terça-feira, 22 de maio de 2012


Meletes e Peduros : Uma só e numerosa família
2nd/fev/2009 . 8:56 pm 

*Ruy Medeiros
Manoel Fernandes de Oliveira, mais conhecido como Maneca Grosso, em sua linguagem direta, escreveu: “ É por demais sabido que as famílias Santos Silva, Fernandes de Oliveira Ferraz, Oliveira Freitas, Correia de Melo, Andrade, Moreira, Mendes Gusmão e outras mais, sendo aliadas pelo parentesco constituem uma só e numerosa família, cuja preponderância política entre nós é incontestável” ( Justa Reação, jornal “A Palavra”, Conquista, 26 de agosto de 1911).
A afirmação era correta. Há muito se fixara o poder local daquela numerosa família. Faltou no entanto àquele grande poeta dizer que “uns se consideravam mais parentes que outros”. O próprio Maneca Grosso não reconhecia como seu parente o coronel Pompílio Nunes de Oliveira, embora a mãe desse fosse uma Fernandes, bisneta de João Gonçalves da Costa, fundador do Arraial da Conquista. Havia, dentro da numerosa família, grupos unidos entre si por maior solidariedade que os outros, grupos com maior integração, por força de proximidade, dependência, compadrio e favor do que outros. Era o caso dos Santos Silva e Fernandes de Oliveira.
É certo, como dissera Maneca Grosso, que o poder político da numerosa família era incontestável? Sim, é certo, com a condição de se reconhecerem divergências (que às vezes se aprofundavam) entre grupos de parentes. Há muito o núcleo que tinha os nomes Fernandes e Santos Silva controlava o poder.
Em 1896, houve um interregno (assim considerado por muitos que viveram naquele tempo): o coronel Pompílio Nunes de Oliveira conseguira, no ano anterior, que seu candidato ganhasse o controle da administração municipal.
Homem muito rico, comerciante e fazendeiro, o coronel Pompílio Nunes de Oliveira ganhara a admiração dos habitantes de Conquista quando, diante de fortes boatos de que os “Mocós”, que haviam praticado a “chacina do Tamanduá”, iriam invadir a cidade, cuidou de arregimentar pessoas e reunir armas para a defesa da urbs. Era 1895.
O coronel José Antonio de Lima Guerra, concunhado do coronel Pompílio Nunes de Oliveira, indicado por esse, venceu o pleito local e governou o município até 31 de dezembro de 1903. O governo do coronel José Antonio de Lima Guerra foi considerado um hiato na sucessão do mando local por aqueles que vinham ocupando o poder. Para alguns, como Maneca Grosso e o coronel Francisco José dos Santos Silva, a vitória do coronel Pompílio Nunes de Oliveira foi um golpe profundo, embora pessoas achegadas àqueles houvessem apoiado o candidato do rico coronel.
Para reagir com mais eficácia à nova realidade, o coronel Francisco José dos Santos Silva assumiu a chefia do Partido Republicano e cuidou de reagrupar a numerosa família. Era, então, o coronel Francisco José dos Santos Silva uma grande liderança. Nascera na Imperial Vila da Vitória em 3 de dezembro de 1848, filho de Manoel José dos Santos Silva, que fundara família no município a qual teria grande influência política por muito e muito tempo, e de Ana Angélica de Lima, mais conhecida como Sinhazinha Santos.
Contou o coronel Francisco José dos Santos Silva com dois fortes militantes, dentre outros: Maneca Grosso, poeta, jornalista e rábula, e João Diogo de Sá Barreto, bacharel. Estes usavam da imprensa para acicatar o coronel Pompílio Nunes de Oliveira. A partir de 1901, os artigos de Maneca Grosso no Jornal de Notícias, de Salvador, tornaram-se mais ferinos contra os adversários pompilistas. Mas o coronel Pompílio Nunes de Oliveira e seu irmão, Terêncio Nunes Bahiense, respondiam os ataques e não deixavam de criticar o “Tio Chico Fumaça”, como apelidaram o coronel Francisco José dos Santos Silva. João Diogo de Sá Barreto, além de panfletos, naquele ano, fez circular, em 31 de janeiro de 1902, carta com pesadas acusações ao coronel Pompílio Nunes de Oliveira. Este era acusado de ele mesmo haver divulgado, em 1895, os boatos da invasão da cidade pelos Mocós para obter vantagem política.Mas isso sempre foi negado pelos partidários do Coronel, especialmente por Terêncio Nunes Bahiense, que considerava injuriosa a acusação.
Em janeiro de 1904, a numerosa família (expressão de Maneca Grosso) reassume o governo local com a pessoa de Estevão José dos Santos Silva. E conservou o poder. Sucedeu-lhe João Diogo de Sá Barreto que, embora não fosse natural de Conquista, contraira matrimonio com Salústia Fernandes, filha do coronel José Fernandes de Oliveira Gugé, bisneto de João Gonçalves da Costa.
João Diogo de Sá Barreto governou sob oposição do coronel Pompílio Nunes de Oliveira, para o qual a “família Fernandes de Oliveira pretendia monopolizar os cargos públicos e perpetuar-se no poder”.
Nesse período, o coronel José Fernandes de Oliveira Gugé assumira o papel antes desempenhado pelo coronel Francisco José dos Santos Silva. Tornara-se líder da numerosa família. É ainda dentro de sua família que sairá o sucessor no governo local, como logo se vê.
O sucessor de João Diogo de Sá Barreto na administração municipal foi o coronel José Maximiliano Fernandes de Oliveira, que foi Intendente até 31 de dezembro de 1911. Era a continuidade no poder daquela união de famílias com núcleo solidário nos Fernandes de Oliveira e nos Santos Silva.
O coronel José Maximiliano Fernandes de Oliveira administrou, tal como o antecessor, sofrendo oposição do coronel Pompílio Nunes de Oliveira. Mas terminou o seu mandato com festa, literalmente. Em 19 de novembro de 1911, o salão da Sociedade Filarmônica Aurora apertadamente abrigou grande número de senhores e senhoras para definir os últimos detalhes da homenagem que seria prestada ao Intendente, bisneto de João Gonçalves da Costa. Após ajustes, dalí as pessoas saíram ao som da filarmônica, com uma comissão de frente ostentando o retrato do Intendente, obra executada pelo pintor Tito Batista, em cuja moldura, na parte inferior, estava fixada placa de prata com aplique de ouro na qual se lia: “Honra ao Mérito – Sincera Homenagem de um dedicado amigo”. Alcançaram a casa do Intendente, onde discursaram Anália Vieira de Andrade e Euclides Dantas (este era redator de “A Conquista”, semanário local).
O coronel José Maximiliano Fernandes de Oliveira inaugurou, em 8 de dezembro daquele ano, o belo prédio do Paço Municipal, na Praça da Matriz (Rua Grande, hoje Praça Tancredo Neves), e é de sua administração a construção do açude de Iguá, a caixa d’Água Nossa Senhora da Vitória (obra importante para a época) e melhoramentos urbanos.
Mas motivo outro teve para seu contentamento o Intendente coronel José Maximiliano Fernandes de Oliveira: a vitória política. As eleições de 12 de novembro de 1911 ofereceram resultado favorável a seu grupo. O coronel José Fernandes de Oliveira Gugé vencera com folga o pleito eleitoral. Obteve 301 votos, contra 205 votos do coronel Francisco Soares de Andrade, e 144 votos conferidos ao major Reinaldo Casimiro Rodrigues Silva. Também para o conselho Municipal (câmara de Vereadores), seus candidatos tiveram maior êxito: dos 11 conselheiros municipais, 09 eram pessoas ligadas ao coronel José Fernandes de Oliveira Gugé e, dentre os juízes de Paz eleitos, 03 eram do grupo desse.
A eleição do coronel José Fernandes de Oliveira Gugé era a afirmação do poder daqueles mais integrados aos núcleos das famílias Fernandes e Santos Silva. Afirmava-se o poder com aquele que, mesmo quando o coronel Francisco José dos Santos Silva ainda era vivo, exercia notável influencia política.
O coronel José Fernandes de Oliveira Gugé governou o município de Conquista até 31 de dezembro de 1915. A partir daí a vida política Conquistense adquire maiores contradições. Uma mudança na regra de ascensão ao cargo de Intendente foi o complicador. A mudança foi patrocinada por JJ. Seabra
Mudança de Regra
Para aumentar o seu poder, J.J. Seabra, Governador da Bahia, que pretendia voltar ao governo após o seu sucessor, conseguiu modificar a Constituição Estadual e a Lei Orgânica dos Municípios. Dentre outras alterações, sobre os Intendentes (Prefeitos), a constituição alterada dispôs:
“Art. 105. Haverá em cada município um Conselho deliberativo e um Intendente encarregado das funções executivas; sendo sua investidura e perda do cargo reguladas pela forma determinada em lei orgânica dos municípios”.
Como se vê, a emenda referida deixou para lei infraconstitucional regular a forma de escolha do intendente.
Mencionado dispositivo da Constituição Estadual emendada abriu as portas para que a Lei Orgânica dos municípios fosse igualmente alterada, permitindo a nomeação de Intendentes (Prefeitos) pelo governador. Isso veio ocorrer com a Lei 1.102, de 11 de agosto de 1915, que, em seu artigo 14, § 1º, dispunha:
“O Intendente será de nomeação do Governador, com aprovação do Senado, e poderá ser exonerado nos casos previstos no art. 100 desta lei, e nos de desídia e irregularidade de conduta, reconhecidos por aquela autoridade”.
Entenda-se que Senado, no caso, era o Senado Estadual.
Seabra pretendia, com mencionadas alterações, consolidar seu grupo no poder, nomeando intendentes, e ele mesmo pretendia voltar ao governo do Estado após a administração de seu sucessor (Antonio Ferrão Moniz de Aragão).
Por outro lado, J.J. Seabra, que tinha sido expurgado do Diretório do Partido Republicano Conservador (PRC), em convenção de 29 de agosto de 1913, fundou o Partido Republicano Democrata da Bahia, em setembro do mesmo ano, passando a ter em suas mãos um partido para reunir seus correligionários e o poder de nomear Intendentes (Prefeitos), com as alterações feitas na Constituição do Estado e na Lei Orgânica dos Municípios, já mencionadas.
Isso significava, para os coronéis do Interior da Bahia, a necessidade de estar no Partido Democrata da Bahia e de demonstrar força e adquirir prestígio para ser indicado intendente pelo Governador. O recado era certo e direto. Não contavam mais a busca de eleitores e as diversas manobras para ganhar eleições, inclusive as fraudes que campeavam na Bahia e no Brasil nos períodos eleitorais (coisa que persiste). Agora, o todo poderoso governador substituía a possível vontade dos eleitores, mesmo que as eleições quase sempre fossem viciadas, em todo o Brasil.
Tudo aquilo significava igualmente o acirramento das disputas, das lutas partidárias, dos conflitos políticos, enfim, que marcariam o interior da Bahia: conflitos que não ficaram no bate-boca, porque alcançaram a dimensão armada, potencializadas que foram as dissensões em razão das alterações no ordenamento jurídico. As lutas – muitas das quais – oriundas dos embates pelo monopólio da terra e pelo alargamento dos lucros das atividades comerciais, restaram potencializadas. As mudanças foram golpe que os coronéis sentiram, redundando em conflito maior nas Lavras Diamantinas e no médio São Francisco.
Para substituir o coronel José Fernandes de Oliveira Gugé, J. J. SEABRA, governador, nomeou o major Leôncio Satyro dos Santos Silva, genro do primeiro, em 21 de dezembro de 1915. O novo intendente assumiu o governo municipal em 1º de janeiro de 1916, com pouco menos de 32 anos de idade. Apesar de a Lei 1.140, de 09 de maio de 1916 haver diminuído tempo de exercício do cargo de Intendente para 02 anos, Leôncio Satyro dos Santos Silva continuou no governo municipal, pois fora renomeado.
Durante a administração do major Leôncio Satyro dos Santos Silva, as divergências políticas tornaram-se bastante agudas: Meletes e Peduros azucrinavam uns aos outros.
O Conflito
À medida que se aproximava o fim do período governamental do major Leôncio Satyro dos Santos Silva, o controle do Partido Republicano Democrata tornara-se fundamental para os pretendentes ao poder, assim como fundamental eram as graças de J. J. SEABRA, que era a liderança política (venceu as eleições que ocorreram posteriormente, em 29 de dezembro de 1919), embora o governador na época fosse Antonio Ferrão Moniz de Aragão.
Na disputa pelo controle do partido Republicano Democrata e na busca de apoio de J.J. Seabra, com necessária demonstração de força lado a lado, estavam os Meletes e os Peduros. Ambos estavam no mesmo partido, mas já divergiam entre si, já eram grupos distintos: Meletes e Peduros. Eram políticos conservadores, alguns agraciados com carta Patente da Guarda Nacional: coronel Francisco de Oliveira Gugé, coronel Francisco Soares de Andrade, major Leôncio Satyro dos Santos Silva, major Cassiano Fernandes dos Santos Silva, tenente-coronel Paulino Fonseca, coronel Manuel Emiliano Moreira de Andrade, Paulino Fernandes de Oliveira, João Fernandes de Oliveira Santos, Antonio Dantas de Oliveira, dentre outros.
A luta, na imprensa, a partir de 1917, tornou-se mais virulenta. “ O Conquistense”, em matérias duras, falava mesmo em “plano sinistro” por parte dos Peduros, para “exterminar a oposição”. O Intendente Major Leôncio Satyro Santos Silva passou a ser a vítima preferencial dos ataques daquele jornal.
Mas, os Peduros não deixavam por menos. Especialmente Maneca Grosso, nas páginas de “A Palavra”, atacava os adversários Meletes.
Eram acusações intermináveis de lado a lado, não faltando sequer o ressurgimento de velhos fatos.
Novo personagem entrara em cena: O Juiz de Direito. Chamava-se Antonio José de Araújo e se aproximara dos coronéis Manoel Emiliano Moreira de Andrade e Pompílio Nunes de Oliveira. Antonio José de Araújo, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, com colação de grau em 19 de novembro de 1889, era amigo de J.J.Seabra, que o nomeou para Juiz de Direito de Barreiras, mas que por seu pedido, viera exercer o cargo em Vitória da Conquista. A amizade do Juiz com J.J. Seabra era politicamente importante para o Coronel Emiliano Moreira de Andrade e, à medida dos ataques de Maneca Grosso ao Juiz, o vínculo deste com o coronel opositor aumentara.
Aqui, tomo a liberdade de transcrever, em parte, texto de apresentação que fiz para o livro do talentoso advogado, Dr. Marcos Antonio Freire Martins, romance da luta dos Meletes e Peduros (Maria-a Melete) cuja publicação é ansiosamente esperada:
Por entender que o Juiz Antonio José era o principal instigador dos ataques de “O Conquistense” ao grupo que apoiava Leôncio Satyro dos Santos Silva e que reunia os mais achegados à política estabelecida pelo Coronel Gugé, Maneca Grosso, em matérias pagas (pelo menos assim apareciam) publicadas em “A Palavra”, e em escritos estampados no “Diário de Notícias”, de Salvador, acusava aquele juiz de atos de corrupção, denunciava manobras políticas do mesmo em favor dos interesses de Maneca Moreira e de Pompílio Nunes (cujo concunhado fora Intendente Municipal).
Em outubro de 1918, o panorama político local ganha novos contornos: era o mês de eleição do novo Diretório Municipal do Partido Republicano Democrata de Conquista (secção do Partido Republicano Democrata da Bahia, seabrista). Mas também foi o mês da prisão de Manoel Arruda, que diziam ser jagunço contratado pelo grupo do Coronel Manoel Emiliano Moreira de Andrade (Maneca Moreira), que tanta celeuma causaria.
Quanto à eleição do Diretório do Partido Republicano Democrata, Crescêncio Silveira procurou Leôncio Satyro dos Santos Silva e lhe propôs o seguinte: Manoel Emiliano Moreira de Andrade (Maneca Moreira) seria presidente daquele diretório, Leôncio Satyro dos Santos Silva ficaria como seu vice-presidente, e Pompílio Nunes participaria como membro do mesmo diretório. Leôncio não se opôs à presença de Maneca Moreira no Diretório, nem de Pompílio Nunes, mas ponderou que a presidência da agremiação ficasse com Agripino Borges, partidário de Maneca Moreira mas com bom trânsito entre os adversários desse. Era uma tentativa de conciliação.
Ocorre que, quando visitado por correligionários a fim de ser informado das negociações, Maneca Moreira aceitou a proposta de Leôncio Santos, mas com uma alteração: que este renunciasse ao cargo de Intendente Municipal, a fim de que Agripino Borges pudesse assumí-lo. Este, por sua vez, não aquiesceu com a proposta de seu até então líder, disse que ficaria com a conciliação, afirmando igualmente que a sua permanência no grupo de Maneca Moreira dependia do afastamento de toda e qualquer influência do Juiz Antonio José de Araújo.
Em 21 de outubro de 1918, em segunda reunião, pois na primeira, no dia 20, não houvera quorum, foi eleito o diretório, que ficou composto de Paulino Fonseca, Paulino Fernandes de Oliveira, Cassiano Fernandes dos Santos Silva, Leôncio Satyro dos Santos, tendo como seu presidente Antonio Agripino da Silva Borges (Agripino Borges). O último, como dissemos, do grupo de Maneca Moreira, ausente este de ambas as reuniões.
A eleição do diretório motivou outro rompimento: diante de nova tentativa de acordo, Maneca Moreira encarregou seu sogro, Ernesto Dantas, de escrever as bases da conciliação, que seriam apresentadas ao grupo do Intendente Municipal. Mas mudou logo em seguida de opinião, pois, em 25 de outubro, em declaração estampada no jornal “O Conquistense”, disse que Agripino Borges desertara de seu grupo, que ele, Maneca Moreira, iria organizar em definitivo seu próprio partido e assegurou que continuaria a prestigiar o Dr. Antonio José de Araújo, Juiz de Direito.
Em escrito publicado em “A Palavra”, Maneca Grosso, em 29 de novembro de 1918, manifesta apoio a Agripino Borges. Não foi possível composição de interesses quanto à direção partidária.
Mas não só a disputa em torno do diretório local do Partido Republicano Democrata de Conquista cumpunha aquele quadro tumultuado da política conquistense. Como dissemos, a prisão de Manuel Arruda teria conseqüências.
Manuel Arruda, que diziam ser jagunço recrutado a serviço da facção de Maneca Moreira, foi preso em 12 de outubro. Permaneceu detido, sob custódia do tenente Júlio Manoel da Costa, até 9 de dezembro de 1918, quando, sob escolta armada, foi encaminhado para Salvador. Porém, em Brejo Grande (Ituaçu), foi libertado por comparsas, comandados por Tibúrcio de Oliveira Freitas, do grupo de Maneca Moreira.
Em artigo datado de 19 de dezembro, porém publicado no dia 25 do mesmo mês, Maneca Grosso faz graves acusações ao Juiz de Direito e ao Promotor Público, atribuindo-lhes haver planejado a libertação de Manuel Arruda e empreitado o pessoal para isso.
Em 3 de janeiro de 1919, entre pressões e contrapressões, ameaças e conselhos, Leôncio Satyro dos Santos Silva renunciou ao cargo de Intendente Municipal e para o posto foi designado o Coronel Francisco Costa. Mas a renúncia do Intendente não pacificou os ânimos. O artigo de denúncia de Maneca Grosso contra o Juiz de Direito e o Promotor Público intensificou as divergências que, há muito, transbordavam da política para a rivalidade figadal entre muitas pessoas. Jagunços já eram empreitados por ambos os grupos.
A caminho de sua fazenda, Baixa do Arroz, em 5 de janeiro de 1919, Maneca Grosso e seu amigo Cirilo Rodrigues foram surpreendidos por um grupo de pessoas armadas, que muito espancou o primeiro e assassinou o segundo.
Ascendino dos Santos Melo (Dino Correia), avisado da situação, dirigiu-se à Baixa do Arroz, em visita de solidariedade a Maneca Grosso, de quem fora aluno, ficou informado dos fatos e resolveu comandar reação armada contra os partidários de Maneca Moreira, os chamados Meletes; passou a organizar a distribuição de armas e a locação estratégica de partidários e jagunços do grupo de Leôncio Satyro dos Santos Silva, os Peduros.
O embate entre as duas facções – Meletes e Peduros – generalizou-se e tornou-se conflito armado.
Os Peduros conseguiram, na cidade de Conquista, encurralar os Meletes e estes demonstraram, face à situação, ficar sensíveis à negociação. O entrave maior, quanto às condições de rendição negociada, era que Dino Correia impunha, como exigência inafastável, a expulsão do Juiz de Direito (Antonio José de Araújo), sua família, e do Promotor Público. Mas isso era acompanhado de um apêndice: o Juiz deveria sofrer a humilhação de retirar-se da cidade montado num boi.
A cláusula humilhante seria retirada: no dia 21 de janeiro de 1919, comissão formada por Henriqueta Prates, Laudicéia Gusmão, Eufrosina Freitas Trindade, Joana Angélica dos Santos, Crescêncio Antunes Silveira, Nicanor José Ferreira, Agripino Borges, José Maximiliano Fernandes de Oliveira, Belizário Mendes e Deraldo Mendes Ferraz conseguiu demover Dino Correia daquela última humilhação: o Juiz poderia sair normalmente e sua vida e de sua família seriam garantidas.
O fim do conflito armado foi alcançado, mas a solução não satisfez a todos. Já em 24 de janeiro, Manoel Oliveira Santos desferiu disparos de arma de fogo em direção à casa do Coronel Pompílio Nunes (Melete), mas isso não teve efeito de deflagrar novamente a luta armada.
Dino Correia tornou-se Intendente Municipal. Maneca Moreira retirou-se para a sua fazenda e depois para “um lugar bem longe… pra lá do Guigó”, indo fixar-se em Poções.Maneca Grosso nunca conseguiu recuperar-se do duplo trauma físico e moral. Faleceu em 11 de fevereiro de 1919. Pompílio Nunes foi para as “Matas do Pau Brasil” e faleceu em 5 de novembro de 1921.
Veja, ainda, nos painéis: Cartas Patentes de membros da Guarda Nacional, fotos, outros textos.
Exposição referente aos 90 anos da luta entre Meletes e Peduros – Museu Pedagógico da UESB, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer.
Casa Memorial Regis Pacheco
De 19 de Janeiro a 4 de Fevereiro de 2009
* Ruy medeiros é advogado

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