terça-feira, 22 de maio de 2012


Olhar sobre a serra do Piripiri
25th/jan/2009 . 1:26 pm 

Ruy Medeiros
(Para Valter Rocha, que ama e conhece a serra).
O nome é tupi, embora a terra tenha sido Kamakã-Mongoyó: Piripiri significa junco. Na região há alguns juncos: Tabúa, taquara, taquarinha, criciúma. Piripiri é como se fosse muito junco, juncal, ou muita taquara, taquaral. Em língua tupi a repetição do substantivo dá-lhe o significado de aumentativo, multiplicação, maior frequência. Uma extensão de piri é piripiri. A palavra piripiri foi incorporada à língua portuguesa com os dois significados: o de junco, taquara, tabúa ou o de brejo. Em alguns lugares persiste apenas o significado de brejo com vegetação de um dos tipos de junco ( tabúa, principalmente), para a palavra piripiri. Ocorreu, assim, u’a metonímia ( no sentido diacrônico, como o termo é aplicado para indicar mudança de significado da palavra pela semântica histórica) (1).
Em nossa região há vários sítios com o nome de piripiri. O sítio da cidade de Planalto chamava-se Piripiri Grande; há o Piripirizinho ou Piripiri Pequeno na encosta noroeste da serra do Piripiri; há outro Piripiri em Iguá, e outros mais. Enfim, há muitos sítios que derivaram seu nome de um piripiri, isto é, de um brejo, com tabúa geralmente.
A serra do Piripiri é, no dizer de Alfredo José Porto Domingues, um monadnock alongado, que é remanescente ( “testemunho”) de uma superfície mais antiga (2). É que todo o planalto da Conquista representa uma superfície de erosão e seus monadnocks “testemunham” de certa forma como era a superfície anterior (3).
A vegetação ora é simplesmente uma vegetação rasteira (gramas, Sianinha, Palito-de-doutor, musgos, etc), ora de pequeno porte (Cambui, Araça-mirim, Azedinha, etc), arbustiva, ou composta de espécies presentes em Mata-de-Cipó ou em “Carrasco”. A parte de Mata de Cipó ou a de carrasco é vegetação decídua ou parcialmente decídua. A principal formação está no “Poço Escuro”, próximo da crista da serra, nascente do rio Verruga até parte do vale. Aí está a vegetação de maior porte da serra.
Há alguns minadouros na serra, dentre os quais o “Poço Escuro” (nascente do rio Verruga), o “Bebedouro da Toca da Onça”, o “Olho d ‘Água do Benedito”, etc. Estes minadouros resultam do rastejamento lento do solo de cima para baixo ( ( “creep”, ou cripe), que abriu partes na serra, escavando-a (4).
A serra do Piripiri historicamente é porta de entrada para o local onde foi edificada a cidade de Vitória da Conquista. Por aí entraram os invasores da terra Mongoyó. Vieram do rio das Contas ao rio Gavião e deste para o riacho do Gado Bravo, até a encosta da serra e daí até o vale do riacho da Vitória (rio Verruga, rio do Poço Escuro).
Na encosta norte/noroeste, teria ocorrido a Guerra de 1753 e o sítio ficou conhecido com o nome de Batalha, depois fazenda Batalha – um latifúndio apossado por João Gonçalves da Costa e, depois, de propriedade de seus descendentes. Em 1857 já estava fracionado.
O latifúndio Batalha, no encosta norte/noroeste e em seu sopé, englobava diversas glebas, dentre as quais o Piripirizinho, e teve importância: Terra de alguma água (na encosta nasce o Bebedouro da Toca da Onça, por exemplo), e de controle da parte inicial do caminho para Minas do Rio das Contas. Foi latifúndio pecuário e policultor de subsistência.
A serra do Piripiri geralmente é tida como toda a faixa que está acima de 1.000 metros de altitude ( o ponto mais alto fica em 1.095 metros ou bem pouco mais). Porque não se considera a serra como espaço a partir de 900 metros de altitude? – É que a serra situa-se num planalto e só se destaca a partir de 1.000 metros, além de que sua encosta, sobretudo aquela voltada para a cidade, é muito suave, porisso longa. O quarto degrau de acesso à Igreja Matriz, na Praça Tancredo Neves, está em altitude de 927 metros. Descamba a serra do Piripiri de uma altitude de até 1.095 metros (ou um pouquinho mais) suavemente e é em sua falda que foi edificada a cidade de Vitória da Conquista, antes Imperial Vila da Vitória, Distrito da Vitória, Arraial de N.S. da Vitórial, Arraial da Conquista.
Embora em muitas cidades os ricos prefiram a serra, aqui os ricos preferiram morar na falda. A serra tornou-se morada de pobres.
A serra do Piripiri foi (e ainda é) fonte de materiais com que a cidade foi construída. Aí há jazidas de pedra, areia fina e de areia grossa. “Areia da Serra” é nome bem conhecido entre pedreiros, seus ajudantes e construtores de casas. Aí, a partir de certo momento, homens começaram a fazer “brita” e vendê-la em porções medidas a latas de 20 litros. Não é errado dizer que quase toda casa conquistense guarda um pedaço da serra do Piripiri.
A serra forneceu égua com que, durante muito tempo, os moradores subsistiram: Aí nasce o “Verruga”, no “Poço Escuro”, ou o que os habitantes do centro da cidade chamavam “O rego”.
A serra fornecia lenha e gravetos (fonte de energia) e ainda os fornece, embora em menor quantidade. A serra foi local de lazer: piquiniques, caçada de passarinhos ou de calangos.
A serra participava (de certa forma ainda o faz) da cultura do Natal: Para a composição (“armação”) do presépio, a serra do Piripiri fornecia a areia, os “lodos”, o Gravatá, a “Cabeça de Frade”, Palitos-de Doutor…
A serra fornecia à criançada (sobretudo a esta) seus frutos: Garapiá, Olho de Boi, Araça-mirim, Murta, Azedinha, Azeitona Silvestre, Cambuí, Guabirabinha…
A serra foi ponto de romaria: Bem cedo alí foi alçado um “cruzeiro” de madeira (substituído nos anos 60 por um cruzeiro de cimento, um pouco abaixo do anterior).
O arraial de João Gonçalves da Costa cresceu e virou cidade, encompridando-se pelas margens tortuosas do Verruga e pelas beiradas dos caminhos. A serra não seria exceção. Bem cedo a serra fora ferida por estradas, ou caminhos. A estrada do Choça, um dos caminhos mais antigos (seria verdade que aí ficava a “pedra do conselho” dos Mongoyós?), a estrada do Gavião ( ou para o Gavião), os caminhos de São Bernardo e da Preguiça, e, em 1926, a estrada de rodagem de Conquista a Jequié (início na rua da Corrente -, “corrente onde era pago o pedágio), estrada das boiadas…
Na beira da estrada para Jequié e na estrada para o Choça surgiram pouquíssimas casas. Mas, depois, perpendiculares às estradas Conquista a Jequié e das boiadas surgiram parcelamentos: Na década de 50, o “Loteamento Universitário” (Giovani Binelli e Iris Silveira), depois o Alto São João ( José Viana de Jesus e Maria Vitória de Jesus), Nossa Senhora da Vitória (Antonio Santos Ferraz) a ampliação do Alto Maron, o Bairro Bonfim (Edgar Celino) etc. O terço superior da encosta começou a ser ocupado e o limite do leito da antiga estrada para Jequié ( rua da Corrente) foi ultrapassado. Manoel dos Santos (Manoel do Rádio) e outros apossaram-se de áreas e começaram a vender parcelas de posse. A partir da década de 70 ampliam-se parcelamentos irregulares a noroeste (Bairro N.S. Aparecida), com parcelas vendidas por Jovino Santos, Meneval Custódio, José Soares (Zé Guarda), Valdívio Ferreira, José de Souza Neto, etc. seguindo a estrada da Batalha, e com arruamentos perpendiculares a esta, processo que tem continuidade. Em área da antiga “Lisboa”, houve parcelamento na década de 80, ampliando o bairro Ibirapuera em direção à serra ( Loteamento Bruno Bacelar) etc, etc.
A ocupação do solo para moradia ocorreu inicialmente de forma lenta e individual. As ocupações multitudinárias e rápidas ocorrem a partir da década de 80 ( “Bruno Bacelar”, “Cidade Nova”) e tentativas de novas ocupações multidinárias ocorreram em 1997 e em 1998., impedidas de concretizarem.
Serra caminho, serra energia, serra lazer, serra alimento, serra trabalho, serra cultura, serra morada, serra romaria.
O homem aos poucos vai tomando consciência da serra do Piripiri: Do seu embricamento com a comunidade. A serra foi incorporada ao processo de luta pela sobrevivência do homem-história. A espacialidade urbana conquistense não pode ser entendida sem a serra. Há historicidade nisso tudo.
A primeira consciência, é aquela do problema, a partir de uma visão puramente centro-urbana.
De toda a utilização/depredação da serra surgiu a serra-problema: É que, desbastada de maior parte de sua vegetação, ferida pela exploração de areias e pedras, ocupada por casas – a serra do Piripiri passou a representar/apresentar problemas. As águas pluviais passam a descer violentamente da serra para a cidade, carreando materiais para o centro: pedra, areias, “entulhos” lá despejados, e dejetos humanos de casas não servidas por esgotos ou fossas sanitárias vão para o centro da malha urbana. À medida que ocorrem impermeabilização de sua encosta superior e o desmatamento, as águas descem mais violentamente. Ora, a serra era vista como um problema para o centro: – consciência superficial, incompleta.
Logo estabeleceu-se uma contradição econômico-social complexa na relação da serra com a “cidade”. A serra, que fornece terrenos baratos ( ou sem custo) para muitos, trabalho a outros, gravetos a outros mais, exploração, água a muitos, ajudando-os economicamente, torna-se custosa para o município. A cada chuva, tratores, patróis, caçambas, veículos outros são deslocados e postos em funcionamento e homens são arregimentados para removerem do centro da cidade o material despejado pela serra, repor asfalto e calçamento retirados pela força da água, desentupir galerias assoreadas. É como se pedaços da serra desabassem. Em partes da serra, valas são feitas para direcionar águas pluviais. Tudo isso tem um custo. “Duas economias” entram em choque na relação da serra com a cidade, da serra-cidade com o centro. Remover homens? Tirar “economias”? Continuar gastando com efeitos sem debelar causas? como conciliar conflitos no espaço, pelo espaço, contra o espaço?
A política pública centrada na consciência superficial e incompleta foi contraditória: Decretou a serra como área de proteção ambiental ( J. Pedral, 1994) mas aí locou uma “fábrica” de asfalto e daí retira cascalho para suas obras. Desapropriou partes da serra, mas permitiu ( por omissão) depredração em áreas desapropriadas.
É difícil a decisão da política pública sobre a serra. Porisso e por falta de uma consciência ( além das contradições, é claro) soluções são adiadas. Prefere-se muitas vezes gastar muito e sempre a gastar para solucionar o problema, resolvendo a questão daqueles que vivem da serra ( não falo dos exploradores sociais) ou na serra. Há uma relação contraditória serra-centro.
A serra problema despertou a consciência ecológica, antes da consciência de sua historicidade, isto é, do saber acerca do envolvimento de homens e natureza na serra na luta pela sobrevivência e de consequentes resultantes sociais disso. A consciência ecológica sobre a serra, que esta vê a partir desta, demorou a propagar-se ( década de 60, embora já nas décadas de 30/40 houvesse preocupação em proteger “O Poço Escuro”). Mas a consciência ecológica sobre a serra ainda falta resolver uma série de questões. Ainda há superficialidade que os ecologistas locais saberão superar ( inclusive um olhar que não seja apenas “sobre a serra”).
O despertamento da consciência ecológica como ponto de partida para a resolução do problema da serra do Piripiri foi ( e é importantíssimo) e ocorreu (ocorre) no momento em que a serra já está articulada urbanisticamente à cidade, o que significa dizer que o problema da consciência ecológica é o de pensar a serra no contexto da cidade e, ainda mais, da região ( a serra é divisor natural de águas que se destinam aos rios Pardo – caso do Verruga, por exemplo – e ao rio das Contas, caso do riacho de Gado Bravo, através do rio Gavião: – De um lado as águas buscam o rio das Contas, doutro lado demandam o rio Pardo. A divisão é completada pelas serras do Taquaral e Landim, dentre outras).
O desafio da consciência ecológica de fazer da serra depredada a “serra do Piripiri”- isto é, de repor certa harmonia, importa em reocupá-la de forma diferente, inclusive reocupá-la com vegetação. Mas isso não pode significar uma visão da serra apenas a partir desta.
A idéia do “Parque da Serra do Piripiri”, que embrionariamente era pensada por várias pessoas ( sem projeto, com nomes e concepções diferenciados), sistematizada grandemente pelo denôdo de Avaldo Soares Filho, biólogo e ecologista, e por seus assessores é passo importante, em tese. Mas há que definir o seu caráter ( detalhamento e concepção geral, posicionamento no contexto da cidade, articulações, etc).
Assim é que é necessário saber como ficarão homens (falo daqueles que são realmente pobres) que vivem na serra ou/e da serra. É necessário detalhar a forma de articulação ambiental com a cidade ( já que existe uma articulação atualmente anti-ecológica, mas que é articulação). Não é só a serra, ou a serra-cidade, que tem impacto sobre o centro, mas o centro tem impacto sobre a serra. Foram sobretudo intervenções a partir do centro que depredraram a serra. Algumas daquelas intervenções a partir do centro urbano ( ou que consideram os efeitos a partir do centro) demonstram como este exerce impacto sobre a serra (valas para direcionamento de águas, por exemplo). A economia é outro indicador ( muita lenha foi retirada da serra para esquentar os fornos de padarias do centro, por exemplo). Como resolver um novo caráter de articulação?
Um dos problemas que devem ser resolvidos é o da circulação. Como já foi dito a serra foi ferida por caminhos, estradas e, depois, ruas. Agora, definida a APA (Área de Proteção Ambiental), com o projeto “Parque da Serra do Piripiri, que já recebeu e receberá recursos do IBAMA, grassa a disputa sobre a locação do “anel viário”, primeira etapa. É como se duas propostas de ambientação estivessem em disputa ( porém é mais que isso por seu significado). Deve ou pode o “anel viário” passar sobre área da serra do Piripiri?’É urgente retirar da Avenida Presidente Dutra a tráfego pesado e intenso que tem custado vidas humanas? Descaracteriza o projeto APA – “Parque da Serra do Piripiri”- o trecho do anel viário passar sobre encosta superior da serra quase quatro mil metros?
As perguntas importam em abertura da discussão para um grupo mais amplo de pessoas, como terminou por ocorrer a partir da intervenção do IBAMA em 12 de agosto próximo passado, embora de forma não organizada. Mas a chave inicial da abertura das discussões está no próprio caráter do Projeto Parque da Serra do Piripiri. Um projeto preservacionista com atividades é diferente de um projeto preservacionista “inativo”, isto é, de um projeto em que a natureza é deixada para si mesma. Um projeto preservaciocionista com atividade numa área fortemente articulada com o centro urbano ( e já parte da malha urbana) é diferente de um projeto preservacionista de uma área com frouxa articulação com a cidade. Um projeto de preservação com atividade, próximo de um centro urbano e com este fortemente articulado (até arterialmente) deve levar em consideração os problemas desse centro. Um projeto preservacionista com atividade deve levar em conta interesses da população que circula e de toda a população próxima.
Também ainda precisam ser definidos: Utilização dos caminhos e estradas na serra ( como ficarão a ligação Cruzeiro BR 116 e a estrada da Batalha, dentre outras?); como compatibilizar o “Parque” com grandes ou pequenos equipamentos existentes no local – Hotel, Motel, Edifício e torres da Telebahia, estação abaixadora de energia elétrica, estações de rádio, etc? Como estes pagariam ônus de “viver” na serra bem melhorada?
A tentativa de criação de um sistema harmonioso ( acreditem ou não na possibilidade de harmonia com tantos interesses divergentes) da relação serra do Piripiri/Centro, começa por gerar desarmonias ( tal é o conjunto de frutos da contradição que perpassa a sociedade).
A definição do tipo de compatibilização do uso do solo serra-centro urbano/ serra-cidade/ serra-núcleo urbano e do caráter da APA ( Área de Proteção Ambiental) deve levar em conta fatores historicamente construídos.
Há pessoas que vivem na serra ou da serra. Com a crise atual, a britação de pedras aumentou. Como resolver o problema daqueles que fazem britas?
Há, como foi dito, equipamentos de porte na serra do Piripiri, que importam em permanente tráfego por esta: Hotel, Motel, estação abaixadora de energia elétrica, prédios de empresas de rádio-difusão, etc. Como combinar o acesso a tais equipamentos com o uso do “Parque”? Como fica a rede de alta tensão elétrica que passa pela Serra? – E a “praça” do Cristo?
Como ficarão as “lavadeiras” que usam o “Poço Escuro”? Como ficará a articulação da cidade com “Lagoa das Flores” e “Choça”?
A remoção da rodovia para o contorno importará em continuar direcionando águas pluviais para a margem Oeste do atual leito daquela? Que significará para a serra a transformação de toda a faixa “urbana” da BR116 em avenida?
Como se vê de simples perguntas, uma área de preservação ecológica em que houve e há grande degradação e em que há substanciais áreas já construídas deve ter um caráter que permita uma articulação urbana diferenciada. Não se trata de uma área isolada ou pouco articulada com a malha urbana, seus habitantes e sua economia. Haverá sempre áreas mais reservadas, mas sempre ocorrerá área de penetração (deve-se diminuir esta ao máximo) que exigirá disciplina e fiscalização adequadas e diferenciadas.
Tudo isso deverá ser pensado globalmente já com profunda intuição de diretrizes urbanas gerais (plano diretor urbano, ou que outro nome tenha).
A razão ecológica, que fica fortemente evidenciada, nas divergências sobre a locação do anel viário ( corte de cerca de 4.000 metros na serra) é importantíssima: Qualquer estrada perto de núcleo urbano é vetor de crescimento deste. Estabelecida a estrada, as pressões de “economia imobiliária” sobre o poder público são imensas no sentido de modificar ou rever política de uso do solo. No caso da serra do Piripiri, não é a estrada em si ( aquela já é varada por estradas, como a própria BR 116), mas as consequências disso, inclusive valorização de terrenos com consequente dificuldade financeira para desapropriação futura. Mas não se esquece que animais geralmente são vítimas, o que implica em adotar-se sistema de proteção.
É bom frisar que a consciência ecológica mobilizou pessoas ( e mobiliza-as) e tem sido a detonadora de projeto mais completo até hoje apresentado para proteção da serra. Do ponto de vista político isso tem relevância.
Também são importantes argumentos daqueles que pensam a circulação e a necessidade de imediata retirada do tráfego rodoviário do traçado urbano da BR 116 ( Avenida Presidente Dutra) – que também tem sido luta de ambientalistas ( Valter Rocha, André Cairo, por exemplo).
A avenida Presidente Dutra ( BR 116 no perímetro urbano) é hoje o mais grave exemplo de confusão entre tráfego urbano e tráfego rodoviário. É uma estrada de rodagem que se tornou avenida, sem deixar de ser o que era. O crescimento urbano a oeste da rodovia tornou nociva sua permanência onde ora está; o corte da cidade pelo meio tem sido fonte permanente de engarrafamentos, acidentes, estresse, poluição, exigência de maiores gastos públicos, e sobretudo dificuldade de gestão de espaço: sempre há choque entre o DNER, que administra a rodovia na dimensão rodoviária e o município, que administra a avenida, na dimensão urbana. Há limitação evidente do poder de administrar a cidade. Mesmo coisas pequenas – um buraco ou a limpeza de valas – são objeto de disputa de competência entre duas esferas de poder, ou de justificativa de omissão. Quem conserta – prefeitura ou DNER?
É necessário transformar imediatamente a faixa urbana da BR 116 em avenida ( bem articulada com a serra), por muitos motivos de melhor ambiência urbana e, inclusive, drástica diminuição do tráfego pesado sobre uma das áreas mais críticas da serra do Piripiri.
Tem-se que combinar duas necessidades: a remoção da rodovia da malha urbana e a preservação da serra. Mas a preservação desta guardará marcas irreversíveis de fatores construídos historicamente, que importam em dar-lhe caráter diferenciado de outras APAS e é esse o desafio: Encontrar o “caráter” que não negue objetivos propostos para o “Parque da Serra do Piripiri”, mas entender que a APA (Área de Proteção Ambiental) deve ser diferenciada de outros modelos existentes por força de transformações historicamente ocorridas na serra. A complexidade de que hoje se reveste a relação da serra com a malha urbana indica que o fundamental é a compatibilização do traçado do anel, mesmo que sobre pequeno trecho da serra, com a proteção desta em sua múltipla articulação com a cidade. Nada vem isolado.
A serra, ainda quase não estudada, desafia nossa consciência: – precisamos conhecê-la.
Notas
(1) “A semântica histórica passou a aplicar o termo metonímia num sentido diacrônico, para indicar a mudança de significação que resulta do emprego sistemático de uma palavra em metonímia, de tal sorte que pouco a pouco se perde a relação entre esse emprego e a significação específica, resultando daí a mudança do campo semântico para a palavra”( J. Matoso Câmara – “Dicionário de Linguística e Gramática, Vozes, 1981). Embora possa dizer-se que o emprego do todo pela parte, e do conteúdo pelo continente sejam exemplos de sinédoque, não se deve esquecer que a metonímia compreende a sinédoque.
(2) Alfredo José Domingues e Elza Coelho Souza Keller – “Bahia, Guia de excursão nº 6”, CNG, 1958.
(3) “Monadnock. Elevação residual que resiste mais à erosão em áreas peneplanizadas” (Céurio de Oliveira – “Dicionário Cartográfico”, IBGE, 1983).
(4) “Creep” ou Rastejamento. Movimento coletivo lento de solo de rocha decomposta (….) – Antonio Teixeira Guerra – “Dicionário Geológico – Geomorfológico”, IBGE, 1987.

Nenhum comentário:

ó quão dessemelhante

Ruy Medeiros | ó quão dessemelhante 0  6 de novembro de 2024, 0:28  / Anderson BLOG  @blogdoanderson Lembro-me dos colegas que antes de mim ...