quarta-feira, 30 de maio de 2012


JORNAIS CONQUISTENSES DO PASSADO

“O Combate sem o seu fundador”



Ruy Medeiros.(Digitado, 05/2006)




Em edição comemorativa de vinte anos de “O Combate” (11 de agosto de 1949), Camilo de Jesus Lima, em trecho de longo artigo diz que “Ninguém sabe, do lado de fora, o que é a luta desigual e titânica de um homem pobre e honesto que mantém por vinte anos – uma vida – um jornal, no interior do Estado. Quanta prudência, quanta tolerância e ascetismo são precisos para tal tarefa! O que é regabofe e negociata para os Chatôs, é, para o jornalista honesto do sertão, uma série de amarguras e prejuízos, de horas carregadas de luta econômica e moral, dignas de um romance”. E assim foi com Laudionor Brasil, fundador daquele jornal.

Laudionor, nascido em 13 de fevereiro de 1902, filho de Manuel de Sena Brasil e de Henriqueta Soares Andrade Brasil, faleceu em 14 de março de 1950, deixando viúva D. Áurea Celina Brasil, e filhos Alda Volúsia, Sônia, Athene, Solange, Valdinice, Nadir, Wladimir, Waldo. D. Áurea estava grávida e Laudionor não chegou a ver o último filho que gerara e que ganharia o seu nome – Laudionor. Ao tempo, o jornalista era secretário do Diretório local do PSD e da Prefeitura Municipal. Desaparecia com 48 anos de idade.

Se com o experiente chefe era difícil a manutenção do jornal, fundado em 1929, imagine-se o que deve ter sido para a família movimentar a gráfica e o semanário. “O combate” teimou em viver. D. Áurea Celina, auxiliada por Dr. Raimundo Oldegar Azevedo, que já era redator-gerente do jornal, continuou a editá-lo. Em agosto de 1950, Bruno Bacelar é redator junto a Raimundo Oldegar Azevedo, tendo como gerente Claudionor Brasil. O semanário, continuara a apoiar Regis Pacheco, em sua política local e em sua candidatura ao Governo do Estado pela Coligação Democrática (PSD, Ala Autonomista da UDN, PTB, dissidência do PR, PTN e PST), em substituição ao falecido candidato Lauro Farani de Freitas. Explica-se a presença de Raimundo Oldegar na redação: era leal partidário de Regis Pacheco de quem Laudionor se aproximara.

Antonino Pedreira, prefeito teve apoio do jornal que colaborou na campanha de Gerson Gusmão Sales, com apoio de Regis Pacheco, candidato a prefeito. Este, vitorioso, ainda continuou a ter “O Combate” como colaborador. Mas à medida que Gerson Sales vai-se afastando de Regis Pacheco para formar um grupo político próprio, o jornal o trata com alguma cerimônia.

Em 1955, D. Celina Áurea Brasil, aluga o jornal ao Padre Luis Soares Palmeira e a amigos desse, dentre os quais os advogados Orlando Leite e Nilton Gonçalves. Em novembro do mesmo ano, o Padre Palmeira, combatendo o caráter golpista da UDN, rompe com esta (já vinha se afastando havia algum tempo). Isso terá importância para a política local, pois o padre tinha muito prestígio (chegaria mesmo a Secretário de Educação do Estado da Bahia). De início, Orlando Leite foi diretor do jornal, mas a partir de novembro, Nilton Gonçalves ocupou a diretoria. O redator-chefe era aquele padre. O semanário, assim, passa a combater nacionalmente a UDN e localmente a administração de Edvaldo Flores, sucessor de Gerson Sales e correligionário deste. Suas páginas se abrem para o combativo vereador Alberto Farias. A Ação Popular que esse requerera contra Edvaldo Flores, em razão de aumento dos subsídios do Prefeito, foi exaustivamente noticiada e mesmo o jornal publicou a extensa sentença prolatada naquela ação judicial contra Edvaldo. Esse é um fato dentre outros a demonstrar o gradativo afastamento em relação ao grupo de Gerson Sales à medida que esse vai-se distanciando da maioria do PSD.

Em abril de 1959, finda-se o contrato celebrado entre a viúva de Laudionor Brasil e o Padre Palmeira e este devolve-lhe o jornal. A família de Laudionor Brasil volta a editar “O Combate”.

A partir de maio de 1959, a direção do semanário fica a cargo de Athene Brasil e a redatoria geral cabe a Reginaldo Carvalho Santos. O Padre Palmeira continua a ter espaço no jornal, mas Gerson Sales volta a ser bem noticiado e durante algum tempo não sofre oposição dos novos diretores de “O Combate”. É algo que a história demonstraria ser provisório.

Athene e Reginaldo comemoraram condignamente os trinta anos do jornal que mais marcou a vida política conquistense.

Alguns meses iniciais do ano de 1960 não contaram com a circulação do jornal sobre o qual aqui estou escrevendo. Mas ele retornou em maio de 1960, com a direção de Solange Brasil e como Redator-Chefe ainda Reginaldo Carvalho Santos. Gerson Sales, de novo Prefeito (vencera as eleições de 1958 contra José Pedral, seu principal adversário) não recebe ataques do jornal, Edvaldo Flores, ex-Prefeito é bem noticiado. Empolga-se com a candidatura “oposicionista” de Jânio Quadros a Presidente da República. É entusiasta do “candidato da vassoura”.

Gradativamente, em fins de 1961 e à medida que as eleições para Prefeito Municipal se aproximam, sem radicalismo “O Combate” critica a administração municipal, especialmente quanto à inexistência de serviço público de abastecimento de água e à precariedade do serviço energia elétrica. Também, ao lado de seu caráter noticioso (sempre o foi) torna-se mais reivindicativo dos interesses de Vitória da Conquista. O afastamento total de Gerson Sales corresponde à aproximação maior do PSD e da liderança aí nascida de José Pedral, cuja candidatura a Prefeito, em 1962, - “O Combate” apoiou entusiasticamente. Desde janeiro de 1962, Edinaldo Teixeira passa a ser redator chefe do jornal, mas Reginaldo Santos continua seu diretor. Pedral venceu as eleições contra o Vereador Jesus Gomes dos Santos, candidato de Gerson Sales. A nova administração contou com o apoio de semanário que Laudionor criara em recuado e difícil tempo. Continuou noticioso, político e com contribuições culturais de diversas pessoas.

E os meses finais? O Combate parece que retomara o caminho mudancista pensado pelo seu fundador quando imaginou que a Aliança Liberal traria transformações. Então, na década de 60, após as eleições de 62, retomará a idéia de mudança. As “reformas de base” contam com apoio de “O Combate”.

Mas vem o hediondo crime de 31 de março de 1964. “O Combate” não sobreviverá aos tempos negros. “As trevas da noite” se estabelecem. O jornal é aniquilado.

Rever a trajetória de “O Combate” é também rever a trajetória da política Conquistense durante 35 anos. Mas é também recordar de pessoas como Flaviano Dantas, Clóvis Lima, Euclides Dantas, Flávio Jarbas, Ciro Teles, Camilo de Jesus Lima, Newton Lima, Edmundo Macedo, José Duarte, Aníbal Viana, Aroldo Ramos, Marinho, Bruno Bacelar, Ubirajara Brito e tantos outros que colaboraram com escritos para “O Combate”. Mas, certamente, dentre esses, há uma colaboradora que me merece especial lembrança: a doce e inteligente Miriam Tourinho com as suas crônicas – Retalhos de Vidas.

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