quarta-feira, 30 de maio de 2012


                                               RADIODIFUSÃO, QUEM É VÍTIMA?



                                                                                   Ruy Medeiros (Digitado, 07/1998)


Em bom artigo publicado nas edições 6 e 7 deste jornal (comunicação, aonde nos levará?),,  Gilson Moura evoca o nascimento do serviço  de radiodifusão em nosso país, com Roquette Pinto. Lamenta o autor do texto, que o “rádio” tenha se afastado tanto do sonho do fundador da primeira estação de rádio entre nós. Realmente - as exceções são raras - as emissoras costumam ter uma programação mesquinha, pobre, e mesmo o tratamento dado à notícia, que é ideologizada, as mas das vezes termina por desinformar.
Mas, no universo da radiodifusão, aos troncos e barrancos, as rádios comunitárias  ganharam seu reconhecimento legal. A lei já as contempla. Tais rádios aparecem sobretudo como espaços de debates de problemas da comunidade e como prestadora de serviços voluntários. Poderão ter, em vista de sua especificidade, impacto positivo sobre a programação das rádios convencionais. Estas, temerosas da perda de audiência, terão que alterar o perfil de sua programação.
As rádios comunitárias foram (e ainda são) perseguidas pelas autoridades. Não é de se estranhar: a maioria das empresas de radiodifusão e de televisão são controladas por políticos profissionais - os mesmos que indicam ocupantes de diversos escalões da administração. Só através de muita luta (inclusive perante o Poder Judiciário) é que o Congresso aprovou a lei. Mas não era apenas a concorrência que os políticos e donos de empresas de rádios-difusão temiam: Temiam e temem o tratamento da notícia com a cara da comunidade, a crítica não paga, a ampliação do direito de opinar. A questão econômica fica somada à preocupação política. Daí o temor. Daí o desserviço que as autoridades - sobretudo aquelas vinculadas ao Ministério das Comunicações - fizeram ao País, quando fecharam inúmeras rádios comunitárias.
 Embora as rádios comunitárias não sejam exatamente a  “salvação da lavoura”,  podem  ajudar a reverter um pouco aquela situação de mediocridade mencionada no artigo de Gilson Moura. Além da perda de qualidade de programação denunciada em referido artigo, pode-se detectar uma contradição: A perda de qualidade ocorre exatamente quando a revolução da microeletrônica potenciou a divulgação do conhecimento. Isto significa que a radiodifusão  “mediocrizou-se” num momento em que redes de computadores interligados (tipo Internet) tornam conhecimentos de todo o mundo prontamente disponíveis e em que a comunicação via satélite ampliou suas capacidades tornando o mundo realmente aquela   “aldeia global” de que insistentemente falou Marshall Mcluhan nos anos sessenta. Não é por falta de notícia, nem de conhecimento ou ciência que os meios de comunicação rugem asneiras. Eles exercem papel ideológico, que tanto é mais eficaz quanto faz concessão ao vulgar ou ao escabroso, na busca pela audiência. Os canais de TV que o digam.
Então, o desenvolvimento da ciência e da técnica tornam disponíveis notícias, informações, conhecimento, erudição, etc, mas as rádios encolhem-se e não apresentam programas (as exceções são raras) educativos. A ânsia de participar choca-se com o monopólio das transmissões em poucas mãos. Esta é outra contradição, mesmo quando se trata de rádios estatais. Um mundo de conhecimento contra um espaço fechado na mediocridade; um mundo de opiniões e de desejo de participação que se choca contra o monopólio dos transmissores.
Alguém perde? Alguém é vítima?
- Certamente que muitos perdem e muitos são vítimas. O programa mediocre sobretudo tem sido marcado pela intolerância (só uma voz, só uma  “leitura”) e pelo preconceito. Exemplo? - os  “boletins policiais” (?)  são escabrosos. Na forma em que são divulgados têm só exposto uma  versão e sobretudo dirigem-se contra a honra e a dignidade de pessoas simples.
O  “rebaixamento” da programação e do tratamento da matéria termina por vitimar todo um povo carente de informações e de conhecimentos.
Gilson Moura viveu um momento em que a radiodifusão em Vitória da Conquista ainda permitia saudáveis programas de auditório aos domingos, programas culturais (como o programa  “Saber”,  que o próprio Gilson produzia e do qual fazia a locução), prestação de serviços,  “diálogo musical” com os ouvintes  (“Atendendo os ouvintes”), etc. Talvez olhe com saudade de seu tempo de radialista, sobretudo nos anos sessenta. Mas não é a saudade que o domina, mas um  desgosto contido e só extravasado dentro de alguns limites. Quem o conhece sabe disso. Desgosto sobretudo porque  sabe que os fatos geram vítimas próximas de nós ou nós mesmos.
É triste saber que, logo mais, propaganda política aparecerá no écran  de meu televisor como se fosse notícia, ou que só aparecerão notícias que interessam aos donos do poder.

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