quarta-feira, 30 de maio de 2012


                                    Saudades da Arena?


                                                           Ruy Medeiros. (Digitado, 06/1999)


 Dá licença, pois não?
O leitor leu (não sei se espantado ou indiferente) e ouviu ( também não sei se espantado ou indiferente) que um deputado federal conquistense reuniu, no dia 7 próximo passado, no recinto da Câmara Municipal, detentores de cargo de confiança no âmbito do Estado, a fim de cobrar fidelidade daqueles senhores e senhoras.
O autor desta coluna, leu tudo e ouviu tudo espantado. Espantadíssimo, como diria conhecido personagem de Machado de Assis.
Ao que interessa:
Segundo o jornal diário que tratou do assunto, o deputado federal disse que os  “requisitos para o exercício das funções de confiança são o atendimento, o compromisso, a qualidade no desempenho da função e a fidelidade”  (...)  que não falava em nome de Cesar Borges, mas em seu próprio,  “pela responsabilidade do mandato, das indicações que fiz ao Governo”   (...)  “referiu-se aos detentores de cargo de confiança que estão insatisfeitos com sua liderança como fofoqueiros”.  (....)  Disse que  “se estivessem trabalhando, gerenciando corretamente, não teriam tempo”.
Leram? Ouviram? Entenderam?
Parece que este articulista entendeu, apesar da emoção do espanto. Se o autor destas linhas não entendeu, deve desculpas ao leitor.
Vejam só:
a) O deputado não convocou uma  “ordem unida”,  mas pediu, no mínimo, um  “direita volver”.  Lembrou a todos os detentores de cargos de confiança que estes deviam  “atender”,  desempenhar função com qualidade e fidelidade. É como se aqueles senhores e senhoras estivessem esquecidos que exercem cargo público e que devem  “atender”,  e também que tal tipo de cargo exige fidelidade. Será que aqueles senhores não sabem o que é exercício de  “cargo de confiança” ? Será que a confiança foi posta em dúvida?  Será que não atendem?  Ora, se os indicados não sabem quais são os requisitos do cargo, não deveriam ser indicados. Se o sabem, não mereciam o desprestígio da lembrança feita pelo deputado. A sua lembrança coloca sob suspeição o desempenho de pessoas que exercem cargo público, na esfera estadual, no território loteado para aquele deputado federal.  “É curioso”,  como diria conhecido analista conquistense.
b) A situação se complica quando o deputado federal chama alguns agentes públicos nomeados para o cargo pelo Governador do Estado de  “fofoqueiros” que  “se estivessem trabalhando, gerenciando corretamente, não teriam tempo”.  Aí, fica-se  sabendo que há detentores de cargo de confiança, nomeados pelo Governador, que não estão trabalhando, nem gerenciando corretamente (entre aspas está o que foi publicado e não desmentido no jornal que noticiou o  “conclave”).  Ora, ora... Se não estão trabalhando, nem gerenciando, devem ser mandados embora. Basta caneta e papel. O pior é que:  não se informa quem são esses fofoqueiros que gerenciam mal (colocando dúvida sobre vários) e que pessoas foram convidadas para serem apodadas com o nome de  “fofoqueiros”.  Pobre Estado da Bahia que tem fofoqueiros em cargos importantes. Pobre Vitória da Conquista que recebe ( a acreditar-se  no deputado) para gerenciar os órgãos estaduais, aqui sediados, fofoqueiros que não gerenciam corretamente.
c) O deputado assinalou que não falava em nome do Governador, mas em seu próprio nome. Quem nomeia e demite (“desnomeia”) é o Governador. Se este não disse  nada... Será que o Sr. Governador não está sabendo que  pessoal fofoqueiro está insatisfeito com a liderança do deputado? Será que só agora o Sr. Governador vai saber que ao invés de bons gerentes colocou em cargos públicos pessoas que não deveria colocar? É grave.  “Gravíssimo”.  Senhor  Governador, há gente que deve ser  “desnomeada”.  Acho mesmo que todos os que se submetem ao tipo de preleção que lhes foi feita na câmara. Todos os que não sentiram seus brios feridos.
Mas, e o espanto do articulista?  E o significado do título deste artiguinho despretencioso, mas que diz coisas que alguns dos presentes possivelmente desejaram dizer?
O espanto fica por conta dos fatos já mencionados. Mas também pela falta de reação. Como é possível que pessoas aceitem ser convidadas para receberem pito? As pessoas devem cumprir as obrigações do cargo ou devem ficar compulsoriamente satisfeitas com a liderança do deputado? Foram nomeadas para quê? Para receberem pito de quem  “não fala em nome do Governador”?
E o título, rapaz? E o título?
Bem. Lembram-se da falecida inditosa ARENA? Sim, aquele partido de  “sustentação”  da ditadura militar. Pois é, lembram-se?
A falecida ARENA que, envergonhada do nome, mudou o dito e se multiplicou (PDS, falecido, PPB, PTB, P..., P..., etc, etc) costumava fazer seus conclaves com detentores de cargo de confiança, e embora na direita, gritava: Posição - Sentidooo! Direita, volveeeer! Mas direita, mais autoritarismo, mais caça às bruxas.
O conclave pareceu assim aqueles encontros dos paísanos fardados da ARENA: Pito e cobrança. Não faltaram sequer as sublegendas. Direita, volveeeeeeeeeer!
O encontro pareceu assim algo muito velho, do tempo do autoritarismo. Algo do tipo:  “estão sendo vigiados, senhores”.  Algo, enfim, desrespeitoso para todos os que tem sensibilidade. Será que isso vai tornar-se  “normal” na política conquistense? 
As velhas matrizes às vezes ressurgem como tentativa de recompor o que é impossível de ser restabelecido. Quando um partido político (ou os diversos partidos) vive em função dos cargos de confiança, é difícil de não deixar de anunciar sua própria falência, ainda mais quando o sistema de loteamentos de cargos não contenta a todas as  “sublegendas” e é francamente repudiado pela população. Pobres partidos que acham que o sistema Q.I. (quem indica) é o melhor sistema do mundo.

Nenhum comentário:

Administração Comemora COP 30 vendendo Áreas Verdes Públicas

  Blog do Anderson  >  Colunistas  >  A Opinião de Ruy Medeeiros | Administração Comemora COP 30 vendendo Áreas Verdes Públicas       ...