quinta-feira, 9 de março de 2017

Da Série o Professor Hemetério e seu detestável Aluno(6)- Sexta Conversa - http://www.blogdopaulonunes.com

Da Série o Professor Hemetério e seu detestável Aluno- Sexta Conversa




Ruy Medeiros

O bilhete era brevíssimo: Hemetério, envia-me algum livro sobre o feminismo. Preciso tirar uma dúvida sobre Bertha Lutz para minha palestra de amanhã. Isadora.
– Espere um pouco, Chiquinho, que logo lhe entrego o livro pedido por Silvia (grande mulher, grande mulher).
O professor foi à estante e lá pegou dois livros.
Enquanto o desastrado Chiquinho mexia nos CDs, o Professor meditava sobre o difícil percurso da luta das mulheres. A luta ombro-a-ombro com os homens nas unidades fabris, e naslides da lavoura. A difícil luta contra longas e extenuantes jornadas de trabalho e por aumento de salário. Destaque para as mulheres anarquistas com sua União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas do Rio de Janeiro. Seu manifesto inicial começava com forte afirmação: “Vos que sois precursores de uma era onde possa reinar a igualdade para todos, escutai: tudo o que fazeis em prol do progresso, militando no seio de nossas associações de classe, não basta!” Nessa fase é fundamental a presença de Maria Moura.
Continuou o professor Hemetério a relembrar, e sua memória evocou a Federação Brasileira para o Progresso Feminino, e a figura central de Bertha Lutz, filha de uma enfermeira inglesa com o cientista Adolfo Lutz, e a luta pelo voto feminino. Seu sufragismo seria coroado com o reconhecimento do direito ao voto pouco depois da Revolução de 1930.
Depois a escolha pela luta contra carestia.
Mas, nos anos de 1960/1970, elas se organizam em movimentos efetivamente feministas, com dificuldades, pois o País encontrava-se em período de ditadura militar. O Conselho Nacional da Mulher promoveu seu grande congresso, tendo à frente Romy Medeiros, em 1972, e aí ficaram evidentes que novos rumos deveriam ser adotados. Muitas desconfiavam das relações de Romy com o governo.
A leitura de Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo) passou a ser obrigatória. A sociedade patriarcal, machista, o domínio do homem passaram a ser analisados, discutidos e denunciados. Foram elas que criaram também o movimento pela anistia, em plena Ditadura Militar.
Mas a luta continuou e com ela a visão de que, além da participação política e da luta contra o monopólio machista do poder, algo precisava ficar claro: qual mesmo era a questão? Tratava-se de entender o gênero. Escreveram sobre isso. Rose Maria Muraro, Safioti, e muitas outras. Iniciou-se igualmente a luta pela proteção da mulher e de seu corpo.
O desenvolvimento de estudos a partir da hermenêutica pretendeu trazer novas contribuições e algumas entenderam que com sua estética, sua busca de prazer, sua escolha sensual, o homem havia grandemente moldado as mulheres. Grandes telas retrataram a beleza desejada pelos homens, idem quanto a escultura, romances edificaram um espírito feminino desejado pelos homens, a sensualidade feminina era aquela da poesia, da prosa e da arte masculina (inclusive “O Beijo” de Klimt). Era preciso verificar se os chamados atributos femininos eram realmente decorrência do seu gênero? Pensaram. Seria um exagero? Afinal elas também nos construíram, a nós homens. É uma troca na civilização. Homens e mulheres se inventam, se constroem. O capital destrói afinidades.
O pensamento do professor voava. Ele considerou que as mulheres continuam suas buscas e sempre buscaram a autocompreensão e a liberdade.
Chiquinho disse: Professor, já vou.
Hemetério passou-lhe as mãos “Uma história do feminismo no Brasil”, de Céli Regina Jardim Pinto, e “História das Mulheres no Brasil”, de Mary Del Priore”. Num marcador de páginas escreveu: Isadora, Seguem os livros que você pediu. E, abaixo:
Salve 8 de março dia internacional da Mulher.


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