terça-feira, 22 de maio de 2012


Notícia da velha casa de oração
30th/dez/2008 . 12:08 am 

Por Ruy Medeiros
A tradição sobre a origem da primeira casa de oração de Vitória da Conquista é bem conhecida : João Gonçalves da Costa teria prometido a Nossa Senhora a construção de uma igreja se a santa lhe concedesse a vitória numa luta contra os nativos do Sertão da Ressaca.
Dr. Tranquilino Torres, em seu trabalho “O Município da Vitória” (publicado pela primeira vez em 1888) recolheu a tradição, depois repassada por Durval Vieira de Aguiar, que o copia (“Descrições práticas da Província da Bahia”,1888), e por Dr. Francisco Vicente Viana (Memória sobre o Estado da Bahia”, 1893). Outros repetiram a informação que é transmitida de geração após geração.
É muito difícil saber o ano exato da construção da primeira casa de culto em Vitória da Conquista, ou melhor, no Arraial da Conquista . Não demorou muito a existir, após as incursões de Gonçalves da Costa.
Com efeito, uma carta do Intendente Geral do Ouro, João Ferreira Bittencourt, já menciona a existência de uma igreja construída por João Gonçalves da Costa. A carta está datada de 1782 (Documento existente no Arquivo Público do Estado da Bahia). Se houve a promessa mencionada, esta foi cumprida.
Embora, às vezes, se entenda, com base na leitura de Tranquilino Torres e de Francisco Vicente Viana , que a casa de oração tenha sido primitivamente edificada no lugar depois conhecido por “Batalha”, é mais , provável que o prédio tenha sido levantado no local do antigo templo, na praça que hoje tem o nome de Tancredo Neves. È que “Batalha” designava área bem maior do que o espaço ocupado posteriormente pelo velho latifúndio denominado “Fazenda Batalha”. A igrejinha primitiva deve ter sido construída já no “rancho”, ou “arraial” da Conquista.
Realmente, deve ter existido uma construção bem simples, depois substituída por outra maios. A afirmativa feita tem amparo em fontes documentais, pois João Bittencourt, como foi dito, menciona a existência da Igreja e, no entanto, Maximiliano Wied – Neuwied (Maximiliano Alexander Philipp, príncipe de Wied) em 1817, anota a existência, no Arraial da Conquista, “ de trinta a quarenta casas baixas e uma Igreja em construção.” O Príncipe Naturalista informa que “ as famílias do Coronel João Gonçalves da Costa, o capitão – mor Miranda e alguns outros empreenderam a construção da igreja às suas expensas.” (Maximiliano, “ Viagem ao Brasil”).
João Gonçalves da Costa, ao que tudo indica, edificara uma igrejinha. Depois , resolvera (aí já se trata de fato comprovado) pedir autorização para edificar um Oratório público, mais definitivo, maior e oficializado. Isso explica a informação do Intendente do Ouro em contraposição àquela do Príncipe e o fato de o Coronel e sua família pedirem formal autorização eclesiástica para construir o Oratório público, que lhe seria concedida em 1813, pelo Arcebispo, documentalmente.
E é assim: Em 8 de fevereiro de 1813, Dom José de Santa Escolástica Monge da Ordem de São Bento Arcebisbo Metrpolitano de Salvador, mediante provisão, concede ao “Coronel João Gonçalves da Costa e mais moradores do Sertão da Conquista, termo da Vila de Caetité, na Freguesia do Rio Pardo, licença para que possam erigir um Oratório público, ou Casa de Oração, no Arraial da mesma Conquista em atenção a se acharem muitas léguas
distantes da Matriz, e da capela mais vizinha”. A provisão arquiepiscopal dizia ainda que motivava a permissão o objetivo de “poderem cumprir o preceito da Missa, não só o dito Coronel, e sua família, senão também os moradores do mesmo Sertão da Conquista; e nele se poderá administrar os sacramentos, sem prejuízo dos direitos paroquiais; e com a mesma condição poderão estabelecer nele ou fora, cemitério público; no qual depois de bento se poderão sepultar os corpos dos falecidos”. Quanto ao cuidado com o cemitério, o arcebispo ainda recomendava que o lugar fosse “murado ou cercado, e com os sinais característicos de um lugar pio”.
A construção do oratório público foi demorada, pois como já afirmado, Maximiliano o encontrou, não concluído, em 1817.Sua conclusão teria ocorrido em 1823. Porém, já em 1815, cuidou João Gonçalves da Costa de doar a Nossa Senhora da Vitória os terrenos onde se achava edificado o arraial. Era uma forma de garantir materialmente a continuidade da devoção.
Sabe-se, em razão da escritura lavrada perante o Tabelião de Notas (Livro 2, fls. 59 e 60), que em 4 de novembro de 1845, o pintor italiano João Pirasoli foi contratado para ajuntar todas as madeiras da Igreja, internas e externas, e dourar as molduras e esculturas, pelo preço de quatro contos e oitocentos mil Réis, tarefa terminada três anos depois.
Mais de cem anos após a data de início de sua construção, o prédio da Igreja (já então Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória) começou a ruir, em 1918. Rachaduras apareceram nas paredes de fundo e frente, oferecendo riscos aos fiéis freqüentadores.
Por lei datada de 31 de maio de 1919, o Intendente Ascendino dos Santos Melo foi autorizado pelo Conselho Municipal a desapropriar o velho prédio da igreja, “podendo despender até a quantia de vinte contos de Réis”, para demoli-lo e indenizar a Igreja Católica.
A determinação de demolir o prédio causou divergências entre o Poder Executivo local e autoridades religiosas, e somente em 1932, na gestão do Prefeito Arlindo Mendes Rodrigues, a casa de Oração, já Igreja Matriz, foi demolida. Um pouco mais acima do local onde fora edificada, na mesma praça (Rua Grande, Praça da República, hoje Praça Trancredo Neves) foi construído um templo bem maior, em linhas neogóticas – a atual catedral de Nossa Senhora da Vitória, cuja pedra fundamental foi lançada em 15 de agosto de 1932, em missa do Côneco Exupério Gomes.
Tal como o templo anterior, a construção do novo prédio foi demorada. Somente em 1944, acompanhada de Casa Paroquial, considerou-se terminado o trabalho de edificação.
No próximo ano, o gesto do Cônego Exupério Gomes, em cravar na cova do alicerce a pedra fundamental da Igreja Matriz, estará completando 70 anos, enquanto que, em 2003, a autorização arquiepiscopal ao Coronel João Gonçalves da Costa para que este pudesse edificar um Oratório público completará 190 anos. Do velho templo restam lembranças tênues, informações fragmentárias, fotografias… E, aqui, esta notícia.
(Escrito especialmente para o Jornal Hoje, edição comemorativa dos 161 anos de instalação do município da Imperial Vila da Vitória, por força da elevação do distrito da Vitória a vila, hoje Município de Vitória da Conquista ).

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