O Rio Pardo
11th/jan/2009 . 7:28 pm
Artigo escrito em março de 1999
Ruy Medeiros
Retorna a história do barramento do rio Pardo em Inhobim. Agora, de
forma mais articulada.
Não se trata de restaurar o sonho do “velho” Edson Fernandes, que queria
a produção de energia a partir da “cachoeira de Inhobim”. Nem de saber onde
ficaram finalmente os cr$ 10.000.000 que, dizem, foram liberados para
construção da pequena hidrelétrica na década de 60. Tampouco se imagina a
implantação de barragem cujos estudos iniciais foram feitos por empresa
contratada pela coelba.
Agora, a reivindicação de barramento do rio vem vestida e calçada com
dois objetivos: a) Irrigação agrícola, b) fornecimento de água potável à
população e à agroindústria (futura).
O rio Pardo é um grande rio: sua extensão é medida em 565 Km. Percorre
parte do Estado de Minas Gerais (220 Km) e parte do Estado da Bahia (345 Km).
Suas nascentes estão no Município de Rio Pardo (MG), próximo de limites com
Monte Azul, a uma altitude de 880 m. Entra na Bahia, na localidade de Porto de
Santa Cruz, Município de Cândido Sales. Aí defronte encontra-se um ponto de
amarração de limites da Bahia com Minas Gerais: A barra do rio Mosquito, no rio
Pardo, no lado mineiro. Depois de percorrer vasta extensão na Bahia, onde sua
bacia drena área de 32.905 Km2, o Pardo deságua no Oceano Atlântico, na praia
do município de Canavieiras.
Aquele rio transpõe região que apresenta diversidade climática, de
relevo e de vegetação. Com efeito, a região por ele atravessada apresenta
basicamente três faixas climáticas: do quente úmido, ao quente semi-úmido ao
semi-árido; recorta unidade de relevo caracterizada como de planalto (chapada)
e drena igualmente planície. Suas águas passam por terrenos onde a vegetação é
de cerrado propriamente dito, de caatinga, de mata-cipó/ecótono cerrado e de
Mata Atlântica (pouco resta desta).
As terras banhadas pelo rio Pardo foram o país de diversos grupos
indígenas, dentre os quais os Maxacalis (inclusive os de dialeto Pataxó,
Kutaxós e Monoxós), os Aymorés (“ Imborés”), os Kamakã (inclusive Mongoyós). Aí
foram dizimados de 1750 até o presente século. Aí sofreram fome e guerra.
Admite-se que os primeiros não índios a percorrerem parte do rio Pardo
foram os integrantes de uma “bandeira” chefiada por Francisco Bruza de Espinosa
da qual participara o Pe. João Aspilcueta Navarro, que partiu de Porto Seguro,
em 1553. O rio Pardo seria o mesmo “rio das Ourinas” mencionado por aquele
prelado. Depois, Dâmaso de Pina foi encarregado de verificá-lo, no primeiro
quartel do século XVIII. De 1725 é a bandeira que deveria reconhecer as terras
banhadas pelo Pardo, dirigida por André da Rocha Pinto, com objetivo de
encontrar ouro, combater índios de “língua travada”, destruir quilombos (se
existissem), criar povoados e assentar fazendas de gado. É dessa bandeira,
organizada por Pedro Leolino Mariz, dirigida por A. Rocha Pinto, que tem início
a Conquista do Sertão de Ressaca. No entanto, desde 1698 as terras de suas
cabeceiras passaram a ser povoadas, a partir de entrada feita por Antonio Luis
do Passo, que alí teve fazenda acompanhado de alguns moradores. A região passou
a ser habitada sobretudo após a abertura de estrada para a Bahia (antes a
estrada da Bahia a Minas Gerais seguia margem do rio São Francisco).
João Gonçalves da Costa percorreu o rio desde a Barra da Vereda
(Inhobim) até a foz, em Canavieiras, em 1806, de cuja viagem deixou a “Memória
Sumária Compendiosa”. Também do século passado é uma expedição de iniciativa da
Câmara de Vereadores da Vila do Rio Pardo que percorreu o rio de suas
cabeceiras à foz. Depois, outros subiram ou desceram pelo rio Pardo, inclusive
Robert Avé-Lallemant, em 1859, que seguiu da foz até às corredeiras em
Potiraguá.
Nos mapas antigos, o rio Pardo aparece com o nome de rio dos Cosmes, ou
dos Cosmos, e, depois, com o nome de rio Potype. Durante muitos anos, na costa
era chamado de Potype e no sertão era já chamado de Pardo.
Em Inhobim, já no início do século XIX, havia a Fazenda Vereda, com sua
gleba “Barra da Vereda”, de Antonio Ferreira Campos, área produtora de gêneros
de subsistência, de algodão, e de criação de gado. Aí, na Barra da Vereda, eram
explorados depósitos de sal, especialmente quando crise de distribuição deste
se instalava.
Agora, fala-se de novo no barreamento do rio Pardo, em Inhobim (já há
grande barragem do Pardo em território mineiro).
Todo e qualquer trabalho de conservação de água no Planalto de Conquista
deve ser estimulado. O planalto é grandemente ressecado. Muitos de seus rios e
riachos desapareceram ou perderam volume d’água, inclusive alguns afluentes do
Pardo. Necessário que, de logo, se estabeleça política e prática de conservação/preservação
de rios. É de fundamental importância que sejam realizados trabalho com
objetivo de perenização dos rios do planalto.
O rio Pardo, a partir de Cândido Sales aumenta sua declividade, que
chega a ser espantosa à medida que se aproxima do marçal para atingir os
“patamares de acesso ao planalto”. Para a técnica atual é possível trabalhar
com a declividade, porém o que se indaga é se esta permitirá uma lâmina d’água
em largura e comprimento compensatórios. Também ocorre a indagação se a altitude
do local (Inhobim) apresenta solução que compense estações elevatórias para
distribuição de água até a cidade de Vitória da Conquista. Quanto à irrigação,
como ficará a questão da salinidade? E a contaminação de água por defensivos
agrícolas? O tipo de vale é impeditivo de larga lâmina de água? Enfim, – E a
regularização fundiária das terras que serão atingidas? E o impacto ambiental?
São indagações de um leigo. É evidente que, do ponto da ciência e de técnica
existem soluções. Mas há outras soluções?
Então o debate já está aberto e ganha espaços.
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