quarta-feira, 30 de maio de 2012


Políticos

Ruy Medeiros (Digitado, 04/1999)



                        A política é inevitável. Uma teia envolvente, que diz respeito às relações de poder, perpassa a sociedade e se traduz em organização, direito, ideologia, etc.
                        Produto de certo tipo de economia, a política termina por potenciá-la e melhor organizá-la diante de necessidades estratégicas. Inevitável e abrangente, a política enquanto atividade contamina a todos, mesmo àquele a quem Brecht chamou de analfabeto político.
                        Há mil e tantas formas de fazer política. O fazer política nunca é neutro. Sempre pressupõe escolhas. Mas pode ser ético ou não.
                        Na vida política burguesa há um tipo de político que costuma ganhar espaço e que, por alguns interesses bem localizados, os meios de comunicação privilegiam, considerando-os “combativos” ou “polêmicos”. Certas qualidades negativas são lidas positivamente. E essa leitura positiva da negatividade, exaustivamente trabalhada, termina por arrebanhar votos e eleitores e passa por ser o principal mecanismo de reprodução do poder pessoa daquele político. Sua “pessoalidade” é carregada de ideologia, mas esta pretende esconder-se sob diversos títulos, inclusive o título de defesa do bem coletivo, por manipulação (interesses de um grupo, ou da classe dominante são traduzidos como “bem comum”).
                        Esse tipo de político burguês transforma a arena de combate político em um campo de batalha pessoal. Para ficar em evidência, lhe é importante travar a luta política como uma luta contra uma pessoa determinada. E quanto mais rancor colocar em sua atuação, melhor acredita que desempenha o seu mandato. Pouco lhe importam os grandes problemas: Tudo é submetido a seu interesse pessoal. Veste este interesse com outras motivações. É como se, inimigo do bodegueiro da esquina, passasse a acusá-lo da inflação, da dívida externa, da exploração generalizada. Medíocre, a sua ascensão política depende do “rancor oportuno” e este, na vida política burguesa funciona: Não se conhece um discurso brilhante, uma exposição de ideário sério, uma análise, um pronunciamento profundo sobre uma questão fundamental por parte desse tipo de político, mas ele sobrevive, repete-se, e para exercitar seu extremo personalismo, muda de barco rancorosamente, estrepitosamente, com ruídos, sob mil justificativas que não a verdadeira: o rancor pessoal como estratégia ideológica na luta pelo poder, ou pela conservação deste.
                        Esse político coloca interesses pessoais sobre os interesses sociais, porém tem o cuidado de: a) desqualificar as propostas do adversário; b) vestir de roupagem supostamente moral o seu combate. Se algum grupo, na sociedade, é importante para sua perpetuação no mandato, ou no cargo, aquele grupo passa a encarnar o interesse social. Com que facilidade o “interesse do povo” passa a ser igual ao “interesse de um grupo econômico”, ou de um segmento da economia. A arte da inversão é um campo vasto.
                        Esse político não tem um programa. Sua atuação pessoal prende-se na ideologia e no fazer político próprios da burguesia. A sua incoerência - quando vistas as suas mutações de partidos e de palanques - é escondida por um traço de sua maneira de agir: a polêmica e a combatividade. Ou seja, sob o manto de seu combate rancoroso e sob a capa de seus xingamentos (lidos como polêmica), esse político esconde sua incoerência, seu profundo oportunismo.
                        Certas questões como lealdade ou solidariedade não apresentam valor para esse político. Salta do banco do correligionário, ou porque este está afundando, ou porque não foi contemplado em qualquer pleito eminentemente pessoal. E será sempre fácil justificar com suposta moralidade ou com suposto descumprimento de compromissos maiores. O importante aí é mascarar a motivação pessoal. Por oportunismo, alia-se transitoriamente entre fileiras antes adversárias e se aí ficar confortável ou encontrar espaço para seus rancores e interesses, muda com armas e bagagem. Aí, então, reinterpreta fatos, repudia ex-partidários, nega participação em atos, etc., etc.
                        Esse tipo de político, como se vê, por oportunismo extremo, por vingança, por despeito ou rancor, não tem limites: Se for preciso fica honesto. “Honesto” por simples velhacaria. Naquele momento ele lucra mais sendo honesto. Fica mais em evidência. Defende um valor. Apaga possíveis manchas, ou assim pensa fazê-lo.
                        Este é o momento de gloria desse tipo de político: Sua oportunidade de ser honesto. Repete-se, honesto por velhacaria. Então requer comissões de inquérito, pede punição, persegue os “desonestos”, torna-se arauto da moralidade e se diz defensor supremo dos humildes e ofendidos. Enfim, um honesto defensor dos interesses públicos. Aquele “bom” combate lhe é agora conveniente. Mas não é ética esta honestidade por velhacaria.
                        Qualquer semelhança não é mera coincidência.


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