RADIODIFUSÃO,
QUEM É VÍTIMA?
Ruy Medeiros (Digitado, 07/1998)
Em bom artigo
publicado nas edições 6 e 7 deste jornal (comunicação, aonde nos
levará?),, Gilson Moura evoca o
nascimento do serviço de radiodifusão em
nosso país, com Roquette Pinto. Lamenta o autor do texto, que o “rádio” tenha
se afastado tanto do sonho do fundador da primeira estação de rádio entre nós.
Realmente - as exceções são raras - as emissoras costumam ter uma programação
mesquinha, pobre, e mesmo o tratamento dado à notícia, que é ideologizada, as
mas das vezes termina por desinformar.
Mas, no
universo da radiodifusão, aos troncos e barrancos, as rádios comunitárias ganharam seu reconhecimento legal. A lei já
as contempla. Tais rádios aparecem sobretudo como espaços de debates de
problemas da comunidade e como prestadora de serviços voluntários. Poderão ter,
em vista de sua especificidade, impacto positivo sobre a programação das rádios
convencionais. Estas, temerosas da perda de audiência, terão que alterar o perfil
de sua programação.
As rádios
comunitárias foram (e ainda são) perseguidas pelas autoridades. Não é de se
estranhar: a maioria das empresas de radiodifusão e de televisão são
controladas por políticos profissionais - os mesmos que indicam ocupantes de
diversos escalões da administração. Só através de muita luta (inclusive perante
o Poder Judiciário) é que o Congresso aprovou a lei. Mas não era apenas a
concorrência que os políticos e donos de empresas de rádios-difusão temiam:
Temiam e temem o tratamento da notícia com a cara da comunidade, a crítica não
paga, a ampliação do direito de opinar. A questão econômica fica somada à
preocupação política. Daí o temor. Daí o desserviço que as autoridades -
sobretudo aquelas vinculadas ao Ministério das Comunicações - fizeram ao País,
quando fecharam inúmeras rádios comunitárias.
Embora as rádios comunitárias não sejam
exatamente a “salvação da lavoura”, podem
ajudar a reverter um pouco aquela situação de mediocridade mencionada no
artigo de Gilson Moura. Além da perda de qualidade de programação denunciada em
referido artigo, pode-se detectar uma contradição: A perda de qualidade ocorre
exatamente quando a revolução da microeletrônica potenciou a divulgação do
conhecimento. Isto significa que a radiodifusão
“mediocrizou-se” num momento em que redes de computadores interligados
(tipo Internet) tornam conhecimentos de todo o mundo prontamente disponíveis e
em que a comunicação via satélite ampliou suas capacidades tornando o mundo
realmente aquela “aldeia global” de que
insistentemente falou Marshall Mcluhan nos anos sessenta. Não é por falta de
notícia, nem de conhecimento ou ciência que os meios de comunicação rugem
asneiras. Eles exercem papel ideológico, que tanto é mais eficaz quanto faz
concessão ao vulgar ou ao escabroso, na busca pela audiência. Os canais de TV
que o digam.
Então, o
desenvolvimento da ciência e da técnica tornam disponíveis notícias,
informações, conhecimento, erudição, etc, mas as rádios encolhem-se e não
apresentam programas (as exceções são raras) educativos. A ânsia de participar
choca-se com o monopólio das transmissões em poucas mãos. Esta é outra
contradição, mesmo quando se trata de rádios estatais. Um mundo de conhecimento
contra um espaço fechado na mediocridade; um mundo de opiniões e de desejo de
participação que se choca contra o monopólio dos transmissores.
Alguém perde?
Alguém é vítima?
- Certamente
que muitos perdem e muitos são vítimas. O programa mediocre sobretudo tem sido
marcado pela intolerância (só uma voz, só uma
“leitura”) e pelo preconceito. Exemplo? - os “boletins policiais” (?) são escabrosos. Na forma em que são
divulgados têm só exposto uma versão e
sobretudo dirigem-se contra a honra e a dignidade de pessoas simples.
O “rebaixamento” da programação e do tratamento
da matéria termina por vitimar todo um povo carente de informações e de
conhecimentos.
Gilson Moura
viveu um momento em que a radiodifusão em Vitória da Conquista ainda permitia
saudáveis programas de auditório aos domingos, programas culturais (como o
programa “Saber”, que o próprio Gilson produzia e do qual fazia
a locução), prestação de serviços,
“diálogo musical” com os ouvintes
(“Atendendo os ouvintes”), etc. Talvez olhe com saudade de seu tempo de
radialista, sobretudo nos anos sessenta. Mas não é a saudade que o domina, mas
um desgosto contido e só extravasado
dentro de alguns limites. Quem o conhece sabe disso. Desgosto sobretudo
porque sabe que os fatos geram vítimas
próximas de nós ou nós mesmos.
É triste saber
que, logo mais, propaganda política aparecerá no écran de meu televisor como se fosse notícia, ou
que só aparecerão notícias que interessam aos donos do poder.
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