quarta-feira, 30 de maio de 2012


Tributo a Nossos Cronistas
                                               Ruy Medeiros



Escrito e lido como parte das comemorações de 167 anos de elevação do Distrito da Vitória a Imperial Vila da Vitória (hoje Município de Vitória da Conquista).


Vitória da Conquista, 11 de novembro de 2007.












 

 

 

 

Tributo a nossos Cronistas


A palavra cronista (cronistas) que compõe o nome do presente texto não tem o significado literário corrente, nem o sentido do modelo historiográfico dominante na Idade Média até o século XV e que tem como exemplos, dentre outros, a Crônica Geral de Espanha (1344), as Crônicas de Fernão Lopes, a Crônica Régia de Rui de Pina, modelo que foi substituído pelo de memórias históricas, que anunciará caminhos para os historiadores do Século XVIII e inícios do Século XIX.
Aqui, a palavra compreende autores de textos informativos sobre a história e demais aspectos da realidade local, desde a corografia até o texto não ficcional, de modelo historiográfico não acadêmico, que não pode ser considerado do mesmo tipo das memórias históricas, embora seja desse que se aproxima, do fazer história informativa como tradicionalmente se costuma fazer, com preocupação investigativa, mas sem filiação às escolas que abalaram a compreensão da escrita da história, no Século XX.
Deve ser realçada a importância desses “cronistas” para a sociedade local, onde são admirados e aceitos como seus historiadores concretamente. Esse é o sentido maior do presente tributo. São os nossos cronistas/historiadores os guardiães e transmissores da memória local.
O título – Tributo a nossos Cronistas – foi sugerido pelo professor José Raimundo Fontes.
   
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Tranquilino Torres (Tranquilino Leovigildo Torres)
Sobre Tranquilino Torres, disse em outra oportunidade, o que ora transcrevo:
Tranquilino Leovigildo Torres, filho de Belarmino Silvestre Torres e de Umbelina Emília dos Santos, é natural de Condeúba (município que tinha denominação de Santo Antônio da Barra), zona da Serra Geral, no Estado da Bahia, onde nasceu no dia 30 de agosto de 1859. Seu pai, Belarmino silvestre Torres, foi vigário da Freguesia de Santo Antônio da Barra e Deputado Provincial nas legislaturas de 1882-1883 e 1886-1887. A mãe de Tranquilino Torres era uma senhora muito estimada em sua cidade, viúva do comerciante José Rodrigues Coelho.
Iniciou Tranquilino Torres seus estudos em sua terra natal, onde completou o curso primário. Em Salvador, estudou nos Colégios “São João” e “Sete de Setembro”, figurando, dentre seus educadores, Luiz França Pinto de Carvalho e João Estanislau da Silva Lisboa, ilustres professores daquele tempo. O curso superior, Tranquilino realizou na velha Faculdade de Direito de Recife, onde colou grau em 25 de novembro de 1882, portanto com 23 anos de idade.
Formado em Direito, Tranquilino Torres mudou-se para a Imperial Vila da Vitória (hoje Vitória da Conquista), na Bahia, para ai exercer o cargo de Promotor Público. Posteriormente foi Juiz Preparador em Santa Isabel do Paraguassu (atualmente Mucugê), ainda na Bahia, e juiz de Direito de Macaúbas (Bahia). Finalmente, foi nomeado membro do Tribunal de Conflitos e Administrativo, na qualidade de representante do Senado da Bahia.
Tranquilino torres casou-se, em 21 de abril de 1883, com Maria da Purificação Coutinho França, filha do Capitão Henrique da França Pinto de Oliveira Garcez e de D. Maria José Coutinho França. Deixou o casal Tranquilino – Maria da Purificação filhos, que são os seguintes: Maria Torres, Octávio Torres, Celso Torres, Enock Torres e Maria Madalena. De uma relação anterior ao casamento, Tranquilino deixou uma filha com Ana Rosa Borges da Silva, Josefina Augusta Torres, que faleceu em 4 de março de 1898, na cidade de Santo Amaro, Bahia.
Em 22 de maio de 1896, faleceu Tranquilino Leovigildo Torres, em Salvador, Bahia. D. Maria da Purificação Coutinho França Torres sobreviveu-lhe e contraiu segundas núpcias com o Dr. Gonçalo Muniz Sodré de Aragão, seu primo, com o qual teve os filhos Luiz, que faleceu ainda criança, e Alice Muniz Sodré de Aragão, a qual contrairia núpcias, em 1934, com o pintor Presciliano Silva.
Tranquilino Torres, a par de estudos jurídicos publicados na “Revista dos Tribunais” e em “ O Direito”, foi pesquisador e dedicado estudioso da História. Com justiça é considerado fundador (fase de refundação) do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, do qual foi presidente por diversas vezes.
Da lavra de Tranquilino Torres, na área da História, destacam-se: “Memória Descritiva do Município de Condeúba”, “O Município de Victoria”, “Município dos Poções”, “Memória sobre o Município de Santa Isabel do Paraguassu”, “Memória Histórica sobre o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia”. É interessante lembrar que Tranquilino Torres escreveu um “Dicionário de Nomes Próprios, Cognomes e Apelidos”.
O Município da Victória inscreve-se na tradição das “corografias”, usuais no século passado. De início, o trabalho fora escrito para figurar no Dicionário Geográfico e Histórico do Brazil, de Dr. Alfredo Moreira Pinto, onde foi estampado. Porém foi antes publicado em páginas do jornal Diário da Bahia e, depois, na Revista Tridimensal do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, dividido em duas partes, respectivamente em o número 12, ano IV, páginas 157 a 174, e número 13, ano V, páginas 529 a 545. Na década de 20, a obra foi publicada, por partes, no jornal A Notícia, de Vitória da Conquista, Bahia. Da pequena monografia muito se valeu Durval Vieira de Aguiar, copiando-a quase que integralmente em sua Decrições Práticas da Província da Bahia – com declaração de todas as distâncias intermediárias das Cidades, Vilas e Povoações (Tipografia do Diário da Bahia, Salvador, 1888), quando trata da Imperial Vila da Vitória.
Durante muito tempo O Município da Vitória foi a fonte de que se dispunha para estudar o Município de Vitória da Conquista, embora pouco divulgada e pouco reeditada.
O Município da Vitória é uma “corografia” isto é, descrição de uma região (ou de um país) particular, sob diversos aspectos. No caso presente é a descrição do Município de Vitória da Conquista (nome atual). Embora destituído de espírito crítico, o trabalho é bastante informativo. Vale-se o autor da observação direta e pessoal, de informes orais, da tradição e de fontes escritas (estas citadas incompletamente ou não citadas). Suas fontes escritas principais são Corografia ou abreviada história geográfica do Império do Brasil, especialmente da Província, e Cidade de S. Salvador Bahia de Todos os Santos, por Domingos José Antônio Rabelo, datada de 1829; Memória Sobre as Vantagens do Laboratório de Diferentes Pedreiras, Existentes na Bahia, de André Przewodovski; Relatório do Diretor da Colonização do Rio de Contas ao Presidente da Província da Bahia, de 1 de dezembro de 1858; o não citado Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil, de J. C. R. Milliet de Saint Adolphe (obra traduzida por Dr. Caetano Lopes de Moura, Paris, Aillaud, 1845, 2 vols.); possivelmente a Memória sumária e Compendiosa da Conquista do Rio Pardo, de João Gonçalves da Costa; as Memórias Históricas e Políticas da Província da Bahia, de Ignácio Accioli de Cerqueria e Silva (obra publicada gradativa e incompletamente de 1835 a 1843), enquanto que muitas informações existentes naquela obra sugerem pesquisa em arquivo, inclusive arquivo especificamente eclesiástico.

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Durval Vieira de Aguiar
Aqui repito, quase que totalmente parte de artigo escrito em 1977, em Fifó, quanto a Durval Vieira de Aguiar.
Durval Vieira de Aguiar escreveu Descrições Práticas da Província da Bahia, em 1888, reeditada quase Cem anos após com o título A Província da Bahia.
“Descrições Práticas da Província da Bahia”, publicação oficial, Salvador, 1888.
O livro de Durval Vieira de Aguiar dedica 26 páginas à Imperial Villa da Victoria. Conta a história da Vila, destacando a luta dos índios contra os colonizadores, descreve o núcleo urbano da época (1888), fala do ensino, das finanças, da economia, das estradas, da população, da topografia do município e arrola as riquezas minerais e vegetais deste. Pouco acrescentou ao que Tranquilino Torres escreveu. Copiou grande parte – a maior – a Memória de Tranquilino.
Sobre o autor, há pequena referência no estudo “Notícia Histórica da Vila da Baixa Grande”, de autoria de Deolindo Amorim: “Em 1888 era Presidente da Província da Bahia o Conselheiro José Luiz de Almeida Couto, já pela 2ª vez, tendo o seu governo tomado o maior interesse pelo estudo topográfico e histórico das municipalidades da província. Foi incumbido de fazer este estudo e reunir os seus dados em trabalhos oficiais o Cel. Durval Vieira de Aguiar, comandante do Corpo Policial da Província, homem estudioso e de muito valor pessoal. É justo recordar que o Cel. Durval foi, neste alto posto de comando, uma das figuras principais na Bahia por ocasião da proclamação da república, ao lado do grande republicano Cons. Virgílio Damásio. Mas a preferência do governo provincial obedeceu ainda a uma circunstância importante para o assunto. Sendo o Cel. Durval oficial de Polícia, teve ocasião de percorrer as diversas regiões do interior baiano, ora comandando destacamentos, ora como oficial subalterno, e até mesmo como capitão, observou bem, fazendo valiosos relatos de várias cidades e vilas da província. Era um perfeito conhecedor do território baiano”.
Os acréscimos feitos à Memória de Tranquilino Torres, embora pequenos, possuem certa importância, especialmente notícia sobre a escola existente e finanças públicas, além do aspecto geral da vila.

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Bruno Bacelar (Bruno Bacelar de Oliveira)
Bruno Bacelar nasceu em 21 de dezembro de 1899. É o primeiro Bacelar nascido em terra conquistense, informa Aníbal Viana. É filho de José Nunes de Oliveira (conquistense) e Mariana Fagundes Bacelar (sertaneja de Caetité). Fez seu curso primário com a professora Honorina Andrade, em Vitória da Conquista. Trabalhou desde cedo. Foi balconista  da loja de seu padrinho (Rodrigo Santos), gerente do Bazar 17, em Vitória da Conquista, e gerente do armazém do comerciante João Ribeiro, em Verruga, hoje Itambé. Depois, montou uma padaria, de sua propriedade, em Conquista, cidade onde depois também teve loja de tecidos.
Casou-se com Maria Flores de Melo, de quem ficou viúvo, vindo a contrair segundas núpcias com Maria Carolina Magalhães com a qual teve os filhos Ruy Bruno Bacelar de Oliveira, Anisalves Bacelar e Stela D’Alva Bacelar. Em terceiro relacionamento, com Anália Santos, Bruno Bacelar teve Bruno Bacelar de Oliveira Santos, Benigno Alves dos Santos Bacelar e Giordano Bruno Bacelar de Oliveira.
Bruno Bacelar destacou-se como jornalista e político. Escreveu matérias para o jornal “A Semana” (década de 1920), O Combate (final da década de 1920), A Vanguarda (década de 1920), criou o Jornal Avante, em 27 de maio de 1931, que circulou até 1933.
Bruno Bacelar ajudou a fundar o diretório do Partido Liberal Republicano Conquistense afinado com os ideais da frente Liberal. Ele e Laudionor redigiram pequenos artigos de propaganda política, depois reunidos no livro “De Lenço Vermelho”, editado em 1929. Com a Revolução de 1930, foi destituído do Cargo de Prefeito Otávio José dos Santos Silva, e Bruno Bacelar ocupou a chefia do executivo local, mas logo depois foi substituído por Deraldo Mendes Ferraz, com o qual rompeu e contra quem desenvolveu oposição através das páginas de seu jornal Avante. Acusado injustamente de conspirar contra a ordem, fazendo propaganda da Revolta Constitucionalista de 1932, foi preso e conduzido para a casa de detenção de Salvador e, depois de vários dias, libertado. Temendo ser assassinado, após retornar a Conquista, onde ficou alguns dias, procurou abrigo em Minas Gerais, mas aí não permaneceu. De volta à sua terra, continuou a editar o “Avante”, até que o grupo que governava Conquista mandou incendiar sua tipografia (em novembro de 1933). Em 1935, passou a integrar no grupo político de Regis Pacheco e (assina junto com Régis e João de Oliveira Lopes, convite para a reunião da Concentração Autonomista de Conquista (02.11.1935), tendo-se candidatado a Vereador nas eleições de 1936 alcançando apenas a suplência do cargo. Exerceu cargo público municipal na década de 1950.
Bruno Bacelar, após o “incêndio do Avante”, ainda contribuiu com escritos para jornais locais, tendo sido colaborador do “Sertanejo”, nas décadas de 1960/1970. Redigiu poesias e deixou alguma coisa inédita.
O jornalista gostava de pesquisar a história local e sobre fatos dessa redigia matérias que estampava em jornais da cidade. Algumas dessas são interessantes, especialmente por seu caráter informativo. Foi o primeiro a redigir uma relação cronológica de Intendentes e Prefeitos de Vitória da Conquista, podendo-se mencionar, ainda, dentre outros, A Missa Inaugural da Primeira Igreja de Vitória da Conquista (O Conquistense, 1º de janeiro de 1956), O Açude e a sua Destruição (O Sertanejo, 26 de outubro de 1963).
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Aníbal Viana (Aníbal Lopes Viana)
Aníbal Viana é filho de José Lopes Viana e Belarmina Rosa Lopes Viana. Com seus familiares, José Lopes Viana saíra de Santo Antonio da Barra (hoje Condeúba) e resolvera fixar residência em São João do Paraíso, Estado de Minas Gerais, antes de aqui chegar. Tendo realizado o estudo de primeiras letras em Mucugê, José Lopes Viana retornara para Santo Antonio da Barra, onde desenvolveu pregação abolicionista e republicana, foi adjunto de promotor e advogado provisionado (rábula). As lutas partidárias determinaram sua mudança para São João do Paraíso, local em que residiu até 1917. Em dezembro desse ano, José Lopes Viana veio para Conquista (então nome de Vitória da Conquista), acompanhado de esposa e filhos, município no qual foi Avaliador Privativo do Juízo, colaborou em jornais, foi político vinculado ao grupo do Coronel Gugé, e se tornou um dos melhores professores da localidade.
Anibal Viana chega a Vitória da Conquista em dezembro de 1917, portanto. Aqui cresceu com seus irmãos Asdrubal, Aúreo, Jeni, Guiomar, Carmelita e Braúlia Viana.
Anibal Viana iniciou seus estudos no Colégio Pestalozzi do professor Fabrício Freire, freqüentando por um ano. Depois estudou no Colégio São José, com o professor José Lopes Viana, seu pai. Exerceu cargos públicos, foi suplente de Vereador pelo MTR, partido do qual era Presidente do Diretório, e quando o coronel Bendochi Alves Filho veio desenvolver em Vitória da Conquista a repressão desencadeada pelo Golpe Militar, Anibal Viana foi preso (em 06 de maio de 1964).
Mas sua atividade definitiva foi a de jornalista e proprietário de tipografia. Após colaborar com jornais da cidade, Aníbal Viana fundou “O Jornal”, que circulou pela primeira vez em 15 de agosto de 1958, mas que, em fevereiro de 1969, tomou o nome de “O Jornal de Conquista” e foi editado por 23 anos, com colaborações de Joaquim Viana de Andrade (seu primeiro redator), Asdrubal Lopes Viana, Camilo de Jesus Lima, José Cortes Duarte (de Almenara), João Gustavo dos Santos, Iris Silveira, Fanico (Manoel Meira Campos).
Aníbal Viana era um apaixonado pela História de Vitória da Conquista e já septuagenário completou notas que vinha acumulando há vários anos e publicou, em 1982, a Revista Histórica de Conquista. Trata-se de escrita de um conjunto vasto de fatos e informações sobre o passado desse município e de pessoas e famílias. Como foi dito, muito daquilo que estampou em livro estava escrito (e alguma coisa publicada em seu jornal) há alguns anos, mas houve grande complemento de informações quando o autor resolveu dar forma de livro. Utilizou bastante jornais antigos da cidade dos quais copiou textos ou resumiu informações.
Teve, por muito tempo, um informante privilegiado: Otávio José dos Santos Silva, ex-Prefeito Municipal, dotado de prodigiosa memória(que “herdou” a seu filho Humberto Flores), então o maior conhecedor da política conquistense anterior a 1950, cujos depoimentos foram utilizados. As histórias de famílias que se encontram em sua Revista Histórica foram escritas por integrantes daquelas, em grande número. As biografias existentes nas páginas daquele livro foram em parte fornecida pelos próprios biografados ou por parentes próximos, mas em não poucos casos foram retirados de jornais antigos da cidade. Aliás esses jornais foram utilizados como principal fonte da Revista Histórica de Conquista.
A Revista Histórica de Conquista estende-se por quase oitocentas páginas. Alguns, sem depreciá-la, falam que se trata de uma colcha de retalhos, mas o estudioso saberá colher muito conhecimento desse grande repositório, que é a Revista Histórica, com seus registros de costumes, casos pitorescos, fatos fundamentais, vidas de gente. O bom pesquisador das coisas de Vitória da Conquista irá separar o sim do não e, extasiado com tantas informações que o livro contém, saberá dar-lhe valor, entenderá o objetivo do autor, nunca o descartará, desculpando-lhe a aceitação imediata da versão dos fatos pelo autor: “O que tentei fazer desde longo tempo, depois de profundas pesquisas, lutando contra o indiferentismo de muitos e a má vontade de outros no fornecimento de dados, foi coligir, neste livro, os principais fatos históricos, além dos que presenciei, merecedores de nossa atenção, para que os conquistenses do presente e do futuro tenham um encontro com o passado de nossa querida Vitória da Conquista. É através da história que o presente fala ao passado” (Apresentação, na Revista Histórica de Conquista).
É obra muito desejada pelos conquistenses da terra ou chegantes e quem a possui dela não se desfaz, daí porque não é encontrada em sebos. Com admiração e carinho as pessoas a ela se referem como “o livro de Aníbal”. Bem merece uma edição crítica.
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Mozart Tanajura (José Mozart Tanajura)
Filho de Domingos Espírito Santo Tanajura e Maria Dolores Gomes Tanajura, Mozart Tanajura nasceu em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, no dia 14 de setembro de 1936. Estudou as primeiras letras em sua cidade natal e desde jovem já demonstrava amor pela literatura e pela escrita. Assim é que publicou poemas no jornal “O Lampião”, do Padre Sinval Lamentino. Veio para Vitória da Conquista, onde ensinou em cursos secundários e licenciou-se em Língua Vernácula pela Faculdade de Formação de Professores de Vitória da Conquista, embrião da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Exerceu igualmente o cargo de Coordenador de Atividades Culturais da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, na Administração do Prefeito Raul Ferraz.
Mozart Tanajura tem filhos com Ilza de Souza Tanajura, sua primeira esposa, que são Fabiana e Dolores, e com Maria do Carmo Pereira Tanajura, segunda esposa, que são Mozart Junior e João Vitor.
Era Mozart Tanajura incansável leitor e pesquisador. Conhecia bem, como poucos, a literatura portuguesa do Século XIX e a Literatura Brasileira do Século XIX e do Século XX, até anos 50, especialmente o modernismo.
Deixou crônicas, poesias e apreciações críticas publicadas em jornais. Com Carlos Jehovah de Brito Leite escreveu a peça teatral “O Corpo do Morto”.
Mozart Tanajura é mais conhecido como autor de três obras: “História de Conquista – Crônica de uma Cidade”, publicada em 1992; “História de Livramento – a Terra e o Homem”, editada em 2003, e “História de uma cidade contada por ela mesma”, de 2002. Esta última é uma síntese da história de Vitória da Conquista para crianças.
Lutando com dificuldades para acesso às fontes documentais e com a dispersão de arquivos, Mozart Tanajura nunca esmoreceu. Sua “História de Conquista” foi sonho acalentado por duas décadas. Escreveu-a quando duas circunstâncias se apresentaram: julgou ter amadurecimento para realizar a escrita (sem o que o seu senso crítico não o permitiria) e o convite que lhe fora feito pelo Prefeito Municipal, Carlos Murilo Pimentel Mármore para escrever o livro. Escreveu-o no lapso aproximado de dois anos e percebe-se que o pano de fundo de seu trabalho é a idéia de progresso, quando se decidira a traçar a origem, evolução política e a situação econômica do município. A essa idéia dominante, acrescenta informação sobre diversos aspectos, tradicionais ou atuais: cultura, famílias locais, folclore, literatura, jornalismo, religião, artes plásticas, e a situação da cidade quando da edição do livro. Guarda Mozart Tanajura, em sua História de Conquista, informações valiosas e, muitas vezes, somos surpreendidos por transcrições interessantes, tais como um “Testamento de Judas” e o ABC (Cordel) da Luta entre Meletes e Peduros, aboio e tirana, a demonstrar quanto o autor dava importância ao sentimento popular. A História de Conquista é livro bastante requisitado, encontra-se esgotado e há demanda forte para sua reedição, muito desejada pelo autor nos últimos anos de sua vida. Sua “História de Livramento”, certamente com linguagem mais madura, segue quase que o mesmo modelo de exposição de seu livro anterior. Já a “História de uma Cidade contada por ela mesma” é um ato de amor por Vitória da Conquista. Dedicando-a a seus netos (Vitor Luiz Tanajura Ferreira, Isadora Tanajura Ferreira e Mariana Tanajura Mascarenhas) ele o faz, em suas próprias palavras: “Para que aprendam a amar esta cidade como eu a amo”.
Mozart Tanajura deixou vários escritos inéditos, dentre os quais uma História de Literatura Conquistense (melhoramento e ampliação de um trabalho seu que circulou mimeografado na década de 1980), e um breve estudo sobre Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista.
Mozart Tanajura faleceu em São Paulo, onde foi em busca de cura, em 24 de maio de 2004. Não haveria maior homenagem a sua memória que a reedição de “História da Conquista – Crônica de uma cidade” e a edição de sua “História da Literatura Conquistense”. Esperemos.
                       6
Não termino esse tributo aos nossos cronistas sem a menção a Melquidesedeque Xavier do Nascimento. Este foi o principal colaborador do verbete “Vitória da Conquista” na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (volume XXI – Bahia – M - Z), publicada pelo IBGE. Melque, como é mais conhecido, tornou-se informante, de quantos o procuravam, de fatos do passado e da Geografia de Vitória da Conquista. Era sobretudo um cronista oral (avento essa possibilidade ...), disposto a conversar sobre nossa história. E o que teria sito Otávio José dos Santos Silva, com a sua memória, a falar de fatos e histórias antigas da terra conquistense, senão um prodigiosos cronista oral? Como seria bom que ele houvesse escrito, além de prestar informações a Anibal Viana. Seu filho, Humberto Flores, herdou-lhe a memória e o gosto pela boa prosa sobre o passado. É outro cronista oral. Outros vêm aparecendo: Francisco Paulo, apaixonado por nossa história, já escreveu sobre médicos do passado e do presente e editará uma História da Santa Casa de Misericórdia de Vitória da Conquista. Dilson Ribeiro, após publicar suas memórias, editou um livro sobre Conquista e promete, em colaboração com outros, editar ainda em 2007, uma biografia de José Pedral.
A crônica flui.
                Ruy Medeiros

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