Notícia da
velha casa de oração
30th/dez/2008 . 12:08 am
Por Ruy Medeiros
A tradição sobre a origem da primeira casa de oração de
Vitória da Conquista é bem conhecida : João Gonçalves da Costa teria prometido
a Nossa Senhora a construção de uma igreja se a santa lhe concedesse a vitória
numa luta contra os nativos do Sertão da Ressaca.
Dr. Tranquilino Torres, em seu trabalho “O Município da Vitória”
(publicado pela primeira vez em 1888) recolheu a tradição, depois repassada por
Durval Vieira de Aguiar, que o copia (“Descrições práticas da Província da
Bahia”,1888), e por Dr. Francisco Vicente Viana (Memória sobre o Estado da
Bahia”, 1893). Outros repetiram a informação que é transmitida de geração após
geração.
É muito difícil saber o ano exato da construção da primeira casa de
culto em Vitória da Conquista, ou melhor, no Arraial da Conquista . Não demorou
muito a existir, após as incursões de Gonçalves da Costa.
Com efeito, uma carta do Intendente Geral do Ouro, João Ferreira Bittencourt, já menciona a
existência de uma igreja construída por João Gonçalves da Costa. A carta está
datada de 1782 (Documento existente no Arquivo Público do Estado da Bahia). Se
houve a promessa mencionada, esta foi cumprida.
Embora, às vezes, se entenda, com base na leitura de Tranquilino Torres
e de Francisco Vicente Viana , que a casa de oração tenha sido primitivamente
edificada no lugar depois conhecido por “Batalha”, é mais , provável que o
prédio tenha sido levantado no local do antigo templo, na praça que hoje tem o
nome de Tancredo Neves. È que “Batalha” designava área bem maior do que o
espaço ocupado posteriormente pelo velho latifúndio denominado “Fazenda
Batalha”. A igrejinha primitiva deve ter sido construída já no “rancho”, ou
“arraial” da Conquista.
Realmente, deve ter existido uma construção bem simples, depois
substituída por outra maios. A afirmativa feita tem amparo em fontes
documentais, pois João Bittencourt, como foi dito, menciona a existência da
Igreja e, no entanto, Maximiliano Wied – Neuwied (Maximiliano Alexander
Philipp, príncipe de Wied) em 1817, anota a existência, no Arraial da
Conquista, “ de trinta a quarenta casas baixas e uma Igreja em construção.” O
Príncipe Naturalista informa que “ as famílias do Coronel João Gonçalves da
Costa, o capitão – mor Miranda e alguns outros empreenderam a construção da
igreja às suas expensas.” (Maximiliano, “ Viagem ao Brasil”).
João Gonçalves da Costa, ao que tudo indica, edificara uma igrejinha.
Depois , resolvera (aí já se trata de fato comprovado) pedir autorização para
edificar um Oratório público, mais definitivo, maior e oficializado. Isso
explica a informação do Intendente do Ouro em contraposição àquela do Príncipe
e o fato de o Coronel e sua família pedirem formal autorização eclesiástica
para construir o Oratório público, que lhe seria concedida em 1813, pelo
Arcebispo, documentalmente.
E é assim: Em 8 de fevereiro de 1813, Dom José de Santa Escolástica
Monge da Ordem de São Bento Arcebisbo Metrpolitano de Salvador, mediante
provisão, concede ao “Coronel João Gonçalves da Costa e mais moradores do
Sertão da Conquista, termo da Vila de Caetité, na Freguesia do Rio Pardo,
licença para que possam erigir um Oratório público, ou Casa de Oração, no
Arraial da mesma Conquista em atenção a se acharem muitas léguas
distantes da Matriz, e da capela mais vizinha”. A provisão
arquiepiscopal dizia ainda que motivava a permissão o objetivo de “poderem
cumprir o preceito da Missa, não só o dito Coronel, e sua família, senão também
os moradores do mesmo Sertão da Conquista; e nele se poderá administrar os
sacramentos, sem prejuízo dos direitos paroquiais; e com a mesma condição
poderão estabelecer nele ou fora, cemitério público; no qual depois de bento se
poderão sepultar os corpos dos falecidos”. Quanto ao cuidado com o cemitério, o
arcebispo ainda recomendava que o lugar fosse “murado ou cercado, e com os
sinais característicos de um lugar pio”.
A construção do oratório público foi demorada, pois como já afirmado,
Maximiliano o encontrou, não concluído, em 1817.Sua conclusão teria ocorrido em
1823. Porém, já em 1815, cuidou João Gonçalves da Costa de doar a Nossa Senhora
da Vitória os terrenos onde se achava edificado o arraial. Era uma forma de
garantir materialmente a continuidade da devoção.
Sabe-se, em razão da escritura lavrada perante o Tabelião de Notas
(Livro 2, fls. 59 e 60), que em 4 de novembro de 1845, o pintor italiano João
Pirasoli foi contratado para ajuntar todas as madeiras da Igreja, internas e
externas, e dourar as molduras e esculturas, pelo preço de quatro contos e
oitocentos mil Réis, tarefa terminada três anos depois.
Mais de cem anos após a data de início de sua construção, o prédio da
Igreja (já então Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória) começou a ruir, em
1918. Rachaduras apareceram nas paredes de fundo e frente, oferecendo riscos
aos fiéis freqüentadores.
Por lei datada de 31 de maio de 1919, o Intendente Ascendino dos Santos
Melo foi autorizado pelo Conselho Municipal a desapropriar o velho prédio da
igreja, “podendo despender até a quantia de vinte contos de Réis”, para
demoli-lo e indenizar a Igreja Católica.
A determinação de demolir o prédio causou divergências entre o Poder
Executivo local e autoridades religiosas, e somente em 1932, na gestão do
Prefeito Arlindo Mendes Rodrigues, a casa de Oração, já Igreja Matriz, foi
demolida. Um pouco mais acima do local onde fora edificada, na mesma praça (Rua
Grande, Praça da República, hoje Praça Trancredo Neves) foi construído um
templo bem maior, em linhas neogóticas – a atual catedral de Nossa Senhora da
Vitória, cuja pedra fundamental foi lançada em 15 de agosto de 1932, em missa
do Côneco Exupério Gomes.
Tal como o templo anterior, a construção do novo prédio foi demorada.
Somente em 1944, acompanhada de Casa Paroquial, considerou-se terminado o
trabalho de edificação.
No próximo ano, o gesto do Cônego Exupério Gomes, em cravar na cova do
alicerce a pedra fundamental da Igreja Matriz, estará completando 70 anos,
enquanto que, em 2003, a autorização arquiepiscopal ao Coronel João Gonçalves
da Costa para que este pudesse edificar um Oratório público completará 190
anos. Do velho templo restam lembranças tênues, informações fragmentárias,
fotografias… E, aqui, esta notícia.
(Escrito especialmente para o Jornal Hoje, edição comemorativa dos 161 anos de instalação do município da Imperial Vila da Vitória, por força da elevação do distrito da Vitória a vila, hoje Município de Vitória da Conquista ).
(Escrito especialmente para o Jornal Hoje, edição comemorativa dos 161 anos de instalação do município da Imperial Vila da Vitória, por força da elevação do distrito da Vitória a vila, hoje Município de Vitória da Conquista ).
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