Ruy
Medeiros
Há
alguns anos, na cidade de Camaçari, foi dada a ordem: demolir! Agentes da ordem
e do dinheiro (seriam a mesma coisa) mandaram não poupar nenhuma veleidade de
sonho ou resistência.
O
tratorista baixou a lâmina e movimentou sua máquina. De repente olhou mais
atentamente: havia pessoas e seus casebres, último reduto a que se recolheu a
necessidade de abrigo. Olhou novamente. E olhou. Viu gente, angustia e
necessidade.
Dentro
do motorista cresceu humanidade. Ele chorou. Desceu do trator e chorou. Entre a
ordem, mulheres e homens com sonho pobre de abrigar-se em quase casebres, ele
abandonou a ordem, mesmo sabendo que comprometeria seu emprego-subsistência.
Havia uma verdade maior a respeitar, ele o entendeu.
Hoje,
vejo repetir-se a primeira parte da história de Camaçari, mas não vejo a máquina
parar. Vejo ordem repugnante e demolição. Ouço mesmo a ordem. Mas percebo
sobretudo sofrimento, não apenas pela perda de algo, que era abrigo relevante,
uma última trincheira, mas sofrimento intenso de vítima. E decepção quanto à
autoria, sua ordem e seu poder.
Aí a
civilização parou. Mas o que é civilização?
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