Coronelismo
3rd/fev/2009 . 10:28 pm
Ruy Medeiros
No período da Regência (entre a abdicação ao trono de Pedro I e a
maioridade de Pedro II), Antonio Feijó criou a Guarda Nacional cujos quadros
seriam preenchidos por latifundiários. Com isso, os sertões brasileiros ficaram
militarizados. A República dissolveu a velha Guarda Nacional, mas criou a sua
própria Guarda, também formada por Grandes proprietários rurais, distribuindo
patentes, dentre as quais a cobiçada patente de coronel. O poder privado,
decorrente da propriedade da terra, teve a contrapartida de um título público.
No entanto, embora na Velha República tenha ocorrido a convergência
entre o poder político dos latifundiários e a Guarda Nacional Republicana, o
nome de “coronel” passou a ser atribuído a todos aqueles que, numa localidade
ou região, detinham o poder político, privilegiando sua família, seus amigos,
seus interesses, oprimindo as pessoas, estabelecendo laços de compadrio para
melhor assegurar-se do controle de pessoas.
O coronel era chefe de uma grande parentela ou a esta estava vinculado
por laços de casamento. Geralmente possuía terras, tropa e o armazém principal
da localidade. Os cargos públicos municipais eram distribuídos entre seus
parentes, “compadres” e amigos, e os cargos estaduais (que eram conhecidos
popularmente por posições) eram igualmente preenchidos por seus parentes,
aderentes e amigos. A política do Coronel não distinguia interesse público do
interesse privado. Governava o município geralmente como se fosse extensão de
sua casa, pois os interesses de seu grupo predominavam sobre os interesses
gerais da comunidade.
Além de ter sob seu controle a polícia local (nomeada de acordo com as
conveniências de aliança com o Governador), o coronel tinha geralmente
jagunços. Alguns possuíam um grande número deles, como foi o caso de Horácio de
Matos, Leobas Martins, Franklin Alburquerque, dentre outros. O coronel era um
mandonista local.
O coronelismo terá desaparecido? Certamente que muitos vestígios e
práticas do coronelismo continuam a existir. Certos chefes ou pretensos chefes
continuam mandões, governando seu município com tacão ao invés de Governá-lo
com a lei. Continuam, em aliança com governadores, a terem em cargos públicos
locais (especialmente delegacias de polícia, chefias de ensino e direções de
hospitais) pessoas que lhe são gratas. Continuam a preencher cargos públicos
com seus parentes, aderentes, compadres e amigos. Continuam a não separar o
interesse particular de seu grupelho do interesse público. Obras e realizações
são feitas por esses novos mandões, sucessores dos antigos coronéis, com vistas
a sua perpetuação no poder. Eles decidem tudo, controlam tudo ou quase tudo,
muitas vezes, diante de uma Câmara de Vereadores fraca, não passam sequer
mensalmente a verba do poder legislativo municipal. Trata-se de um mandonismo
político, exercido contra os pobres, que se perpetua no poder local com seus
parentes, amigos, contraparentes, aliados e “compadres”. É um mando que não
separa o público do privado e por isso alguns poucos têm sido o mandato cassado
por malversação do dinheiro público e por outros atos de improbidade
administrativa.
Os novos mandões corrompem o processo eleitoral (já de si muito limitado
e insuficiente para as grandes mudanças), colocam a “máquina” administrativa a
serviço de sua reeleição ou da eleição de seus correlegionários, compram voto,
intimidam, ameaçam pessoas (geralmente servidores municipais) com o desemprego.
O coronelismo não morreu de todo em muitos cantos do País. Olhando bem,
você poderá ver práticas e vestígios coronelísticos bem perto de você.
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