Meletes e
Peduros : Uma só e numerosa família
2nd/fev/2009 . 8:56 pm
*Ruy Medeiros
Manoel Fernandes de Oliveira, mais conhecido como Maneca Grosso, em sua
linguagem direta, escreveu: “ É por demais sabido que as famílias Santos Silva,
Fernandes de Oliveira Ferraz, Oliveira Freitas, Correia de Melo, Andrade,
Moreira, Mendes Gusmão e outras mais, sendo aliadas pelo parentesco constituem
uma só e numerosa família, cuja preponderância política entre nós é
incontestável” ( Justa Reação, jornal “A Palavra”, Conquista, 26 de agosto de
1911).
A afirmação era correta. Há muito se fixara o poder local daquela
numerosa família. Faltou no entanto àquele grande poeta dizer que “uns se
consideravam mais parentes que outros”. O próprio Maneca Grosso não reconhecia
como seu parente o coronel Pompílio Nunes de Oliveira, embora a mãe desse fosse
uma Fernandes, bisneta de João Gonçalves da Costa, fundador do Arraial da
Conquista. Havia, dentro da numerosa família, grupos unidos entre si por maior
solidariedade que os outros, grupos com maior integração, por força de
proximidade, dependência, compadrio e favor do que outros. Era o caso dos
Santos Silva e Fernandes de Oliveira.
É certo, como dissera Maneca Grosso, que o poder político da numerosa
família era incontestável? Sim, é certo, com a condição de se reconhecerem
divergências (que às vezes se aprofundavam) entre grupos de parentes. Há muito
o núcleo que tinha os nomes Fernandes e Santos Silva controlava o poder.
Em 1896, houve um interregno (assim considerado por muitos que viveram
naquele tempo): o coronel Pompílio Nunes de Oliveira conseguira, no ano
anterior, que seu candidato ganhasse o controle da administração municipal.
Homem muito rico, comerciante e fazendeiro, o coronel Pompílio Nunes de
Oliveira ganhara a admiração dos habitantes de Conquista quando, diante de
fortes boatos de que os “Mocós”, que haviam praticado a “chacina do Tamanduá”,
iriam invadir a cidade, cuidou de arregimentar pessoas e reunir armas para a
defesa da urbs. Era 1895.
O coronel José Antonio de Lima Guerra, concunhado do coronel Pompílio
Nunes de Oliveira, indicado por esse, venceu o pleito local e governou o
município até 31 de dezembro de 1903. O governo do coronel José Antonio de Lima
Guerra foi considerado um hiato na sucessão do mando local por aqueles que
vinham ocupando o poder. Para alguns, como Maneca Grosso e o coronel Francisco
José dos Santos Silva, a vitória do coronel Pompílio Nunes de Oliveira foi um
golpe profundo, embora pessoas achegadas àqueles houvessem apoiado o candidato
do rico coronel.
Para reagir com mais eficácia à nova realidade, o coronel Francisco José
dos Santos Silva assumiu a chefia do Partido Republicano e cuidou de reagrupar
a numerosa família. Era, então, o coronel Francisco José dos Santos Silva uma
grande liderança. Nascera na Imperial Vila da Vitória em 3 de dezembro de 1848,
filho de Manoel José dos Santos Silva, que fundara família no município a qual
teria grande influência política por muito e muito tempo, e de Ana Angélica de
Lima, mais conhecida como Sinhazinha Santos.
Contou o coronel Francisco José dos Santos Silva com dois fortes
militantes, dentre outros: Maneca Grosso, poeta, jornalista e rábula, e João
Diogo de Sá Barreto, bacharel. Estes usavam da imprensa para acicatar o coronel
Pompílio Nunes de Oliveira. A partir de 1901, os artigos de Maneca Grosso no
Jornal de Notícias, de Salvador, tornaram-se mais ferinos contra os adversários
pompilistas. Mas o coronel Pompílio Nunes de Oliveira e seu irmão, Terêncio
Nunes Bahiense, respondiam os ataques e não deixavam de criticar o “Tio Chico
Fumaça”, como apelidaram o coronel Francisco José dos Santos Silva. João Diogo
de Sá Barreto, além de panfletos, naquele ano, fez circular, em 31 de janeiro
de 1902, carta com pesadas acusações ao coronel Pompílio Nunes de Oliveira.
Este era acusado de ele mesmo haver divulgado, em 1895, os boatos da invasão da
cidade pelos Mocós para obter vantagem política.Mas isso sempre foi negado
pelos partidários do Coronel, especialmente por Terêncio Nunes Bahiense, que
considerava injuriosa a acusação.
Em janeiro de 1904, a numerosa família (expressão de Maneca Grosso)
reassume o governo local com a pessoa de Estevão José dos Santos Silva. E
conservou o poder. Sucedeu-lhe João Diogo de Sá Barreto que, embora não fosse
natural de Conquista, contraira matrimonio com Salústia Fernandes, filha do
coronel José Fernandes de Oliveira Gugé, bisneto de João Gonçalves da Costa.
João Diogo de Sá Barreto governou sob oposição do coronel Pompílio Nunes
de Oliveira, para o qual a “família Fernandes de Oliveira pretendia monopolizar
os cargos públicos e perpetuar-se no poder”.
Nesse período, o coronel José Fernandes de Oliveira Gugé assumira o
papel antes desempenhado pelo coronel Francisco José dos Santos Silva.
Tornara-se líder da numerosa família. É ainda dentro de sua família que sairá o
sucessor no governo local, como logo se vê.
O sucessor de João Diogo de Sá Barreto na administração municipal foi o
coronel José Maximiliano Fernandes de Oliveira, que foi Intendente até 31 de
dezembro de 1911. Era a continuidade no poder daquela união de famílias com
núcleo solidário nos Fernandes de Oliveira e nos Santos Silva.
O coronel José Maximiliano Fernandes de Oliveira administrou, tal como o
antecessor, sofrendo oposição do coronel Pompílio Nunes de Oliveira. Mas
terminou o seu mandato com festa, literalmente. Em 19 de novembro de 1911, o
salão da Sociedade Filarmônica Aurora apertadamente abrigou grande número de
senhores e senhoras para definir os últimos detalhes da homenagem que seria
prestada ao Intendente, bisneto de João Gonçalves da Costa. Após ajustes, dalí
as pessoas saíram ao som da filarmônica, com uma comissão de frente ostentando
o retrato do Intendente, obra executada pelo pintor Tito Batista, em cuja
moldura, na parte inferior, estava fixada placa de prata com aplique de ouro na
qual se lia: “Honra ao Mérito – Sincera Homenagem de um dedicado amigo”.
Alcançaram a casa do Intendente, onde discursaram Anália Vieira de Andrade e
Euclides Dantas (este era redator de “A Conquista”, semanário local).
O coronel José Maximiliano Fernandes de Oliveira inaugurou, em 8 de
dezembro daquele ano, o belo prédio do Paço Municipal, na Praça da Matriz (Rua
Grande, hoje Praça Tancredo Neves), e é de sua administração a construção do
açude de Iguá, a caixa d’Água Nossa Senhora da Vitória (obra importante para a
época) e melhoramentos urbanos.
Mas motivo outro teve para seu contentamento o Intendente coronel José
Maximiliano Fernandes de Oliveira: a vitória política. As eleições de 12 de
novembro de 1911 ofereceram resultado favorável a seu grupo. O coronel José
Fernandes de Oliveira Gugé vencera com folga o pleito eleitoral. Obteve 301
votos, contra 205 votos do coronel Francisco Soares de Andrade, e 144 votos
conferidos ao major Reinaldo Casimiro Rodrigues Silva. Também para o conselho
Municipal (câmara de Vereadores), seus candidatos tiveram maior êxito: dos 11
conselheiros municipais, 09 eram pessoas ligadas ao coronel José Fernandes de
Oliveira Gugé e, dentre os juízes de Paz eleitos, 03 eram do grupo desse.
A eleição do coronel José Fernandes de Oliveira Gugé era a afirmação do
poder daqueles mais integrados aos núcleos das famílias Fernandes e Santos
Silva. Afirmava-se o poder com aquele que, mesmo quando o coronel Francisco
José dos Santos Silva ainda era vivo, exercia notável influencia política.
O coronel José Fernandes de Oliveira Gugé governou o município de Conquista
até 31 de dezembro de 1915. A partir daí a vida política Conquistense adquire
maiores contradições. Uma mudança na regra de ascensão ao cargo de Intendente
foi o complicador. A mudança foi patrocinada por JJ. Seabra
Mudança de Regra
Para aumentar o seu poder, J.J. Seabra, Governador da Bahia, que
pretendia voltar ao governo após o seu sucessor, conseguiu modificar a
Constituição Estadual e a Lei Orgânica dos Municípios. Dentre outras
alterações, sobre os Intendentes (Prefeitos), a constituição alterada dispôs:
“Art. 105. Haverá em cada município um Conselho deliberativo e um
Intendente encarregado das funções executivas; sendo sua investidura e perda do
cargo reguladas pela forma determinada em lei orgânica dos municípios”.
Como se vê, a emenda referida deixou para lei infraconstitucional
regular a forma de escolha do intendente.
Mencionado dispositivo da Constituição Estadual emendada abriu as portas
para que a Lei Orgânica dos municípios fosse igualmente alterada, permitindo a
nomeação de Intendentes (Prefeitos) pelo governador. Isso veio ocorrer com a
Lei 1.102, de 11 de agosto de 1915, que, em seu artigo 14, § 1º, dispunha:
“O Intendente será de nomeação do Governador, com aprovação do Senado, e
poderá ser exonerado nos casos previstos no art. 100 desta lei, e nos de
desídia e irregularidade de conduta, reconhecidos por aquela autoridade”.
Entenda-se que Senado, no caso, era o
Senado Estadual.
Seabra pretendia, com mencionadas alterações, consolidar seu grupo no
poder, nomeando intendentes, e ele mesmo pretendia voltar ao governo do Estado
após a administração de seu sucessor (Antonio Ferrão Moniz de Aragão).
Por outro lado, J.J. Seabra, que tinha sido expurgado do Diretório do
Partido Republicano Conservador (PRC), em convenção de 29 de agosto de 1913,
fundou o Partido Republicano Democrata da Bahia, em setembro do mesmo ano,
passando a ter em suas mãos um partido para reunir seus correligionários e o
poder de nomear Intendentes (Prefeitos), com as alterações feitas na
Constituição do Estado e na Lei Orgânica dos Municípios, já mencionadas.
Isso significava, para os coronéis do Interior da Bahia, a necessidade
de estar no Partido Democrata da Bahia e de demonstrar força e adquirir
prestígio para ser indicado intendente pelo Governador. O recado era certo e
direto. Não contavam mais a busca de eleitores e as diversas manobras para
ganhar eleições, inclusive as fraudes que campeavam na Bahia e no Brasil nos
períodos eleitorais (coisa que persiste). Agora, o todo poderoso governador
substituía a possível vontade dos eleitores, mesmo que as eleições quase sempre
fossem viciadas, em todo o Brasil.
Tudo aquilo significava igualmente o acirramento das disputas, das lutas
partidárias, dos conflitos políticos, enfim, que marcariam o interior da Bahia:
conflitos que não ficaram no bate-boca, porque alcançaram a dimensão armada,
potencializadas que foram as dissensões em razão das alterações no ordenamento
jurídico. As lutas – muitas das quais – oriundas dos embates pelo monopólio da
terra e pelo alargamento dos lucros das atividades comerciais, restaram
potencializadas. As mudanças foram golpe que os coronéis sentiram, redundando
em conflito maior nas Lavras Diamantinas e no médio São Francisco.
Para substituir o coronel José Fernandes de Oliveira Gugé, J. J. SEABRA,
governador, nomeou o major Leôncio Satyro dos Santos Silva, genro do primeiro,
em 21 de dezembro de 1915. O novo intendente assumiu o governo municipal em 1º
de janeiro de 1916, com pouco menos de 32 anos de idade. Apesar de a Lei 1.140,
de 09 de maio de 1916 haver diminuído tempo de exercício do cargo de Intendente
para 02 anos, Leôncio Satyro dos Santos Silva continuou no governo municipal,
pois fora renomeado.
Durante a administração do major Leôncio Satyro dos Santos Silva, as
divergências políticas tornaram-se bastante agudas: Meletes e Peduros
azucrinavam uns aos outros.
O Conflito
À medida que se aproximava o fim do período governamental do major
Leôncio Satyro dos Santos Silva, o controle do Partido Republicano Democrata
tornara-se fundamental para os pretendentes ao poder, assim como fundamental
eram as graças de J. J. SEABRA, que era a liderança política (venceu as
eleições que ocorreram posteriormente, em 29 de dezembro de 1919), embora o
governador na época fosse Antonio Ferrão Moniz de Aragão.
Na disputa pelo controle do partido Republicano Democrata e na busca de
apoio de J.J. Seabra, com necessária demonstração de força lado a lado, estavam
os Meletes e os Peduros. Ambos estavam no mesmo partido, mas já divergiam entre
si, já eram grupos distintos: Meletes e Peduros. Eram políticos conservadores,
alguns agraciados com carta Patente da Guarda Nacional: coronel Francisco de
Oliveira Gugé, coronel Francisco Soares de Andrade, major Leôncio Satyro dos
Santos Silva, major Cassiano Fernandes dos Santos Silva, tenente-coronel
Paulino Fonseca, coronel Manuel Emiliano Moreira de Andrade, Paulino Fernandes
de Oliveira, João Fernandes de Oliveira Santos, Antonio Dantas de Oliveira,
dentre outros.
A luta, na imprensa, a partir de 1917, tornou-se mais virulenta. “ O
Conquistense”, em matérias duras, falava mesmo em “plano sinistro” por parte
dos Peduros, para “exterminar a oposição”. O Intendente Major Leôncio Satyro
Santos Silva passou a ser a vítima preferencial dos ataques daquele jornal.
Mas, os Peduros não deixavam por menos. Especialmente Maneca Grosso, nas
páginas de “A Palavra”, atacava os adversários Meletes.
Eram acusações intermináveis de lado a lado, não faltando sequer o
ressurgimento de velhos fatos.
Novo personagem entrara em cena: O Juiz de Direito. Chamava-se Antonio
José de Araújo e se aproximara dos coronéis Manoel Emiliano Moreira de Andrade
e Pompílio Nunes de Oliveira. Antonio José de Araújo, bacharel em Direito pela
Faculdade de Direito do Recife, com colação de grau em 19 de novembro de 1889,
era amigo de J.J.Seabra, que o nomeou para Juiz de Direito de Barreiras, mas
que por seu pedido, viera exercer o cargo em Vitória da Conquista. A amizade do
Juiz com J.J. Seabra era politicamente importante para o Coronel Emiliano
Moreira de Andrade e, à medida dos ataques de Maneca Grosso ao Juiz, o vínculo
deste com o coronel opositor aumentara.
Aqui, tomo a liberdade de transcrever, em parte, texto de apresentação
que fiz para o livro do talentoso advogado, Dr. Marcos Antonio Freire Martins,
romance da luta dos Meletes e Peduros (Maria-a Melete) cuja publicação é
ansiosamente esperada:
Por entender que o Juiz Antonio José era o principal instigador dos
ataques de “O Conquistense” ao grupo que apoiava Leôncio Satyro dos Santos
Silva e que reunia os mais achegados à política estabelecida pelo Coronel Gugé,
Maneca Grosso, em matérias pagas (pelo menos assim apareciam) publicadas em “A
Palavra”, e em escritos estampados no “Diário de Notícias”, de Salvador,
acusava aquele juiz de atos de corrupção, denunciava manobras políticas do
mesmo em favor dos interesses de Maneca Moreira e de Pompílio Nunes (cujo
concunhado fora Intendente Municipal).
Em outubro de 1918, o panorama político local ganha novos contornos: era
o mês de eleição do novo Diretório Municipal do Partido Republicano Democrata
de Conquista (secção do Partido Republicano Democrata da Bahia, seabrista). Mas
também foi o mês da prisão de Manoel Arruda, que diziam ser jagunço contratado
pelo grupo do Coronel Manoel Emiliano Moreira de Andrade (Maneca Moreira), que
tanta celeuma causaria.
Quanto à eleição do Diretório do Partido Republicano Democrata,
Crescêncio Silveira procurou Leôncio Satyro dos Santos Silva e lhe propôs o
seguinte: Manoel Emiliano Moreira de Andrade (Maneca Moreira) seria presidente
daquele diretório, Leôncio Satyro dos Santos Silva ficaria como seu
vice-presidente, e Pompílio Nunes participaria como membro do mesmo diretório.
Leôncio não se opôs à presença de Maneca Moreira no Diretório, nem de Pompílio
Nunes, mas ponderou que a presidência da agremiação ficasse com Agripino
Borges, partidário de Maneca Moreira mas com bom trânsito entre os adversários
desse. Era uma tentativa de conciliação.
Ocorre que, quando visitado por correligionários a fim de ser informado
das negociações, Maneca Moreira aceitou a proposta de Leôncio Santos, mas com
uma alteração: que este renunciasse ao cargo de Intendente Municipal, a fim de
que Agripino Borges pudesse assumí-lo. Este, por sua vez, não aquiesceu com a
proposta de seu até então líder, disse que ficaria com a conciliação, afirmando
igualmente que a sua permanência no grupo de Maneca Moreira dependia do
afastamento de toda e qualquer influência do Juiz Antonio José de Araújo.
Em 21 de outubro de 1918, em segunda reunião, pois na primeira, no dia
20, não houvera quorum, foi eleito o diretório, que ficou composto de Paulino
Fonseca, Paulino Fernandes de Oliveira, Cassiano Fernandes dos Santos Silva,
Leôncio Satyro dos Santos, tendo como seu presidente Antonio Agripino da Silva
Borges (Agripino Borges). O último, como dissemos, do grupo de Maneca Moreira,
ausente este de ambas as reuniões.
A eleição do diretório motivou outro rompimento: diante de nova
tentativa de acordo, Maneca Moreira encarregou seu sogro, Ernesto Dantas, de
escrever as bases da conciliação, que seriam apresentadas ao grupo do
Intendente Municipal. Mas mudou logo em seguida de opinião, pois, em 25 de
outubro, em declaração estampada no jornal “O Conquistense”, disse que Agripino
Borges desertara de seu grupo, que ele, Maneca Moreira, iria organizar em
definitivo seu próprio partido e assegurou que continuaria a prestigiar o Dr.
Antonio José de Araújo, Juiz de Direito.
Em escrito publicado em “A Palavra”, Maneca Grosso, em 29 de novembro de
1918, manifesta apoio a Agripino Borges. Não foi possível composição de
interesses quanto à direção partidária.
Mas não só a disputa em torno do diretório local do Partido Republicano
Democrata de Conquista cumpunha aquele quadro tumultuado da política
conquistense. Como dissemos, a prisão de Manuel Arruda teria conseqüências.
Manuel Arruda, que diziam ser jagunço recrutado a serviço da facção de
Maneca Moreira, foi preso em 12 de outubro. Permaneceu detido, sob custódia do
tenente Júlio Manoel da Costa, até 9 de dezembro de 1918, quando, sob escolta
armada, foi encaminhado para Salvador. Porém, em Brejo Grande (Ituaçu), foi
libertado por comparsas, comandados por Tibúrcio de Oliveira Freitas, do grupo
de Maneca Moreira.
Em artigo datado de 19 de dezembro, porém publicado no dia 25 do mesmo
mês, Maneca Grosso faz graves acusações ao Juiz de Direito e ao Promotor
Público, atribuindo-lhes haver planejado a libertação de Manuel Arruda e
empreitado o pessoal para isso.
Em 3 de janeiro de 1919, entre pressões e contrapressões, ameaças e
conselhos, Leôncio Satyro dos Santos Silva renunciou ao cargo de Intendente
Municipal e para o posto foi designado o Coronel Francisco Costa. Mas a
renúncia do Intendente não pacificou os ânimos. O artigo de denúncia de Maneca
Grosso contra o Juiz de Direito e o Promotor Público intensificou as
divergências que, há muito, transbordavam da política para a rivalidade figadal
entre muitas pessoas. Jagunços já eram empreitados por ambos os grupos.
A caminho de sua fazenda, Baixa do Arroz, em 5 de janeiro de 1919,
Maneca Grosso e seu amigo Cirilo Rodrigues foram surpreendidos por um grupo de
pessoas armadas, que muito espancou o primeiro e assassinou o segundo.
Ascendino dos Santos Melo (Dino Correia), avisado da situação,
dirigiu-se à Baixa do Arroz, em visita de solidariedade a Maneca Grosso, de
quem fora aluno, ficou informado dos fatos e resolveu comandar reação armada
contra os partidários de Maneca Moreira, os chamados Meletes; passou a
organizar a distribuição de armas e a locação estratégica de partidários e
jagunços do grupo de Leôncio Satyro dos Santos Silva, os Peduros.
O embate entre as duas facções – Meletes e Peduros – generalizou-se e
tornou-se conflito armado.
Os Peduros conseguiram, na cidade de Conquista, encurralar os Meletes e
estes demonstraram, face à situação, ficar sensíveis à negociação. O entrave
maior, quanto às condições de rendição negociada, era que Dino Correia impunha,
como exigência inafastável, a expulsão do Juiz de Direito (Antonio José de
Araújo), sua família, e do Promotor Público. Mas isso era acompanhado de um
apêndice: o Juiz deveria sofrer a humilhação de retirar-se da cidade montado
num boi.
A cláusula humilhante seria retirada: no dia 21 de janeiro de 1919,
comissão formada por Henriqueta Prates, Laudicéia Gusmão, Eufrosina Freitas
Trindade, Joana Angélica dos Santos, Crescêncio Antunes Silveira, Nicanor José
Ferreira, Agripino Borges, José Maximiliano Fernandes de Oliveira, Belizário
Mendes e Deraldo Mendes Ferraz conseguiu demover Dino Correia daquela última
humilhação: o Juiz poderia sair normalmente e sua vida e de sua família seriam
garantidas.
O fim do conflito armado foi alcançado, mas a solução não satisfez a
todos. Já em 24 de janeiro, Manoel Oliveira Santos desferiu disparos de arma de
fogo em direção à casa do Coronel Pompílio Nunes (Melete), mas isso não teve
efeito de deflagrar novamente a luta armada.
Dino Correia tornou-se Intendente Municipal. Maneca Moreira retirou-se
para a sua fazenda e depois para “um lugar bem longe… pra lá do Guigó”, indo
fixar-se em Poções.Maneca Grosso nunca conseguiu recuperar-se do duplo trauma
físico e moral. Faleceu em 11 de fevereiro de 1919. Pompílio Nunes foi para as
“Matas do Pau Brasil” e faleceu em 5 de novembro de 1921.
Veja, ainda, nos painéis: Cartas
Patentes de membros da Guarda Nacional, fotos, outros textos.
Exposição referente aos 90 anos da
luta entre Meletes e Peduros – Museu Pedagógico da UESB, com apoio da
Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer.
Casa Memorial Regis Pacheco
De 19 de Janeiro a 4 de Fevereiro de
2009
* Ruy medeiros é advogado
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