Tributo a Nossos Cronistas
Ruy Medeiros
Escrito e lido como parte das
comemorações de 167 anos de elevação do Distrito da Vitória a Imperial Vila da
Vitória (hoje Município de Vitória da Conquista).
Vitória da
Conquista, 11 de novembro de 2007.
Tributo a
nossos Cronistas
A
palavra cronista (cronistas) que compõe o nome do presente texto não tem o
significado literário corrente, nem o sentido do modelo historiográfico dominante
na Idade Média até o século XV e que tem como exemplos, dentre outros, a
Crônica Geral de Espanha (1344), as Crônicas de Fernão Lopes, a Crônica Régia
de Rui de Pina, modelo que foi substituído pelo de memórias históricas,
que anunciará caminhos para os historiadores do Século XVIII e inícios do
Século XIX.
Aqui,
a palavra compreende autores de textos informativos sobre a história e demais
aspectos da realidade local, desde a corografia até o texto não
ficcional, de modelo historiográfico não acadêmico, que não pode ser
considerado do mesmo tipo das memórias históricas, embora seja desse que
se aproxima, do fazer história informativa como tradicionalmente se costuma
fazer, com preocupação investigativa, mas sem filiação às escolas que abalaram
a compreensão da escrita da história, no Século XX.
Deve
ser realçada a importância desses “cronistas” para a sociedade local, onde são
admirados e aceitos como seus historiadores concretamente. Esse é o sentido
maior do presente tributo. São os nossos cronistas/historiadores os guardiães e
transmissores da memória local.
O
título – Tributo a nossos Cronistas – foi sugerido pelo professor José Raimundo
Fontes.
1
Tranquilino Torres (Tranquilino Leovigildo Torres)
Sobre
Tranquilino Torres, disse em outra oportunidade, o que ora transcrevo:
Tranquilino
Leovigildo Torres, filho de Belarmino Silvestre Torres e de Umbelina Emília dos
Santos, é natural de Condeúba (município que tinha denominação de Santo Antônio
da Barra), zona da Serra Geral, no Estado da Bahia, onde nasceu no dia 30 de
agosto de 1859. Seu pai, Belarmino silvestre Torres, foi vigário da Freguesia
de Santo Antônio da Barra e Deputado Provincial nas legislaturas de 1882-1883 e
1886-1887. A
mãe de Tranquilino Torres era uma senhora muito estimada em sua cidade, viúva
do comerciante José Rodrigues Coelho.
Iniciou
Tranquilino Torres seus estudos em sua terra natal, onde completou o curso
primário. Em Salvador, estudou nos Colégios “São João” e “Sete de Setembro”,
figurando, dentre seus educadores, Luiz França Pinto de Carvalho e João
Estanislau da Silva Lisboa, ilustres professores daquele tempo. O curso
superior, Tranquilino realizou na velha Faculdade de Direito de Recife, onde
colou grau em 25 de novembro de 1882, portanto com 23 anos de idade.
Formado
em Direito, Tranquilino Torres mudou-se para a Imperial Vila da Vitória (hoje
Vitória da Conquista), na Bahia, para ai exercer o cargo de Promotor Público.
Posteriormente foi Juiz Preparador em Santa Isabel do Paraguassu (atualmente Mucugê), ainda
na Bahia, e juiz de Direito de Macaúbas (Bahia). Finalmente, foi nomeado membro
do Tribunal de Conflitos e Administrativo, na qualidade de representante do
Senado da Bahia.
Tranquilino
torres casou-se, em 21 de abril de 1883, com Maria da Purificação Coutinho
França, filha do Capitão Henrique da França Pinto de Oliveira Garcez e de D.
Maria José Coutinho França. Deixou o casal Tranquilino – Maria da Purificação
filhos, que são os seguintes: Maria Torres, Octávio Torres, Celso Torres, Enock
Torres e Maria Madalena. De uma relação anterior ao casamento, Tranquilino
deixou uma filha com Ana Rosa Borges da Silva, Josefina Augusta Torres, que
faleceu em 4 de março de 1898, na cidade de Santo Amaro, Bahia.
Em
22 de maio de 1896, faleceu Tranquilino Leovigildo Torres, em Salvador, Bahia.
D. Maria da Purificação Coutinho França Torres sobreviveu-lhe e contraiu
segundas núpcias com o Dr. Gonçalo Muniz Sodré de Aragão, seu primo, com o qual
teve os filhos Luiz, que faleceu ainda criança, e Alice Muniz Sodré de Aragão,
a qual contrairia núpcias, em 1934, com o pintor Presciliano Silva.
Tranquilino
Torres, a par de estudos jurídicos publicados na “Revista dos Tribunais” e em “
O Direito”, foi pesquisador e dedicado estudioso da História. Com justiça é
considerado fundador (fase de refundação) do Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia, do qual foi presidente por diversas vezes.
Da
lavra de Tranquilino Torres, na área da História, destacam-se: “Memória
Descritiva do Município de Condeúba”, “O Município de Victoria”, “Município dos
Poções”, “Memória sobre o Município de Santa Isabel do Paraguassu”, “Memória
Histórica sobre o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia”. É interessante
lembrar que Tranquilino Torres escreveu um “Dicionário de Nomes Próprios,
Cognomes e Apelidos”.
O Município da Victória inscreve-se na tradição das
“corografias”, usuais no século passado. De início, o trabalho fora escrito
para figurar no Dicionário Geográfico e Histórico do Brazil, de Dr.
Alfredo Moreira Pinto, onde foi estampado. Porém foi antes publicado em páginas
do jornal Diário da Bahia e, depois, na Revista Tridimensal do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, dividido em duas partes,
respectivamente em o número 12, ano IV, páginas 157 a 174, e número 13, ano
V, páginas 529 a
545. Na década de 20, a
obra foi publicada, por partes, no jornal A Notícia, de Vitória da
Conquista, Bahia. Da pequena monografia muito se valeu Durval Vieira de Aguiar,
copiando-a quase que integralmente em sua Decrições Práticas
da Província da Bahia – com declaração de todas as distâncias intermediárias
das Cidades, Vilas e Povoações (Tipografia do Diário da Bahia, Salvador,
1888), quando trata da Imperial Vila da Vitória.
Durante
muito tempo O Município da Vitória foi a fonte de que se dispunha para
estudar o Município de Vitória da Conquista, embora pouco divulgada e pouco
reeditada.
O Município da Vitória é uma “corografia” isto é, descrição
de uma região (ou de um país) particular, sob diversos aspectos. No caso
presente é a descrição do Município de Vitória da Conquista (nome atual).
Embora destituído de espírito crítico, o trabalho é bastante informativo.
Vale-se o autor da observação direta e pessoal, de informes orais, da tradição
e de fontes escritas (estas citadas incompletamente ou não citadas). Suas
fontes escritas principais são Corografia ou abreviada história geográfica
do Império do Brasil, especialmente da Província, e Cidade de S. Salvador Bahia
de Todos os Santos, por Domingos José Antônio Rabelo, datada de 1829; Memória
Sobre as Vantagens do Laboratório de Diferentes Pedreiras, Existentes na Bahia,
de André Przewodovski; Relatório do Diretor da Colonização do Rio de
Contas ao Presidente da Província da Bahia, de 1 de dezembro de 1858; o não
citado Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do
Brasil, de J. C. R. Milliet de Saint Adolphe (obra traduzida por Dr.
Caetano Lopes de Moura, Paris, Aillaud, 1845, 2 vols.); possivelmente a Memória
sumária e Compendiosa da Conquista do Rio Pardo, de João Gonçalves da Costa;
as Memórias Históricas e Políticas da Província da Bahia, de Ignácio
Accioli de Cerqueria e Silva (obra publicada gradativa e incompletamente de 1835 a 1843), enquanto que
muitas informações existentes naquela obra sugerem pesquisa em arquivo,
inclusive arquivo especificamente eclesiástico.
2
Durval
Vieira de Aguiar
Aqui
repito, quase que totalmente parte de artigo escrito em 1977, em Fifó, quanto a
Durval Vieira de Aguiar.
Durval
Vieira de Aguiar escreveu Descrições Práticas da Província da Bahia, em 1888,
reeditada quase Cem anos após com o título A Província da Bahia.
“Descrições
Práticas da Província da Bahia”, publicação oficial, Salvador, 1888.
O
livro de Durval Vieira de Aguiar dedica 26 páginas à Imperial Villa da
Victoria. Conta a história da Vila, destacando a luta dos índios contra os
colonizadores, descreve o núcleo urbano da época (1888), fala do ensino, das
finanças, da economia, das estradas, da população, da topografia do município e
arrola as riquezas minerais e vegetais deste. Pouco acrescentou ao que Tranquilino
Torres escreveu. Copiou grande parte – a maior – a Memória de
Tranquilino.
Sobre
o autor, há pequena referência no estudo “Notícia Histórica da Vila da Baixa
Grande”, de autoria de Deolindo Amorim: “Em 1888 era Presidente da Província da
Bahia o Conselheiro José Luiz de Almeida Couto, já pela 2ª vez, tendo o seu
governo tomado o maior interesse pelo estudo topográfico e histórico das
municipalidades da província. Foi incumbido de fazer este estudo e reunir os
seus dados em trabalhos oficiais o Cel. Durval Vieira de Aguiar, comandante do
Corpo Policial da Província, homem estudioso e de muito valor pessoal. É justo
recordar que o Cel. Durval foi, neste alto posto de comando, uma das figuras
principais na Bahia por ocasião da proclamação da república, ao lado do grande
republicano Cons. Virgílio Damásio. Mas a preferência do governo provincial
obedeceu ainda a uma circunstância importante para o assunto. Sendo o Cel.
Durval oficial de Polícia, teve ocasião de percorrer as diversas regiões do
interior baiano, ora comandando destacamentos, ora como oficial subalterno, e
até mesmo como capitão, observou bem, fazendo valiosos relatos de várias
cidades e vilas da província. Era um perfeito conhecedor do território baiano”.
Os
acréscimos feitos à Memória de Tranquilino Torres, embora pequenos, possuem
certa importância, especialmente notícia sobre a escola existente e finanças
públicas, além do aspecto geral da vila.
3
Bruno Bacelar (Bruno Bacelar de Oliveira)
Bruno
Bacelar nasceu em 21 de dezembro de 1899. É o primeiro Bacelar nascido em terra
conquistense, informa Aníbal Viana. É filho de José Nunes de Oliveira
(conquistense) e Mariana Fagundes Bacelar (sertaneja de Caetité). Fez seu curso
primário com a professora Honorina Andrade, em Vitória da Conquista. Trabalhou
desde cedo. Foi balconista da loja de seu padrinho (Rodrigo Santos),
gerente do Bazar 17, em Vitória da Conquista, e gerente do armazém do
comerciante João Ribeiro, em Verruga, hoje Itambé. Depois, montou uma padaria,
de sua propriedade, em Conquista, cidade onde depois também teve loja de
tecidos.
Casou-se
com Maria Flores de Melo, de quem ficou viúvo, vindo a contrair segundas
núpcias com Maria Carolina Magalhães com a qual teve os filhos Ruy Bruno
Bacelar de Oliveira, Anisalves Bacelar e Stela D’Alva Bacelar. Em terceiro
relacionamento, com
Anália Santos, Bruno Bacelar teve Bruno Bacelar de Oliveira Santos,
Benigno Alves dos Santos Bacelar e Giordano Bruno Bacelar de Oliveira.
Bruno
Bacelar destacou-se como jornalista e político. Escreveu matérias para o jornal
“A Semana” (década de 1920), O Combate (final da década de 1920), A Vanguarda
(década de 1920), criou o Jornal Avante, em 27 de maio de 1931, que circulou
até 1933.
Bruno
Bacelar ajudou a fundar o diretório do Partido Liberal Republicano Conquistense
afinado com os ideais da frente Liberal. Ele e Laudionor redigiram pequenos
artigos de propaganda política, depois reunidos no livro “De Lenço Vermelho”,
editado em 1929. Com a Revolução de 1930, foi destituído do Cargo de Prefeito
Otávio José dos Santos
Silva, e Bruno Bacelar ocupou a chefia do executivo local, mas logo depois foi
substituído por Deraldo Mendes Ferraz, com o qual rompeu e contra quem
desenvolveu oposição através das páginas de seu jornal Avante. Acusado
injustamente de conspirar contra a ordem, fazendo propaganda da Revolta
Constitucionalista de 1932, foi preso e conduzido para a casa de detenção de
Salvador e, depois de vários dias, libertado. Temendo ser assassinado, após
retornar a Conquista, onde ficou alguns dias, procurou abrigo em Minas Gerais , mas aí
não permaneceu. De volta à sua terra, continuou a editar o “Avante”, até que o
grupo que governava Conquista mandou incendiar sua tipografia (em novembro de
1933). Em 1935, passou a integrar no grupo político de Regis Pacheco e (assina
junto com Régis e João de Oliveira Lopes, convite para a reunião da
Concentração Autonomista de Conquista (02.11.1935), tendo-se candidatado a
Vereador nas eleições de 1936 alcançando apenas a suplência do cargo. Exerceu
cargo público municipal na década de 1950.
Bruno
Bacelar, após o “incêndio do Avante”, ainda contribuiu com escritos para
jornais locais, tendo sido colaborador do “Sertanejo”, nas décadas de
1960/1970. Redigiu poesias e deixou alguma coisa inédita.
O
jornalista gostava de pesquisar a história local e sobre fatos dessa redigia
matérias que estampava em jornais da cidade. Algumas dessas são interessantes,
especialmente por seu caráter informativo. Foi o primeiro a redigir uma relação
cronológica de Intendentes e Prefeitos de Vitória da Conquista, podendo-se
mencionar, ainda, dentre outros, A Missa Inaugural da Primeira Igreja de
Vitória da Conquista (O Conquistense, 1º de janeiro de 1956), O Açude e
a sua Destruição (O Sertanejo, 26 de outubro de 1963).
4
Aníbal Viana (Aníbal Lopes Viana)
Aníbal
Viana é filho de José Lopes Viana e Belarmina Rosa Lopes Viana. Com seus
familiares, José Lopes Viana saíra de Santo Antonio da Barra (hoje Condeúba) e
resolvera fixar residência em
São João do Paraíso, Estado de Minas Gerais, antes de aqui
chegar. Tendo realizado o estudo de primeiras letras em Mucugê, José Lopes
Viana retornara para Santo Antonio da Barra, onde desenvolveu pregação
abolicionista e republicana, foi adjunto de promotor e advogado provisionado
(rábula). As lutas partidárias determinaram sua mudança para São João do
Paraíso, local em que residiu até 1917. Em dezembro desse ano, José Lopes Viana
veio para Conquista (então nome de Vitória da Conquista), acompanhado de esposa
e filhos, município no qual foi Avaliador Privativo do Juízo, colaborou em
jornais, foi político vinculado ao grupo do Coronel Gugé, e se tornou um dos
melhores professores da localidade.
Anibal
Viana chega a Vitória da Conquista em dezembro de 1917, portanto. Aqui cresceu
com seus irmãos Asdrubal, Aúreo, Jeni, Guiomar, Carmelita e Braúlia Viana.
Anibal
Viana iniciou seus estudos no Colégio Pestalozzi do professor Fabrício Freire,
freqüentando por um ano. Depois estudou no Colégio São José, com o professor
José Lopes Viana, seu pai. Exerceu cargos públicos, foi suplente de Vereador
pelo MTR, partido do qual era Presidente do Diretório, e quando o coronel
Bendochi Alves Filho veio desenvolver em Vitória da Conquista a repressão
desencadeada pelo Golpe Militar, Anibal Viana foi preso (em 06 de maio de
1964).
Mas
sua atividade definitiva foi a de jornalista e proprietário de tipografia. Após
colaborar com jornais da cidade, Aníbal Viana fundou “O Jornal”, que circulou
pela primeira vez em 15 de agosto de 1958, mas que, em fevereiro de 1969, tomou
o nome de “O Jornal de Conquista” e foi editado por 23 anos, com colaborações
de Joaquim Viana de Andrade (seu primeiro redator), Asdrubal Lopes Viana,
Camilo de Jesus Lima, José Cortes Duarte (de Almenara), João Gustavo dos Santos,
Iris Silveira, Fanico (Manoel Meira Campos).
Aníbal
Viana era um apaixonado pela História de Vitória da Conquista e já
septuagenário completou notas que vinha acumulando há vários anos e publicou,
em 1982, a
Revista Histórica de Conquista. Trata-se de escrita de um conjunto vasto de
fatos e informações sobre o passado desse município e de pessoas e famílias.
Como foi dito, muito daquilo que estampou em livro estava escrito (e alguma
coisa publicada em seu jornal) há alguns anos, mas houve grande complemento de
informações quando o autor resolveu dar forma de livro. Utilizou bastante
jornais antigos da cidade dos quais copiou textos ou resumiu informações.
Teve,
por muito tempo, um informante privilegiado: Otávio José dos Santos Silva,
ex-Prefeito Municipal, dotado de prodigiosa memória(que “herdou” a seu filho
Humberto Flores), então o maior conhecedor da política conquistense anterior a
1950, cujos depoimentos foram utilizados. As histórias de famílias que se
encontram em sua
Revista Histórica foram escritas por integrantes daquelas, em
grande número. As biografias existentes nas páginas daquele livro foram em
parte fornecida pelos próprios biografados ou por parentes próximos, mas em não
poucos casos foram retirados de jornais antigos da cidade. Aliás esses jornais
foram utilizados como principal fonte da Revista Histórica de Conquista.
A Revista Histórica de Conquista
estende-se por quase oitocentas páginas. Alguns, sem depreciá-la, falam que se
trata de uma colcha de retalhos, mas o estudioso saberá colher muito
conhecimento desse grande repositório, que é a Revista Histórica, com
seus registros de costumes, casos pitorescos, fatos fundamentais, vidas de
gente. O bom pesquisador das coisas de Vitória da Conquista irá separar o sim
do não e, extasiado com tantas informações que o livro contém, saberá dar-lhe
valor, entenderá o objetivo do autor, nunca o descartará, desculpando-lhe a
aceitação imediata da versão dos fatos pelo autor: “O que tentei fazer desde
longo tempo, depois de profundas pesquisas, lutando contra o indiferentismo de
muitos e a má vontade de outros no fornecimento de dados, foi coligir, neste
livro, os principais fatos históricos, além dos que presenciei, merecedores de
nossa atenção, para que os conquistenses do presente e do futuro tenham um
encontro com o passado de nossa querida Vitória da Conquista. É através da
história que o presente fala ao passado” (Apresentação, na Revista Histórica de
Conquista).
É
obra muito desejada pelos conquistenses da terra ou chegantes e quem a possui dela
não se desfaz, daí porque não é encontrada em sebos. Com admiração e
carinho as pessoas a ela se referem como “o livro de Aníbal”. Bem merece uma
edição crítica.
5
Mozart Tanajura (José Mozart
Tanajura)
Filho
de Domingos Espírito Santo Tanajura e Maria Dolores Gomes Tanajura, Mozart
Tanajura nasceu em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, no dia 14 de setembro de
1936. Estudou as primeiras letras em sua cidade natal e desde jovem já
demonstrava amor pela literatura e pela escrita. Assim é que publicou poemas no
jornal “O Lampião”, do Padre Sinval Lamentino. Veio para Vitória da Conquista,
onde ensinou em cursos secundários e licenciou-se em Língua Vernácula
pela Faculdade de Formação de Professores de Vitória da Conquista, embrião da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Exerceu igualmente o cargo de
Coordenador de Atividades Culturais da Secretaria Municipal de Educação e
Cultura, na Administração do Prefeito Raul Ferraz.
Mozart
Tanajura tem filhos com Ilza de Souza Tanajura, sua primeira esposa, que são
Fabiana e Dolores, e com Maria do Carmo Pereira Tanajura, segunda esposa, que
são Mozart Junior e João Vitor.
Era
Mozart Tanajura incansável leitor e pesquisador. Conhecia bem, como poucos, a
literatura portuguesa do Século XIX e a Literatura Brasileira do Século XIX e
do Século XX, até anos 50, especialmente o modernismo.
Deixou
crônicas, poesias e apreciações críticas publicadas em jornais. Com Carlos
Jehovah de Brito Leite escreveu a peça teatral “O Corpo do Morto”.
Mozart
Tanajura é mais conhecido como autor de três obras: “História de Conquista –
Crônica de uma Cidade”, publicada em 1992; “História de Livramento – a
Terra e o Homem”, editada em 2003, e “História de uma cidade contada por
ela mesma”, de 2002. Esta última é uma síntese da história de Vitória da
Conquista para crianças.
Lutando
com dificuldades para acesso às fontes documentais e com a dispersão de
arquivos, Mozart Tanajura nunca esmoreceu. Sua “História de Conquista”
foi sonho acalentado por duas décadas. Escreveu-a quando duas circunstâncias se
apresentaram: julgou ter amadurecimento para realizar a escrita (sem o que o
seu senso crítico não o permitiria) e o convite que lhe fora feito pelo
Prefeito Municipal, Carlos Murilo Pimentel Mármore para escrever o livro.
Escreveu-o no lapso aproximado de dois anos e percebe-se que o pano de fundo de
seu trabalho é a idéia de progresso, quando se decidira a traçar a origem,
evolução política e a situação econômica do município. A essa idéia dominante,
acrescenta informação sobre diversos aspectos, tradicionais ou atuais: cultura,
famílias locais, folclore, literatura, jornalismo, religião, artes plásticas, e
a situação da cidade quando da edição do livro. Guarda Mozart Tanajura, em sua História
de Conquista, informações valiosas e, muitas vezes, somos surpreendidos por
transcrições interessantes, tais como um “Testamento de Judas” e o ABC (Cordel)
da Luta entre Meletes e Peduros, aboio e tirana, a demonstrar quanto o autor
dava importância ao sentimento popular. A História de Conquista é livro
bastante requisitado, encontra-se esgotado e há demanda forte para sua
reedição, muito desejada pelo autor nos últimos anos de sua vida. Sua “História
de Livramento”, certamente com linguagem mais madura, segue quase que o
mesmo modelo de exposição de seu livro anterior. Já a “História de uma
Cidade contada por ela mesma” é um ato de amor por Vitória da Conquista.
Dedicando-a a seus netos (Vitor Luiz Tanajura Ferreira, Isadora Tanajura
Ferreira e Mariana Tanajura Mascarenhas) ele o faz, em suas próprias palavras:
“Para que aprendam a amar esta cidade como eu a amo”.
Mozart
Tanajura deixou vários escritos inéditos, dentre os quais uma História de
Literatura Conquistense (melhoramento e ampliação de um trabalho seu que
circulou mimeografado na década de 1980), e um breve estudo sobre Prefeitura
Municipal de Vitória da Conquista.
Mozart
Tanajura faleceu em São
Paulo , onde foi em busca de cura, em 24 de maio de 2004. Não
haveria maior homenagem a sua memória que a reedição de “História da Conquista
– Crônica de uma cidade” e a edição de sua “História da Literatura
Conquistense”. Esperemos.
6
Não
termino esse tributo aos nossos cronistas sem a menção a Melquidesedeque Xavier
do Nascimento. Este foi o principal colaborador do verbete “Vitória da
Conquista” na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (volume XXI – Bahia – M -
Z), publicada pelo IBGE. Melque, como é mais conhecido, tornou-se informante,
de quantos o procuravam, de fatos do passado e da Geografia de Vitória da Conquista.
Era sobretudo um cronista oral (avento essa possibilidade ...), disposto a
conversar sobre nossa história. E o que teria sito Otávio José dos Santos Silva,
com a sua memória, a falar de fatos e histórias antigas da terra conquistense,
senão um prodigiosos cronista oral? Como seria bom que ele houvesse escrito,
além de prestar informações a Anibal Viana. Seu filho, Humberto Flores,
herdou-lhe a memória e o gosto pela boa prosa sobre o passado. É outro cronista
oral. Outros vêm aparecendo: Francisco Paulo, apaixonado por nossa história, já
escreveu sobre médicos do passado e do presente e editará uma História da Santa
Casa de Misericórdia de Vitória da Conquista. Dilson Ribeiro, após publicar
suas memórias, editou um livro sobre Conquista e promete, em colaboração com
outros, editar ainda em 2007, uma biografia de José Pedral.
A
crônica flui.
Ruy Medeiros
Nenhum comentário:
Postar um comentário