-quista entregue mercenários General Santa Cruz antigos chefes Batalhões Patrióticos inimigos portanto Revolução PT Não sou político Não quero posições políticas PT sou revolucionário tendo publicado livro De Lenço Vermelho antes Revolução PT Redijo jornal por mim fundado defender princípios revolucio-nários por idealismo por isso posso ci-entificar vossência Conquista vive en-tregue maiores adversários Revolução que iludem responsáveis finalidade obra revolucionária nosso Estado PT Aguar-dava posse vossência a fim pedir provi-dências esperando serem atendidas afirmando não ter interesse não aceitar cargo algum PT Cordiais saudações Bruno Bacelar Oliveira Redator proprie-tário Avante jornal defensor princípios revolucionários” (arquivo Juracy Maga-lhães, Municípios, Pasta 1, Conquista – CPDOC/Fundação Getúlio Vargas).
Mas, a lógica denunciada por Luís Carlos Prestes, inconformado com a aliança entre tenentes e mandonistas, tinha continuidade. O tenente Juracy Montenegro Magalhães foi seu fiel executor, tornou-se um supercoronel regional (como depois diria Eul-soo Pang).
A esse tempo, a coluna desarma-mentista do capitão João Faço já havia feito seu trabalho de retirar as armas dos coronéis adversários. O sargento Verçosa, em sua truculência, semeara já medo entre os distritos e fazendas, e fora assassinado em resposta a suas arbitrariedades, no interior do Município.
Agora, Deraldo Mendes Ferraz ocupava o poder local e daí por diante é ele quem indicará o prefeito, enquanto Juracy Montenegro Magalhães gover-nar a Bahia na década (até 10 de novembro de 1937, quando renuncia em conseqüência do golpe do Estado Novo).
Deraldo Mendes Ferraz esteve na Convenção convocada por Juracy Magalhães para a fundação de seu próprio partido – o Partido Social Democrático, em 1933. A composição desse partido é revelada pelo próprio Juracy Magalhães em carta a Getúlio Vargas, quando fala do Congresso de fundação do mesmo:
“… Vieram ao congresso, pesso-almente, velhos chefes sertanejos, mui-tos dos quais nunca tinham comparecido a uma reunião e outros jamais tinham vindo à capital. Somente Góes Calmon, que fez política no interior, e para o inte-rior, conseguiu trazer à capital a metade dos elementos que agora se reuniram nesse memorável Congresso. Basta dizer à Vossa Excelência que a gente do São Francisco veio unânime, depois de ter feito a fusão de todas as suas forças políticas, em uma reunião na ci-dade de Juazeiro. Parece-me esse o fa-to mais expressivo do momento político baiano, pois aquela gente viveu sempre dividida por lutas tremendas”. (O texto completo da carta, do arquivo de Getúlio Vargas, pode ser visto em Hélio Silva – 1933: a crise do tenentismo, ou em Edgard Corone – O Tenentismo). Vence o realismo.
A política local de Deraldo Mendes estará vinculada a Juracy Magalhães. Seu governo será marcado pelo clientelismo profundo. E qualquer tentativa de descumprimir o ambiente político local será rechaçado.
1932 – O uso local do pretexto da Revolução Constitucionalista
Em junho de 1932, Deraldo Men-des Ferraz pede a Juracy Magalhães licença do cargo de Prefeito. Em seu lugar, fica o senhor Júlio Guimarães Lacerda, fidelíssimo correligionário, até a reassunção de seu chefe, em 20 de julho de 1932.
O ano é marcado por agudização de conflitos. Em 9 de julho estoura a Revolta Constitucionalista em São Paulo. Em Conquista, o movimento constitucionalista será utilizado como motivo para a perseguição de adversá-rios. É verdade que os autonomistas baianos (dentre os quais Régis Pache-co) demonstravam simpatia pela palavra de ordem da reconstitucionalização do Estado Brasileiro. Mas isso não signi-fica que, em Conquista, houvesse a pre-paração de movimento para secundar a luta armada em São Paulo.
Júlio Guimarães Lacerda, em 11 de julho, como que a preparar o am-biente, telegrafa a Juracy Magalhães:
“… Elementos oposicionistas desvalorizados exploram situação procurando amesquinhar governo vossência pt Devidamente prestigiado bons elementos locais esmagarei surtos impatrióticos políticos exploradores Conquista defesa causa revolucionária vg cônscio cumprir dever correspon-dendo confiança vossência nos princípios pt aguardo ordens” (Arquivo Juracy Magalhães, Municípios, Conquista, CPDOC/FGV).
Em 16 de julho, o capitão Otoniel e o tenente João Antônio telegrafam ao Interventor Juracy Magalhães, com conteúdo semelhante àquele de Júlio Lacerda, como se pode ver:
Políticos oportunistas aqui vg manifestando ideais apoio impatriótico movimento pt recorremos medidas enérgicas vg repressivas vg contando decidido apoio prefeito local vg inúmeros elementos Moraes terra pt Ficamos espectativa esmagar qualquer tentativa oportunistas decaídos lado dedicados amigos interventor pt sem vacillar estamos promptos cumprir nosso dever onde reclame pátria pt.
Em 17 de julho, os mesmos militares citados, sob alegação de que Esmeraldo Andrade (em verdade desafeto do Tenente João Antônio) havia partido para a Fazenda Lagoinha com 18 homens armados “com intuito de por em liberdade indivíduos que expunham idéias subversivas”, comu-nicam a Juracy Magalhães que prende-ram Régis Pacheco, Otávio Santos e “outros indivíduos de menor responsabi-lidade entusiastas do movimento paulista”. Não perdem oportunidade para atiçarem ódio: “Régis vem abusando momento declarando nesta delegacia ser inimigo tenente Juracy além patrocinar ostensivamente mesmo aludido Esmeraldo” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
Em 19 de julho, os mesmos militares voltam a telegrafar a Juracy Magalhães, informando-lhe que fora determinada diligência em Fazenda de Justino Gusmão, onde se homisiava Esmeraldo Andrade, e que houve tenta-tiva de reação armada contra o tenente João Antônio, tendo os sediciosos conseguido fugir do local, onde havia: “sinais evidentes de aparelhamento bélico”. Asseguram, finalmente, que “inimigos da ditadura não encontrarão tréguas pt Afirmo ordem pública inalterada” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
Deraldo reassume o governo municipal, de forma direta, em 20 de julho (1932) e a primeira providência é comunicar o fato a Juracy Magalhães e afirma que a tentativa sediciosa dos adversários fracassara, que a cidade voltara à vida normal, que os elementos exaltados evadiram e que mandara emissários aos sediciosos “aconselhan-do-os a entregar armas” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
A repercussão da Revolta Cons-titucionalista de 32 e seu uso local para perseguição política terminaram por agudizar as divergências políticas. Foi momento de obter dividendos, declarar solidariedade ao interventor. Há re-gistro, do dia 22 de julho, em que Deral-do Mendes, João Torres Costa, Cres-cêncio Lacerda, Aloísio Lacerda, José Freitas, Germiniano Viana, João Gus-mão, José Ribeiro Martins, Firmino Gus-mão e Crescêncio Lacerda oferecem serviços para formarem companhia em defesa do estado. Foi momento em que Rachel Lacerda e Irani Silveira oferece-ram-se ao interventor para servirem na Cruz Vermelha, “nesse lance decisivo de nossa vida política”. É também o momento em que M. V. Greit, capitão reformado do Exército Inglês, que lutara em Transwall e na Grande Guerra, de Conquista, onde se encontrava, oferece serviços militares em “defesa da integridade do Brasil” (Arquivo de Juracy Magalhães, citado).
Mas, como dito, ocorreu agudiza-ção das divergências políticas entre os grupos locais e perda de pessoas pelo grupo de Deraldo Mendes. A prisão de parentes desagradou a muitos parti-dários do chefe local.
O Intermezzo de Arlindo Mendes Rodrigues
Caixeiro viajante, casado com uma conquistense de família tradicional (Alice Santos Ferraz, filha de Virgílio Ferraz de Oliveira e Ana Santos Ferraz), Arlindo Mendes Rodrigues era homem letrado. Escrevera em jornais locais e mais tarde (1938) seria um dos fundadores da Ala de Letras de Conquista, com Camilo de Jesus Lima, Laudionor Andrade Brasil e outros.
Arlindo Mendes Rodrigues fora nomeado Prefeito por Juracy Magalhães, em 1933. O ano de 1934 fora ano de reconstitucionalização. Ano de eleições políticas. A luta pela qualificação de eleitores foi intensa em todos os lugares, inclusive em Vitória da Conquista. Getúlio Vargas é eleito, de forma indireta, pela Assembléia Constituinte, Presidente da República. A esse tempo, como dito antes, Juracy Magalhães já havia criado o PSD – Partido Social Democrático – com “coronéis” sertanejos, inclusive Deraldo Mendes. Preparava-se o interventor para as lides eleitorais, pois pretendia continuar a governar a Bahia, apesar da cerrada campanha que lhe moviam os remanescentes do PRB, agora autonomistas. As eleições para deputados à Constituinte Estadual, que também elegeria o Governador Constitucional do estado da Bahia, tornou-se fundamental.
Em Conquista, o PSD comunicou, em 8 de agosto de 1934, que tinha interesse na candidatura de Crescêncio Silveira. Em 31 de agosto de 1934, encerrou-se o período de alistamento eleitoral. O PSD conseguiu alistar 2.902 eleitores enquanto que os autonomistas conseguiram alistar 2.240 eleitores. Em setembro, o PSD lança a candidatura de Juracy Magalhães a Governador (eleição indireta, pela Assembléia Constituinte). Em 28 de setembro, ocorreu comício do PSD em que a tônica maior foi o combate aos autonomistas (“desumilhadores”), em discursos acusadores de Israel Silveira, Crescêncio Silveira e Raimundo Brito.
Jornais oposicionistas da capital (“A tarde” e “O Imparcial”) eram boicotados na cidade por Deraldo Mendes e seus seguidores. Sob pressão, os “desumilhadores”, ou autonomistas, fizeram seu comício.
Em 15 de outubro ocorreram as eleições, de forma calma, contrariando previsões em contrário espalhadas durante a campanha, inclusive pedido de reforço de 40 praças, para o policiamento local, ao interventor baiano. Crescêncio Silveira foi eleito deputado à Constituinte Estadual.
Arlindo Rodrigues ensaia descomprimir a situação política local. Encontra, no entanto, forte oposição do senhor Júlio Lacerda. Arlindo recebe carta de solidariedade de seus próprios adversários, que lhe trazem “apoio moral, nesta hora bastante amarga para vós, quando tendes o senhor Júlio Lacerda atrapalhando vossa acção honesta e moralizadora”. A carta (de 20.2.35) é firmada por expoentes locais do PRB (autonomistas), como Cassiano Fernandes dos Santos Silva, Virgílio Ferraz de Oliveira, Adriano Bernardes Batista, João Oliveira Lopes, que dizem que se Luís Regis Pacheco e Zeferino Correia estivessem presentes assina-riam igualmente (Arquivo de Juracy Magalhães, Municípios, Pasta 2 – Conquista, CPDOC/FGV).
Em 22 de fevereiro de 1935, Arlin-do Rodrigues dirige-se a Juracy Maga-lhães, mencionando não ser compreen-dido por elementos do seu partido “que procuram criar embaraços a sua gestão, apoiada inclusive por pessoas da oposi-ção e pede orientação. No dia anterior, o Prefeito demonstrara, em entrevista a jornal local, seu descontentamento com alguns correligionários do PSD. O ato foi repudiado por esse partido. Logo, Crescêncio Silveira, Deraldo Mendes, Francisco Costa, Vitor Brito, Joaquim Sales, José Freitas, Virgílio Mendes, Arestides Rocha Oliveira, Carlos Leony, Florentino Mendes e Júlio Guimarães Lacerda comunicam a Juracy Maga-lhães que o PSD reunira-se para apre-ciar atitudes hostis de Arlindo Rodri-gues, acusando-o de querer criar um partido sob sua direção e afirmando que havia informação de que aquele preten-dia aliciar adversários. Em 22 de feve-reiro, Crescêncio Silveira informa a Juracy Magalhães que o PSD resolvera desapoiar (“eliminar benefício”) Arlindo Rodrigues porque este agira desleal-mente quando admitiu no partido Landul-pho Neves, Jesuíno Oliveira, Henrique Ferraz e Francisco Viana, tidos como adversários, e que o mesmo partido fir-mara solidariedade a Deraldo Mendes que estava revestido de “amplos pode-res para entendimento” com o interven-tor (Arquivo de Juracy Magalhães, local citado).
Arlindo Rodrigues resolveu, em 25 de fevereiro de 1935, pedir exonera-ção do cargo de Prefeito a Juracy Maga-lhães, em carta na qual esclarece ter promovido esforços para evitar cisão no PSD local, mas que fora vítima de hostili-dades por parte de membros desse partido, que o “punham verdadeiramente diminuído” em sua autoridade, não lhe restando outro caminho senão afastar-se do diretório. Disse não julgar-se em desacordo com a política do interventor e que continuaria a empregar a sua “atividade pela paz, pela harmonia da família conquistense reunida sob uma só bandeira, içada pelo seu governador constitucional após revolução”. Afirma que sua consciência não o condena de ter procurado embaraçar o governo, e que se encontrava confortado por haver “criado um ambiente de cordialidade, passada a luta, procurando ampliar as nossas forças com adesão de novos elementos” (Arquivo de Juracy Magalhães, local citado).
Arlindo Rodrigues não ficou sem apoio diante dos ataques desferidos pelos seus próprios correligionários, especialmente por Júlio Lacerda. Lau-dionor Andrade Brasil, Julio Correia de Mello, Antônio da Silva Lemos, Belizário Souza Lima e Arestides Rocha de Oliveira hipotecaram-lhe solidariedade e disso fizeram questão de cientificar a Juracy Magalhães. Fizeram o mesmo os senhores Paulino Fonseca e Antônio Alves Nascimento. O jornal “O Combate” também prestou sua solidariedade e foi mais longe. Em telegrama a Juracy Magalhães pede-lhe que resolva o caso da dissidência do diretório local do PSD e diz que “seria doloroso se Conquista ficasse entregue aos caprichos de Julio Lacerda que se tornou ponto de discórdia da família conquistense e maior inimigo da política” de Juracy nesta terra (Arquivo de Juracy Magalhães, local citado).
Um grupo de comerciantes igual-mente faz chegar a Juracy Magalhães que o comércio de Conquista prestara solidariedade ao “laborioso prefeito Arlindo Rodrigues motivo sua digna atitude defesa interesse da comuna” (mesmo arquivo, mesmo local).
Juracy Magalhães preferiu ficar com Deraldo Mendes e o nomeou prefeito. Arlindo Rodrigues, demonstran-do repúdio, abandonou a cidade sem transmitir o cargo ao sucessor. Deraldo Mendes Ferraz reassumiu a prefeitura em 19 de março de 1935, sem qualquer interesse em descontrair as tensões políticas, como outros fatos indicariam.
É certo, no entanto, que havia interessados em diminuir os conflitos partidários. Em 1932, portanto antes dos esforços de Arlindo Rodrigues, o poeta Euclides Dantas, dirigira-se ao interventor para dizer que não podia calar-se diante “da campanha ora travada neste município originada dos imbróglios das ambições pessoais ou nas razões de princípios revolucioná-rios”, e que para evitar a continuidade daquele clima sugeria que fosse nomea-do Prefeito de Conquista o coronel Manoel Januário de Andrade.
Se antes não foi possível amaina-mento dos choques partidários, em 1935 isso era mais difícil. As eleições municipais estavam próximas e o clima de disputas em todo o Brasil era intenso.
Florentino Mendes e a oposição
Integralista
As eleições municipais de janeiro de 1936 concederam a Florentino Mendes o cargo de Prefeito Municipal. A posse ocorreu em 30 de maio de 1936. O novo Prefeito segue estri-tamente orientação de Deraldo Mendes e tem dificuldades com seus próprios correligionários na Câmara Municipal. Mesmo para tomar posse, os verea-dores situacionistas demoraram, causando transtorno. A eleição ilegal para a presidência da Câmara Municipal de situacionista, o calor dos debates, seguido de sua renúncia e recurso contra eleição, foram fatos que desgastaram o Prefeito.
Outras dificuldades, além da oposição na Câmara de Vereadores, eram trazidas pelos integralistas. Após fechamento do núcleo integralista local, por determinação de Juracy que fechara outros núcleos, os partidários de Plínio Salgado resolveram protestar publi-camente. Rasgaram cartaz com notícia do fechamento do núcleo integralista de Salvador e agrediram por palavras o diretor do jornal “A Luta”, delegado do PSD local, e autor daquele cartaz. A data de aniversário da ação integralista foi comemorada. A questão com os integralistas possuía um complicador: muitos deles exerciam influência sobre a Igreja Católica.
Naquele tempo, também nos grandes centros do país a luta política crescia em radicalização. A crise ampliava-se. As forças do poder – Getúlio Vargas à frente – promoveram em 10 de novembro de 1937 um Golpe de Estado e fundaram o Estado Novo. Volta Getúlio a governar o Brasil de forma despótica e até mesmo não obedece à própria Constituição que outorgara para substituir o texto constitucional de 1934. A ditadura escancarada abateu-se sobre o povo. Como aos demais interventores, o Ministro da Justiça dirigiu-se laconi-camente a Juracy Magalhães, no mesmo dia 10 de novembro, por intermédio de telegrama:
“Comunico vossência que o governo com o apoio das Forças Armadas acaba de promulgar a nova Constituição, dissolvendo a Câmara e o Senado. O país entra, assim, num regime novo em que são devidamente assegurados os interesses da nação. Comunicando vossência o importante acontecimento, espero que vossência sobre ele se manifeste com a neces-sária urgência. Cordiais saudações – Francisco Campos – Ministro da Justiça”.
A resposta de Juracy também foi lacônica:
“Ministro da Justiça – Rio – Resposta comunicação vossência cabe-me dizer-lhe aguardo designação substituto, pois Governo Bahia tem orientação doutrinária conhecida. Atenciosas saudações. Juracy Magalhães”.
O “tenente” caiu e a sua queda foi também a queda do grupo de Deraldo Mendes em Conquista e a determinada destituição do prefeito Florentino Mendes de Andrade.
Em 20 de novembro de 1937, o Interventor Federal na Bahia, General Antônio Dantas, nomeou Joaquim Fróis de Caíres Castro, pessoa muito vinculada à Igreja Católica e líder integralista, Prefeito do município, cargo que esse ocuparia por pouco tempo, pois em maio do ano seguinte, novo interventor (Landulfo Alves de Almeida) resolveu nomear Regis Pacheco Pereira para o cargo de Prefeito Municipal. Surpreendentemente, um expoente do autonomismo torna-se prefeito sob o Estado Novo. A política muito polarizada não permitiu outra solução. Landulfo Alves não podia manter as forças locais que apoiaram o deposto tenente Juracy Magalhães. Não havia liderança local expressiva que pudesse assumir a difícil tarefa de consensualmente administrar o município e, além disso, havia laços de amizade entre parentes do novo interventor e o médico que veio para Conquista e aqui se envolveu com a luta política: Regis. Este ficaria no governo até a década seguinte. Ampliou as bases de seu grupo com adesão de descontentes com o grupo de Deraldo Mendes e de outros conquistados por sua sagacidade política.
Mas durante ainda muito tempo, a política conquistense ficaria polarizada entre Juracisistas e Registas, sem possibilidade de conciliação, apesar de tentativas e ajeitamentos pontuais.
As eleições municipais de janeiro de 1936 concederam a Florentino Mendes o cargo de Prefeito Municipal. A posse ocorreu em 30 de maio de 1936. O novo Prefeito segue estri-tamente orientação de Deraldo Mendes e tem dificuldades com seus próprios correligionários na Câmara Municipal. Mesmo para tomar posse, os verea-dores situacionistas demoraram, causando transtorno. A eleição ilegal para a presidência da Câmara Municipal de situacionista, o calor dos debates, seguido de sua renúncia e recurso contra eleição, foram fatos que desgastaram o Prefeito.
Outras dificuldades, além da oposição na Câmara de Vereadores, eram trazidas pelos integralistas. Após fechamento do núcleo integralista local, por determinação de Juracy que fechara outros núcleos, os partidários de Plínio Salgado resolveram protestar publi-camente. Rasgaram cartaz com notícia do fechamento do núcleo integralista de Salvador e agrediram por palavras o diretor do jornal “A Luta”, delegado do PSD local, e autor daquele cartaz. A data de aniversário da ação integralista foi comemorada. A questão com os integralistas possuía um complicador: muitos deles exerciam influência sobre a Igreja Católica.
Naquele tempo, também nos grandes centros do país a luta política crescia em radicalização. A crise ampliava-se. As forças do poder – Getúlio Vargas à frente – promoveram em 10 de novembro de 1937 um Golpe de Estado e fundaram o Estado Novo. Volta Getúlio a governar o Brasil de forma despótica e até mesmo não obedece à própria Constituição que outorgara para substituir o texto constitucional de 1934. A ditadura escancarada abateu-se sobre o povo. Como aos demais interventores, o Ministro da Justiça dirigiu-se laconi-camente a Juracy Magalhães, no mesmo dia 10 de novembro, por intermédio de telegrama:
“Comunico vossência que o governo com o apoio das Forças Armadas acaba de promulgar a nova Constituição, dissolvendo a Câmara e o Senado. O país entra, assim, num regime novo em que são devidamente assegurados os interesses da nação. Comunicando vossência o importante acontecimento, espero que vossência sobre ele se manifeste com a neces-sária urgência. Cordiais saudações – Francisco Campos – Ministro da Justiça”.
A resposta de Juracy também foi lacônica:
“Ministro da Justiça – Rio – Resposta comunicação vossência cabe-me dizer-lhe aguardo designação substituto, pois Governo Bahia tem orientação doutrinária conhecida. Atenciosas saudações. Juracy Magalhães”.
O “tenente” caiu e a sua queda foi também a queda do grupo de Deraldo Mendes em Conquista e a determinada destituição do prefeito Florentino Mendes de Andrade.
Em 20 de novembro de 1937, o Interventor Federal na Bahia, General Antônio Dantas, nomeou Joaquim Fróis de Caíres Castro, pessoa muito vinculada à Igreja Católica e líder integralista, Prefeito do município, cargo que esse ocuparia por pouco tempo, pois em maio do ano seguinte, novo interventor (Landulfo Alves de Almeida) resolveu nomear Regis Pacheco Pereira para o cargo de Prefeito Municipal. Surpreendentemente, um expoente do autonomismo torna-se prefeito sob o Estado Novo. A política muito polarizada não permitiu outra solução. Landulfo Alves não podia manter as forças locais que apoiaram o deposto tenente Juracy Magalhães. Não havia liderança local expressiva que pudesse assumir a difícil tarefa de consensualmente administrar o município e, além disso, havia laços de amizade entre parentes do novo interventor e o médico que veio para Conquista e aqui se envolveu com a luta política: Regis. Este ficaria no governo até a década seguinte. Ampliou as bases de seu grupo com adesão de descontentes com o grupo de Deraldo Mendes e de outros conquistados por sua sagacidade política.
Mas durante ainda muito tempo, a política conquistense ficaria polarizada entre Juracisistas e Registas, sem possibilidade de conciliação, apesar de tentativas e ajeitamentos pontuais.
*Ruy Medeiros é advogado
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