Novo Rito na Política Conquistense
Ruy Medeiros. (digitado, 04/1999)
Apresentar candidatos a prefeito de Vitória da
Conquista sempre foi algo ciosamente assumido pelos grupos locais. Mesmo na
época da centralizadíssima ditadura militar, os partidos locais digladiavam
internamente na busca do consenso e, quando este não era alcançado, serviam-se
das sublegendas (possibilidade que tinha o partido de lançar mais de um
candidato ao mesmo cargo eletivo). Mas a sublegenda também aparecia como meio
de procurar representar “fatias” do
eleitorado, tendências deste, no processo eleitoral. Afinal de contas, algumas
lideranças e alguns grupos consolidaram representatividade (que não podia ser
desprezada) junto aos eleitores.
A
escolha de pré-candidatos e de candidatos a prefeito era vista como exercício
de afirmação do poder local das diversas forças políticas.
Agora,
um dos grupos de direita conquistense e um dos senadores da Bahia resolveram
instituir novo rito. Quem indica o candidato é o senhor Antonio Carlos Magalhães,
um senador da Bahia. Caberá ao partido carlista (na verdade, alguns partidos
sem maior fisionomia política) homologar o nome indicado. Localmente, o
diretório carlista terá o papel de mero homologador do nome eleitoral.
A
mudança de rito não deve ter agradado a todos. Há aqueles que, embora dasgastados, ainda têm alguma
representatividade e necessitam de dar satisfação a fiéis eleitores. Sabe-se
que o Vereador Paulo Brito não é um destes insatisfeitos. Desde que tomou posse
da presidência da câmara, definiu sua posição: candidato dos grupos de oposição
ao Governo municipal é aquele indicado soberanamente pelo Sr. Antonio Carlos
Magalhães. Não importa que tenha sido um dos políticos que maior trânsito tenha
tido na administração passada. Deixou clara sua posição e é detentor do mérito
da clareza, que já é alguma coisa, pois há aqueles que não se definem. O
conteúdo da clareza é outra história.
Mas,
nem todos se definiram previamente como o Vereador Paulo Brito. Pesa a tradição
da história política local. Pesa o necessário gosto pela quota parte no poder
de decisão. Destituída da sua historicidade e de seu poder de definir
candidatos, os grupos não vêem mais sentido
Diretório para quê? Quando há
ânsia pela participação, nos momentos pré-eleitorais, a participação lhe é
suprimida. De definidores passam a homologadores, e aquelas lideranças ficam insatisfeitas com a
mudança do rito de escolha do candidato a prefeito indicado por aquela chefia
política. Convergem-se, portanto, duas tendências, a de certos grupos locais de
perderem completamente o ânimo de resolverem os problemas políticos no âmbito
de Vitória da Conquista, transferindo a decisão para uma liderança de fora do
município, e a daquele senador de dominar completamente espaços, centralizando e
verticalizando o seu poder de direção política. Realmente, como a trajetória do
Sr. Antonio Carlos Magalhães indica, nunca lhe foi bastante a aliança. Ele
sempre desejou mais que isso. Acordos e alianças na perspectiva daquele senador
servem para destruir ex-aliados, tirando-lhes a representatividade local.
Mas
não deixará de haver quem entenda que o gesto daquele senador, em indicar o
candidato carlista a prefeito de Vitória da Conquista (passando por cima de
seus diretórios), é apenas consequência de uma lógica da política: esta detesta
espaço vazio e a direita conquistense tem sido este espaço vazio de liderança e
de propostas. Hoje é um espaço que vive na esperança de que a retransmissora de
televisão dos familiares daquele senador seja suficiente (com seus programas de
visível propaganda a que chama de noticiários) para mudar tendência de candidato a prefeito. Sabem do preço que
se paga pelo desânimo dos correligionários que dizem ”Então, eu não apito nada?
Por que devo apoiar quem não escolhi?”
Esse é o preço enorme, porque é o começo da cisão entre lideranças e
liderados.
É
evidente que o leitor está entendendo o que o articulista quer dizer:
Percebe-se que pessoas como Dr. José Pedral ou José William não devem ter tido a mesma satisfação que o Vereador Paulo
Brito e o grupo mais achegado ao Deputado Ivonilton Gonçalves. É evidente que
não. São pessoas que construiram sua história política fora do carlismo e que
têm espaço próprio (embora reduzido pela ascensão de novas forças e pela crise
do pedralismo), mas que a este se aliaram na ilusão de aumentarem seus espaços
que hoje vêem reduzidos. Não dá para os mais achegados a Dr. José Pedral
disfarçarem o desconforto, assim como não dá para o círculo mais próximo do
Deputado Ivonilton Gonçalves conter a alegria: Aquela alegria historicamente
bem transitória, porque implica em transferir para outem a decisão, anunciando
esvaziamento num futuro próximo. Mas, haveria outra alternativa para o Deputado
Ivonilton Gonçalves que ainda não constituiu um espaço maior na política local,
já que seu crescimento dependeu de forças vinculadas a Dr. José Pedral? Interessa uma solução local a quem já possui
algum espaço maior, o que não é o caso de Ivonilton Gonçalves.
A
mudança de rito, no entanto, teve tremendo efeito: O projeto do deputado
Coriolano Sales de, via PMDB, aproximar-se de forças carlistas e tornar-se a
opção da direita contra o PT, foi dificultado. Se mantida a mudança de rito,
como querem Ivonilton Gonçalves e Paulo Brito, só há duas alternativas: A submissão
dos descontentes ou o “racha” entre
carlistas e outros adversários da administração atual do município de Vitória
da Conquista. Não há nenhuma razão para que se pense que a situação é de fácil
desenlace: Nas eleições imediatamente anteriores o preferido do Sr. Antonio
Carlos Magalhães, Dr. Murilo Mármore, recebeu acerbos xingamentos dos
partidários do candidato de Dr. Pedral, Sr. Ivonilton Gonçalves. Diziam-se
forças do mesmo saco, mas competiram acerbamente. Mesmo alguns candidatos à
vereança não apoiaram o candidato a prefeito definido pelo diretório de seu
partido. Essas divergências ainda estão atuantes e o pior para a direita é que
essas divergências aumentaram, quer em função do atual perfil de atuação do
deputado Ivonilton Gonçalves, quer porque (dentre outras coisas) certas
lideranças já históricas que recém aproximaram do carlismo, como José William,
cresceram. Declarações feitas pela ex-deputada Margarida Oliveira contra o
estilo do deputado Ivonilton Gonçalves bem demonstram que as próprias forças
que o apoiaram não convivem tranquilamente no remanso da fisiologia carlista.
Qual o peso da Dra. Margarida nisso tudo?
Tudo
indica que será muito difícil coesionar a direita em torno de um único
candidato. Isso significaria a aceitação de um status degradado para certos
grupos – anúncio prévio de sua morte ou, no mínimo, situação de sobras de um
quarto de despejo.
Antropólogos
(principalmente os estruturalistas) costumam dizer que o rito corresponde ao
mito. Se, forçando a barra, se pudesse aplicar essa “lei”
à situação local o mito seria o do carlismo e de sua invencibilidade. A
mudança de rito seria a adoção do mito do carlismo vencedor. Mas esse mito é
realmente mito. Muitas vezes Antonio Carlos Magalhães foi batido nas urnas em
Vitória da Conquista e já sofreu massacrante derrota no Estado da Bahia. Nas
eleições municipais passadas o carlismo não demonstrou nenhum peso
considerável. Então a mudança do rito pode muito bem redundar na adoção de um
mito mítico (se me permitem a aceitável redundância). Mas, da união dos
carlistas históricos ou recentes, orgânicos ou aliados, surgirá dor e ranger de
dentes dentre os preteridos. E, é importante dizer, está desprestigiada com a
mudança sobretudo exatamente parte daqueles que apoiaram o deputado. É um campo
minado, entre a casa do sem jeito e o sem jeito dos moradores: o que é a mesma
coisa – ou mesmissimo fato de uma direita sem rumo. Se união estável costuma ser desfeita, imagine-se o destino da
união instável de Pedral, Margarida, Ivonilton, Coriolano, José William,
Juvenalito, Clóvis Assis, etc. etc.
E-mail:
medeiros@mgate.com.br
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