O Rio
Pardo
Ruy
Medeiros.(Digitado, 05/2004)
Retorna a história do barramento do rio Pardo em Inhobim. Agora , de
forma mais articulada.
Não se trata de restaurar o sonho do “velho” Edson Fernandes, que queria a
produção de energia a partir da
“cachoeira de Inhobim”. Nem de saber onde ficaram finalmente os cr$ 10.000.000 que, dizem, foram liberados
para construção da pequena hidrelétrica na década de 60. Tampouco se imagina a
implantação de barragem cujos estudos iniciais foram feitos por empresa contratada
pela coelba.
Agora, a reivindicação de barramento do rio
vem vestida e calçada com dois
objetivos: a) Irrigação
agrícola, b) fornecimento de água potável à população e à agroindústria
(futura).
O rio Pardo é um grande rio: sua extensão é medida
em 565 Km .
Percorre parte do Estado de Minas Gerais (220 Km ) e parte do Estado da
Bahia (345 Km ).
Suas nascentes estão no Município de Rio Pardo (MG), próximo de limites com
Monte Azul, a uma altitude de 880
m . Entra na Bahia, na localidade de Porto de Santa Cruz, Município de Cândido
Sales. Aí defronte encontra-se um ponto de amarração de limites da Bahia com
Minas Gerais: A barra do rio Mosquito, no rio Pardo, no lado mineiro. Depois de
percorrer vasta extensão na Bahia, onde sua bacia drena área de 32.905 Km2, o Pardo deságua no Oceano Atlântico, na praia
do município de Canavieiras.
Aquele rio transpõe região que apresenta
diversidade climática, de relevo e de vegetação. Com efeito, a região por ele
atravessada apresenta basicamente três faixas climáticas: do quente úmido, ao
quente semi-úmido ao semi-árido; recorta unidade de relevo caracterizada como
de planalto (chapada) e drena igualmente planície. Suas águas passam por
terrenos onde a vegetação é de cerrado propriamente dito, de caatinga, de
mata-cipó/ecótono cerrado e de Mata Atlântica (pouco resta desta).
As terras banhadas pelo rio Pardo foram o país de
diversos grupos indígenas, dentre os quais os Maxacalis (inclusive os de
dialeto Pataxó, Kutaxós e Monoxós), os Aymorés (“ Imborés”), os Kamakã (inclusive
Mongoyós). Aí foram dizimados de 1750 até o presente século. Aí sofreram fome e
guerra.
Admite-se que os primeiros não índios a percorrerem
parte do rio Pardo foram os integrantes de uma
“bandeira” chefiada por Francisco Bruza de Espinosa da qual participara
o Pe. João Aspilcueta Navarro, que partiu de Porto Seguro, em 1553. O rio Pardo
seria o mesmo “rio das Ourinas”
mencionado por aquele prelado. Depois, Dâmaso de Pina foi encarregado de
verificá-lo, no primeiro quartel do século XVIII. De 1725 é a bandeira que
deveria reconhecer as terras banhadas pelo Pardo, dirigida por André da Rocha
Pinto, com objetivo de encontrar ouro,
combater índios de “língua travada”, destruir quilombos (se existissem), criar
povoados e assentar fazendas de gado. É dessa bandeira, organizada por Pedro
Leolino Mariz, dirigida por A. Rocha Pinto, que tem início a Conquista do
Sertão de Ressaca. No entanto, desde 1698 as terras de suas cabeceiras passara m a ser povoadas, a partir de entrada feita por
Antonio Luis do Passo, que alí teve fazenda acompanhado de alguns moradores. A
região passou a ser habitada sobretudo após a abertura de estrada para a Bahia
(antes a estrada da Bahia a Minas Gerais
seguia margem do rio São Francisco).
Nos mapas antigos, o rio Pardo aparece com o nome
de rio dos Cosmes, ou dos Cosmos, e, depois, com o nome de rio Potype. Durante
muitos anos, na costa era chamado de Potype e no sertão era já chamado de
Pardo.
Em Inhobim, já no início do século XIX, havia a
Fazenda Vereda, com sua gleba “Barra da
Vereda”, de Antonio Ferreira Campos,
área produtora de gêneros de subsistência, de algodão, e de criação de gado.
Aí, na Barra da Vereda, eram explorados depósitos de sal, especialmente quando
crise de distribuição deste se instalava.
Agora, fala-se de novo no barreamento do rio Pardo,
em Inhobim (já há grande barragem do
Pardo em território mineiro).
Todo e qualquer trabalho de conservação de água no
Planalto de Conquista deve ser estimulado. O planalto é grandemente ressecado.
Muitos de seus rios e riachos desapareceram ou perderam volume d’água, inclusive
alguns afluentes do Pardo. Necessário que, de logo, se estabeleça política e
prática de conservação/preservação de rios. É de fundamental importância que
sejam realizados trabalho com objetivo de perenização dos rios do planalto.
O rio Pardo, a partir de Cândido Sales aumenta sua
declividade, que chega a ser espantosa à medida que se aproxima do marçal para
atingir os “patamares de acesso ao
planalto”. Para a técnica atual é possível trabalhar com a declividade, porém o
que se indaga é se esta permitirá uma lâmina
d’água em largura e comprimento
compensatórios. Também ocorre a indagação se a altitude do local (Inhobim)
apresenta solução que compense estações elevatórias para distribuição de água
até a cidade de Vitória da Conquista. Quanto à irrigação, como ficará a questão
da salinidade? E a contaminação de água por defensivos agrícolas? O tipo de
vale é impeditivo de larga lâmina de água? Enfim, - E a regularização fundiária das terras que
serão atingidas? E o impacto ambiental?
São indagações de um leigo. É evidente que, do ponto da ciência e de
técnica existem soluções. Mas há outras soluções?
Então o debate já está aberto e ganha espaços.
Nenhum comentário:
Postar um comentário