quarta-feira, 30 de maio de 2012


Novo Rito na Política Conquistense



Ruy Medeiros. (digitado, 04/1999)


Apresentar candidatos a prefeito de Vitória da Conquista sempre foi algo ciosamente assumido pelos grupos locais. Mesmo na época da centralizadíssima ditadura militar, os partidos locais digladiavam internamente na busca do consenso e, quando este não era alcançado, serviam-se das sublegendas (possibilidade que tinha o partido de lançar mais de um candidato ao mesmo cargo eletivo). Mas a sublegenda também aparecia como meio de procurar representar  “fatias” do eleitorado, tendências deste, no processo eleitoral. Afinal de contas, algumas lideranças e alguns grupos consolidaram representatividade (que não podia ser desprezada) junto aos eleitores.
A escolha de pré-candidatos e de candidatos a prefeito era vista como exercício de afirmação do poder local das diversas forças políticas.
Agora, um dos grupos de direita conquistense e um dos senadores da Bahia resolveram instituir novo rito. Quem indica o candidato é o senhor Antonio Carlos Magalhães, um senador da Bahia. Caberá ao partido carlista (na verdade, alguns partidos sem maior fisionomia política) homologar o nome indicado. Localmente, o diretório carlista terá o papel de mero homologador do nome eleitoral.
A mudança de rito não deve ter agradado a todos. Há aqueles que, embora  dasgastados, ainda têm alguma representatividade e necessitam de dar satisfação a fiéis eleitores. Sabe-se que o Vereador Paulo Brito não é um destes insatisfeitos. Desde que tomou posse da presidência da câmara, definiu sua posição: candidato dos grupos de oposição ao Governo municipal é aquele indicado soberanamente pelo Sr. Antonio Carlos Magalhães. Não importa que tenha sido um dos políticos que maior trânsito tenha tido na administração passada. Deixou clara sua posição e é detentor do mérito da clareza, que já é alguma coisa, pois há aqueles que não se definem. O conteúdo da clareza é outra história.
Mas, nem todos se definiram previamente como o Vereador Paulo Brito. Pesa a tradição da história política local. Pesa o necessário gosto pela quota parte no poder de decisão. Destituída da sua historicidade e de seu poder de definir candidatos, os grupos não vêem mais sentido  Diretório para quê?  Quando há ânsia pela participação, nos momentos pré-eleitorais, a participação lhe é suprimida. De definidores passam a homologadores, e  aquelas lideranças ficam insatisfeitas com a mudança do rito de escolha do candidato a prefeito indicado por aquela chefia política. Convergem-se, portanto, duas tendências, a de certos grupos locais de perderem completamente o ânimo de resolverem os problemas políticos no âmbito de Vitória da Conquista, transferindo a decisão para uma liderança de fora do município, e a daquele senador de dominar completamente espaços, centralizando e verticalizando o seu poder de direção política. Realmente, como a trajetória do Sr. Antonio Carlos Magalhães indica, nunca lhe foi bastante a aliança. Ele sempre desejou mais que isso. Acordos e alianças na perspectiva daquele senador servem para destruir ex-aliados, tirando-lhes a representatividade local.
Mas não deixará de haver quem entenda que o gesto daquele senador, em indicar o candidato carlista a prefeito de Vitória da Conquista (passando por cima de seus diretórios), é apenas consequência de uma lógica da política: esta detesta espaço vazio e a direita conquistense tem sido este espaço vazio de liderança e de propostas. Hoje é um espaço que vive na esperança de que a retransmissora de televisão dos familiares daquele senador seja suficiente (com seus programas de visível propaganda a que chama de noticiários) para mudar tendência  de candidato a prefeito. Sabem do preço que se paga pelo desânimo dos correligionários que dizem ”Então, eu não apito nada? Por que devo apoiar quem não escolhi?”  Esse é o preço enorme, porque é o começo da cisão entre lideranças e liderados.
É evidente que o leitor está entendendo o que o articulista quer dizer: Percebe-se que pessoas como Dr. José Pedral ou José William não devem ter  tido a mesma satisfação que o Vereador Paulo Brito e o grupo mais achegado ao Deputado Ivonilton Gonçalves. É evidente que não. São pessoas que construiram sua história política fora do carlismo e que têm espaço próprio (embora reduzido pela ascensão de novas forças e pela crise do pedralismo), mas que a este se aliaram na ilusão de aumentarem seus espaços que hoje vêem reduzidos. Não dá para os mais achegados a Dr. José Pedral disfarçarem o desconforto, assim como não dá para o círculo mais próximo do Deputado Ivonilton Gonçalves conter a alegria: Aquela alegria historicamente bem transitória, porque implica em transferir para outem a decisão, anunciando esvaziamento num futuro próximo. Mas, haveria outra alternativa para o Deputado Ivonilton Gonçalves que ainda não constituiu um espaço maior na política local, já que seu crescimento dependeu de forças vinculadas a Dr. José Pedral?  Interessa uma solução local a quem já possui algum espaço maior, o que não é o caso de Ivonilton Gonçalves.
A mudança de rito, no entanto, teve tremendo efeito: O projeto do deputado Coriolano Sales de, via PMDB, aproximar-se de forças carlistas e tornar-se a opção da direita contra o PT, foi dificultado. Se mantida a mudança de rito, como querem Ivonilton Gonçalves e Paulo Brito, só há duas alternativas: A submissão dos descontentes ou o  “racha” entre carlistas e outros adversários da administração atual do município de Vitória da Conquista. Não há nenhuma razão para que se pense que a situação é de fácil desenlace: Nas eleições imediatamente anteriores o preferido do Sr. Antonio Carlos Magalhães, Dr. Murilo Mármore, recebeu acerbos xingamentos dos partidários do candidato de Dr. Pedral, Sr. Ivonilton Gonçalves. Diziam-se forças do mesmo saco, mas competiram acerbamente. Mesmo alguns candidatos à vereança não apoiaram o candidato a prefeito definido pelo diretório de seu partido. Essas divergências ainda estão atuantes e o pior para a direita é que essas divergências aumentaram, quer em função do atual perfil de atuação do deputado Ivonilton Gonçalves, quer porque (dentre outras coisas) certas lideranças já históricas que recém aproximaram do carlismo, como José William, cresceram. Declarações feitas pela ex-deputada Margarida Oliveira contra o estilo do deputado Ivonilton Gonçalves bem demonstram que as próprias forças que o apoiaram não convivem tranquilamente no remanso da fisiologia carlista. Qual o peso da Dra. Margarida nisso tudo?
Tudo indica que será muito difícil coesionar a direita em torno de um único candidato. Isso significaria a aceitação de um status degradado para certos grupos – anúncio prévio de sua morte ou, no mínimo, situação de sobras de um quarto de despejo.
Antropólogos (principalmente os estruturalistas) costumam dizer que o rito corresponde ao mito. Se, forçando a barra, se pudesse aplicar essa  “lei”  à situação local o mito seria o do carlismo e de sua invencibilidade. A mudança de rito seria a adoção do mito do carlismo vencedor. Mas esse mito é realmente mito. Muitas vezes Antonio Carlos Magalhães foi batido nas urnas em Vitória da Conquista e já sofreu massacrante derrota no Estado da Bahia. Nas eleições municipais passadas o carlismo não demonstrou nenhum peso considerável. Então a mudança do rito pode muito bem redundar na adoção de um mito mítico (se me permitem a aceitável redundância). Mas, da união dos carlistas históricos ou recentes, orgânicos ou aliados, surgirá dor e ranger de dentes dentre os preteridos. E, é importante dizer, está desprestigiada com a mudança sobretudo exatamente parte daqueles que apoiaram o deputado. É um campo minado, entre a casa do sem jeito e o sem jeito dos moradores: o que é a mesma coisa – ou mesmissimo fato de uma direita sem rumo. Se união estável  costuma ser desfeita, imagine-se o destino da união instável de Pedral, Margarida, Ivonilton, Coriolano, José William, Juvenalito, Clóvis Assis, etc. etc.
E-mail: medeiros@mgate.com.br

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