JORNAIS
CONQUISTENSES DO PASSADO- O Conquistense II
11th/fev/2009 . 11:44 pm
Ruy Medeiros
“O Conquistense” – Segunda fase.
A segunda fase de “O Conquistense”, semanário que circulou em Vitória da
Conquista na década de 1950, como dito em artigo anterior, compreende o período
de 06 de junho de 1959 a 28 de novembro de 1959, quando o jornal teve como
diretor Franklin Ferraz Neto e como redator-chefe Alberto Farias.
Ao inaugurar a nova fase, Franklin Ferraz esclareceu que o Jornal “vai
mudar sua rota. Até há poucos dias, nele veiculava um pensamento; a partir
deste número, ser-lhe-á modificada a linha de idéias”. Alberto Farias
assegurou: “Depois de breve interregno, sai hoje este semanário sob nova
direção e diferente linha política. Não será veículo de panegíricos aos
detentores do poder nem pelourinho da honra alheia, porque pretende
transformar-se em órgão independente, a serviço do povo de Conquista”.
Seu diretor era um jovem progressista e brilhante advogado. O redator
chefe, médico capitão da Polícia Militar, foi o mais combativo vereador
conquistense da década de 50 do século passado.
“O Conquistense”, em sua nova fase, expressou os interesses do grupo
político formado, dentre outras, pelas pessoas de José Pedral, Dílson Ribeiro,
Gildásio Cairo, Anfilófio Pedral, Régis Pacheco, Fernando Dantas Alves, Gelásio
Alves dos Santos, Onildo Oliveira, especialmente agrupados no PSD.
O jornal soube explorar bastante as divergências surgidas na UDN após a
vitória eleitoral, ao cargo de Prefeito, de Gerson Gusmão Sales, em 1958,
candidato do PTN (mero auxiliar da UDN). Cindida a UDN, “O Conquistense” abre
espaço para os vereadores udenistas dissidentes, Iris Silveira e Ismênio
Silveira, assim como para o deputado estadual Padre Luis Soares Palmeira. A
leitura das sucessivas edições deixa claro que o jornal privilegiou aprofundar
as divergências entre os udenistas para enfraquecer o grupo de Gerson Sales,
facção que ocupou o poder por todos os anos cinqüenta do século passado, além
da defesa do PSD.
Ao lado da defesa dos interesses políticos do PDS, inclusive de Regis
Pacheco e José Pedral, “O Conquistense” abrigou os dissidentes udenistas e
travou combate contra a administração Gerson Sales e o influente Deputado
Estadual Orlando Spínola.
A Gerson Gusmão Sales, dentre outras coisas, o semanário dirigia
crítica: “…três meses transcorreram sem que planos ou iniciativas surgissem
para alimentar as esperanças dos otimistas. Limitou-se o Prefeito a receber
vencimentos, assinar papéis, lamuriar-se, fazer-se de vítima e visitar
distritos, não para lhes auscultar as necessidades e menos ainda com o desejo
de remediá-las, mas em função de sua candidatura a deputado estadual”.
O jornal abrigava acusações do Padre Palmeira ao Deputado Orlando
Spínola. Na cidade campeava o jogo do bicho e tanto o PSD quanto a ala
dissidente dos udenistas passaram a divulgar que os adversários, inclusive
Orlando Spínola, tinham interesse naquela contravenção. Como se vê, a acusação
era séria e criaria, como criou, clima terrível de confronto.
Aliás, é o jogo do bicho que irá desencadear ira de ambas as partes. O
padre Palmeira, com seu estilo irônico e virulento, fazia pronunciamentos duros
na Assembléia Legislativa contra o jogo do bicho: “Já não consigo reconhecer
Conquista, nem a sua pacatez, devido aos urros da bicharia”; “O que me leva à
tribuna é o agravamento da situação em Conquista, que já não cheira a chifre,
mas a chumbo e a bala”, são exemplos das muitas frases de efeito que o Padre
usava em seus contundentes pronunciamentos. Por seu turno, Orlando Spínola
respondia aos ataques e os adversários do Padre Palmeira publicaram em “A Tarde”,
de Salvador, matéria fortemente ofensiva àquele religioso deputado. A política
local “pegou fogo” e se noticiava que o Padre Palmeira seria eliminado. Os
vereadores do PSD resolveram recusar comparecer à Câmara enquanto perdurasse “o
ambiente de graves ameaças a seu funcionamento e à segurança da população”, com
apoio do diretório pessedista, que no jornal, divulgou a nota adiante:
“Devidamente autorizado pelo Presidente do Partido Social Democrático, Secção
de Vitória da Conquista, e com audiência dos membros do Dietório, torno público
que esta agremiação política apóia e aplaude a atitude dos seus vereadores, em
se recusando de comparecer à Câmara Municipal enquanto perdurar o ambiente de
graves ameaças ao seu funcionamento e à segurança da população”.
“Do mesmo passo, solidariza-se o partido com o Vereador Gildásio Cairo
dos Santos, que foi injustamente agredido domingo último, à tarde, no aeroporto
local, quando tentava ir receber o Exmº. Sr. Deputado Padre Luís Soares
Palmeira”. Vitória da Conquista, 27 de novembro de 1959. José Pedral Sampaio –
1º Secretário”.
Diante do clima tenso e das ameaças, “O Conquistense” deixou de
circular. Em seu último número fez a seguinte declaração de retirada:
Declaração:
Devido ao ambiente de insegurança e à permanente ameaça de
empastelamento, “O Conquistense”, de ora avante, sente-se obrigado a deixar de
circular, até que as autoridades estaduais tomem as providências necessárias ao
funcionamento da imprensa livre nesta cidade. Vitória da Conquista, 27 de
novembro de 1959. Franklin Ferraz Neto – Alberto Farias.
“O Conquistense” deixou de circular, mas já havia cumprido muito daquilo
que desejava: criar condições para derrotar o grupo que há muito se mantinha no
poder. Com seu combate, firmou opinião pública favorável à formação de aliança
eleitoral que, anos depois (1962), tiraria aquele grupo mencionado do poder,
elegendo José Fernandes Pedral Sampaio Prefeito Municipal.
Por ironia, brigas entre udenistas juracisistas lhe dera notoriedade a
aniquilamento.
Não se pode negar que “O Conquistense”, em sua segunda fase, foi um dos
jornais que mais influência teve em Vitória da Conquista, na formação de
opinião e na inserção na vida política.
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