Não será Exagero?
Ruy
Medeiros. (Digitado 03/1999
Nome de aeroporto, nome de fundação, nome-memorial, nome de rua, nome de
várias escolas, nome de distrito. Febre de homenagem.
Pareceu a alguns que o deputado morto merecia ter seu nome posto em
substituição à homenagem, antes feita, à
data histórica símbolo da Bahia - o 2 de julho que batizava o Aeroporto
Internacional. Então de “2 de julho”, o aeroporto passou a ter o nome do deputado.
Não importa que desde a infância o baiano fosse educado para reverenciar as
lutas pela independência do Brasil na Bahia, culminada pelo “2 de julho”,
ou que a data, pela importância que sempre lhe fora dada, merecesse
comemoração anual. Não. A luta sangrenta e simbólica passou a não merecer mais
a homenagem: deputados entenderam que “
um valor mais alto se alevanta”.
Depois a homenagem seguiu-se. Homenagem sim, pois as homenagens
parecem-me uma única homenagem, em vários atos, no rito de seu desenrolar.
Alguma coisa que pode parecer inconveniente é esquecida: Só méritos. Nada como
lembrar o apoio ao regime militar, o apoio ao Governo Collor, ou às medidas
contra trabalhadores e aposentados. Homenagem em vários atos, com motivações
diferenciadas.
Não importa, para alguns, que o Estado da Bahia ou sua capital sejam
pobres. O custoso memorial ao deputado deveria sair, mesmo que seu valor fosse
o valor com que obras sociais pudessem ter sobrevida.
Já são muitas as homenagens. As últimas, que marcaram a proximidade do
aniversário, forem nomes a “colégios” e
nome a um distrito.
Como é de conhecimento geral, a gauchada (nada contra os gaúchos)
conseguiu da Câmara Municipal de Barreiras trocar o nome do distrito de “Mimoso do Oeste” pelo nome do deputado
morto. Dizem que imaginaram que será mais fácil emancipar aquele distrito
(tornando-o município autônomo) com o atual nome. Vá lá!
Ora, ninguém na Bahia foi tão homenageado. Nem os homens símbolos (assim
imaginados por muitas gerações) Ruy Barbosa e Castro Alves, na Bahia. Talvez
Ruy Barbosa o tivesse sido, porém ao longo de tempo extenso, quando se entendeu
que seu “valor” estava consolidado. Não
de vez.
A impressão que a coisa dá, é que a homenagem dirige-se ao pai. Haverá
evidentemente correligionários sinceros, com identidade política e de
propósitos, que julgam justa a homenagem que propuseram aqui e ali. Afinal, o
deputado possuia amigos e admiradores. Mas, muito do que é feito tem tido o
significado de homenagem ao pai, que dizem ser homem poderoso. Algo como
cortejar o pai com o nome do filho. Algo como expressão da subserviência que
tem marcado os políticos carreiristas baianos em relação ao pai do deputado.
É preciso cautela em certas coisas.
Em tese ( não me refiro ao caso ora concreto), às vezes a homenagem sai
pelo contrário, por sua falta de sinceridade. Em matéria de homenagem, há
aquelas espontâneas e há sempre aquelas pensadas com objetivos que vão além do
homenageado. Alguma coisa como “faturar”
com a memória.
Não há dúvida de que há muito de exagero nesses ritos de homenagem que
espoucam aqui, ali e acolá, já capazes de insinuar que a homenagem vai além do
que é manifesto, além.
Esse quase monopólio do nome em bens públicos recentes do Estado da
Bahia, já não será exagero? E mais, será merecido?
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