quarta-feira, 30 de maio de 2012


                                                           Reação à Tortura


                                                                                   Ruy Medeiros. (Digitado, 06/1999)


Felizmente muitas pessoas indignaram-se com a nomeação do Sr.  João Batista Campelo ao cargo de Diretor Geral da polícia Federal. A coisa não passou em branco. Infelizmente o Sr. Presidente da República não foi demovido de nomear aquele indivíduo ao cargo maior da polícia. A questão ficou no empate? - Não. Não se trata de empate ou não. A questão é mais profunda, e tão mais profunda quando ainda hoje grassa tortura em ambientes policiais.
A nomeação do Sr. João Batista Campelo (que ironia o nome de santo) é sinal evidente de que qualquer torturador - que a chamada anistia recíproca perdoou - pode ser premiado pelo Governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso. Trata-se evidentemente de prêmio a outorga de tal tipo de cargo.
Fica sempre no ar a pergunta: Não havia, nos quadros da Polícia Federal, pessoa cujo passado não contivesse mancha tão infame? Se havia - e deve haver - por que a escolha exatamente de uma pessoa envolvida em tortura?
A tortura não é só um crime. A tortura é também índice de covardia e revela aspecto doentio de seu agente. Manietado, sem condições de reação, o preso é submetido a toda sorte de agressão física e moral por parte dos torturadores (sempre havia mais de um torturador em cada sessão de torturas, daí o plural).
O torturador revela seu gosto pelo sofrimento da pessoa que sequer pode reagir eficazmente contra a tortura, porque está preso, manietado. Covardia e sadismo se reunem no ato da tortura. O cinismo, a tentativa de desqualificação do torturado para justificar a tortura, a justificação de que inimigo deve ser aniquilado covardemente, a inversão total de valores - tudo isso está presente naquela atividade criminosa de torturar.
Ora, quando premia um torturador, o sistema desencadeia a leitura ideológica possível (embora contra o homem) de que a tortura não é algo relevante (que não deve ser levada em conta) e, por extensão, estimula novos torturadores. É, em suma, a justificação do torturador e a humilhação do torturado. É a abertura de preocupação maior do homem com a perspectiva de que a tortura não seja  u’a  mancha suficiente sobre o torturador: Um alerta contra o regime. É a revelação do cinismo do sistema que faz aprovar, num dia, um Programa Nacional de Direitos Humanos e, no outro dia, nomeia a cargo relevante de Governo um colaborador da ditadura militar que desceu aos porões a fim de torturar ou, para usar o eufemismo de alguma declaração, “ajudar na tortura”.
O ato do Governo, em outro sentido, também não leva em consideração o fato de que a ditadura teve impacto muito profundo sobre incontável número de famílias e que as feridas estão abertas pela impunidade garantida por uma anistia feita sob modelo ditado por generais fascistas.
Mas,  não fosse isso, há que considerar-se o verdadeiro sentimento de traição que se apodera de muitos adversários da ditadura militar, que buscaram a vida democrática para o País. Sem a luta de muitos, o Sr. Fernando Henrique Cardoso não chegaria à Presidência da República. Chegou até aí exatamente porque a ditadura militar foi derrotada (embora não da forma total como se desejava). Sob o regime dos torturadores, por certo o atual Presidente continuaria relegado a segundo plano.
Se é verdade que muitos já sabiam que o  “verniz” democrático do Presidente não o impediria de cair nos braços dos destroços reorganizados do antigo partido de sustentação da ditadura (ARENA, hoje um bando de grupos fisiológicos que se auto-intitulam partidos), não deixa de indignar a desenvoltura com que faz a nomeação do Sr. João Batista Campelo ao cargo de Diretor Geral da Polícia Federal.
O Governo Fernando Henrique Cardoso vai assim, de queda em queda, construindo a herança que deixará para o próximo milênio: Os escândalos do proer, o relacionamento fisiológico com o legislativo, as intrigas gravadas palacianas, a corrupção no Banco Central, o favorecimento descabido às montadoras, o exercício imperial do poder com o abuso de edição de Medidas Provisórias, o aumento do desemprego....Enfim, a justificação da tortura.

Aproveito deste espaço para desejar ao amigo Flávio Scaldaferri, editor deste jornal, pronto restabelecimento. Para alegria dos amigos, Flávio venceu a crise. Que tenha mais saúde!

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