Sessão
Especial sobre a Polícia Civil
Ruy
Medeiros. (Digitado 03/1999)
A Subseção Local da
OAB-Ordem dos Advogados do Brasil - solicitou do Senhor Presidente da Câmara
Municipal a realização de uma sessão especial a fim de que fossem discutidos
problemas referentes à atuação da Polícia Civil em Vitória da Conquista.
A população de Vitória da Conquista tem sido pouco informada
dos fatos que envolvem aquela polícia. Fatos muito graves.
Quando a OAB, dirigindo-se às autoridades e à população,
exigiu maior apuração dos fatos, deu apoio aos Juízes e Promotores em seus
respectivos trabalhos ( processos ) e concitou a imprensa a realçar valores de
direitos humanos, o fez por força mesmo de suas atribuições legais
institucionais, embora tenha sido fundamental o impacto que os fatos causara m à consciência de muitos Advogados.
É realmente difícil a omissão diante de fatos que emergem de
depoimentos, denúncias e evidências, tais como:
a) Torturas a pessoas manietadas, presas em recinto policial ( o que torna a agressão ainda mais covarde), denunciadas
pelo jornal “A Tarde”, após depoimento de um preso,
diante do Juiz, seguido da exibição de marcas do crime. A tortura, que é crime,
não foi um fato único e isolado, outras ocorreram.
b) Assassinato de adolescentes por pessoa que, sem ser policial
civil, estranhamente servia a determinada delegacia, portava armas, usava
colete de policial civil ( o assassinato por quem quer que fosse não teria
justificativa).
c) Cobranças de cheques por policiais civis, com ameaças (
houve mesmo uma senhora que denunciou
abertamente junto à imprensa da capital
o fato já conhecido de muitos conquistenses).
d) Existência de oficina de desmanche de veículos furtados (
dentre trabalhos outros que executava), com a complacência de autoridades.
e) Abusos de autoridade e inquérito forjado.
Tudo isso justificava por demais a solicitação feita pelo
Presidente da OAB local, Dr. Gilberto Dias Lima, ao Presidente da
Câmara Municipal para que fosse realizada a sessão especial, meio indicado por
representativa assembléia de Advogados a seu dirigente subsecional.
Até o momento, não se tem resposta. Não se sabe se a sessão
especial será convocada ou não ( escrevo em 31.03.99).
Recentemente, num de seus editoriais da secção “Opinião”, o jornal
“A Tarde”,
discutiu rapidamente o
manifesto da OAB, Subseção de Vitória da Conquista e, dentre outras coisas,
disse” “A Ordem dos Advogados confirma a
tradição de Vitória da Conquista de cidade violenta, com triste detalhe:
denuncia-se, desta feita, a violência de policiais. Ou seja, quem é pago pelo povo para
protegê-lo da violência é o primeiro a violentar as leis, num rosário de
ocorrências listadas pela subseção da OAB de um dos sete municípios mais
importantes da Bahia”. Depois de
mencionar que cidades troncos costumam ser violentas, diz o referido editorial:
“Isto, porém, não exime os que passam,
os que estão em trânsito de serem objeto da vigilância dos homens da lei.
Existe, porém, uma grande distância entre vigiar e prender bandidos e, por
outro lado, passar para o lado dos fora-da-lei como denuncia o documento
assinado pelos advogados de Vitória da Conquista”. Finalmente, aquele
diário da capital afirma: “ Recentemente, a Secretaria de Segurança
Pública realizou um grande remanejamento de delegados, incluindo aqueles do
interior do Estado. Temos o dever de lembrar que não basta transferir delegados
e equipes de um lugar para outro, embora esta providência seja considerada
tecnicamente salutar. É preciso que se faça uma verdadeira vassourada, uma
limpeza em todos os aparelhos policiais, em todos os escalões, a fim de que
fatos como os denunciados pela Ordem dos Advogados em Vitória da Conquista não
continuem a se repetir”( A Tarde, edição de 29.03.99, Caderno 1, Página 8, -
Opinião, “Violência em Conquista”).
O que tanto sensibilizou o principal diário da imprensa
baiana, parece não haver sensibilizado de igual maneira os senhores vereadores,
pelo menos aqueles que têm conhecimento da solicitação da sessão especial. No
entanto, trata-se de um problema com forte incidência local, que muito diz
respeito à comunidade conquistense.
É de esperar-se que, quando este artigo estiver circulando,
já se tenha notícia da convocação da desejada sessão especial, ou de
justificativa formal do porque de sua não convocação.
A comunidade de Vitória da Conquista tem o direito de mais
amplamente discutir questões relevantes como essas dos descaminhos da polícia
civil.
Parece ser salutar igualmente que aqueles que desempenham
mandatos e dirigem partidos políticos se pronunciem com ampla liberdade sobre
os fatos, inclusive para justificá-los (se acharem que há justificativa). O que
não é bom é a comunidade desconhecer, por força de omissão, o que pensam seus
representantes (pretensos ou não). O que pensam os deputados conquistenses? O
leitor sabe exatamente qual a posição dos deputados conquistenses sobre o
assunto?
É claro que as pessoas têm direito de se defenderem, de se
posicionarem. Mas a comunidade tem o direito de questionar, posicionar, saber o que os seus políticos
pensam da situação. O vazio da omissão, não é simplesmente “vazio”,
- tem um forte sentido. O leitor que
o descubra.
Enfim, a questão é relevante. Relevante, inclusive, para
aqueles outros policiais civis que exercem suas atribuições nas formas
legalmente previstas e que não participaram dos fatos tão graves.
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