Saudades da Arena?
Ruy
Medeiros. (Digitado, 06/1999)
Dá licença, pois não?
O
leitor leu (não sei se espantado ou indiferente) e ouviu ( também não sei se
espantado ou indiferente) que um deputado federal conquistense reuniu, no dia 7
próximo passado, no recinto da Câmara Municipal, detentores de cargo de
confiança no âmbito do Estado, a fim de cobrar fidelidade daqueles senhores e
senhoras.
O
autor desta coluna, leu tudo e ouviu tudo espantado. Espantadíssimo, como diria
conhecido personagem de Machado de Assis.
Ao
que interessa:
Segundo
o jornal diário que tratou do assunto, o deputado federal disse que os “requisitos para o exercício das funções de
confiança são o atendimento, o compromisso, a qualidade no desempenho da função
e a fidelidade” (...) que não falava em nome de Cesar Borges , mas em seu
próprio, “pela responsabilidade do
mandato, das indicações que fiz ao Governo”
(...) “referiu-se aos detentores
de cargo de confiança que estão insatisfeitos com sua liderança como fofoqueiros”. (....)
Disse que “se estivessem
trabalhando, gerenciando corretamente, não teriam tempo”.
Leram?
Ouviram? Entenderam?
Parece
que este articulista entendeu, apesar da emoção do espanto. Se o autor destas
linhas não entendeu, deve desculpas ao leitor.
Vejam
só:
a)
O deputado não convocou uma “ordem
unida”, mas pediu, no mínimo, um “direita volver”. Lembrou a todos os detentores de cargos de
confiança que estes deviam
“atender”, desempenhar função com
qualidade e fidelidade. É como se aqueles senhores e senhoras estivessem
esquecidos que exercem cargo público e que devem “atender”,
e também que tal tipo de cargo exige fidelidade. Será que aqueles
senhores não sabem o que é exercício de
“cargo de confiança” ? Será que a confiança foi posta em dúvida? Será que não atendem? Ora, se os indicados não sabem quais são os
requisitos do cargo, não deveriam ser indicados. Se o sabem, não mereciam o
desprestígio da lembrança feita pelo deputado. A sua lembrança coloca sob
suspeição o desempenho de pessoas que exercem cargo público, na esfera
estadual, no território loteado para aquele deputado federal. “É curioso”,
como diria conhecido analista conquistense.
b)
A situação se complica quando o deputado federal chama alguns agentes públicos
nomeados para o cargo pelo Governador do Estado de “fofoqueiros” que “se estivessem trabalhando, gerenciando
corretamente, não teriam tempo”. Aí,
fica-se sabendo que há detentores de
cargo de confiança, nomeados pelo Governador, que não estão trabalhando, nem
gerenciando corretamente (entre aspas está o que foi publicado e não desmentido
no jornal que noticiou o
“conclave”). Ora, ora... Se não
estão trabalhando, nem gerenciando, devem ser mandados embora. Basta caneta e
papel. O pior é que: não se informa quem
são esses fofoqueiros que gerenciam mal (colocando dúvida sobre vários) e que
pessoas foram convidadas para serem apodadas com o nome de “fofoqueiros”. Pobre Estado da Bahia que tem fofoqueiros em
cargos importantes. Pobre Vitória da Conquista que recebe ( a acreditar-se no deputado) para gerenciar os órgãos
estaduais, aqui sediados, fofoqueiros que não gerenciam corretamente.
c)
O deputado assinalou que não falava em nome do Governador, mas em seu próprio
nome. Quem nomeia e demite (“desnomeia”) é o Governador. Se este não disse nada... Será que o Sr. Governador não está
sabendo que pessoal fofoqueiro está
insatisfeito com a liderança do deputado? Será que só agora o Sr. Governador
vai saber que ao invés de bons gerentes colocou em cargos públicos pessoas que
não deveria colocar? É grave.
“Gravíssimo”. Senhor Governador, há gente que deve ser “desnomeada”.
Acho mesmo que todos os que se submetem ao tipo de preleção que lhes foi
feita na câmara. Todos os que não sentiram seus brios feridos.
Mas,
e o espanto do articulista? E o
significado do título deste artiguinho despretencioso, mas que diz coisas que
alguns dos presentes possivelmente desejaram dizer?
O
espanto fica por conta dos fatos já mencionados. Mas também pela falta de
reação. Como é possível que pessoas aceitem ser convidadas para receberem pito?
As pessoas devem cumprir as obrigações do cargo ou devem ficar compulsoriamente
satisfeitas com a liderança do deputado? Foram nomeadas para quê? Para
receberem pito de quem “não fala em nome
do Governador”?
E
o título, rapaz? E o título?
Bem.
Lembram-se da falecida inditosa ARENA? Sim, aquele partido de “sustentação”
da ditadura militar. Pois é, lembram-se?
A
falecida ARENA que, envergonhada do nome, mudou o dito e se multiplicou (PDS,
falecido, PPB, PTB, P..., P..., etc, etc) costumava fazer seus conclaves com
detentores de cargo de confiança, e embora na direita, gritava: Posição -
Sentidooo! Direita, volveeeer! Mas direita, mais autoritarismo, mais caça às
bruxas.
O
conclave pareceu assim aqueles encontros dos paísanos fardados da ARENA: Pito e
cobrança. Não faltaram sequer as sublegendas. Direita, volveeeeeeeeeer!
O
encontro pareceu assim algo muito velho, do tempo do autoritarismo. Algo do
tipo: “estão sendo vigiados,
senhores”. Algo, enfim, desrespeitoso
para todos os que tem sensibilidade. Será que isso vai tornar-se “normal” na política conquistense?
As
velhas matrizes às vezes ressurgem como tentativa de recompor o que é
impossível de ser restabelecido. Quando um partido político (ou os diversos
partidos) vive em função dos cargos de confiança, é difícil de não deixar de
anunciar sua própria falência, ainda mais quando o sistema de loteamentos de
cargos não contenta a todas as
“sublegendas” e é francamente repudiado pela população. Pobres partidos
que acham que o sistema Q.I. (quem indica) é o melhor sistema do mundo.
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