Ruy
Medeiros
Ontem,
8.04, o programa de entrevistas mais antigo da TV no Brasil, Roda
Viva, da Cultura, conversou com o muito conhecido Delfim Neto por sua
capacidade de ironizar e de produzir muitas frases de efeito, um
frasista como se dizia.
O
ex-Ministro, Delfim, criticou as politicas econômicas postas em
prática após ditadura militar, mas elogiou o Plano Real ao qual, no
entanto, fez reparos à política de câmbio escorada na taxa de
juros.
Mas,
o que aqui me interessa é aquilo que o ex-ministro (quase Primeiro
Ministro) de alguns governos militares opinou sobre o Ato
Institucional n° 5, de 1968. Delfim Neto disse não estar
arrependido por aceita-lo e destacou o fato de que a proibição de
Habeas Corpus aos presos e detidos por atos de natureza politica era
uma garantia (!!!). Segundo o economista entrevistado, a supressão
da garantia do Habeas Corpus significava que o Estado assumia toda a
responsabilidade pelo preso e por sua integridade.
Nunca
se ouviu uma falácia tão grande como a apreciação de Delfim em
relação à proibição de juízes deferirem Habeas Corpus a
aprisionados com motivação politica. Habeas Corpus é garantia
democrática, garante a liberdade, inclusive a autonomia de conduta.
Historicamente,
aquela apreciação do economista entrevistado é falsificação: a
supressão do Habeas Corpus não garantiu o preso, nem sua proteção
pelo Estado. Ao contrário disso, muitos presos foram torturados e
assassinados nas prisões da ditadura militar, muitos foram tirados
das prisões e assassinados. A história é bem conhecida.
O
ex-ministro deixou de falar sobre outras atrocidades permitidas pelo
Ato Institucional n° 5, depois incorporado à Constituição por sua
Emenda n° 01/89, dentre as quais: permissão ao Presidente ditador
para cassar mandatos, suspender direitos políticos, expropriar bens,
decretar recesso do Congresso Nacional, expropriar bens de
particulares, decretar como de segurança nacional municípios e
indicar seu prefeito etc.
É
sempre bom lembrar, pois estamos vivendo numa fase obscura de nossa
história onde se pretende até negar a existência da ditadura
militar e suas atrocidades.
P.S.
Caiu o Ministro da Educação e já foi substituído. O atual é
aquele que, em evento público e concorrido, declarou que as grandes
empresas brasileiras e a grande imprensa do Brasil são controladas
por empresários comunistas. De uma sátira na qual Horácio, velho
poeta latino, respondia a um amigo que, diante da situação
existente em sua sociedade, era difícil não agir como ele agia,
ficou a conclusão assim sintetizada: é difícil não escrever
sátira. É isso, diante da situação politica atual é difícil não
fazer sátira. Stanilaw Ponte Preta (Sérgio Porto) faz falta.
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