Hemetério, velho professor, acabou de barbear-se. Cantarolou Bandiera Rossa e leu pela milésima vez os versos de Jean Cláudio:
“E vejo entre o porto de areia e mata
o canto do bicho camacã.
E vejo o uivo do rio que atraca
cia e mata pela mata
onde o gavião voa
liquidamente nas asas da terra…
– E novamente aqui estou
a ver luzes
pequeninas luzes
tragando o aboio do sereno.”
Esse menino vai longe, disse para si. Pegou o chapéu, traspôs o gradil e, cem metros depois, entrou no mercadinho para comprar cachaça para o licor.
– Gosta de uma pinga, professor?
– Você parece que me persegue, Chiquinho. O que há?
– Professor, o que é nepotismo?
Ora rapaz, nem isso você sabe. Disso a imprensa fala tanto. Vou-lhe responder em consideração à sua mãe (grande mulher, grande mulher, disse em pensamento). Nepotismo… a palavra vem do latim nepos (sobrinho) com acréscimo o sufixo ismo. Certos papas concediam favores, autoridade e privilégios grandes aos seus parentes, em especial aos “nepos” (sobrinhos). A palavra pegou, como se diz, e hoje significa o abuso praticado por autoridades públicas, em uso indevido da posição que ocupam, para favorecer, geralmente com emprego, cargo ou função, seus parentes ou parentes de amigos, sem levar em consideração a competência pessoal desses. Ok? Essa prática é condenável e o próprio Supremo Tribunal Federal editou súmula sobre isso para deixar claro.
Agora entendi, professor. Mas até mesmo na Vila? Pode comprar sua pinga tranquilo, professor. Que pena que o senhor não gosta de nepotismo… Mas aqui, também, professor?
O professor foi à banca, pegou o jornal e lá encontrou notícia nada edificante sobre um tal Gedel, residente em Salvador, do qual consta que foi um ministro relâmpago. E hoje praticamente está sem influência política por fortes acusações de prática que ofende o direito.
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