Ruy Medeiros | além dos números
Ruy Medeiros
A diferença de votos entre Lula e seu concorrente foi apertada, dizem e redizem, considerando diferença percentual de 1,8% de votos, que corresponde a 2.139.645 votos. Seria assim, se outras considerações não pudessem ser validamente feitas. Luís Inácio Lula da Silva, não faz muito tempo, era o político mais execrado do país, encontrava-se inelegível e era considerado alguém morto para eleições. Recupera-se e torna-se agente de uma frente eleitoral do qual participam políticos de peso. Contra ele acenou-se a criação de uma candidatura de centro, que o esmagasse. Considerando essa situação, não parece que os números devam ser analisados apenas como números que expressam uma diferença apertada. Elas expressam outra coisa: por detrás da diferença e de percentuais há a maior votação recebida por um candidato considerado pouco tempo antes um fósforo queimado. Por detrás dos números, há a realidade de um candidato que, apesar de mil obstáculos, ainda conseguiu vencer eleições com 60.345.999 votos.
Por detrás dos números deve-se considerar que o concorrente utilizou contra o candidato vitorioso a máquina de governo como nunca se via desde a redemocratização. O capitão reformado, que já conta com quase quatro anos completos de esforço para destruir o regime vigente, não agiu com o mínimo de ética político-administrativa: por meio do “orçamento secreto” liberou verbas para parlamentares de sua base, muitos dos quais candidatos que fizeram sua campanha; ampliou o número de beneficiários e antecipou o pagamento do Auxílio Brasil, não por humanidade, mas por obscuro oportunismo; criou empréstimo consignado sobre o Auxílio Brasil, não por solidariedade, mas para adquirir voto e corromper consciências; seus correlegionários mais fanáticos exerceram pressão sobre eleitores adversários, e empresários que o seguem promoveram o maior assédio eleitoral da era republicana no Brasil; com máquina azeitada praticou exaustiva divulgação de mentiras (fake news), intimidativas; mandou que a PRF criasse embaraços, no Nordeste, sobre eleitores em trânsito etc. Esse uso imoral da máquina pública poderia supor (como geralmente ocorre) a vitória esmagadora do governante. Mas o opositor conseguiu transpor isso tudo. Que vencesse com 1.000 votos de diferença já seria significativa proeza. Venceu com 2.139.645 votos. Anos e mais anos, o presidente ameaçou, amedrontou, dopou consciências, lançou sobre a classe média o medo de ameaça contra o lugar dessa, seus valores, seus símbolos que o adversário levaria a termo. A cada dia era isso, somando à ameaça de golpe para satisfazer a ânsia dos fascistas que veem risco constante sob regime das leis. Para a sua vitória, tudo, a seu ver, era permitido. Governadores eleitos foram pressionados para viabilizar sua eleição, e aceitaram a pressão, como foi o caso de Minas Gerais.
O discurso de vitória apertada tem objetivo de apequenar o candidato eleito e encaminhar o raciocínio para o discurso de divisão, a exigir um governo que não coloque a necessidade de conflito contra as forças da extrema direita e, no limite, falar em pouca representatividade para desqualificar o candidato eleito.
A presença do candidato perante o corpo eleitoral é maior de que os números apurados do pleito eleitoral. Concorde-se ou não com ele, a sua vitória nos limites eleitorais, foi grande.
Ruy Hermann Araújo Medeiros
*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do BLOG DO ANDERSON
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