UESB- A Representatividade da Ironia
Ruy Medeiros. (Digitado, 05/1999)
Pois
é. O eleitorado da Universidade Estadual do Sudoeste optou por reconduzir ao
reitorado o professor Waldenor Alves Pereira Filho. A diferença
de votos entre o primeiro colocado e os demais concorrentes ( André Brandão e Albertina Vasconcelos)
foi muito grande.
A
polarização de campanha entre Waldenor e André fez surgir a inadequada história
do voto útil lançada contra a historiadora Albertina Vasconcelos. É preciso
acabar com essa bobagem da história de voto útil. Quem entende que é
taticamente correto disputar espaços no aparelho do Estado, como consequência
precisa entender que as pessoas devem votar em projeto e que, sob a ótica
de “aproveitar as brechas do
sistema”, é legítimo que quem tenha
projeto dispute eleição. O problema é admitir ou não o tipo de tática.
Ou
seja, se se opta pela via institucional
para supostamente ocupar espaços e alargar âmbito de participação, como se diz,
os diversos projetos devem evidenciar no processo, disputando ou criando
condições de futuras disputas. O que importa,
para os disputantes, é o projeto que devem possuir. Então, usar a “teoria” do voto útil não deixa de ser arma
para desqualificar adversário e para rebaixar a discussão.
No
entanto, a questão central continua sendo a resposta à pergunta - a luta por
dentro das instituições públicas é caminho correto para uma política de
esquerda?
A
questão é essa. Não se pode iludir. Argumentos de exclusividade, para quem
disputa no mesmo campo, termina por ser contra-senso, porque importa em excluir
( e com isso estreitar espaço, ao invés de alargá-lo - o
que faz cair por terra a idéia de que a luta em espaço institucional visa a
ampliar as condições de disputa política).
Feito
o torneio acima, é bom retomar o curso. Pois é, Waldenor Alves Pereira Filho,
Nonô, filho de Nozinho Coletor, venceu as eleições de forma muito ampla. Já é
o “reitor moral”. No entanto, para ser reitor nomeado há alguma
distância. Agora vive-se o momento de análise de probabilidade. A UESB
tornou-se muito importante e a questão da escolha do reitor interessa a muita
gente. A direita vinha preparando caminho. O centro e as esquerdas
domesticadas, idem.
No
preparo do caminho, a violência contra as regras do jogo foi utilizada: O CONSU
- Conselho Universitário - teve de alterar por duas vezes, por pressão
superior, a regulamentação eleitoral. Dentre possibilidades de
representatividade, finalmente foi aprovada a forma de votação uninominal. Isto
é: para cada eleitor, um candidato.
Abertas as urnas, veio o resultado: Waldenor - 65,60% dos votos; André Luis
Brandão - 24,76% dos votos, e Albertina Vasconcelos - 9,62% dos votos. É bem
eloquente que a comunidade acadêmica optou pelo nome de Waldenor e o quer
reitor (perdoem a rima): Lógica do caminho institucional. Mas a lógica de mais
votado, seguramente eleito não é algo
pacífico.
A
idéia de eleição funda-se em noção de representatividade. O eleito representa
a “vontade geral” (Rousseau), ou a
vontade da maioria, à qual a minoria deve submeter-se, porém tendo seus “direitos”
respeitados. No entanto, o Estado conseguiu restringir mais ainda a
idéia de representatividade. Por lei, o Sr. Governador do Estado da (pobre) Bahia deve escolher qualquer um dos
três: Waldenor, André ou Albertina. Isso significa precisamente que a
representatividade, em que a burguesia diz sustentar seu sistema democrático,
não é tão representativa assim, pois permite deixar o mais votado para escolha
daquele que obteve menos de um quarto dos votos apurados. Em todas as letras: a
representatividade é negada.
Porém
o embrulho não para aí. Não é só a negativa da representatividade. O fato é que
ocorre a inversão: o menos votado recebe a palma, mesmo que sua votação tenha
sido ínfima. Negatividade dentro da negatividade, fato que supõe a substituição
da maioria esmagadora pelo diktat do ocupante do poder. Onde a
representatividade? Onde a ilusão da via institucional? - Que regra é essa que permite sua despudorada violação? Disse
que o embrulho não para aí. O atentado à lógica
“representativa” é maior:
Concorreram apenas 3 candidatos. Assim houve três candidatos “votados”.
Pode-se falar de “lista com os
três candidatos mais votados”? 3 mais
votados implica em relação de grandeza com outro ou outros menos votados.
Então, importa dizer que o Governador irá escolher entre os três votados? Como
fica a não desprezível (pela idéia de representatividade) expressão “mais votados”? Numa relação de três, fica excluída a
expressão “três mais votados”. É evidente que aqui se discute a nível de uma
lógica apenas formal para admitir-se a exclusão do termo “3 mais votados” ( o Governador deve escolher
a partir de lista tríplice com os mais votados), reduzindo-se a escolha dentre
os três votados e, com isso, a lógica representativa sofre agressão. Como foi
dito, a representatividade não é tão “representativa”.
Para
atender à vontade majoritária e a expressão
“mais votados” o Governador, submetendo-se à representatividade ( a
diferença de votos foi substancial), deveria nomear o mais votado. Mas, mesmo
aí, o eleito passará inevitavelmente gravitar no âmbito do Estado, como gerente
deste, cerceado por mil limites. Ou como diria o cinegrafista Jorge Luiz
Melquisedeque: “Pega o violão com a
esquerda e toca com a direita”. Não deixa de ser uma ironia da
representatividade, ou outra violência contra esta. Representatividade? Pois
sim!
Como
se vê, o direito público se faz às avessas.
Mas
essa é outra história. Uma história de contradição no âmago da democracia
burguesa que não pode esconder a distância entre mandantes e mandatários e
entre democracia formal e democracia material. Melhor mesmo é que caminhos
outros sejam seguidos: caminhos que impliquem em liberdade e igualdade social,
a fim de que o mandante não se oponha ao mandatário.
Mas
em toda a história política baiana há aqueles que preferem óleo de peroba a água.
Haja óleo.
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